Primeiro
Relatório Nacional sobre os Direitos
Humanos no Brasil
BAHIA
A
Bahia tem uma população de 12.541.675 habitantes,
sendo que 7.826.843 habitantes (62,4% da população)
residem em áreas urbanas e 4.714.832 habitantes (37.6%)
residem em áreas rurais]’ Em 1996. a Bahia
era um dos nove estados brasileiros com um índice
de desenvolvimento humano médio (0.655). Entretanto,
o Índice de Desenvolvimento Humano da Bahia cresceu
em média 1,6% ao ano de 1991 a 1995 e 3,7% de 1995
a 1996.
O produto interno bruto per capita, ajustado
ao poder de compra local, era de US$ 3.677.
O estado tem uma distribuição
da riqueza extremamente desigual. Os 10% mais
ricos têm 52,68% da renda, enquanto os
40% mais pobres têm 7,13%. No Brasil,
apenas Alagoas e Acre têm uma distribuição
de renda mais desigual do que a Bahia. A taxa
de alfabetização de adultos é
de 75,5%,75. Mas 50,3% da população
adulta têm menos de quatro anos de estudo
e apenas 2.8% da população adulta
têm 12 anos ou mais de estudo.
A taxa de mortalidade infantil é de 50 mortes por
1.000 nascidos vivos. A taxa de mortalidade por homicídio
é de 14.99 mortes por 100.000 habitantes no estado
e 35,84 mortes por 100.000 habitantes na região metropolitana
de Salvador. Em um bairro de Salvador, a taxa de mortalidade
por homicídio chegou a 101 mortes por 100.000 habitantes
em l994.
A Bahia enfrenta problemas graves de violência policial,
grupos de extermínio com participação
de policiais, violência contra crianças e adolescentes,
negros, indígenas e homossexuais. A Comissão
de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados recebeu
e encaminhou ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana denúncia sobre violência praticada por
grupos de extermínio e policiais. Além disso,
em junho de 1997, a Comissão de Direitos Humanos
da Câmara e a Comissão de Direitos Humanos
da Assembléia Legislativa da Bahia realizaram sessão
conjunta para tratar das violações dos direitos
humanos no estado.
O Centro de Estudos de Cultura Contemporânea, por
encomenda do Ministério da Justiça, realizou
com ajuda da Universidade Federal da Bahia, em Salvador,
o Projeto Mapa de Risco da Violência. A pesquisa de
1996, entre outras observações, indicou a
existência de elevados coeficientes de mortalidade
nos bairros com precárias condições
de vida, além disso apontou quatro aspectos que se
destacavam na avaliação geral das informações
sobre o diagnóstico da criminalidade e a atuação
das policias e suas implicações sobre violências
e mortes. Seriam: a) inexistência de integração
operacional entre as duas policias; b) grandes contingentes
de recursos humanos em atividades de apoio em detrimento
das atividades diretamente ligadas ao combate á criminalidade;
c) há uma enorme carência de equipamentos,
tanto no que diz respeito às quantidades necessárias
a repressão ao crime quanto à modernidade
desses equipamentos: d) o baixo suporte na estruturação
das organizações que tratam da Segurança
Pública. especialmente no diz respeito à existência
de sistemas de informações e dados confiáveis,
leva a um padrão modesto de resultados que atinge
todas as atividades envolvidas no combate à violência.
Embora o Mapa de Risco refira-se ao estudo realizado em
1996, e as conclusões acima possam ter de alguma
maneira sofrido alterações, permite indicar,
de forma sistemática que a mortalidade em algumas
zonas da cidade apresenta índices elevados.
A Comissão Justiça e Paz e a Comissão
de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, também
em 1995, registraram 32 chacinas resultando em 104 mortes,
na sua maioria de jovens negros, de 17 a 25 anos, desempregados,
cujos responsáveis seriam policiais, vigilantes e
comerciantes.
Somente na região metropolitana de Salvador, em 1996
e 1997, 295 pessoas morreram vítimas da ação
de grupos de extermínio e 238 pessoas morreram vítimas
de ação policial, segundo a Comissão
Justiça e Paz.
Cenas de vítimas gravemente feridas em decorrência
de espancamento e afogamento por policiais em Itamaraju
foram mostradas pela TV Manchete em 29 de setembro de 1997.
Em abril e maio de 1997, policiais militares agrediram dois
deputados estaduais e três vereadores de Salvador
durante manifestações organizadas por funcionários
públicos demitidos da prefeitura de Salvador.
Em 1997, o Ministério Público recebeu 158
queixas de violência policial e requereu 95 inquéritos
policiais civis e 9 inquéritos policiais militares.
O Estado possuía 3.005 presos no sistema penitenciário
em 1997. Segundo a Secretaria de Justiça e Direitos
Humanos, o déficit de vagas caiu de 31,3% em 1995
para 8,8% em 1997.
O número de mortes de crianças e adolescentes
por homicídio cresceu nos últimos anos. De
oitenta mortes em 1991 subiu para 103 em 1992, 129 em 1993,
150 em 1994, 107 em 1995, 150 em 1996 e 207 em 1997. Durante
os dois anos de funcionamento, 1996 e 1997, o SOS Criança
recebeu 1.218 pedidos de orientação ou denúncias
que na sua maior parte se referiam a espancamentos, abandono
e agressões sexuais.
Dezesseis homossexuais foram assassinados na Bahia em 1996,
12 em 1997 e 9 de janeiro a setembro de 1998. Gays, lésbicas
e travestis têm sido vítimas constantes de
agressões físicas, tortura, discriminação,
ameaças de morte, extorsões, inclusive por
policiais civis e militares.
Como os demais estados da região nordeste, a Bahia
enfrenta problema grave de exclusão social. Um terço
da população do estado (33%) é miserável,
tendo menos que o 1.º grau de escolaridade e renda
familiar de até dois salários mínimos.
O desemprego atingiu 24,5% da população economicamente
ativa na região metropolitana de Salvador em abril
de l998.
De um total de 736 conflitos no campo em todo o país
em 1997.48 haviam ocorrido no Estado da Bahia, envolvendo
aproximadamente 6.600 famílias. Esses conflitos provocaram
a morte de 2 pessoas, outras duas sofreram tentativas de
assassinato e quatro foram ameaçadas de morte. Em
fevereiro de 1998, em Arembepe, no acampamento da Fazenda
Rancho Alegre, o militante do Movimento de Luta pela Terra,
Cosme Muniz da Silva, de 21 anos, foi assassinado no barraco
onde vivia na presença de sua companheira por três
homens. O crime teria ocorrido em represália à
convocação de uma assembléia entre
os assentados. dirigida por Cosme, que discutiria a proibição
aos assassinos de frequentarem o assentamento, pois denúncias
indicavam que eles estariam envolvidos em furtos e até
homicídios na região.
Quatro crianças foram alvo de violência no
campo. Um garoto de 12 anos, durante uma desocupação
da Fazenda Lagoa, em São Sebastião do Passé,
foi ameaçado de morte pelo gerente da propriedade
e espancado com um chicote. Cerca de 84% da mão-de-obra
do sisal no Estado é composta por crianças
e adolescentes. Na cultura da laranja, havia 12 mil menores,
60% dos quais vindos do estado de Sergipe.
Na Bahia há dezenove terras indígenas, das
quais sete estão registradas em cartório.
Duas foram homologadas pelo Presidente da República,
quatro estão reservadas, quatro estão declaradas
e delimitadas, uma está identificada e uma ainda
não foi identificada. O maior conflito envolve as
terras dos Pataxós Há-Há-Hãe,
no sul do estado. Os Pataxós tiveram reconhecido
seu direito a uma área de 53.400 hectares em 1926,
reduzidos para 36.000 hectares em 1937. Estas terras, entretanto,
foram progressivamente arrendadas e cedidas a particulares
por diversas administrações estaduais. Na
década de 70, os Pataxós começaram
a se mobilizar e entraram na Justiça para recuperar
as terras a que têm direito. Doze índios foram
mortos no conflito com os fazendeiros ocupando as terras
indígenas, entre os quais o cacique João Cravim,
irmão do índio Galdino Jesus dos Santos.
MONITORAMENTO
DOS DIREITOS HUMANOS
A
Bahia tem um Fórum de Entidades de Direitos Humanos
que reúne 26 entidades de defesa dos direitos humanos,
entre as quais a Comissão de Justiça e Paz,
a Comissão de Direitos Humanos e a Comissão
Especial de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembléia
Legislativa. As entidades reunidas no Fórum e outras
entidades como o Grupo Gay da Bahia monitoram a situação
dos direitos humanos no estado e reivindicam maior participação
no Conselho Estadual de Proteção dos Direitos
Humanos e maior atuação na defesa dos direitos
humanos por parte do governo estadual e do Judiciário.
Heloísa
Gomes dos Santos
No
dia 20 de junho de 1998, a professora e enfermeira Heloísa
Gomes dos Santos e seu namorado, o cabo da polícia
militar Manoel Ferreira dos Santos, foram assassinados no
estacionamento da Maternidade Tysila Balbino, em Baixa de
Quintas, Salvador. O crime foi claramente uma execução
e provavelmente ligado à atuação dos
grupos de extermínio envolvendo policiais militares
denunciados por Heloísa dos Santos. No início
do ano, Heloísa dos Santos entregou à Comissão
de Direitos Humanos da Assembléia um dossiê
sobre a atuação de um grupo de extermínio
no bairro de Cosme de Farias, que seria responsável
pela morte de Valter Ferreira dos Santos. Os denunciados
seriam policiais militares. As denúncias de homicídio,
participação em roubos, invasões de
domicílios e até tráfico de drogas,
acabaram resultando na expulsão de três deles
da corporação no dia 18 de maio. Entretanto,
apesar dos insistentes pedidos de prisão preventiva,
todos permaneceram em liberdade. Dias antes do assassinato,
as duas vítimas compareceram à redação
do jornal baiano A Tarde para denunciar que sofriam constantes
ameaças de morte de membros do grupo de extermínio.
Junior
da Silva Lago
Em
7 de agosto de 1998, Junior da Silva Lago, 22 anos, travesti
conhecido por Luana e Kiana, foi morto por afogamento na
Praia do SteIla Maris, em Salvador. Graças à
repercussão do caso, os assassinos, um cabo e dois
soldados da Polícia Militar, estão sendo julgados
na Justiça Comum. Os policiais acusados do crime
faziam parte do programa de policiamento comunitário
que está sendo implantado pela Polícia Militar.
INICIATIVAS
GOVERNAMENTAIS E PARCERIAS COM A SOCIEDADE CIVIL PARA A
PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS
O
governo do estado e o Ministério da Previdência
e Assistência Social desenvolvem programa
de bolsas para retirar crianças e adolescentes
de trabalhos perigosos e permitir sua permanência
na escola.
O Fórum Estadual de Direitos Humanos
organizou a Primeira Conferência Estadual
de Direitos Humanos em 1997, com a participação
de 65 entidades da sociedade civil.
O Conselho Estadual de Proteção
dos Direitos Humanos foi criado em 1995 e, com
apoio do governo federal e do Gajop (PE), implantou
o Programa de Proteção a Testemunhas.
Vítimas e Familiares de Vítimas
de Violência (Provita).
O Ministério Público criou 70
novas promotorias de 1995 a 1997 e descentralizou
suas atividades criando oito e reabrindo dois
escritórios regionais.
O Ministério da Previdência e Assistência
Social assinou convênio com o governo
do Estado para retirar crianças e adolescentes
de trabalho insalubre e perigoso através
da concessão de bolsas criança-cidadã
para que as crianças permaneçam
na escola.
A Secretaria Nacional dos Direitos Humanos em
1997 promoveu com a parceria do CAPEC –
Centro de Assessoramento a Programa de Educação
e Cidadania, o Projeto Escola e Cidadania, voltado
para a capacitação e qualificação
em direitos humanos de policiais civis e militares,
além de educadores e líderes comunitários.
O Estado realizou o 1 Seminário Estadual
de Direitos e Violência de Gênero,
para chamar a atenção sobre o
problema da violência contra mulher.
A Bahia é um dos estados que participa,
por intermédio da Comissão Interinstitucional,
nos 13 fóruns criados com o apoio do
Governo Federal e a sociedade civil, para combater
a exploração do trabalho infantil
e vem implementando com ajuda do Governo Federal,
no âmbito do Programa Bolsa-Cidadã,
ações que estão retirando
crianças da extração do
sisal. Em cinco municípios que formam
a zona sisaleira da Bahia, 6,410 crianças
entre 7 a 14 anos de idade são beneficiadas
pela bolsa-cidadã, permanecendo o dia
inteiro na escola.
Ainda para coibir o trabalho infantil, a Secretaria
Estadual do Trabalho encomendou à Universidade
Federal da Bahia um censo para identificar quantas
crianças estão envolvidas em atividades
laborativas nas regiões de sisal e de
exploração de pedreiras e a Secretaria
Municipal de Saúde realizou uma avaliação
para identificar o estado de saúde das
crianças uma vez que muitas sofrem de
problemas pneumológicos causados pelo
pó que se desprende do sisal durante
o seu beneficiamento.
A sociedade civil organizada do Estado tem uma
atuação intensa e desenvolve inúmeros
projetos inovadores na área de proteção
e defesa dos direitos humanos, especialmente
voltados para criança e adolescente de
rua ou em situação de risco. Alguns
Projetos pelo seu resultado ganham, inclusive,
reconhecimento internacional como é o
caso do Projeto Axé que desenvolve uma
metodologia diferente para retirar os meninos
e meninas da rua e transferi-los para espaços
onde podem desenvolver atividades lúdicas,
noções de organização
social. entre outros.
Em cooperação com o Ministério
da Justiça, por intermédio do
Departamento da Criança e do Adolescente,
da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos,
foram financiadas ações voltadas
para o adolescente em conflito com a lei, tais
como: qualificação de recursos
humanos, serviços para aplicação
de medidas sócio-educativas; adequação
de estruturas e propostas sociopedagógicas
as exigências do ECA.
A Fundação Cidade Mãe mantém
desde 1993 um programa para profissionalização
e de resgate da cidadania de jovens em situação
de risco. O Programa conta com ajuda financeira
do Ministério do Trabalho.
Em 1997 o Presidente da República desapropriou
terras, que datam do século XVIII, para
fins de titularização aos remanescentes
de Quilombo.
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