
Elaboração do Dossiê
A
metodologia e cronograma da elaboração do relatório
anual ou dossiê relativo aos assassinatos e violação dos
direitos humanos de homossexuais devem adaptar-se à situação
específica da amostra documental que se está trabalhando: de
um lado aqueles grupos locais que coletam e analisam apenas as
informações de sua cidade ou estado; do outro, um grupo único
que centraliza a pesquisa e sistematização de todos os crimes
ocorridos no território nacional. Comecemos pelo primeiro caso.
Em
se tratando de um estado pequeno e com poucos jornais além do
da capital, normalmente as notícias sobre assassinatos de
homossexuais chegam ao grupo homossexual responsável pela sua
sistematização no mesmo dia ou em poucos dias após o
sinistro. Neste caso,
sugere-se que as duas pessoas
encarregadas da sistematização deste material já nos meses de
outubro-novembro de cada ano iniciem a preparação dos quadros
e tabelas que servirão de substrato para a análise dos crimes
homofóbicos registrados na sua região.
Em
se tratando de relatórios nacionais – como o que anualmente
vem sendo preparado pelo Grupo Gay da Bahia ou pela Comision Ciudadana de México Contra Crimines de Odio por Homofobia,
somente em fins de
janeiro é que se dispõem das informações relativas aos
crimes ocorridos em novembro e dezembro últimos, razão pela
qual tem-se de esperar até os meados de fevereiro para dar por
concluído tal levantamento. Mesmo com tal espera, o mais provável
é que casos desconhecidos do ano anterior ainda cheguem ao
arquivo da entidade ao longo do ano seguinte: nesses casos,
quando o total de crimes do ano anterior já estiver
“fechado”, deve-se incluir essas mortes remanescentes no
relatório do ano seguinte, identificando-os como casos
remanescentes e contabilizando-os no cômputo geral.
O
dossiê anual deve constar de 4 partes:
1.
Introdução onde se dá uma visão geral dos
assassinatos e dos episódios de discriminação e violação
dos direitos humanos
dos homossexuais, mostrando sua evolução comparativamente ao
ano anterior;
2.
Transcrição numerada dos resumos de todos os crimes
homofóbicos, apresentados e contabilizados mês por mês;
3.
Apresentação de tabelas sobre as principais tendências
sócio-demográficas dos crimes homofóbicos e sua interpretação
qualitativa;
4.
Transcrição dos resumos dos casos de discriminação
homofóbica – tema que será abordado no final deste capítulo.
O
primeiro passo na sistematização dos crimes homofóbicos é
organizar tabelas sobre todas suas características,
particularizando-as em temas específicos. Lançando mão das
tabelas individuais das vítimas e dos resumos acima referidos,
deve-se agora quantificar cada um desses elementos,
elaborando-se anualmente as seguintes tabelas:
1
– Total de gays, travestis/transexuais e lésbicas
assassinados
2
– Variação mês por mês desses crimes
3
– Características das vítimas
a)
Idade; b) Cor; c) profissão
4
– Local do crime
a)
Estado; b) Cidade; c) Locus: em casa, na rua, etc
5
– Causa mortis
a)
Arma de
fogo, arma branca, espancamento, etc
6
– Características dos assassinos
a)
Idade; b) Cor; c) Profissão
Para facilitar a melhor
compreensão de como elaborar esses tabelas, transcrevemos a
seguir exemplos – chamando a atenção para a importância de
se apresentar sempre os números absolutos e as porcentagens
para cada caso específico.
A
primeira tabela deve mostrar a evolução da criminalidade
anti-homossexual no país, se for um dossiê nacional, ou
no estado, caso tratar-se de um relatório regional.
ASSASSINATOS DE HOMOSSEXUAIS NO
BRASIL: 1963-1999
Ano
Total
1963-1969
30
1970-1979
41
1980-1989
503
1990-1999
1.256
Total
1.830
A
segunda tabela deve mostrar a distribuição dos assassinatos
por categoria: gay, travesti e lésbica.
ORIENTAÇÃO SEXUAL
DAS VÍTIMAS
ANO
GAY TRAV.
LÉSB. TOTAL
1997
82 42
06 130
1998
73 36
07 116
1999
104 57
08 169
A terceira
tabela mostra a evolução dos crimes homofóbicos divididos por
categoria, listados mês a mês ao longo do ano.
ASSASSINATOS
DE HOMOSSEXUAIS POR MÊS - 1999
MÊS
GAYS TRAV.
LÉSB. TOTAL
Janeiro
07 05
-
12
Fevereiro
04 04
01
09
Março
10 11
-
21
Abril
10 08
01
19
Maio
13 05
01
19
Junho
13
- 01
14
Julho
10 10
01
21
Agosto
11
- -
11
Setembro
02 03
-
05
Outubro
05 05
02
12
Novembro
00 02
01
13
Dezembro
09 04
-
13
TOTAL
104
57 08
169
A quarta
tabela deve mostrar a distribuição dos assassinatos
especificando-se o local onde foram cometidos. Em se tratando de
um dossiê nacional, alenca-se estado por estado, em ordem alfabética
ou em frequência dos crimes. No caso de relatórios estaduais
ou regionais, deve-se especificar, além da capital, as cidades
onde ocorreram tais sinistros.
HOMOSSEXUAIS ASSASSINADOS POR
ESTADO – 1999
ESTADO
GAYS TRAV.
LÉSB. TOTAL
AM
7 4
11
AL
8 -
8
AP
1 -
1
BA
7 4
11
CE
3 -
3
DF
1 -
1
GO
2 4
1
7
MG
6 1
1
8
MT
4 1
5
PA
3 3
7
PE
15 10
1 26
PI
1 1
2
PR
4 4
8
RJ
14 3
2 19
RN
3 2
5
RS
4 3
7
SE
4 2
6
SP
15 13
3 31
EXTER.
2 1
3
TOTAL
104 57
8 169
A partir desta próxima tabela,
passamos a identificar
detalhes sobre o perfil das vítimas dos crimes homofóbicos:
idade, profissão, causa mortis, local onde ocorreu o
assassinato.
IDADE DAS VÍTIMAS
IDADE
TOTAL
12-17
07
18-25
50
26-30
18
31-40
42
41-50
18
51-60
11
61-70
2
75
1
S/IDADE
20
TOTAL
169
A próxima
tabela esclarece sobre as profissões dos homossexuais
assassinados, detalhando-se as diferentes categorias
ocupacionais de acordo com o material disponível e o grau de
abrangência que se pretenda dar ao relatório final. Pode-se
igualmente especificar as profissões por categoria sexológica:
gays, lésbicas e travestis.
PROFISSÃO
DAS VÍTIMAS
TOTAL
PROFISSINAL
DO SEXO 28
SERVIÇOS 12
CABELEIREIRO
8
GERENTE,
AUXILIAR
7
COSTUREIRO,
DECORADOR
ESTILISTA,
CARNAVALESCO
5
ESTUDANTE
5
FUNCIONÁRIO
PÚBLICO
4
APOSENTADO
4
EMPRESÁRIO
4
ENGENHEIRO,
ARQUITETO
4
PAI
DE SANTO
4
PROFESSOR
4
DESEMPREGADO
3
MÉDICO,
DENTISTA
3
PUBLICITÁRIO
3
CAMINHONEIRO
2
DONA
DE CASA
2
ADVOGADO
1
ANTIGUÁRIO
1
ARTISTA
1
BANCÁRIO
1
CANTOR
1
ENTREGADOR
DE PIZZA
1
GUIA
DE TURISMO
1
MILITANTE
HOMOSSEXUAL
1
SEMINARISTA
1
TEC.
HOSPITALAR
1
VIGIA
1
S/
PROFISSÃO DECLARADA
53
TOTAL
169
Nesta sétima tabela
apresenta-se a causa mortis das vítimas, iniciando-se pelas
ocorrências mais frequentes, especificando-se, se for o caso,
duas ou mais modalidades de instrumentos utilizados na execução,
como se vê a seguir:
CAUSA
MORTIS
CAUSA TOTAL
TIRO 78
FACADA 29
ESPANCAMENTO
15
ESTRANGULAMENTO
10
PAULADA,
FERRADA
08
ENFORCAMENTO,
ASFIXIA
07
ENVENENAMENTO
03
DEGOLAMENTO
02
ENFORCAMENTO
E TIRTURA
02
PEDRADA
02
AFOGAMENTO
01
ATROPELAMENTO
01
PEDRADA
E PAULADA
01
QUEIMADURA
A ÁLCOOL
01
SEM
CAUSA CONHECIDA
09
TOTAL
169
A próxima
tabela refere-se ao local específico onde a vítima foi
encontrada
LOCAL
DO CRIME
LOCAL
GAYS LÉSB.
TRAV. TOTAL
RESID.
43 3
5 51
RUA
13 27
40
LOCAL
N/
IDENTIF.
23 3
5 31
PRAIA
3 3
6
VEÍCULO
4 2
6
CASA
DO
CLIENTE
4 1
1 6
TERRENO
BALDIO
3 2
5
HOTEL,
MOTEL
3 1
1 5
LAGOA
4 4
MATAGAL
2 2
4
BAR
3 1
4
ESTRADA
3 3
BUEIRO
2 2
LOCAL
TRB.
1 1
POSTO
DE
GASOLINA
1 1
TOTAL
108 8
53 169
As próximas
duas tabelas desenham o perfil dos assassinos: como infelizmente
nem sempre as notícias divulgadas na mídia não dão muitos
detalhes sobre os criminosos, temos de nos concentrar na idade e
profissão dos delinquentes:
IDADE
DOS ASSASSINOS
IDADE
TOTAL
14-17
10
18-20
08
21-25
24
26-32
10
33-39
03
40-49
01
S/IDENT.
123
TOTAL
179
PROFISSÃO
DOS ASSASSINOS
PROFISSÃO
TOTAL
PROFISSINAL
DO SEXO 05
CLIENTE
04
PORTEIRO
04
G.
DE EXTERMÍNIO 03
POLICIAL 03
DESOCUPADO 03
PEDREIRO 02
MODELO 02
SEGURANÇA 02
EX-PRESIDIÁRIO
02
BALCONISTA 01
CAFETINA 01
CAMINHONEIRO
01
F.
PÚBLICO 01
FRENTISTA 01
COMERCIANTE
01
ENGENHEIRO 01
ESTUDANTE 01
GARÇOM 01
MOTORISTA 01
PADEIRO 01
PESCADOR 01
S/PROFISSÃO
01
VENDEDOR 01
PINTOR 01
S/IDENTIFICAÇÃO
124
TOTAL
169
Essas tabelas devem ser
adaptadas de acordo com a realidade local, tornando algumas mais
detalhadas, simplificando outras, alterando eventualmente as
diferentes classificações, acrescentando novas tabelas se os
dados permitirem sua ampliação, conferindo sempre para que não
haja contradição nem erro nas somas totais e porcentagens.
Cada
uma destas tabelas deve merecer algum comentário ou interpretação,
demonstrando quais extremos (qual a menor idade e a mais avançada;
maior incidência de vítimas em certas profissões; uso mais
frequente de armas de fogo, etc.), salientando-se que
regularidades são mais significativas, como explicar certas
tendências, etc. No fundo, o que desejamos com estas descrições,
tabelas e classificações, é dispor de dados objetivos que nos
permitem diagnosticar as causas da intolerância homofóbica, além
de identificar o que desperta em certos indivíduos impulsos
homicidas tão cruéis, oferecendo-nos meios para erradicação
desses crimes hediondos. É evidente que a cooperação de um
profissional em Ciências Sociais e Estatísticas pode ser muito
útil no fornecimento de interpretações mais adequadas e
interessantes dessas tabelas do que as opiniões de um simples
amador..
A
finalidade destas tabelas é permitir-nos a construção de uma
tipologia dos crimes homofóbicos. Consideramos fundamental
reconstruir a causa operandi dos delinquentes, isto é, como os
assassinos costumam agir para assassinar os homossexuais, quais
as armas utilizadas, os dias, horas e locais de maior frequência
de homicídios. Particular atenção deve ser dada na
reconstituição do perfil típico das vítimas: quais as
categorias mais vulneráveis, que tipo de condutas e aspectos da
subcultura homossexual local predispõem os gays, travestis e lésbicas
a situações de maior exposição à homicídios, que contactos
com potenciais assassinos oferecem maior risco, etc. Tais indagações
e conclusões têm como finalidade chegar a um padrão típico
do crime homofóbico, divulgando na mídia e junto à própria
comunidade homossexual a fim de que os grupos mais próximos à
situação típica de violência evite situações de risco.
Insistimos:
o ideal é que se procure a colaboração de algum especialista
em estatística e de um sociólogo, antropólogo ou psicólogo
para auxiliar nesta análise – se possível, comparando com as
tendências dos anos anteriores e com o observado em outras regiões
ou países. Pirâmides, curvas e demais recursos gráficos
ajudam sempre a estender melhor a evolução desses crimes,
devendo portanto ser incorporados no texto logo após a explicação
das tabelas.
Toda
atenção e extremo cuidado devem ser tomados na redação e
correção final do relatório, pois erros na contagem dos
assassinatos, duplicidade de nomes, tabelas incompletas,
porcentagens erradas podem prejudicar a credibilidade do dossiê
e lançar por terra meses e meses de trabalho. Como diz um sábio
ditado acadêmico: “o autor é o pior revisor”. Desta forma,
é conveniente que antes de imprimir e divulgar a versão final desta obra, passá-la
de preferência a alguém de nível universitário capaz de
realizar rigorosa revisão.
Até
agora temos discutido quase exclusivamente sobre a coleta,
sistematização e interpretação dos assassinatos de
homossexuais. Contudo, como temos salientado ao longo deste
Manual, os homicídios são o ponto culminante de uma escala de
intolerância homofóbica, que vai desde a omissão ou recusa de
interação social com gays, lésbicas e travestis, incluindo
manifestações mais graves de preconceito e violência
anti-homossexual. Cremos ser este o momento mais adequado para
tratar da segunda parte do dossiê anual, relativo às violações
dos direitos humanos.
Como
dissemos, a homofobia se manifesta num crescente ou contínuum,
que inclui desde manifestações de preconceito verbal,
insultos, passando por discriminações e atos contrários à
liberdade dos homossexuais, incluindo ameaças, chantagens e
golpes, até chegar a agressões físicas leves ou violentas, às
mais graves redundando no morte da vítima. Até agora tratamos
notadamente da forma extrema de homofobia, que são os
assassinatos. Mas as outras manifestações homofóbicas
constituem igualmente ilícitos, e enquanto delitos criminais,
devem igualmente ser documentadas, divulgadas e punidas de
acordo com a lei, pois simples insultos ou declarações homofóbicas
servem de combustível e de justificativa ideológica para
manifestações homofóbicas mais virulentas.
Destarte,
deve ser igualmente preocupação prioritária de todo grupo
homossexual, ou de direitos humanos, coletar informação não
apenas de homicídios, mas de todas as demais manifestações
homofóbicas, incluindo-as de forma organizada como parte
substantiva deste Relatório Anual de crimes contra
homossexuais. Cada grupo decidirá a ordem da apresentação
desses dados. O GGB tem optado por começar pelas violações
dos direitos humanos, concluindo com os assassinatos. Em recente
tradução de nosso último relatório, na versão
norte-americana, optou-se por iniciar pelos assassinatos,
alegando-se causarem maior impacto no leitor.
A
coleta, organização dos arquivos e sistematização das violações
dos direitos humanos dos homossexuais segue exatamente a mesma
sistemática relativa à preparação do dossiê anual dos
crimes homofóbicos. Por meio de notícias de jornal, tv,
internet, cartas e informação oral organizam-se os documentos
em pastas, por ordem cronológica ou temática, seguindo-se
sempre o mesmo rigor na indicação precisa das fontes. Em
seguida passa-se à elaboração do resumo de cada ocorrência,
descrevendo-se telegraficamente os dados básicos sobre a vítima,
a discriminação sofrida, o local e data, eventualmente as
frases ou insultos homofóbicos, as consequências do ocorrido,
completando sempre com a indicação precisa da fonte e data –
exatamente igual à forma de documentação dos assassinatos.
Transcrevemos
abaixo alguns exemplos desses resumos que certamente auxiliarão
a melhor compreensão do leitor de como realizar essa tarefa,
sugerindo Que tais discriminações sejam agrupadas a partir dos
seguintes temas:
1.
Agressões e Torturas
2.
Ameaças e Golpes
3.
Discriminação em Órgãos e por Autoridades
Governamentais
4.
Discriminação Econômica, contra a Livre Movimentação,
Privacidade e Trabalho
5.
Discriminação Familiar, Escolar, Científica e
Religiosa
6.
Difamação e Discriminação na Mídia
7.
Insulto e Preconceito Anti-Homossexual
8.
Lesbofobia: Violência Anti-Lésbica
9.
Travestifobia
GAY
ESPANCADO POR VIZINHO EM MANAUS
O
homossexual Mário Augusto M. Silva, 38, morador no Bairro João
Paulo, denunciou que seu vizinho Antônio F. Lima, depois de
frequentes ameaças e insultos com termos chulos, agrediu-o com
uma ripa, tendo registrado queixa na 14ª DP. [Diário do
Amazonas, 2-6-99].
GAY
É AMARRADO E RECEBE MARTELADAS NA CABEÇA EM SP
O
gerente Carlos Alberto Ximenes, 32, foi amarrado em seu
apartamento em Pirituba e levou várias marteladas na cabeça,
sendo autor desta violência Cláudio Cândido, 27, que foi
preso a seguir. [Notícias Populares; Agora São Paulo,
13-7-99).
POLICIAIS
ESPANCAM GAYS EM FESTA DE IEMANJÁ NA BAHIA
Nas
proximidades da Barraca Três Marias, na festa do Rio Vermelho,
Salvador, policiais agrediram alguns gays e travestis,
insultando com palavrões e distribuindo tapas entre os
presentes. [Fonte: Denúncia na Reunião do GGB, 2-2-99].
GANGUE
DE MICHÊS EM SP
Segundo
o Delegado Gastão Luppi, há um grupo de michês no Parque
Trianon de SP que costumam ameaçar e sequestrar gays,
obrigando-os a tirar dinheiro em caixas eletrônicos. Alguns
deles são suspeitos de terem assassinado uma estilista. [Notícias
Populares, 3-2-99
MINISTÉRIO
DA CULTURA DISCRIMINA FILME DE AUTOR GAY
O
filme O Viajante, de Paulo Cezar Saraceni, baseado no romance de
Lúcio Cardoso (+1968) ficou fora da lista dos contemplados com
o Prêmio Resgate, do Ministério da Cultura, “porque três
jurados disseram que Lúcio Cardoso era gay”. [Jornal do
Brasil, 11-6-99]
PASTOR
CONDENA DIREITOS CIVIS DAS LÉSBICAS NO RGS
O
pastor e deputado
Manoel Maria dos Santos, da Igreja Quadrangular, pediu a revisão
da decisão da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do RS,
que concedeu status de casal, na separação de duas lésbicas.
“A decisão contraria as leis de Deus. Estes relacionamentos são
contrários à natureza humana e são anti-naturais”. [Jornal
de Brasília, 30-6-99]
JORNAL
E TV DISCRIMINAM GRUPO GAY DE ALAGOAS
O
grupo gay de Alagoas denunciou junto ao Conselho Estadual de
Direitos Humanos que a TV Alagoas, no programa Boletim
de Ocorrência e no Plantão
de Polícia da Rádio Gazeta, foram feitos comentários
preconceituosos contra a entidade, instigando a população
contra os defensores dos direitos humanos dos homossexuais.
9Gazeta de Alagoas, 15-8-99]
JUIZ
DE FUTEBOL GAY É DISCRIMINADO
“Ele
é viado. Não fosse por isso, até seria um bom sujeito”,
declarou Eurico Miranda sobre Armando Marques, em entrevista à
ESPN. [Diário Popular, SP, 28-9-99]
LÉSBICA
ESPANCADA PELO MARIDO
Jovem
de 21 anos foi espancada pelo marido ao pedir o divórcio por
estar apaixonada por outra mulher. A dona-de-casa registrou
queixa. Foi expulsa de casa com a roupa do corpo e teve que
disputar na Justiça a guarda do filho. “Meu ex-marido dizia
que nunca ia deixar meu filho com uma sapatão”- conta ela,
que finalmente ganhou a guarda da criança. [8-2-99]
TRAVESTI
É BALEADO EM ARACAJU
O
travesti José de Paulo dos Santos, 24, quando fazia pista na
Avenida Ivo do Prado, Aracaju, foi baleado na perna esquerda ao
comunicar ao cliente R. C. L., 37, vigilante, que não tinha
camisinha. [Jornal da Manhã,
18-2-99]
As
declarações mais graves e cruéis de homofobia, sobretudo
quando proferidas por autoridades ou personalidades nacionais
costumam provocar repulsa na mídia e entre entidades defensoras
dos direitos humanos, daí ser estratégico citar algumas “pérolas
da homofobia” logo na introdução do dossiê, com destaque
aos mais negativos registrados naquele ano e que por sua altíssima
intolerância, estimulam e legitimam as demais expressões
discriminatórias, incluindo atentados, tortura e os próprios
assassinatos de homossexuais.
Terminada
a redação final do dossiê, passamos a sua etapa final: a
impressão, cuja qualidade gráfica e quantidade de exemplares
será definida por cada grupo, levando-se em conta os recursos
materiais disponíveis e o público que se pretende atingir com
tal obra.
Em
se tratando do relatório de um grupo estadual, cujos
assassinatos variam de menos de uma até duas dezenas de casos
anuais, e cujos registros de violação de direitos humanos via
de regra não ultrapassam os mesmos números de homicídios, um
pequeno boletim em tamanho meio ofício, com 20 a 30 páginas
será suficiente para incluir todo o relatório final.
Em
se tratando de relatórios nacionais, englobando todos os
estados, deve-se contar com aproximadamente uma centena de páginas
– em ambos casos, havendo recursos suficientes, causa sempre
maior impacto a inclusão de algumas fotos mais realistas das vítimas
e eventualmente dos assassinos – fotos que devem ser devidamente identificadas e dado crédito ao autor. O título
do dossiê e sua capa devem ser cuidadosamente planejados por um
técnico em arte final, pois facilitam sua divulgação na mídia,
despertando curiosidade entre os leitores.
A
quantidade do dossiê a ser impressa vai depender das condições
de divulgação disponíveis pelo próprio grupo. Para um estado
pequeno, cujo relatório não passou de 20/30 páginas, talvez
cem cópias sejam suficientes, sendo eventualmente mais barato e
funcional sua reprodução em fotocópia do tipo Xerox
encadernado. No caso do dossiê nacional elaborado pelo GGB,
temos editado mil a dois mil exemplares, número que tem se
mostrado suficiente para atingir os objetivos previstos para sua
ampla divulgação.
Tanto
em se tratando de relatório estadual como nacional, é
primordial que se defina a lista das instituições e
personalidades às quais deverá ser enviado, assunto que
detalharemos no capítulo a seguir.
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