São Paulo
260. Luciano Gomes Chacon,
detido no 11o Distrito Policial por ocasião
da entrevista com o Relator Especial, teria se dirigido
às autoridades do tráfico, por volta do final de abril
de 2000, para renovar sua carteira de motorista. De lá,
ele teria sido levado ao 11o Distrito Policial,
onde teria sido forçado a assinar um documento onde declarava
ser culpado por assalto sem uso de arma. A polícia teria
batido nele com barras de ferro e varas de madeira nas
suas costas e pernas, teria ainda socado-o e batido em
seu rosto. Ele não teria sido autorizado de ler o jornal
que assinava. A vítima de um assalto teria sido forçada
a dizer que Luciano Gomes Chacon tinha cometido um assalto.
Por ocasião da entrevista, no dia 27 de agosto de 2000,
marcas compatíveis com seu relato, tais como uma cicatriz
em suas costas, ainda eram visíveis.
261. Valdemar Lopes Leitão,
detido no 11o Distrito Policial por ocasião da
entrevista com o Relator Especial, no dia 27 de agosto de 2000,
teria sido preso em março de 1999 por ter assassinado um homem
acusado de estupro que estaria esperando sua filha. A polícia
teria o abordado numa viatura em alta velocidade e atirado na
parte superior de sua perna. A polícia teria levado-o para a
delegacia de homicídios (DHPP)/Deaga, no centro de São Paulo,
teria algemado-o com uma borracha, teria obrigado-o a ajoelhar-se
e então espancado-o brutalmente. Ele teria sido obrigado a
assinar uma declaração assumindo a responsabilidade por outros
assassinatos. No tribunal, ele teria sido considerado reincidente.
Cinco dias depois do espancamento, um exame médico teria sido
feito e, durante sua execução, Valdemar teria relatado o
espancamento que havia sofrido. Ele estaria esperando por um
segundo exame de corpo de delito.
262. Carlos Augusto Carvalho
Oliveira, detido no 11o Distrito Policial por ocasião
da entrevista com o Relator Especial, no dia 27 de agosto de 2000,
teria sido preso, sob acusação de furto/ assalto, no dia
25 de outubro de 1999, quando se encaminhava para uma consulta
dentária. Ele teria sido levado para o 11o Distrito
Policial, onde teria sido espancado, chutado na perna esquerda (até
provocar inchaço) e também no peito, até quase provocar vomito
de sangue. Quatro dias depois, ele teria sido levado a um exame médico,
ainda com muitas marcas de espancamento. Ele teria explicado ao médico
tudo o que lhe teria acontecido, mas não sabia se tudo fora
devidamente anotado. Ele teria sido condenado a cinco anos e
quatro meses em regime semi-aberto, e estaria recorrendo uma decisão.
263. Ary Holando dos Santos
Pereira, detido no 11o Distrito Policial por ocasião
da entrevista com o Relator Especial em agosto de 27 de 2000,
teria sido abordado e preso, junto a outros dois homens, por
quatro policiais do DEPATRI, às sete horas da noite do dia 1o.
de agosto de 1999. Ele teria sido levado ao DEPATRI e acusado de
ter roubado vales refeição, o que ele negou. Os policiais teriam
socado-o em suas orelhas e no rosto para fazê-lo assinar uma
confissão do roubo, o que ele teria feito. Quinze dias depois,
quatro policiais do DEPATRI teriam-no espancado novamente por
cerca de quatro horas com o intuito de fazê-lo assinar uma outra
confissão, que não teria assinado. Ele teria sido condenado a 12
anos de prisão por um crime que ele nega ter cometido.
264. David Barbosa da Silva,
detento do 11o Distrito Policial por ocasião da
entrevista com o Relator Especial, no dia 27 de agosto de 2000,
vivia nas ruas e estaria sofrendo de bronquite e pneumonia. Ele
teria ido ao escritório do prefeito para obter um cartão de
registro no dia 09 de agosto de 2000. Num restaurante no caminho,
um menor que ele conhecia e que teria roubado um relógio, teria
começado a conversar com ele. Um policial os teria abordado,
deixando o menor partir e prendendo David Barbosa da Silva. Ele
teria sido levado ao 11o Distrito Policial, onde ele
foi levado à "sala de investigações". Um policial
teria apontado uma arma para sua cintura e afirmado que iria deixá-lo
aleijado. Vários policiais teriam-no socado quatro vezes nas
costas, agredido-o com uma vara enrolada em material de borracha e
com uma barra de ferro, além de tê-lo esbofeteado duas vezes.
Como resultado da tortura, o lado direito de suas costas teria
apresentado inchaço. Ele teria sido obrigado a assinar uma
declaração, a qual ele foi impedido de ler, que afirmava que ele
teria assaltado e desencaminhado o menor. Os policiais teriam dito
a ele que caso não morresse de bronquite ou pneumonia, eles iriam
"tomar uma decisão sobre seu destino". Como resultado
do espancamento, ele teria vomitado sangue toda a noite. Ele não
teria tido a assistência de um advogado. Uma advogada que foi
visitá-lo no dia 09 de abril de 2000 teria tido o acesso a ele
negado.
265. Washington Pintos de Godoy,
detido no 11o Distrito Policial por ocasião da
entrevista com o Relator Especial, no dia 27 de agosto de 2000,
teria contraído o vírus HIV em uma penitenciária em 1998, e não
teria recebido nenhum tratamento. Nos três meses precedentes, ele
teria sido transferido do 6o. Distrito Policial para o
35o e então para o 85o, e de lá para o 100o
e, finalmente, para o 11o Distrito Policial.
Anteriormente, teria sido transferido para uma colônia agrícola,
da qual ele teria escapado. Quinze dias depois, ele teria sido
submetido a um exame médico. Em 30 de março, ele teria sido forçado
a assinar uma declaração onde constava que ele tinha cometido um
crime que feria o artigo 167 na seção Canbusi no 6o
Distrito Policial. A polícia teria achado uma testemunha que
estaria querendo incriminá-lo. Teriam pedido a ele que pagasse
30,000 reais para ser solto, o que ele não pagou. Ele teria sido
espancado por todo o corpo com tubos de ferro, tacos de baseball,
varas de madeira e correntes por quatro policiais militares
durante uma hora e meia. Eles teriam parado o espancamento porque
sua mulher teria chegado. Washington Pintos de Godoy estaria se
tornando um caso de tribunal por ter contraído o vírus HIV na
prisão.
266. Daniel Rocha de Souza
teria sido preso no final de junho de 2000 e levado para o 11o
Distrito Policial em São Paulo, onde ele teria sido espancado
durante duas horas e meia por policiais, com uma barra de ferro na
sua perna direita, e esbofeteado e socado no rosto. Como resultado
do tratamento ao qual ele foi submetido, ele assinou uma confissão.
Por volta de 1o de agosto de 2000, seu irmão Elson
Oliveira de Souza teria ido visitá-lo e teria sido revistado em
frente a uma testemunha da polícia, que nada teria achado. Elson
Oliveira de Souza teria, entretanto, sido negado de ver seu irmão.
Quando ele perguntou à polícia porque seu irmão não poderia
receber uma visita, os policiais teriam levado-o para um quarto no
andar de cima, tendo espancado-o com barras de ferro e simulado a
existência de drogas em sua posse. Ele também teria sido
espancado nas costas durante uma hora. Como resultado, ele teria
assinado uma confissão e teria sido preso na mesma cela que seu
irmão.
267. Jairo Justino de Oliveira
Junior teria sido preso sob suspeita de assalto à mão armada
em 1993 por dois policiais militares que levaram-no para o 89o
Distrito Policial em São Paulo, onde ele teria sido forçado a
assinar uma confissão depois de ter sido submetido a choques elétricos
nos órgãos genitais. Ele teria pago 7.500 reais para ser solto
depois do sétimo dia de sua prisão; teria sido preso novamente
em 09 de abril de 2000 em Gurapiranga, na cidade de São Paulo, e
teria sido levado para o 100o Distrito Policial. Ao
chegar na delegacia, ele foi socado por dois policiais militares
no tórax e na barriga. Ele teria assinado uma confissão sob ameaça
de espancamento; teria ainda permanecido por dois meses na
delegacia antes de ser transferido para o 11o Distrito
Policial de Santo Amaro. Ele teria sido requisitado para
dirigir-se ao escritório do delegado, onde pediram-lhe que
assinasse outras confissões ao mesmo tempo em que ameaçavam-lhe
de novo espancamento. Ele teria se recusado a assinar qualquer
outra confissão.
268. Anderson Roberto Neides
Ferreira teria sido preso pela polícia militar na rua em
Santo Amaro, no dia 22 de fevereiro de 2000, sob suspeita de
assalto à mão armada e posse ilegal de armas de fogo. Na época
da prisão, ele teria tentado fugir. Quando foi preso novamente,
ele teria sido chutado e espancado, principalmente na cabeça, com
o cabo de um revólver. Segundo informações recebidas pelo
Relator Especial, ele foi levado numa viatura da polícia militar
para o 11o distrito de polícia de Santo Amaro. Ele
teria então sido espancado por dois policiais militares na presença
de um policial civil; teria somente confessado a posse de arma.
Ele teria sido visto por um juiz somente três ou quatro meses
depois da prisão e a ele teria se queixado da tortura a que teria
sido submetido. Este, entretanto, não teria reagido.
269. Alexandre Santana Itsom
teria sido preso em flagrante numa tentativa de roubo em 10 de
julho de 2000 por quatro policiais militares e teria sido levado
ao 11o Distrito Policial. Segundo informações
recebidas pelo Relator Especial, ele foi atingido por uma bala na
barriga no momento da prisão e brutalmente espancado com barras
de ferro e madeira e um taco de baseball de madeira no escritório
do delegado. Como resultado, seu joelho teria sido quebrado.
Posteriormente, a polícia permitiu que cuidados médicos fossem
concedidos para tratar do ferimento à bala, mas foi-lhe negado
tratamento para o joelho. Policiais teriam assinado confissões em
seu nome. Na época da entrevista (27 de agosto de 2000), seu
joelho aparentava estar deslocado. Seu advogado teria entregue um
pedido de habeas corpus. Em 11 de agosto, ele teria visto
um juiz, a quem queixou-se da tortura a que teria sido submetido.
Tal juiz teria requerido exame de corpo de delito.
270. Francisco Andrade
Nascimento teria sido preso em 18 de junho de 2000 na rua no
bairro de Santo Amaro por policiais militares sob suspeita de
assalto à mão armada. Segundo informações recebidas pelo
Relator Especial, no momento da prisão ele foi espancado e jogado
contra o chão, quando então foi chutado na costela. Um policial
teria pisado em suas mãos. Ele teria sido levado para o 11o
Distrito Policial onde ele teria sido forçado a assinar uma
confissão sob ameaça de ser espancado novamente. Seu advogado
teria chegado uma hora após ele ter assinado a confissão. Um mês
depois, teria sido levado para o tribunal, onde não reclamou da
tortura por medo de represálias, uma vez que policiais estavam
presentes durante todo o tempo no tribunal. Ele, entretanto, teria
feito suas queixas para o advogado. Segundo informações
recebidas pelo Relator Especial, ele teria sido levado para o
tribunal em duas outras ocasiões.
271. Edson Barbosa de Lira,
23, supostamente detido no DEPATRI em São Paulo, teria sido
espancado com tacos de baseball, barras de ferro e uma lista de
telefone, em 1999. Como resultado ele teria hematomas por todo o
corpo, além de ter fraturado a pélvis. A polícia teria dito que
ele tentou fugir e caiu do telhado.
272. E.M.C., um menor preso
na Unidade Educacional 10 do Complexo Quadrilátero do Belenzinho
teria sido espancado no dia15 de fevereiro de 2000 enquanto era
levado para a "Vara Especial da Infância e da
Juventude".
273. A.M.F., A.F.L., C.O.A.,
E.S. e W.R.V., menores detentos da FEBEM em
Itaquaquecetuba, teriam sido espancados, no dia 23 de outubro de
1998, por empregados da fundação. O ato teria sido uma forma de
punição. Um inquérito judicial teria sido aberto. O Relator
Especial gostaria de ser informado a cerca do resultado do inquérito.
274. Devanir Aparecido da Silva
teria sido espancado no 1o Distrito Policial em Sertãozinho,
no dia 20 de julho de 2000. Segundo informações recebidas pelo
Relator Especial, ele teria sido amarrado a um poste de ferro no pátio
da delegacia como represália por ter desacatado verbalmente um
delegado. Teria tido sua camisa tirada e sido obrigado a ficar de
pé por uma hora. Teriam-lhe jogado água fria e chicoteado-o
cerca de 12 vezes. Um advogado teria testemunhado o incidente e a Corregedoria
de polícia teria sido informada do caso.
275. Jovens detentos detidos
na Unidade Educacional 01 FEBEM no estado de São Paulo teriam se
envolvido numa rebelião em 12 de junho de 2000. Segundo informações
recebidas pelo Relator Especial, 15 empregados da unidade, alguns
deles utilizando máscaras, entraram na unidade e espancaram os
adolescentes utilizando pedaços de madeira e barras de ferro. As
agressões alegadas teriam acontecido no pátio e nas celas dos
internos. A maioria deles teria sido seriamente agredida. Agnaldo
Martins Alves, Felipe de Oliveira de Andrade, Pedro Feitosa Leite
Melo, Rafael Oliveira Santana, Saulo Fernando Castanho Teles, André
Luis Pereira, Alex Martins Mendes, Marcelo Jesus de Oliveira,
Silvano Lemos Costa, Cleverson Alves Guloni, Paulo Ubiratan
Andrade Meira, Diego Casadia, Deivisson Roberto Souza Lima, Michel
Alexandre de J. Moran, Emerson Alberto Cabral dos Santos, Anderson
Luis Chavernue, Alisson Veras Valdevino, Edimilson Caboclo do
Nascimento, Leonardo Soussona do Nascimento, Henrique de Oliveira
e Castro, Alex Sandro de Oliveira, Vagner Souza de Macedo,
Tarcisio André Candido Xavier, Rodrigo dos Santos, Ricardo
Malinosqui do Nascimento, Marco Aurélio Rodrigues Souza, Luciano
Luis Gonçalves, José Lincon Pereira da Silva, Wanderley
Marcolino Ferreira, Geneilson Vieira de Souza, Felipe Tadeu
Pedroso Celestino, Rafael de Jesus Cipriano, Elenaldo Silva
Cavalcante, Paulo Alessandro Alves, Vagno Moreira Silva, Rafael
Correa Druciak, Everton Luis Carvalho, Washington Luiz Pereira,
Israel Mandes de Oliveira, Wernerson Felix da Silva, Romualdo
Antonio de Ângelo, Marcelo Silva de Lima, Fernando Almeida de Sá,
Moisés Ferreira da Silva, Gilvan Araújo Santos e Felipe Augusto
Alves da Fonseca teriam sido submetidos a exames de corpo de
delito, que teriam revelado lesões compatíveis com os relatos.
Um inquérito teria sido aberto. O Relator Especial gostaria de
ser informado a cerca do resultado do inquérito.
276. Antonio Rodrigues dos
Santos e Aldo dos Santos, ambos vereadores, teriam sido
presos por policiais militares durante uma manifestação política
em frente ao tribunal em Diadema, no dia 27 de fevereiro de 1998.
Eles teriam sido levados para o 1o Distrito Policial,
onde foram agredidos verbalmente e espancados. Antonio Rodrigues
dos Santos teria sido espancado em seus órgãos genitais com uma
vara de madeira, além de ter tido sua perna quebrada durante o
espancamento. Ele foi posteriormente transferido para a delegacia
de Serraria. Os dois homens teriam sido soltos algumas horas
depois. Segundo informações recebidas pelo Relator Especial,
Antonio Rodrigues dos Santos foi levado a um hospital de emergência
e foi submetido a um exame de corpo de delito. A Corregedoria
da polícia militar teria sido informada do incidente.
277. Paulo Ezequiel Manoel
teria sido preso em janeiro de 1998 e teria sido levado para o 44o.
Distrito Policial em São Paulo. Teria morrido três dias depois.
Segundo informações recebidas pelo Relator Especial, a polícia
disse que ele teria se matado ao jogar-se contra a parede de sua
cela. Exames de corpo de delito teriam sido feitos e contusões
teriam sido identificadas por todo seu corpo, feridas em sua cabeça
e uma mancha roxa em seu olho direito.
278. Márcia Nogueira do
Nascimento teria sido presa por quatro policiais militares no
dia 05 de agosto de 1994 sem ter sido informado dos motivos de sua
prisão. Ela teria sido espancada e levada para DEIC. Teria tido o
acesso a um advogado negado. Em seguida teria sido levada para a
delegacia de Assis, onde teria sido forçada a assinar alguns papéis.
Teria sido colocada numa cela, quando então teriam lhe ordenado
que se despisse. Revistaram-na em seguida. Teria levado choques elétricos
diversas vezes e teria também sido espancada, com uma barra de
ferro, em seus braços e pernas. Os policiais teriam tentado
pendurá-la e torturá-la no "pau de arara". Como
resultado da tortura, ela teria desmaiado. No dia 07 de agosto de
1994, ela teria sido tirada de sua cela e novamente espancada. Ela
teria sido amarrada a uma cadeira e amordaçada com um pano para
impedir que gritasse. Teria sido queimada com cigarros e jogada no
chão. Alguns policiais teriam pisado em suas costas. Ela, então,
teria recebido novamente choques elétricos em sua boca e na
vagina. Sua irmã teria sido forçada a acusá-la. Segundo informações
recebidas pelo Relator Especial, ela teria sido espancada por
cinco dias. Como resultado da tortura, não seria capaz de andar
nem falar, e teria tido uma séria ferida na cabeça. Ela teria
sido forçada a assinar uma confissão e teria sido colocada
novamente na cela. Depois de oito dias ela teria recebido visita
de um médico e teria sido tratada por ele, sendo posteriormente
transferida para uma outra cadeia. Segundo informações recebidas
pelo Relator Especial, ela foi condenada a 26 anos de prisão 11
meses depois de ter sido presa. No dia 14 de agosto de 1997, ela
foi transferida para a Penitenciária Feminina de Tatuapé em São
Paulo. Um inquérito judicial teria sido aberto. O Relator
Especial gostaria de ser informado a cerca do resultado do inquérito.
279. Silvio Tadeu Alonso Leoni,
detento do Presídio de Parelheiros em São Paulo, teria sido
espancado por vinte agentes carcerários com tacos de baseball e
barras de ferro, no dia 23 de novembro de 1999, como represália a
uma tentativa de fuga na prisão. Como resultado do espancamento,
ele teria perdido consciência. No dia seguinte, teria sido
espancado por cerca de seis agentes carcerários. Segundo informações
recebidas pelo Relator Especial, ele tinha, como resultado dos
espancamentos, uma ferida profunda na sua cabeça e 17 lesões
espalhadas por todo seu corpo. Em 24 de novembro, teria sido
transferido para a Casa de Detenção em São Paulo (prisão de
Carandiru). No dia seguinte, teria sido levado para a enfermaria,
onde recebeu quatro pontos na cabeça. Teria sido submetido a um
exame de corpo de delito que revelou lesões compatíveis com o
relato. A Corregedoria do sistema penitenciário teria
aberto uma investigação do caso. Tal procedimento teria,
entretanto, sido encerrado porque as "irregularidades"
que teriam ocorrido na Presídio de Parelheiros não poderiam mais
ser investigadas uma vez que a prisão havia sido desativada em
fevereiro de 2000. Apesar do pedido de um advogado do estado,
nenhum inquérito policial teria sido aberto.
280. Daniel Lino Cardoso,
detido no 26o Distrito Policial em São Paulo, teria
sido atingido por uma bala, em 09 de março de 1999, por policiais
do Grupo Armado para Prevenção de Roubos e Furtos. Segundo
informações recebidas pelo Relator Especial, os policiais
chegaram na delegacia depois de uma suposta tentativa de fuga.
Teriam então invadido as celas e jogado fora os lençóis e
objetos pessoais dos detentos. O Grupo de Operações Especiais (GOE)
da polícia civil visitaria regulamente este distrito. Segundo
informações recebidas pelo Relator Especial, nessas situações,
presidiários são espancados e obrigados a cantar músicas
pejorativas, além de terem seus objetos pessoais e suas comidas
jogadas fora. Policiais teriam atirado nas celas. Estas visitas
seguiriam o mesmo modelo: policiais formam um corredor polonês
composto por cinco homens de cada lado carregando tubos de
cartolina molhada. Policiais forçariam os presidiários a correr
por entre o corredor polonês e os espancariam enquanto passassem.
281. Wilton Oliveira Santos,
um analista de sistemas, teria sido preso em 29 de maio de 1999 em
São Paulo. Ela teria sido levado para o 75o. Distrito
Policial, onde foi mantido num quarto isolado. Segundo informações
recebidas pelo Relator Especial, ele foi posteriormente levado em
coma para um hospital. Os policiais teriam dito a autoridades do
hospital que ele tentou suicídio ao buscar sufocar a si mesmo.
Seus parentes teriam negado que ele tivesse alguma vez mostrado
sinais de depressão que poderiam levá-lo a cometer uma tentativa
de suicídio.
282. Gilberto Xavier Pinheiro,
detido no 41o Distrito de Polícia em São Paulo, teria
sido espancado por dois policiais civis com uma barra de ferro no
dia 14 de janeiro de 1999. Segundo informações recebidas pelo
Relator Especial, um inquérito foi abeto em março de 1999. O
Relator Especial gostaria de ser informado a cerca do resultado do
inquérito.
283. João Nepomuceno de Moura,
Valdir da Fonseca Filho, Joel da Silva, Adriano Augusto Toranello,
Cláudio da Cruz, Manoel Messias dos Santos Mota, Antonio Carlos
Rosa, Carlos Luis Pereira Diniz, Claudinei Silva Santos, Aparecido
Manoel, José Carlos Ferraz, Edilson dos Santos de Souza, Carlos
de Jesus, Mario Siqueira Mortessi, Edilson Donizete Galindo,
Nilson Lopes de Moura, Adilson Silva de Oliveira, Alexandre Soares
Padro, Edson Rosa, João Raimundo, Sérgio Wagner, Wanderlei
Batista Martins, José Augusto da Silva, Luiz Carlos Santos,
Romildo Moreira da Silva, Luis Carlos Pereira, Carlos Araújo de
Oliveira, Alexandre Alves, Zenildo Costa, João Gilmar Mendes da
Silva, Wilson Felix, Reinaldo Bezerra Duarte, Marcelo da Silva,
Walmir de Melo, José Antonio Ramos, Dimas de Lima Vicente, Cícero
Fidelis da Silva, Antonio Carlos de Matos, Vilson Custódio,
Silvio Silvério Guimarães, Antonio Alves Rodrigues, Joselito
Ramos da Costa, Carlos Roberto da Silva, Luiz Vieira da Silva, César
Roberto de Moraes, Reinaldo Ponciano, João Luiz Santana, Eduardo
Pedro dos Santos, Sérgio Luiz Soares, Agnaldo Antonio da Silva,
Oscar Manoel da Cruz, João Batista Viana, Cláudio Ernesto, Helio
Massi Jr., João Ribeiro de Arruda, Pedro Antunes da Silva,
Sandro Luiz Marinho, Givaldo Vieira da Silva e Robson
Miguel de Lima, presos na Instituto Penal Agrícola Dr. Javert
de Andrade, em São José do Rio Preto, teriam sido brutalmente
chutados, socados e espancados com cassetetes por policiais
militares que estariam conduzindo uma revista nas celas dos presos
no dia 08 de março de 1999. Segundo informações recebidas pelo
Relator Especial, mulheres e crianças que estavam visitando os
presos foram submetidas a revistas humilhantes.
284. Herberto da Silva Batista
teria sido preso em maio de 1999 e levado para o 85o
Distrito Policial em São Paulo. Durante a sessão do tribunal,
ele teria confessado sua participação num crime. Ele teria sido
levado de volta para sua cela e espancado em represália pelos
outros detentos. Sua família teria notado marcas de maus tratos,
tais como ferimentos em seu rosto e marcas de queimadura em torno
da boca e dos olhos, provavelmente causadas por cigarros. Ele
teria começado a demonstrar problemas psicológicos e recusou-se
a falar com membros da família e companheiros detentos. Policiais
estariam a par da situação e não transferiram-no para outra
cela.
285. Eduardo Alves Pinheiro
teria sido preso por oito policiais civis enquanto dirigia seu
carro em 17 de abril de 1999. Ele teria escapado do 5o
Distrito Policial em São Paulo sete meses antes. Segundo informações
recebidas pelo Relator Especial, os policiais levaram-no para uma
área de floresta próxima à cidade, onde o delegado do 5o
Distrito Policial juntou-se ao grupo. Eduardo Alves Pinheiro teria
sido chutado na cabeça diversas vezes pelos policiais, incluindo
o delegado do 5o Distrito Policial e um delegado do
DEPATRI. Eduardo Alves Pinheiro teria sido levado para o Hospital
Mandaqui pelos policiais, que teriam dito aos médicos que ele
teria se envolvido num acidente de carro. Ele teria sido
localizado por seus parentes no DEPATRI, onde ele teria sido
novamente espancado. Na cela, ele teria sido pendurado no
"pau de arara" e submetido a choques elétricos. No dia
18 de abril, seus parentes teriam requisitado à Corregedoria
da polícia civil que fizessem um exame de corpo de delito, o que
teria sido negado. Segundo informações recebidas pelo Relator
Especial, sua família fez o mesmo pedido ao Departamento de
Investigações Policiais. Policiais no Departamento teriam dito
que um exame de corpo de delito não poderia ser feito porque eles
não tinham viaturas suficientes para transferi-lo ao centro médico.
Cinco dias depois, um pastor teria requisitado um exame de corpo
de delito. Eduardo Alves Pinheiro e sua esposa foram em seguida
examinados.
286. Valmir Higino da Silva
teria sido preso em 14 de janeiro de 1998 e levado ao 3oDistrito
Policial em São Paulo. Sua família não teria tido qualquer
contato com ele após sua prisão. Na delegacia, ele teria sido
atacado por outros presidiários. Ele teria sido transferido para
uma outra cela, onde ele também teria sido espancado por outros
internos. Um policial também teria chutado e pisado nele. Ele
teria sido levado para um hospital pelo Grupo Armado de Prevenção
de Assalto e Furto. Ele teria sido encontrado morto em 18 de
janeiro no 3o Distrito Policial. Um inquérito policial
teria sido aberto. O Relator Especial gostaria de ser informado a
cerca do resultado do inquérito.
287. Alexandre Ribeiro da Silva,
Claudionor da Silva Lago, Eduardo de Queiroz Manoel, Eduardo José
Cordeiro, Francisco Ramos de Andrade, Jaime Barbosa de Paula, José
Rubens Barbosa da Silva, Marcelo Chavez da Silva, Mário Oliveira
Santos, Paulo Cesar de Souza Martins, Robério Calisto Pereira,
Denílson Silveira de Paulo, Edgar Alves Braga, Edson José da
Paixão, Edson Julio Penna Vieira, Francisco Rodrigues Monte
Agudo, Gilson Gomes da Silva, Ivanaldo Silva de Oliveira, Jarbas
José Rodrigues, João Roberto Pereira Santos, José Rodrigues dos
Santos, Marcos Santos Cardoso, Matias Gomes da Silva, Mauricio
Mariano, Nilton Belilio da Silva, Samuel dos Santos Cardoso,
Sebastião Luiz Teixeira, Alequison Silva Medeiros, Aluísio Gomes
da Silva, Antonio Rodrigues da Silva Filho, Aparecido José
Sartori, Claudio Lacerda Magalhães Jr., Daniel Vinícius Canonico,
Edivaldo Nunes Pereira, Edson Aparecido de Brito, Fernando de
Carvalho Pereira, Gilson José da Silva, José da Silva Neto, José
Luiz Araújo de Rosa, Juracy Odair, Luis Arlindo Lereno Filho,
Luis Bonifácio da Silva, Luiz Osmar dos Santos Jr., Manuel Pedro
da Silva, Paulo Antonio Sales, Paulo Vieira de Moraes, Sérgio de
Oliveira Silva, Sérgio Esponton Gaspar, Valdemar Gomes, Valdir
Marques da Cunha, Vicente da Costa, Agnaldo Antonio da Silva,
Anderson de Oliveira Lopes, Ângelo Eduardo de Lucena, Cícero José
Pinheiro, Daniel da Silva Oliveira, Davi Rodrigues Lopes, Fabiano
Padro de Oliveira, José Cícero Batista de Melo, Paulo Ramos
Favale, Dalmir Lopes de Aquino, Davi Rodrigues Lopes, João
Batista Queiroz, Leandro Arantes Marins, Sérgio Wilson Campos,
Antonio Pereira da Silva, Beline Silva Melo, Denis Marcelo
Moreira, Idalmo Ferreira da Cruz, Almir David das Neves, Antonio
Fernandes da Silva, Dimas Camargo Josias, Edilson Ferreira
Moreira, Jailson Teles Sobrinho, José Carlos Diniz, Renato José
de Souza, Sérgio Robson da Silva, Valdivino Alves de Souza,
Claudio Teodoro Aires, Antonio Estanislau dos Santos, Carlos José
Costa Neto, José Carlos Nunes, Marcos Passos, Sérgio de
Oliveira, Teodoro Soares dos Santos, Adalberto Ribeiro dos Santos,
Claudio Cardoso, Cristiano Gonçalves de Souza, Djalma Freire dos
Santos, Everealdo Paixão, Georgiano dos Santos Marinho, Gilson
Gonçalves da Silva, Silas Candido Domingues, Eduardo Valentim
Silva, Edson Félix dos Santos, Fábio de Ribeiro, José Joseildo
Batista, Amilton Silva, Francisco Carlos Martins, Francisco Carlos
do Nascimento, Francisco Edmilson de Almeida, Geraldo Marco Aurélio
de Oliveira, Manoel Alves Jr., Marcelo Ribeiro Souza, Robson Gonçalves
de Sá, Alexandre Joaquim dos Santos, Antonio Carlos Rafael,
Arnoldo Vitor Batista, Joacir Barreiro Fonseca Jr., José Ribeiro
da Silva, Ricardo da Silva, Wellington Vasconcelos dos Santos
e Sérgio de Oliveira, presos na delegacia DEPATRI em São
Paulo, teriam sido brutalmente espancados por policiais do Grupo
Armado de Prevenção de Roubos e Furtos em 1o de
fevereiro de 1998. Segundo informações recebidas pelo Relator
Especial, um "corredor polonês" foi formado por
policiais que seguravam barras de ferro, pedaços de madeira e revólveres.
Policiais teriam forçado os presidiários a correr pelo corredor
espancando-os enquanto passavam. Laudos médicos oficiais
realizados três dias depois teriam revelado marcas de
espancamentos em 107 presidiários. Fotografias das contusões nas
costas, pernas e braços dos presidiários teriam sido tiradas. Um
inquérito da polícia civil teria sido aberto. Segundo informações
recebidas pelo Relator Especial, nenhum dos policiais envolvidos
no incidente foi removido ou punido. O Relator Especial gostaria
de ser informado a cerca do resultado do inquérito.
288. Clener Mandis Barbosa,
preso na Casa de Detenção de São Paulo, teria sido espancado em
19 de fevereiro de 1998. Segundo informações recebidas pelo
Relator Especial, guardas da prisão utilizando máscaras entraram
na sua cela, destruíram seus objetos pessoais e espancaram-no.
Ele teria sido mandado para a seção médica da Casa de Detenção,
mas não foi visto por um médico.
289. Olívio Leivas de Araújo,
um interno do Carandiru, que estaria sofrendo de diabete, teria
sido picado por um inseto em junho de 2000, causando uma grande
infecção na parte inferior de sua perna. Ele não teria recebido
cuidados médicos a não ser uma atadura e uma loção salina
durante os dois dias que precederam a entrevista com o Relator
Especial, em 25 de agosto de 2000. Durante os nove dias
precedentes, ele teria sido internado na ala médica. Os registros
médicos indicavam que ele tinha tomado ampicilina em 21 de agosto
de 2000. De acordo com a enfermeira, ele estaria recebendo antibióticos
e estava sofrendo de um problema vascular. O laudo médico
indicava que tinha recebido tratamento médico em janeiro de 2000
e que tinha recebido antibióticos em 19 de junho. No dia 11 de
agosto, o médico teria ordenado dez dias de antibiótico, o que
ele teria recebido a partir daquela data. No registro médico
estava, entretanto, anotado a partir de 18 de agosto. No dia 17 de
agosto, ele teria sido transferido para a ala médica. De acordo
com o médico, ele não recebeu insulina durante os cinco meses
precedentes pois as tachas de açúcar em seu sangue tinham caído.
De acordo com a enfermeira, ele necessitava de cirurgia vascular e
uma requisição neste sentido havia sido feita, não sendo,
entretanto, providenciada em função de razões de segurança.
290. Humberto Mastrorosa,
Antonio Carlos Rosa, David Guimarães Pinheiro, Evandro José do
Nascimento, Daniel Della Rosa, Alexandre Alves Martinez, Carlos
Ayrton Fernandes, Gerson Lomas, Mário Fideles Aparecido da Silva,
Genilson dos Santos, Silvio Lopes, Douglas Vieira dos Santos, Fábio
Moreira, Edson Alberto da Silva, Márcio Soares dos Santos,
Everaldo Severino Felix e João Batista Filho teriam
sido espancados por policiais do Grupo Especial de Operação da
polícia civil no 34o Distrito Policial em São Paulo
em 16 de março de 1998. Segundo informações recebidas pelo
Relator Especial, os policiais invadiram as celas depois de uma
suposta tentativa de fuga. Os policiais teriam ordenado a todos os
presidiários que tirassem suas roupas e deixassem suas celas. Em
seguida, os espancaram com tacos de baseball e atiraram para o ar.
Cento e sessenta e seis detentos teriam sido espancados. Detentos
teriam apresentado marcas e contusões como resultado do
incidente, mas não foram autorizados a serem submetidos a exames
de corpo de delito.
291. Wanderley Gonçalves de
Oliveira, um empregado do governo, teria sido abordado na rua
por dois policiais militares no dia 02 de junho de 1998, em
Franca. Segundo informações recebidas pelo Relator Especial, ele
foi acusado de fumar maconha. Os policiais teriam revistado seu
corpo, mas nada encontraram. Policiais teriam agredido-o com
golpes de cassetete nas suas costas, pescoço e rins. Teria sido
submetido a um exame de corpo de delito. Um inquérito militar
teria sido aberto mas em seguida fechado em razão de uma alegada
falta de evidência.
292. Márcio Anderson Dias,
detido no 101o. Distrito Policial em São Paulo teria
sido espancado por policiais no dia 23 de fevereiro de 2000. Um
exame de corpo de delito teria sido requisitado.
293. Eduardo Pedro da Costa,
detido na cadeia de Americana, teria sido levado da sua cela para
o pátio junto a outros detentos de seu pavilhão no dia 02 de
junho de 2000. Ele teria iniciado uma disputa com um agente carcerário,
que o teria espancado e ferido sua cabeça. Segundo informações
recebidas pelo Relator Especial, a polícia militar chegou na prisão
e formou duas linhas paralelas ("um corredor polonês")
no corredor entre o pátio e o pavilhão. A polícia teria
ordenado aos detentos que tirassem suas roupas e corressem pelo
corredor polonês enquanto os espancavam com cassetetes, barras de
ferro, um pequeno chicote e navalhas. Segundo informações
recebidas pelo Relator Especial, os detentos foram forçados a
deitar no chão no pátio e foram novamente espancados. Os
policiais teriam encharcado-os com água contendo sal e vinagre,
aumentando a dor de suas feridas. Durante os espancamentos,
policiais teriam ordenado aos detentos que cantassem uma série de
letras auto depreciativas. O diretor da prisão teria estado
presente durante todos os espancamentos. Eduardo Pedro Costa teria
sido escolhido e espancado por aproximadamente duas horas com
chicote de navalha, cassetetes, varas de bambu e barras de ferro.
Ele teria sido removido para um hospital no mesmo dia. Segundo
informações recebidas pelo Relator Especial, ele oscilava entre
estados de consciência e inconsciência e não foi capaz,
portanto, identificar o hospital em que tinha estado. Teria sido
transferido do hospital para a cadeia em Santa Bárbara d’Oeste
e, posteriormente, levado de volta para a prisão de Americana.
Wilson Pereira da Silva, um outro detento, teria sido chicoteado
com várias cordas de metal, barras de metal, pedaços de madeira
e garrafas. Cristiano Rodrigues dos Anjos, também detento, teria
sido espancado com chicotes, garrafas, barras de ferro e
cassetetes. Ele teria sido transferido para uma outra prisão uma
semana depois, juntamente a outros quatro detentos. Lá eles
teriam sido novamente brutalmente espancados pela polícia militar
com cassetetes e varas de madeira. O detento Luis Claudio Bonfim
teria tido seu braço quebrado com uma barra de ferro. Ele teria
sido examinado em 02 de junho de 2000 em um hospital. O detento
Daniel Bueno teria sido brutalmente espancado com chicotes,
causando mais de 50 lesões. Ele também teria sido espancado na
cabeça diversas vezes, o que o teria levado a perder a consciência
durante vários minutos. Segundo informações recebidas pelo
Relator Especial, fotos do seu corpo demonstraram descoloração
da pele na maior parte de seus ombros, costas e nádega. Alguns
dias depois do espancamento, seu advogado visitou a prisão e
teria requisitado um exame de corpo de delito. O diretor da Cadeia
Pública de Americana teria visitado a cadeia em 14 de julho de
2000 e entrevistado diretores e vários detentos. O diretor teria
ordenado a remoção de um detetive e de um agente carcerário e
aberto inquérito interno. Em 31 de julho de 2000, uma série de
detentos na prisão apresentariam múltiplas cicatrizes.
294. No dia 30 de janeiro de 2000,
algumas mães que estavam visitando seus filhos na FEBEM Santo
André viram algumas varas de madeira e de ferro embrulhadas num
pedaço de pano coberto de sangue. A imprensa teria sido chamada e
filmado a cena. Autoridades da FEBEM teriam coletado as varas e
dito à imprensa que elas teriam sido trazidas pelas mães dos
detentos. Um grande número de detentos do Santo André teriam
tido seus dentes, braços e pernas quebrados de uma só vez.
Segundo informações recebidas pelo Relator Especial, monitores
da FEBEM, alguns mascarados, teriam posteriormente espancado os
menores enquanto dormiam na noite seguinte.
295. S.A., 18 anos, teria
sido transferido da Casa de Custódia do Carandiru, onde ele tinha
sido mantido no Centro de Observação Criminológica (COC), para
o Centro de Detenção Franco da Rocha no começo do verão de
2000. Segundo informações recebidas pelo Relator Especial, ele
foi inicialmente detido em 1997, mas fugiu durante uma rebelião.
Ao chegar no Franco da Rocha, ele teria sido espancado por
coordenadores e monitores que estavam acompanhados de agentes da
Unidade de Atendimento Provisório (UAP) e da Unidade de Educação
(UE). Ele e outros detentos teriam sido instruídos a tirar suas
roupas e teriam sido brutalmente espancados com varas de madeira e
barras de ferro cheias de cimento. Isto teria acontecido várias
vezes após sua transferência para o Franco da Rocha, sempre
durante a noite. O diretor teria testemunhado tal conduta diversas
vezes e nunca teria tentado coibi-lo.
296. C.G.D., 17, estaria
mantido na unidade Franco da Rocha onde aconteceu uma revolta no
verão de 2000. Ele teria sido em seguida detido em uma cela com
uma pequena janela, sem colchões e comportando dez outros
detentos. Lá ele teria permanecido trancado durante 24 horas por
dia. Segundo informações recebidas pelo Relator Especial, cerca
de dez monitores e coordenadores e 2 agentes da UAP foram à cela
supervisionar e espancar os detentos. C.G.D. teria sido chutado no
rosto, teriam-lhe pisado nos quadris e sua cabeça teria sido
golpeada contra a parede. Todos os detentos da ala onde
teria acontecido a revolta teriam sido ameaçados com barras de
metal e também espancados. Depois do incidente, C.G.D. teria sido
submetido a constante humilhação e ameaças de morte. A requisição
para que ele recebesse assistência médica teria sido negada.
297. Gilberto Ferreira Da Silva
teria sido preso em 24 de agosto de 2000. Teria sido pego em
flagrante por policiais civis e militares. Segundo informações
recebidas pelo Relator Especial, antes de ser levado à delegacia,
três policiais militares teriam chutado seu rosto enquanto estava
deitado no chão. Como estava sangrando, ele teria sido mais tarde
levado a um hospital pelos policiais que tinham-no prendido. Teria
sido levado ao 11o Distrito Policial em São Paulo,
onde assinou uma nota de culpa.
298. Jorge Miranda do Nascimento
teria sido preso em novembro de 1999 em sua casa. A polícia teria
entrado na sua casa e, como não estava presente, teria levado sua
esposa até que ele retornasse. Teria sido levado ao 47o
Distrito Policial em São Paulo, onde teria sido espancado com
varas de madeira e barras de metal por quatro ou cinco policiais
durante aproximadamente duas horas. Teria sido chutado no rosto e
nos pés até assinar uma confissão. Teria ainda sido ameaçado.
299. F.G.L., 15, teria sido
preso na rua por três membros da polícia civil no dia 24 de maio
de 1999, em São Mateus. Ele teria sido pego em flagrante delito
roubando um carro. Ele teria sido levado ao 49o.
Distrito Policial, onde teria sido espancado, principalmente na
barriga, com as mãos e com pedaços de madeira, pelos policiais e
pelo dono do carro. Teria sido forçado a assinar uma confissão.
Ele teria sido levado a um promotor público dois dias depois e
teria relatado a ele os maus-tratos a que teria sido submetido. No
mesmo dia, teria sido visto por um juiz. O advogado que lhe tinha
sido designado não mencionou o fato da confissão ter sido extraída
sob coação. Segundo informações recebidas pelo Relator
Especial, Fabio Gomez da Lima queixou-se diretamente ao juiz, que
não teria reagido. Sua mãe teria sido informada de sua prisão
às 2 horas da manhã seguinte. Quando chegou na delegacia, teria
sido negada de ver seu filho, que estaria sendo transferido para a
Unidade de Atendimento Provisório da FEBEM, onde permaneceu cinco
dias. Ele teria que ficar em silêncio, com suas mãos atrás da
cabeça. Cada vez que um adolescente quebrasse o silêncio,
sofreria, em represália, um espancamento. Segundo informações
recebidas pelo Relator Especial, sua mãe só pode vê-lo cinco
dias depois no BRAZ. Apesar dela não poder falar com ele
privadamente, teria notado que ele estava muito aflito, pálido e
com o rosto ferido. Ele teria passado os oito meses seguintes nas
unidades de Tatuapé e de Santo André, sendo transferido cada vez
que ocorria uma revolta. A cada vez ele teria sido brutalmente
espancado com varas de madeira, principalmente nas pernas. Durante
sua detenção em Tatuapé, ele teria sido mantido na cela de
isolamento por 15 dias, durante os quais, teria sido espancado a
cada mudança de turno da guarda. Certa vez, ele teria sido
transferido para um hospital, onde ele teria ficado três dias com
braços e ombros inchados e contundidos e uma ferida no pé. Desde
abril de 2000, estaria detido na unidade Franco da Rocha. Segundo
informações recebidas pelo Relator Especial, ele foi espancado
após a revolta que aconteceu lá em meados de agosto de 2000.
Teria sido visto com hematomas em seus braços. As marcas
decorreriam da tentativa de proteger o corpo dos espancamentos. A
duração de sua sentença não é sabida. Além do mais, sua mãe
teria passado dias e noites em frente instituições da FEBEM com
outras mães de detentos e teria sido molestada e humilhada por
guardas e policiais.
300. L.R.A.L., 17, teria
sido preso por membros da polícia militar na praia de Paia Grande
em 21 de março de 1999; teria sido pego em flagrante delito
efetuando um assalto à mão armada. Sua mãe teria sido informada
do incidente na noite seguinte. Ele teria permanecido 12 dias no
quartel de Vila Tupi, comumente conhecido como Sede. A mãe dele
teria sido impedida de vê-lo, e conseguiu apenas entregar-lhe,
por intermédio de um policial, cigarros e biscoitos. Ela o teria
visto pela primeira vez na unidade de Imigrantes no início de
abril de 1999. Segundo informações recebidas pelo Relator
Especial, ele estava muito fraco, semi-nu e gelado; não podia
falar e tinha que manter suas mãos e sua cabeça para baixo
durante toda a visita. As autoridades da FEBEM teriam decidido que
ele era um psicopata, apesar de sua mãe ter informado às
autoridades que seu filho estava recuperando-se do vício de
drogas. Em julho de 1999, ele foi transferido para o Internato
Nova Conceição depois de supostamente ter sido seriamente
espancado. Ele teria sido transferido para diferentes casas de
detenção durante os meses seguintes e sido espancado em cada
transferência. Teria sido finalmente transferido para a Instituição
Cláudio Amansio, onde ele é tratado da sua dependência das
drogas. Ele teria sido sentenciado por período indeterminado por
assalto à mão armada. O juiz que ordenou sua transferência para
a Instituição Claudio Amansio decidiu que ele não poderia
permanecer lá por somente um ano. Teme-se que uma vez retornando
à FEBEM, isto é, em fevereiro de 2000, ele recomeçaria a se
drogar, uma vez que as drogas têm ampla circulação nestas
instituições.
301. C.O.S., 17, teria sido
preso por membros da polícia civil na rua em São Mateus, em
fevereiro de 2000, depois de ter fugido, 14 meses antes, da
unidade de Imigrantes. Teria sido condenado no início de 1998 sob
acusação de assalto à mão armada. Na época da primeira prisão,
teria sido imediatamente levado da delegacia para Pinheiros, onde
foi visto por sua mãe com hematomas por todo o corpo. Estaria
urinando sangue naquela época. A pedido de sua mãe, teria sido
consultado por um médico no dia seguinte a sua chegada em
Pinheiros. Após cerca de três meses de detenção, ele teria
sido transferido para unidade de Tatuapé à noite. Sua mãe não
teria sido informada de sua transferência. Durante os dois meses
que ele permaneceu em Tatuapé, sua mãe o teria visto diversas
vezes com contusões no corpo. Ele teria sido espancado com um
pano molhado. Teria então sido transferido para Santo André,
onde uma revolta tinha ocorrido em junho de 2000. Ele estaria em
um tal estado de choque que não conseguiu falar na primeira vez
que a mãe o viu após a revolta. Ele teria muitos cortes,
principalmente nas suas pernas e orelhas, e teria tido sua cabeça
golpeada contra as barras. Segundo informações recebidas pelo
Relator Especial, ele também foi forçado a ajoelhar em bombinhas
e, como resultado, teve sérios ferimentos em seus joelhos. Ele
foi então transferido para Pinheiros, onde no início de agosto
seu braço teria sido quebrado por monitores da prisão. Sua mãe
teria se queixado, inclusive a um juiz, e ele finalmente recebeu
tratamento médico. Um inquérito interno teria sido aberto. Os
resultados dele não eram sabidos na época em que o Relator
Especial foi informado deste caso em 23 de agosto de 2000. Um
laudo médico teria sido dado para as autoridades da FEBEM. O juiz
encarregado do caso teria pedido um relatório do incidente ao
assistente social que trabalha com C.O.S.
302. Carlos Augusto Carvalho
Oliveira, 27 anos, teria sido preso por membros da polícia
civil em um ônibus em Santo Amaro, no dia 25 de outubro de 1999,
sob suspeita de assalto. Ele teria sido espancado com o cabo de um
fuzil no momento da prisão e teria sido ameaçado com uma arma.
Teria sido levado ao 11o. Distrito Policial de Santo
Amaro, onde seu depoimento foi gravado pelo delegado, que o teria
levado a um quarto onde foi despido, chutado na barriga e nas
pernas, golpeado contra as paredes, além de ter tido suas mãos
pisadas. Ele teria perdido consciência. Então, ele teria sido
forçado a assinar uma confissão. Sua família teria sido
informada no dia de sua prisão mas somente dois dias depois ele
pode encontrar com seu advogado. Um laudo médico indicando
"leves contusões" teria sido emitido apenas uma semana
após sua prisão. Seu advogado teria entregado uma queixa de
maus-tratos e pedido que o laudo médico fosse encaminhado ao
corregedor. Os policiais supostamente responsáveis estariam ainda
em serviço, apesar de, no início de agosto de 2000, Carlos
Augusto Carvalho Amoro tê-los reconhecido numa parada policial.
Ele teria sido condenado e sentenciado a cinco anos e quatro meses
de prisão. Na época em que o Relator Especial recebeu informações
sobre o seu caso (23 de agosto de 2000), ele estaria ainda sendo
mantido na mesma delegacia e sendo constantemente ameaçado por
policiais. Ele teria sido espancado uma vez quando, com outros
detentos, pediu a transferência de um preso que estava doente.
303. Diego de Sena Medine,
18 anos, teria caído do telhado de uma das alas da unidade Franco
da Rocha durante a revolta do dia 10 de agosto de 2000. Ele teria
caído do telhado enquanto tentava evitar espancamento dos guardas
que usavam máscaras e que portavam barras de ferro. Segundo
informações recebidas pelo Relator Especial, ele fraturou o crânio
na queda e foi espancado com pedaços de madeira enquanto estava
deitado no chão. Autoridades do Franco da Rocha teriam dito que
ele foi empurrado do telhado por um outro interno. Na época da
visita do Relator Especial ao Franco da Rocha, em 24 de agosto de
2000, D.S.M. estava deitado numa cama limpa com lençóis. Ele
teria sido transferido para uma enfermaria dois dias antes da
visita do Relator Especial. Antes disto, ele estaria recluso numa
cela muito suja sem cama ou cobertores. Outros detentos doentes
também teriam sido transferidos para um outro lugar de detenção.
304. Antonio Rodriguez, um
representante da cidade de Diadema, teria sido preso em 23 de
fevereiro de 1998 em frente à prefeitura onde ele tinha tido uma
reunião com a câmara dos vereadores a respeito da provisão de
água para algumas comunidades. A polícia militar teria provocado
um tumulto ao insultar alguns dos manifestantes que estavam
esperando do lado de fora do prédio para saber do resultado das
negociações com as autoridades. Antonio Rodriguez estava
algemado e teria sido espancado. Teria sido agarrado pelo pênis e
chutado. Duas outras pessoas teriam sido presas com ele. Ele teria
sido espancado na viatura da polícia que estava levando-o para o
1o. Distrito Policial em Diadema. Na delegacia, ele
teria sido humilhado. Segundo informações recebidas pelo Relator
Especial, antes de ser transferido pelos policiais militares para
o quartel da polícia, seu tornozelo esquerdo foi esmagado na
porta da viatura policial na qual ele ia ser transferido. Muitas
pessoas, incluindo sua esposa, teriam testemunhado este incidente
pois estavam protestando por sua libertação do lado de fora da
delegacia. No quartel, ele foi humilhado, ameaçado e jogado
contra as paredes. Ainda algemado, ele teria sido levado para o
setor de emergência do Hospital Central de Diadema, onde foi
diagnosticado que tinha uma perna quebrada. O laudo médico teria
sido levado por um policial. Ele teria então retornado ao quartel
com sua perna engessada. Lá, ele foi colocado numa cadeira que
teria sido levantada e derrubada. Ele começou a dar sua versão
dos fatos, incluindo a violência policial, para o policial civil
que o estava interrogando. Mas ele teria então sido interrogado
por três policiais militares que estavam apontando armas em sua
direção. Às 03 horas da manhã, ele teria pagado sua fiança e
sido solto. Seu corpo estaria coberto de hematomas e ele foi
submetido a três operações na sua perna quebrada.
Posteriormente foi acusado de danos ao patrimônio público,
desobediência e desacato a autoridades públicas. Segundo informações
recebidas pelo Relator Especial, fez queixas à Câmara dos
Vereadores, ao Ouvidor da polícia militar, à secretaria
encarregada da Segurança Pública e a várias instituições de
defesa dos direitos humanos, sem qualquer sucesso. Ele não teria
entregue nenhuma queixa formal à polícia pois tinha sido
aconselhado a esperar o final dos processos contra ele.
305. Lucio Antonio de Carvalho
teria sido preso, no dia 25 de maio de 2000, no bairro de Pacaembu
por 15 policiais militares do 2o. Distrito Policial e
por cinco agentes do DEPATRI. Teria sido preso por ordens de um
tenente com base em acusação de extorsão feita por sua
namorada. Foi levado ao DEPATRI onde foi esbofeteado no rosto.
Algemado com as mãos para trás, ele teria então sido chutado e
espancado por vários guardas, incluindo o delegado. Teria sido
forçado a assinar uma confissão sob ameaça. Teria então sido
posto numa cela do DEPATRI com outros 30 detentos. Dois dias
depois, um detento teria comprado uma arma de fogo de um dos
guardas e uma revolta começou, mas sem sucesso. Alguns detentos
teriam se ferido seriamente durante o conflito com os guardas. Uma
hora e meia depois do fim da revolta, cerca de 60 guardas usando máscaras
teriam entrado nas celas e, sob ordens do agente carcerário, começaram
a espancar todos os detentos, que teriam sido despidos. Eles foram
forçados a deixar as celas um por um e teriam sido obrigados a
atravessar um cordão de guardas que os batiam com varas de
madeira. Eles teriam então sido obrigados a ficar de frente para
a parede e foram espancados, principalmente na cabeça, nas
costelas, nas costas e nos testículos. Ele teria desmaiado
diversas vezes e teria sido acordado ou com água gelada ou com
choques elétricos. Teria sido levado a uma sala isolada por sete
homens encapuzados e teria recebido choque elétrico no pênis.
Isto teria durado 90 minutos, durante os quais ele desmaiou por três
vezes. Segundo informações recebidas pelo Relator Especial, ele
foi levado para o fundo da cela coberto com sangue. Lá, todos os
detentos foram ameaçados pelo agente carcerário de serem
assassinados e disparos teriam sido feitos na parede acima de suas
cabeças. No dia seguinte, ele teria sido levado para uma sala
separada, onde foi apunhalado com uma faca no braço direito e
chutado no rosto por homens usando capuzes que traziam escritas as
letras GOE - Grupo de Operações Especiais. Ele teria sido
submetido a tratamento específico depois da revolta por ter sido
famoso nos meios das academias de musculação. No dia seguinte,
todos os detentos ainda estariam nus em suas celas e as mulheres
que fazem a limpeza teriam se recusado a entrar no local caso os
detentos não colocassem roupas decentes. Eles não receberiam
comida pelos cinco dias subseqüentes à revolta. Um dia ou dois
depois, o advogado de Lucio Antonio de Carvalho teria sido
impedido de vê-lo. No dia seguinte, o advogado teria sido
informado pelos guardas que seu cliente teria sido espancado por
outros detentos. Lucio Antonio de Carvalho conseguiu, entretanto,
falar com seu advogado, que teria entregue uma queixa contra
policiais. No mesmo dia, ele também teria caído no chão de sua
cela com convulsões. Durante todo o tempo, ele não teria podido
comer e estava vomitando sangue. Na época da entrevista com o
Relator Especial, em 25 de agosto de 2000, marcas compatíveis com
seu relato ainda eram visíveis em sua barriga, em seu braço
direito, em ambos os joelhos, nas mãos e na parte de trás de sua
cabeça. Fotos de seu pênis e testículos inchados foram
mostradas ao Relator Especial.
306. Ronaldo Gaspar dos Santos teria
sido mandado às celas de castigo do Pavilhão 4, o chamado
calabouço, duas semanas antes da visita do Relator Especial
(24 de agosto de 2000), supostamente por não ter
aberto a porta para um guarda. De acordo com o registro da celas
de castigo, ele deveria estar na cela na hora da visita, mas o
diretor do Pavilhão 4 disse que o presidiário tinha sido levado
a julgamento. Depois de mais ou menos uma hora de discussão, o
diretor admitiu que Ronaldo tinha sido transferido para a Casa de
Detenção de Segurança Máxima no Complexo do Carandiru, onde
foi visitado imediatamente pelo Relator Especial. Segundo informações
recebidas pelo Relator Especial, nas noites de 22 e 23 de agosto,
ele e mais outros dois presos foram retirados da cela de castigo e
levados ao Pavilhão 5, onde teria sido forçado a assinar um
documento aceitando sua transferência à este pavilhão, onde os
chamados "seguros" são detidos. Teria sido espancado
com duas barras de ferro durante duas horas por cinco guardas do
Pavilhão 5. Depois teria sido levado às celas de castigo do
Pavilhão 5, cujas descrições foram claras e compatíveis com as
observações do Relator Especial durante sua visita à esta seção
do Pavilhão 5. Às duas da tarde no dia 23 de agosto, teria sido
transferido de volta para a seção médica do Pavilhão 4 onde
teria sido examinado por um médico, que diagnosticou uma fratura
na perna esquerda. Com a perna engessada, teria sido mandado de
volta para as celas de castigo do Pavilhão 5, antes de ser
transferido mais uma vez para as celas de castigo do Pavilhão 4,
onde passou a noite. Segundo informações recebidas pelo Relator
Especial, às 09:30 do dia seguinte, antes de ser levado para a
Casa de Detenção, foi examinado por um médico sem nenhuma
explicação. Por ocasião da entrevista, não só estava com a
perna engessada, como apresentava várias contusões nas costas e
nas mãos, compatíveis com os relatos. Além disso, acredita-se
que ele estivesse na chamada "situação de trânsito",
ou seja, a transferência de uma penitenciária a outra a mais ou
menos cada trinta dias, desde sua detenção no início de 1997.
307. Marcelo Ferreira da Costa,
28 anos, teria sido submetido ao mesmo tratamento de Ronaldo
Gaspar dos Santos. Teria sido detido no "calabouço"
durante duas semanas antes da visita do Relator Especial, em 25 de
agosto de 2000. Por ocasião da
entrevista, contusões e hematomas compatíveis com os relatos
eram visíveis na coxa esquerda, nos braços direito e esquerdo e
nas costas.
308. Marcelo Miguel dos Santos,
um presidiário da casa de detenção de Carandiru teria ido falar
com o diretor do Pavilhão 6 para pedir uma transferência para o
Pavilhão 9 no dia 05 de julho de 2000, a fim de beneficiar-se de
um regime semi-aberto. Teria entrado
na sala do diretor com as mãos para trás. O diretor teria lhe
dito que, se ele fosse do Pavilhão 9, era melhor se retirar da
sala imediatamente. Marcelo Miguel dos Santos, que teria catarata
na vista e não enxergaria muito bem, teria acidentalmente chutado
uma pequena cancela ao sair da sala, desculpando-se. O diretor
teria dito que Marcelo chutou a porta por pura arrogância e teria
levado-o até a carceragem, no porão. Teria mandado
Marcelo tirar a roupa, e com mais cinco ou seis funcionários
teria espancado-o nas costas e no braço com um pedaço de pau
durante cerca de meia hora. O diretor também teria socado
Marcelo. Por causa da surra, Marcelo teria apresentado hematomas
sobre o braço direito, inchaço no lado esquerdo das costas, e
feridas no ombro direito e na base do pescoço. Logo depois, o
diretor teria assinado um documento de transferência para as
celas de castigo do Pavilhão 5 por 30 dias, "por ter
desprezado a autoridade de um funcionário a fim de corromper a
ordem e a disciplina". As lesões teriam começado a inchar.
Do dia 05 a 23 de julho de 2000, foi informado que não tinha o
direito de ir ao hospital, à sala de emergência, ou à
enfermaria do presídio enquanto estivesse na cela de castigo.
Outros presidiários teriam protestado aos gritos para que Marcelo
fosse atendido. Finalmente, a pessoa encarregada da enfermaria o
teria dado um analgésico. No dia 23 de julho, Marcelo teria sido
levado à enfermaria, e naquela tarde, ao hospital, pelo médico
da enfermaria. Marcelo não conseguiria sentar por causa dos
ferimentos. Sangue e pus teriam sido retirados das lesões duas
vezes: da primeira cinco litros, e da segunda, três litros. Foi
levado ao hospital na noite de 25 de agosto, onde permaneceu três
horas, o máximo que havia ficado no hospital desde o
espancamento, e teria voltado ao presídio à uma hora da manhã.
Médicos da penitenciária teriam dito quatro vezes que ele
deveria ir para o hospital, mas não haveria nenhum policial
militar disponível para acompanhá-lo. Na época da entrevista do
Relator Especial, no dia 26 de agosto de 2000, Marcelo estava numa
cadeira de rodas e apresentava graves ferimentos compatíveis com
seu relato, incluindo uma grande ferida infeccionada nas costas. Não
conseguia mover seu braço direito. O Relator Especial examinou o
relatório disciplinar de Marcelo Miguel dos Santos. Afirmava que
"na data, local e horário mencionados acima, o executante
entrou na sala da diretoria do núcleo de segurança sem autorização
e foi pedido imediatamente que esperasse atendimento do lado de
fora. Ignorou o pedido completamente e começou a correr e chutou
a porta com muita agressividade. Por isso recomenda-se que seja
levado a isolamento preventivo no núcleo de segurança n° 3, de
acordo com o artigo 50 LEP".
309. Denis Renato Ferreira,
18 anos, teria sido detido em sua casa em Francisco Morato no dia
21 de dezembro de 1999, por quatro policiais militares e um
oficial de justiça com um mandado de prisão. Foi procurado pela
polícia depois de ter fugido da unidade de Imigrantes. Teria sido
levado à delegacia mais próxima, e no dia seguinte, à unidade
de atendimento da FEBEM, onde teria permanecido durante 15 dias. Lá,
teria sido espancado com pedaços de cabo e barras de ferro, além
de chutado, como castigo por ter fugido da unidade de Imigrantes.
Foi relatado que Denis teria sido submetido a espancamentos
durante quinze minutos todos os dias, na hora da troca de guarda.
Teria sido forçado a tomar duchas geladas para que as marcas
desaparecessem e às vezes teria sido trancado numa cela
completamente escura. Ele, como outros menores, teria sido forçado
a ficar sentado em silêncio o dia inteiro com as duas mão atrás
da cabeça. À noite, não teria recebido um colchão e teria
dormido com outros quinze adolescentes no chão de cimento de uma
pequena cela. Não teria tido permissão de ir ao banheiro sempre
que pedisse. Teria sido informado que sua família sabia de sua
detenção, o que mais tarde descobriu não ser o caso. Segundo
informações recebidas pelo Relator Especial, não foi levado
diante de um promotor porque não foi acusado de nenhuma nova
infração pela fuga de uma instituição da FEBEM. Teria então
sido levado para o Centro de Detenção Juvenil de Pinheiros,
onde, ao chegar, foi espancado com barras e cabos de ferro durante
meia hora. Depois teria sido levado para uma sala completamente
escura, onde passou dez dias sozinho, tendo a permissão de ir ao
banheiro apenas duas ou três vezes por dia. Teria sido levado de
volta para a cela cujas oito camas de cimento eram divididas por
16 presos. Segundo informações recebidas pelo Relator Especial,
quando os guardas bebiam ou se drogavam, batiam, chutavam e
socavam os presos por nenhum motivo. Isso aconteceria geralmente
às noites. Em três meses, Denis teria visto sua família apenas
três vezes. Depois teria sido transferido para a Cadeia Pública
de Santo André, onde passou os primeiros dois dias numa cela
escura. Cinco ou seis dias depois, teria sido espancado. A esta
altura, desesperado, teria pedido aos guardas que o matassem.
Depois foi transferido para o Centro de Observações Criminológicas
(COC) do Carandiru, onde teria permanecido durante dois meses. No
dia 05 ou 06 de julho de 2000, um motim teria ocorrido no COC,
onde 98 menores estariam detidos na época. A polícia militar,
assim como os batalhões de choque teriam intervindo. Segundo
informações recebidas pelo Relator Especial, a revolta foi
provocada pelo fato da polícia militar ter chamado as os batalhões
de choque para revistar as celas. Os guardas penitenciários
teriam alegado que os detentos estavam armados com barras de
ferro. O diretor do COC teria estado presente durante a revolta.
Todos os menores teriam sido levados aos pátios e forçados a se
despir. Com medo de serem espancados, teriam se recusado. O batalhão
de choque e os policiais militares teriam começado a espancar os
adolescentes e atirado balas de borracha. Por ocasião da
entrevista com o Relator Especial em 23 de agosto de 2000, duas
marcas compatíveis com o relato de Denis ainda eram visíveis em
seu corpo. Os espancamentos e o tiroteio no pátio teriam durado
quatro horas. Os adolescentes então teriam sido forçados a
passar correndo por um corredor polonês para voltar às celas.
310. Samir de Luisa Rodriguez,
19 anos, teria estado presente durante a suposta revolta do COC no
dia 05 ou 06 de agosto de 2000 e teria sido submetido a um
tratamento similar.
311. L.H.F.A. teria sido
transferido para a unidade Franco da Rocha na época de sua
inauguração. Após a revolta, no dia 14 de agosto de 2000 na
unidade de vigilância de outro centro de detenção da FEBEM, os
menores e os guardas daquela unidade tinha sido transferidos para
a unidade de educação de Franco de Rocha. Após a mudança, os
detentos teriam sido agredidos por motivos pouco claros, como o de
conversar. Durante uma semana, de 15 a 22 de agosto de 2000, os
detentos teriam sido proibidos de sair das celas. No dia 14 de
agosto de 2000, L.H.F.A. teria sido espancado por sete ou oito
guardas. Teria sido encurralado e atingido no braço direito, pé
esquerdo e joelho direito, com uma barra de metal, levado um golpe
na cabeça com um par de algemas, e chutado. Os guardas também
teriam acertado seu abdômen com uma barra de ferro, em cima de
uma cicatriz que já tinha por causa de uma cirurgia no ano
anterior. Por causa da surra, L.H.F.A. teria ficado com o joelho
direito inchado, uma cicatriz no pé esquerdo, e dores internas no
abdômen. Por ocasião da entrevista com o Relator Especial, em 29
de agosto de 2000, marcas compatíveis ao relato eram visíveis.
312. Vicinius Prestes de
Oliveira, 18 anos, que teria sido condenado à prisão por
tempo indeterminado, por roubo de carro qualificado, teria sido
transferido para Franco da Rocha no início de agosto de 2000.
Segundo informações recebidas pelo Relator Especial, foi
espancado nas costas com uma barra de ferro e uma vara de madeira
pelo chefe da guarda noturna e por outro guarda às dez horas da
noite no dia 24 de agosto de 2000. Doze a quinze guardas teriam
entrado na cela, vários mascarados, segurando varas de madeira e
barras de metal. Teriam espancado os meninos por terem encontrado
um lápis na cela. Por ocasião da entrevista com o Relator
Especial, em 25 de agosto de 2000, as marcas ainda visíveis nas
costas de V.P.O. eram compatíveis com o relato.
313. Valeria Aparecida Ribeiro
teria sido detida na rua, no dia 26 de junho de 1996, em Santos,
no Estado de São Paulo, por suspeita de assalto. Teria sido
detida por três policiais militares e levada à delegacia mais próxima,
antes de ser levada para cela de delegacia para mulheres, de onde
tentou uma fuga. Teria sido transferida para a Penitenciária
Feminina do Carandiru e desde então estaria sendo transferida de
um lugar para outro (o chamado "trânsito"), todo mês.
Ao chegar em Tatuapé no dia 13 de abril de 2000, teria passado 28
horas numa cela de castigo. Dois guardas teriam tentado tocar seus
seios, e quando gritou, teria levado um tapa no rosto. Não
reclamou por medo de ser levada de volta à cela de castigo. Sua
família moraria longe de Tatuapé, o que praticamente
impossibilitaria uma visita de seus parentes. Sua mãe teria sido
negada acesso à filha em pelo menos uma ocasião.
314. Jose Pereira da Silva Filho
teria sido detido no dia 24 de agosto de 2000 por seis policiais
civis da unidade anti-seqüestro pela suspeita de extorsão
mediante seqüestro. Teria sido detido durante seis horas em um
Distrito Policial, onde teria sido submetido a choques elétricos
nas pernas e braços, pendurado de cabeça para baixo e espancado
com barras de ferro e de madeira, chutado e submetido à chamada
"tortura do telefone". Segundo informações recebidas
pelo Relator Especial, também foi forçado a comer sal e beber a
água em que os policiais haviam cuspido. Teria assinado uma
confissão sem ter o direito de lê-la. Teria sido obrigado a
tomar uma ducha gelado e rolar no chão algemado. Às quatro horas
da manhã no dia 25 de agosto, teria sido transferido para o
DEPATRI, onde ao chegar, teria sido chutado e socado por quatro
policiais. Por ocasião da entrevista (27 de agosto), apresentava
grandes hematomas nas costas e abdômen, compatível com o relato.
Teria pedido tratamento médico ao diretor de seção do presídio,
em vão.
315. Fabiano da Silva Cesário teria
sido baleado por um policial do DEPATRI no dia 25 de agosto de
2000 em Ibirapuera. Teria sido detido no hospital enquanto recebia
tratamento médico. Por ocasião da entrevista com o Relator
Especial em 27 de agosto, estava com o braço engessado e inchado.
Não estaria recebendo medicamento.
316. 317. Antonio Elisvaimo
Severino Silva teria sido detido
por suspeita de assalto e espancado no ato no dia 08 de outubro de
1998 por vários policiais civis do DEPATRI. Depois foi levado
para um matagal, onde teria sido pendurado numa árvore de cabeça
para baixo. Alguns tiros teriam sido disparados perto de sua cabeça.
Teria sido levado para o DEPATRI, onde foi espancado assim que
chegou. Um policial teria-o atacado por trás. Teria começado a
sangrar pelo nariz e boca. Teria sido cobrado 45.000 reais para não
ter que assinar uma confissão. Como não podia pagar, teria
assinado a confissão sob ameaças de ser espancado de novo. Teria
sido levado à sala de emergência do Hospital Santana. Durante a
transferência, teria apanhado. Segundo informações recebidas
pelo Relator Especial, foi levado diante um juizado no dia
seguinte. Teria sido libertado sob fiança. No dia 13 de junho de
2000, teria sido detido pela polícia militar por suspeita de
roubo com o emprego de arma. Segundo informações recebidas pelo
Relator Especial, ao detê-lo, os policias espacaram-no e lhe lançaram
gás de pimenta na rua. Depois foi levado ao DEPATRI, onde seu
advogado teria solicitado um exame médico. Um policial teria
entrado no consultório do médico do IML que o examinava. Por
causa da presença de um policial, acredita-se que Antonio não
ousou reclamar dos espancamentos. Supostamente jamais foi
interrogado. No dia primeiro de agosto, teria comparecido perante
um juizado, para quem reclamou sobre os maus-tratos. O juiz teria
ignorado o relato. Seu advogado teria informado à Antonio que ele
não poderia falar perante o tribunal antes da terceira audição.
317. Luiz Antonio Roza teria
sido detido no dia 26 de junho de 2000 e levado diretamente para o
DEPATRI, onde ao chegar teria sido espancado pela polícia rodoviária
e por policiais do DEPATRI. Também teria sido socado e chutado na
área genital. Teria assinado uma confissão sem permissão lê-la.
Não seria interrogado nenhuma outra vez. No dia 7 de agosto de
2000, teria sido levado perante um juiz que informou-o de estar
sendo acusado por ter organizado uma quadrilha. Não teria sido
permitido dirigir a palavra ao juiz. Teria reclamado com seu
advogado dos espancamentos. Segundo informações recebidas pelo
Relator Especial, a polícia tinha intenções de ligar para uma
estação de televisão a fim de retratá-lo como culpado.
318. Wilson Pereira da Silva
teria sido detido por quatro policiais civis no dia 22 de
maio de 2000, numa agência do Banco Ita. onde trabalhava em São
Paulo e levado para o DEPATRI por suspeita de cumplicidade num
assalto à banco. Teria sido levado ao 1o Distrito do
DEPATRI, acusado de assalto à banco, onde levou uma tapa e foi
submetido à chamada "tortura do telefone", com duas
garrafas cheias d’água, e foi socado pelos policiais. Teria se
recusado a assinar qualquer confissão embora tivesse sido
torturado durante seis horas. Segundo informações recebidas pelo
Relator Especial, foi transferido para o 77° Distrito Policial
onde passou cinco dias. Teria sido levado de volta para o DEPATRI
todos os dias, onde era interrogado e espancado, além de
insultado e humilhado. Os policiais também teriam ameaçado sua
família. No dia 28 de julho, teria se apresentado perante um juiz
a quem não reclamou dos maus-tratos, pois sua família teria sido
ameaçada de sofrer represálias. Seu advogado, a quem teria
reclamado sobre os maus-tratos, teria dito que tomaria providências.
319. Adilson Chrusczak teria
sido detido no dia 13 de julho de 2000 por dois policiais sem
uniforme na Avenida Anchieta, em São Paulo, por suspeita de
extorsão. Ao ser detido, teria sido jogado no chão e um policial
teria pisado nas suas costas. Depois teria sido levado para Riacho
Grande onde foi espancado, principalmente com um cabo de revólver,
por cerca de uma hora. Teria sido algemado e transferido para um
local onde diz-se ter sido uma antiga prisão, e lá teria sido
espancado por cinco ou seis policiais. Depois teria sido forçado
a tomar um uma ducha gelada. Às três horas da manhã, teria sido
forçado a assinar uma confissão que não pôde ler. Às quatro
horas da manhã, teria sido transferido para o DEPATRI. Teria sido
despido completamente e espancado. Segundo informações recebidas
pelo Relator Especial, por causa da superpopulação nas celas na
época de sua transferência, passou sete dias preso na sala de
visitas. Nesta sala, os detentos não teriam acesso à colchões,
nem ao banheiro, e teriam tido que usar garrafas e sacos de plásticos
para evacuar. Em várias ocasiões nestes sete dias, teriam sido
espancados com barras de ferro, durante uns quarenta minutos por
vez. Quarenta dias depois de ter sido detido, Adilson teria sido
levado perante um juiz sem antes ter tido acesso a seu advogado.
320. E.S.S., 17 anos, teria
sido transferido para a unidade Franco da Rocha no dia 30 de julho
de 2000, na época de sua re-inauguração. No dia 14 de agosto,
mais de 20 guardas teriam invadido sua cela de madrugada e
derrubado vários detentos no chão. Um guarda penitenciário
teria atingido seu rosto e cotovelo com uma barra de metal e um
pedaço de madeira. Por isso, teria perdido um dente da frente e
fraturado o braço. Teria sido espancado nas costas por vários
guardas. Teria sido levado para o hospital no mesmo dia, mas ao
chegar o médico estaria indo embora, portanto não teria recebido
tratamento médico. Conseqüentemente, não conseguiria mais
dobrar o cotovelo completamente.
321. Sebastião Guilherme dos
Santos, detento na prisão de Carandiru, teria levado um tiro
na perna em 1995, na rua, enquanto trabalhava como faxineiro de
trem. Em maio de 1998, teria sido preso e transferido para a
delegacia de Itapeva, onde ficou detido durante uns três meses, e
de lá para a delegacia de Embu das Artes. No dia 27 de abril de
1999, teria sido transferido para o Carandiru. Sua perna teria
apresentado uma infecção na delegacia de Itapeva; porém, não
teria sido levado ao hospital. Após sua transferência para
Carandiru, teria sido levado ao hospital público para receber
tratamento médico, mas os médicos do Hospital das Clínicas
teriam recusado atendê-lo com o pretexto que não tratavam
presidiários. Teria sido levado a outro hospital algum tempo
depois, onde foi examinado e mandado de volta ao presídio. Uma
semana depois, foi de novo ao hospital e mandado de volta sem
tratamento. Em meados de agosto de 2000, uma semana antes da
visita do Relator Especial, quando a perna abaixo do joelho estava
completamente infeccionada e coberta por uma ferida aberta, teria
sido levado a um hospital onde um médico mandou-o manter o
curativo limpo, trocá-lo duas vezes por dia, e desinfetar a
ferida. Só depois que a ferida secasse seria possível uma
cirurgia. Os enfermeiros da prisão de Carandiru teriam dado injeções
contra a dor, medicamentos anti-inflamatórios e curativos até
quanto estivessem disponíveis. Porém, os curativos teriam sido
trocados durante três dias seguidos na semana antes da visita do
Relator Especial, e antes disso o material para curativos teria
estado em falta por mais de uma semana.
322. 323. Otávio dos Santos
Filho teria sido intimado a depor no tribunal em 1996 e
recebido uma sentença penal contumácia de cinco anos e quatro
meses de prisão por roubo com o emprego de arma. De acordo com o
promotor, não chegou a receber a intimação porque seu endereço
"não constava" e a sentença foi publicada no diário
oficial. Em fevereiro de 1997, teria sido detido por policiais
militares e levado ao DEPATRI em São Paulo, onde teria
permanecido por oito meses. No dia 13 de outubro de 1997, sua
cunhada teria visitado-o e encontrado-o em boa saúde. Na
sexta-feira seguinte, sua irmã teria ouvido que Otávio estava
doente. No dia seguinte, foi ao presídio levar medicamentos. Do
lado de fora da delegacia, foi informada por Otávio pelo celular
que seu pedido para ser levado à sala de emergência tinha sido
recusado. No sábado, às quatro horas da tarde, sua irmã ligou
de novo e Otávio teria dito que foi levado a um hospital onde
recebeu tratamento de uma enfermeira mas não foi permitido
consultar um médico. Segundo informações recebidas pelo Relator
Especial, na quinta-feira anterior Otávio havia sentido sérios
problemas respiratórios e insistido para que levassem-no à sala
de emergência. O delegado teria declarado ser cedo demais. Teria
sido retirado de sua cela, levado ao parlatório onde teria sido
socado e chutado durante a noite inteira e depois levado de volta
à cela na manhã seguinte. Uma testemunha fora da prisão teria
visto-o vomitando sangue à caminho do hospital. Ao saber dos
acontecimentos, sua irmã tentou uma visita, mas Otávio estaria
com medo demais de ser espancado de novo se falasse com ela.
Segundo informações recebidas pelo Relator Especial, um advogado
teria sido informado dos fatos pela família mas não teria pedido
para vê-lo imediatamente. Sua irmã teria falado com ele pela última
vez no domingo, quando disse se sentir muito fraco. Quando foi
visitá-lo na segunda-feira de manhã, junto com sua cunhada, o
delegado teria informado-a da morte de seu irmão. Teria tido a
permissão de ver o corpo no mesmo dia. No certificado de óbito a
causa da morte teria sido declarada como ‘indeterminada".
Sua irmã teria pago por uma cópia do laudo do IML, que constata
que a causa da morte foi um golpe na cabeça que levou na prisão;
não foram encontrados traços de álcool ou drogas em seu sangue.
A irmã teria mandado este laudo para um médico em Guaratinguetá,
que concluiu, baseado no laudo e nas fotos que ela havia tirado do
corpo, que Otávio dos Santos Filho morrera de hemorragia. Em
dezembro de 1997, a comissão de direitos humanos, através do
promotor, teria dado início a um processo e tido uma primeira
audiência com o juiz. O promotor teria sido afastado do caso e
substituído. O juiz teria ouvido testemunhas relatarem que na
noite de domingo os detentos haviam pedido socorro, que a vítima
estava sangrando e que o delegado teria dito não ter carro disponível
para levá-lo ao hospital. Segundo informações recebidas pelo
Relator Especial, os processo foi interrompido por razões
desconhecidas. O Relator Especial gostaria de ser informado a
cerca do resultado do inquérito judicial.
323. Nilson Saldanha teria
sido preso em flagrante delito no dia 15 de julho de 1998 e levado
ao 50° , 70° , e mais tarde ao 55° distritos policiais. Teria
sido acusado do roubo de um caminhão. Teria sido sentenciado e
esperava recorrer. Teria pedido
transferência para uma prisão. No dia 09 de julho de 2000, os
policiais civis da delegacia teriam pedido ao Grupo de Operações
Especiais (GOP) que entrassem na sua cela para separar um briga.
Segundo informações recebidas pelo Relator Especial, entraram na
cela, mandaram os presidiários tirar as roupas e os revistaram a
procura de armas. Ao encontrar uma arma de fogo, teriam começado
a espancar os detentos (acredita-se que havia 36 presidiários na
cela), incluindo Nilson Saldanha, que não conseguiu se levantar.
O GOP teria derramado um líquido sobre alguns colchões, mandado
os detentos deitarem em cima e serem submetidos a choques elétricos.
Nilson teria sido algemado, amarrado às barras da cela com seus pés
mergulhados num balde, e teria sido submetido a choques elétricos.
Também teria sido espancado com uma barra de ferro e perdido a
consciência. Sua pele teria ficado extensivamente ferida, e ele
teria fraturado três costelas e sofrido queimaduras entre os
dedos do pé. Porém, não foi levado ao hospital até o dia 18 de
julho de 1998. Quando sua esposa tentou visitá-lo no dia 15 de
julho (como fazia toda terça-feira), a delegada e o diretor da
prisão teriam avisado de uma revolta e dito que por isso todas as
visitas foram suspensas. No dia seguinte, teria sido informada por
um homem que foi solto no mesmo dia que Nilson Saldanha estava em
péssimo estado. Teria ouvido de um jornalista que seu marido
estava morto no hospital. Segundo informações recebidas pelo
Relator Especial, seu advogado encontrou com ele no dia 15 de
julho e na ocasião estaria sentindo dores nas costas. Teria sido
levado duas vezes de volta para o hospital no domingo seguinte.
Teria sido espancado no carro, levado duas injeções no braço e
uma na cabeça. Suas pernas teriam ficado paralisadas e teria tido
convulsões. Enquanto os detentos da cela pediam socorro, Nilson
teria sido retirado da cela e levado para um "cajo"
(outra cela onde ficavam detentos presos em flagrante) com outro
homem. Teria morrido às duas horas da manhã seguinte. A delegada
teria mandado o médico escrever no boletim de ocorrências que
Nilson havia morrido de ataque de coração. O corpo teria sido
levado depois para o IML para uma autópsia, que revelou que a
causa da morte tinha sido traumas múltiplos causados por um utensílio
obtuso. O detento que acompanhou Nilson Saldanha ao hospital teria
sido ameaçado pelos policiais com o isolamento se dissesse
qualquer coisa sobre o que havia ocorrido. O delegado
teria forçado todos os presidiários a assinarem declarações
que negavam qualquer tipo de mau-trato. O caso teria sido mandado
ao corregedor geral pelo promotor (embora o delegado tivesse que
tomar providências a pedido do promotor), e um processo teria
sido iniciado. Todos os presidiários, menos um, prestaram
depoimentos em que diziam terem sido torturados. Por ocasião da
entrevista (23 de agosto), os resultados do exame feito por um médico
forense não teriam sido considerados como evidência. A delegada
e o agressor teriam sido indiciados e acredita-se que continuem em
serviço. Segundo informações recebidas pelo Relator Especial, o
caso ainda está na fase de investigação e não há previsão de
tempo para que as investigações sejam concluídas. O delegado
responsável pelas investigações e seu sucessor foram finalmente
transferidos.
324. Antonio Elis Vanho Severino
Silva teria sido detido no dia 13 de junho de 2000. Na ocasião,
teria sido espancado e gás de pimenta teria sido lançado em seus
olhos. Teria sido acusado de roubo com o emprego de arma e levado
ao DEPATRI em São Paulo, onde seu advogado teria pedido um exame
médico. Segundo informações recebidas pelo Relator Especial,
foi levado ao IML por policias que permaneceram na sala durante o
exame. conseqüentemente, o médico não teria registrado injúria.
Teria sido levado ao tribunal pela polícia militar e ameaçado
com uma arma para que não falasse sobre o tratamento que havia
recebido.
325. Dimas Camargo Junior teria
sido transferido no dia 15 de agosto de 2000 da Penitenciária de
Avaré para o DEPATRI, onde ficaria detido até dia 31 de agosto
por problemas de identificação. No dia 24 de agosto, teria sido
espancado pelo delegado da delegacia de roubos e furtos de veículos.
Teria sido levado a uma pequena sala no andar de cima, cujas
paredes estariam manchadas de sangue. Teria sido atingido no abdômen
e cabeça com um pênis desidratado de um animal durante 10 a 15
minutos. Também teria sido submetido a choques elétricos. Não
teria se apresentado a um juiz e teria sido levado ao IML por dois
investigadores, que teriam permanecido na sala durante o exame médico.
Por causa da presença dos investigadores, teria dito que as lesões
tinham sido causadas por um acidente.
326. Jardel Sachi Barbieri
teria sido preso em flagrante delito em maio de 2000 pela polícia
militar e levado para um local deserto onde cerca de dez policiais
teriam amarrado sua cabeça e pé numa árvore, socado-o e
chutado-o durante 40 minutos enquanto questionavam-no sobre os
supostos cúmplices. Teria sido levado à beira de um rio com suas
mãos e pés amarrados e ameaçado de ser jogado no rio. Em julho
de 2000 teria sido transferido para o DEPATRI. Teria sido levado
à sala de recepção e depois ao parlatório, onde teria sido
espancado durante a noite com barras de metal. Os policiais teriam
apontado um revólver para dentro de sua boca. Teria finalmente
assinado a nota de culpa. Teria sido levado a um médico forense
por três policiais que permaneceram do lado dele e não
permitiram que falasse com o médico em particular. Depois teria
sido socado, chutado e espancado com barras de ferro por 10
policiais no parlatório da cadeia durante cerca de cinco horas.
No dia 09 de junho de 2000,
policiais teriam revistado as celas do 50° Distrito Policial de São
Paulo três vezes. Na quarta, teriam encontrado uma arma. Todos os
detentos teriam sido despidos completamente, colocados em colchões
molhados e sido submetidos a choques elétricos. Teriam sido forçados
também a passar correndo pelo chamado "Corredor Polonês"
formado por policiais da delegacia e membros do GOE, a maioria com
seus rostos cobertos, que teriam espancado-os com barras de ferro
e submetido-os a atos humilhantes como rolar no chão e
"pular carniça". Esta
atividade teria durado a tarde inteira. O Relator Especial ouviu a
mesma história dos detentos de celas diferentes que não podiam
se ouvir. Isto, junto com o fato de que a maioria dos detentos
apresentavam marcas de espancamentos violentos, trouxe grande
credibilidade aos relatos.
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