Em
Busca da Utopia
Se
nos fosse perguntado a razão de ser deste 1º Programa Mineiro dos
Direitos Humanos, responderíamos: não engrossar o inventário das
oportunidades perdidas.
Trabalhar
pelos Direitos do Homem é celebrar a utopia humana. A tarefa exige
predicados que suplantam o esforço da mera racionalidade técnica.
Requer mais, demanda racionalidade ética, pede à teoria e à práxis
humanas que preservem o domínio do coração incontaminado, que sejam
obstáculo à filosofia do desencanto.
A
Carta Internacional dos Direitos do Homem, que neste 10 de dezembro
completa 53 anos, apesar de sua força moral, é ainda um protocolo de
boas intenções. As variadas formas de organização e de estruturas
sociais presentes no mundo contemporâneo, embora variadas, mantêm um
traço que lhes é comum: perpetuam a ética dos vencedores e condenam
os vencidos ao cadafalso. No Brasil, nosso País, esta realidade é tão
nítida que dói como sol nos olhos.
Não
obstante havermos conseguido emplacar um crescimento econômico
significativo e animador, continuamos a nos deparar com as mais
aviltantes desigualdades econômicas e sociais, donde concluímos que não
basta multiplicar a riqueza das nações; é preciso distribuí-la em
benefício de todos!
Se
não o fizermos, nossa sociedade continuará penetrada pela violência e
a nossa própria Ética, embora cheia de ideais humanitários e de conteúdo
cristão, no fundo, será apenas uma máscara a nos esconder de nossa
vergonha.
Este
programa, sob a ótica procedimental, nasce sob a égide da democracia.
Não traduz a visão de pessoas, grupos ou tão somente do governo. Para
sua feitura, somaram-se e juntos trabalharam a sociedade civil e o
Estado. Do “Seminário Legislativo de Direitos Humanos e Cidadania”,
a primeira das instâncias, de onde emergiram as proposições e os subsídios
para construção deste Programa, tiramos o timão e a bússola.
A
partir daí, tendo às mãos os instrumentos que nos permitiriam não
nos perder, passamos a navegar. Implementamos as ações que são próprias
da Secretaria Adjunta que hoje manejamos e, em atendimento ao que
determina a Lei 12.986/98, art. 5º, alínea “a”, aprofundamos, quer
dentro do governo quer fora, o processo de discussão que fora começado
no “Seminário Legislativo” de modo a esculpir, no coração do
governo, o Programa que ora é oficializado.
Registramos,
de modo especial, nosso preito de gratidão ao Governo Itamar Franco e
à Secretária Ângela Pace, pela confiança, apóio e solidariedade
demonstrados ao trabalho por nós desenvolvido.
Devemos
também agradecer à Secretaria de Estado do Planejamento e à Fundação
João Pinheiro, fundamentais no arremate deste Programa.
Por
último, por permanecer verdadeiro, reescrevemos, com alterações
pontuais, o que havíamos escrito no ensaio Ao Cabo da Boa Esperança
(“subsídios para um programa de direitos humanos”), reiterando que
o fato de portarmos um Programa democrático e includente, cujo conteúdo
é resultado da vontade participativa da população deste Estado, não
nos faz absolutamente legítimos. Estamos certos de que nossa
legitimidade provém, sim, das pactuações diárias e dos compromissos
mais singelos que, em defesa da vida, ao longo destes anos, viemos a público
firmar. Ou melhor, são as parcerias, trabalho conjunto com os mais
diversos conselhos, fóruns, associações, colegiados, entre tantas
outras estruturas de representações coletivas da sociedade, que deverão
sustentar e dar força normativa ao Programa que, neste momento,
apresentamos.
E,
nunca nos esqueçamos de que, a utopia é o alimento de nossa alma e os
Direitos Humanos não sobrevivem onde morreu a utopia. Tomemos nas mãos
este Programa Mineiro de Direitos Humanos, cumpramos o que nele está
escrito, trabalhemos para melhorá-lo, para ampliá-lo, e façamos da
efetivação dos Direitos Humanos a nossa grande, derradeira e
desesperada utopia. Nossa esperança, nosso socorro, nosso remédio!
José
Francisco da Silva - Secretário Adjunto de Direitos Humanos do Estado
de Minas Gerais
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