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Industrialização
do Tungstênio do Rio Grande do Norte
Discurso do Deputado Djalma Maranhão,
proferido na Sessão do dia 15.10.59
Deputado
DJALMA MARANHÃO:
- Sr. Presidente e Srs. Deputados, dentro do programa
da Frente Parlamentar Nacionalista, de trazer
a debate, não somente nesta Casa, mas em
todos os recantos do País, assuntos de
fundamental interesse econômico para a soberania
do Brasil, falaremos no momentos sobre a schelita,
minério de tungstênio, que na hora
presente está tendo grande relevância,
tanto nas indústrias de paz, como de guerra.
Inicialmente,
fazendo uma rápida súmula cronológica
da história do tungstênio, poderíamos
dizer que a palavra é de origem sueca:
tung, pesado; sten, pedra. Tungstênio é
sinônimo de volfrâmio.
Segundo
a obra “tungsten”, do Dr. K. C. Li,
os sais do metal eram usados na coloração
da porcelana, dando-lhe a cor de pêssego.
Os
chineses, na época de 1622 e 1722 da era
cristã, usavam aquela cor como privilégio
nas artes cerâmicas das dinastia imperiais.
Em
1781 o cientista Scheele identifica o volfrâmio
na chelita, tangstato de cálcio, mineral
que recebeu o seu nome, sendo a descoberta posteriormente
confirmada por Bergmann.
E,
assim, no decorrer dos anos, vem o tungstênio,
de descoberta em descoberta, de aplicação
em aplicação, tendo as mais variadas
finalidades, principalmente nas ligas de aço,
ferro, manganês, etc.
Sr.
Presidente e Srs. Deputados, encontra-se, no Nordeste
brasileiro, uma região que se denomina
do Seridó e compreende trinta municípios,
sendo vinte e um do Rio Grande do Norte e nove
municípios do Estado da Paraíba.
Essa
região, uma das mais típicas regiões
sertanejas do Brasil, era conhecida no passado
pelas suas atividades agrícolas e pastoris.
E era muito comum falar-se no algodão do
Seridó, algodão de fibra longa,
que competia com o famoso algodão do Egito
na disputa pela fabricação dos tecidos
finos nos teares da Inglaterra. O Seridó
também foi conhecido e muito popularizado
pelo famoso queijo de manteiga do Seridó,
pela carne seca do Seridó.
Mas,
com a marcha do tempo, o Seridó vai tomando
nova posição dentro da fisionomia
nacional e hoje aquela região já
é conhecida como a região da schelita,
como a região do tungstênio, e poderíamos,
desta tribuna, fazer uma declaração,
que já está comprovada através
de mais estudos, no sentido afirmativo do que
a Província Tungstênica do Seridó,
com exceção das regiões encravadas
na Cortina de Ferro, é a maior reserva
desse mineral existente no mundo. Entretanto no
Brasil pouco se conhece ainda do assunto.
A região
do Seridó, como toda a região nordestina,
é subdesenvolvida, pelas suas posições
geográfica e meteorológica e pelas
condições sócio-econômicas
e geo-econômicas.
Os
municípios que constituem esta região,
são, no Rio Grande do Norte, os seguintes:
Lages, São Tomé, Santana do Matos,
Cerro-Corá, Currais Novos, São Vicente,
Florânia, Acari, Parelhas, Jardim do Seridó,
Caicó, S. João do Sabugi, Serra
Negra, Jardim de Piranhas, Jucurutu, Ouro Branco,
S. Rafael, Carnaúba dos Dantas, Cruzeta,
Caraúbas e Augusto Severo. Na Paraíba:
Picuí, Cuité, Pedra Lavrada, Santa
Luzia, São Mamede, Juazeiro, Catolé
do Rocha, Patos e Malta.
A produção
brasileira de minérios de tungstênio,
nestes 16 anos, foi num total de 22.800 toneladas
de schelita e wolframita, das quais 90% foram
fornecidas pelo Nordeste, em forma de schelita,
principalmente do Rio Grande do Norte, que é
o maior produtor.
Existe
na região do Seridó a mina do Brejuí,
considerada, com exceção daquelas
a que nos referimos na Cortina de Ferro, como
a maior do mundo, pois concorreu com 32 por cento
para a produção do minério
brasileiro. A produção do Brasil
regula 3 por cento da produção mundial
e a mina Brejuí concorre com 1 por cento
da produção mundial de scheelita.
A área
mineralizada com scheelita podemos denominá-la
de Província Metalogenética, a qual
subdividiremos sem subprovíncias assim
consideradas, a grosso modo:
1ª Subprovíncia de Currais Novos
2ª Subprovíncia de Jucurutu
3ª Subprovíncia de Caicó
4ª Subprovíncia de Santa Luzia
5ª Subprovíncia de São Tomé
A primeira
Subprovíncia é a mais conhecida,
não só pelas minas existentes, como
é a mais penetrada e visitada.
Abrange os municípios de Currais Novos,
Santana do Matos, Cerro-Corá e vizinhos
no Rio Grande do Norte, estima-se as suas reservas
prováveis em 40.000 toneladas.
A segunda
abrange os municípios de Jucurutu, São
Rafael, Augusto Severo e Caraúbas no Rio
Grande do Norte e Partes de Brejo do Cruz e Catolé
do Rocha na Paraíba, com reservas prováveis
de 35.000 toneladas.
A terceira abrange os municípios de Caicó,
São João do Sabugi, Serra Negra
do Norte no Rio Grande do Norte, Malta e Patos
na Paraíba, com reservas estimadas em 30.000
toneladas.
A quarta
Subprovíncia abrange Santa Luzia, São
Mamede e parte de Picuí na Paraíba;
Parelhas, Jardim do Seridó e Carnaúba
dos Dantas no Rio Grande do Norte, com reservas
estimadas em 15.000 toneladas.
A Quinta
Subprovíncia abrange os municípios
de São Tomé, Lages, Caiçara
e vizinhos. Reservas prováveis: 15.000
toneladas.
A divisão
em subprovíncias não é rígida
e nem tem que ver com divisão municipal,
mas como meio de referência da área
mineralizada.
Sr.
Presidente, para conhecimento desta Casa e do
País trazemos
para aqui as
APLICAÇÕES
DO TUNGSTÊNIO
a)
Indústria Metalúrgica “Aços
especiais em ligas, com: Ni, Cr, Va, Mo, Cu, Ag,
Pb, Carburetos cimentados, Branzes ao Tungstênio.
b)
Indústria Mecânica: Ferramentas e
máquinas operatrizes tais como: lunas,
cossinetes, tesouras, serras par metal, punções,
corta-fios, perfuradores, matrizes, estampadores,
lâminas de faca, navalhas, lâminas
de relógios e aparelhos, ferramentas cirúrgicas,
penas, agulhas de fonógrafos, pesos, padrões,
corda de instrumentos musicais, os bites da perfuratrizes
e ar comprimido (pastilhas vidias), no fabrico
de eletrodos para tochas de hidrogênio nascente
e dos maçaricos ex-acetilênico.
c) Indústria Bélica: revestimentos
dos canos dos armas de fogos, projéteis,
canhões, quilhas e cascos de navios.
d)
Indústria Elétrica: Filamentos de
lâmpadas, emissoras termoiénicos
em álculas de rádio, microscópio
eletrônico, aços para imã
(em desuso), relés telegráficos,
tubos de querotono para retificação
de corrente alternada, contactos elétricos
(em liga com a prata), reguladores de resistência
(reostatos), reguladores de voltagem, ánodos
de células fotoelétricas, tubos
de vácuo, aparelho de raios X, fornos elétricos,
cadinhos a vácuos.
e)
Indústria Ótica: Fios para os retículos
de teodolitos e telescópios.
f)
Indústrias Químicas: Corantes de
vidro e cerâmica de porcelana, tintas de
impressão (estampagem), cêras, papel,
peneiras antecorrosivas aos meios salinos.
g)
Indústrias Automobilísticas e Aeronáutica:
Válvulas e canos de estepe de motores a
explosão, aviões a jato, velas,
contatos de distribuidores.
Mas
nesse ciclo econômico da influência
do tungstênio, o que ressalta mais a sua
participação na indústria
de guerra e é por isso que o tungstênio
está interessando profundamente as grandes
nações que disputam a hegemonia
do mundo.
Na
indústria bélica, o tungstênio
é empregado no revestimento dos canhões,
da armas de fogo nos projéteis, nas quilhas
dos navios de guerra, nos cascos dos submarinos.
Sr.
Presidente, poderíamos, aqui então
recordar que o ciclo decisivo do tungstênio
se iniciou em 1914 durante a Grande Guerra. Todos
nós ainda estamos recordados do efeito
tremendo que sobre o mundo despertava a artilharia
alemã: os canhões alemães
atiravam com mais violência do que os franceses.
Haveria
um milagre para que as fábricas alemãs
produzissem canhões mais poderosos do que
o dos aliados? E, então, somente depois
se veio a saber que a fábrica Krupp, dos
famosos canhões Berta, produzia canhões
revestidos de tungstênio, que dava assim,
aos exércitos alemães superioridade
tremenda sobre os aliados. Nesta, Segunda Guerra,
também o tungstênio teve sua influência
fundamental. As Bombas V-2 e V-1, com que os alemães,
através do Canal da Mancha, bombardeavam
a Inglaterra, eram revestidas com tungstênio.
Assim
sendo, vemos que esse minério é
de importância decisiva no mundo moderno.
Sem o tungstênio não teria sido possível
o Sputnik dar a volta ao mundo e o Lunik no seu
vôo sideral atingir a Lua.
O Sr.
Arno Arnt – Entretanto, na Segunda Guerra
Mundial, o tungstênio foi buscado no minúsculo
Portugal e nós, que temos tungstênio
desde o Rio Grande do Sul até o Rio Grande
do Norte, não exportamos de maneira vultosa
o minério do tungstênio, nem o usamos
na nação brasileira.
O SR.
DJALMA MARANHÃO – Grato a V. Excia.
Pelo seu aparte, que vem esclarecer o rumo das
minhas palavras.
Vemos, assim, que, tendo o Brasil grande reserva
de tungstênio, conforme afirmamos no início
deste discurso, na região do Seridó,
onde estão as maiores reservas de tungstênio
do mundo, precisamos começar a utilizá-lo
em proveito do Brasil, mesmo porque sabemos que
as minas norte-americanas de Lincoln, Bishop e
Benton, em Nevada e na Califórnia, estão
no fim, completamente exauridas.
Sr.
Presidente, do roteiro de minhas palavras, chegaremos
às suas conclusões, do mais alto
interesse para o País.
Fazendo uma ilustração sobre as
minas de schelita da região seridoense,
podemos dizer que a primeira ocorrência
de schelita se verificou em 1941 na região
denominada Riacho de Fora, no Município
de São João do Sabugi, no Rio Grande
do Norte. Ali Joel Dantas e Agostinho de Britto
verificaram a existência de um mineral branco
e pesado que foi classificado como schelita.
Em
fins daquele ano, Joel Dantas, o verdadeiros descobridor
do mineral, identificou-se no Nordeste, sem qualquer
ajuda oficial, e com os seus precaríssimos
maios – e praticamente cego desde os 8 anos;
autodidata, estudou mineralogia e química
qualitativa praticamente sozinho. Na região
das encostas do Planalto de Borborema e nas planícies
desérticas que constituem os vales semi-áridos
dos rios Seridó e Piranhas. Seu primeiro
local de ocorrência deu-se em Riacho de
Fora, município de São João
do Sabugi; Rio Grande do Norte. Seguiu-se a descoberta
de nova ocorrência em Quixaba, já
no município de Santa Luzia, na Paraíba.
Já em junho de 1492 iniciou-se o ciclo
das sucessivas descobertas deste mineral, pois
que em setembro do mesmo ano descobriu-se Quixeré,
novamente no mesmo município de São
João do Sabugi. Até junho de 1943,
isto é, cerca de um ano depois da Segunda
descoberta, conheciam para mais de 30 novas jazidas,
ficando entre estas, Malhada e Angicos, em Jardim
do Seridó, feita em dezembro de 1942; Brejuí
e Bonito em abril de 1943. Cafuca, em junho de
1943, seguida depois de Bodó, na Fazenda
Papa Terra, a mina do mesmo nome, todas no Estado
do Rio Grande do Norte. No último trimestre
de 1943, já do outro lado das fronteiras
do Rio Grande do Norte e Paraíba, descobre-se
a mina de Malhada Limpa.
A luta de Joel Dantas, praticamente seguida da
descoberta da schelita no Brasil, foi das mais
tremendas. Somente este ano, graças a um
movimento de conterrâneos nosso e da Revista
“O Cruzeiro”, Joel Dantas veio ao
Rio de Janeiro, onde se submeteu a uma operação
e recobrou a vista. E, ao lado de Agostinho de
Brito, advogado do Município de Caicó,
de Antonio Othon Filho, outro advogado no Município
de Currais Novos, constituem os elementos que
mais têm trabalhado na pesquisa de schelita,
levando a todos os quadrantes da Pátria
os seus esclarecimentos para que a nação
tome conhecimento deste minério. A estes
três abnegados (estudiosos e autênticos)
pioneiros o nosso reconhecimento, certo de que
a História, amanhã, os enaltecerá.
Sr.
Presidente, Srs. Deputados, há um episódio
típico no Nordeste à época
do rush da schelita. Naquele período, era
muito comum, nas ferias livres, encontrar-se,
o comércio da schelita ao lado do comércio
comum de cereais. Nas feiras da região
seridoense a schelita era vendida e comprada livremente.
Nas
minas existentes, nas grandes, nas médias
e também nos trabalhos de aluvião
chegaram a ser empregados mais de 40 mil operários,
numa concentração de trabalhadores
realmente empolgante. Quarenta mil operários
entregavam sua atividade em retirar a schelita
do subsolo. Esses homens significavam o sustento
de 200 mil pessoas e por isso poderemos aquilatar
o que representava e representa para a economia
nordestina e o equilíbrio social da região,
o trabalho nas minas de schelita.
Quando
a seca deflagrava de maneira mais intensa, era
para as minas de schelita que os flagelados corriam
em primeiro lugar, antes de encontrar os caminhos
do sul do Brasil naquela epopéia trágica
e tão lamentável para os nossos
foros de povo civilizado.
As principais minas da região são
as seguintes:
1)
Mina do Rodó – Cerro Corá
– Rio Grande do Norte – Com engenho
em instalação, para 150 t/24 horas,
central Diesel elétrica, engenho e serviços
subterrâneos bem organizados e conduzidos,
projetos de técnicos nacionais. Reservas
razoavelmente medidas, excelentes reservas inferiores.
2)
Brejuí – Currais Novos – Rio
Grande do Norte – Bom engenho de beneficiamento,
projeto nacional com equipamento de origem americana,
para 180 t/24 horas, em expansão.
Serviços subterrâneos parcialmente
transformados em céu aberto por má
condução anterior dos mesmos. Reservas
cubadas muito elevadas, especialmente pesquisados
por sondagem a diamante (Mina Verde, na face oeste
do anticlinal de Currais Novos, sob controle da
Wha Chang Trading Corporation).
3)
Malhada Limpa – Currais Novos – Com
bons serviços subterrâneos, engenho
de beneficiamento modesto, em remodelação.
Reservas possíveis evidentes, ramificação
lateral par sul até Timbaúba, com
zona francamente produtora de sulfuretos cupríferos,
dentro da dobra do anticlinal de Brejuí-Currais
novos (Face Este da estrutura tectônica).
4)
Malhada dos Angicos – Jardim do Seridó
– Rio Grande do Norte – Engenho obsoleto.
Boas instalações de superfície.
Ótimos serviços subterrâneos.
Reservas muito elevadas, com teor médio
baixo. Corpo de minério regular e muito
espesso.
5) Quixaba – Santa Luzia – Paraíba
– Em organização os serviços
de extração subterrânea. Bem
pesquisada por sondagens a diamante conduzidas
por técnicos alienígenas. Engenho
de projeto americano, piloto para 80 toneladas
em instalação. Reservas cubadas
substanciais mas não elevadas.
6)
Bonito – São Rafael – Rio Grande
do Norte – Em organização,
similar a Quixaba. Reservas possivelmente elevadas.
Engenho piloto, americano, para 50 toneladas.
7) Cafuca – Santana do Matos – Rio
Grande do Norte – Engenho obsoleto –
Ótima central Diesel elétrica. Reservas
elevadíssimas cubadas por serviços
subterrâneos. Possivelmente do mesmo corpo
mineral que Bodó, na dobra Bodó-Baixios-Cafufa.
8)
Quixeré – São João
do Sabugi – Rio Grande do Norte –
Paralisada alguns anos depois de lavra ambiciosa.
Reiniciados os serviços em 1955. Em 1956
ainda sem engenho de beneficiamento. Reservas
possivelmente elevadas, face a extensão
e dimensões dos afloramentos regionais.
9) Barra Verde – Currais Novos – Prolongamento
da camada de Brejuí – Operada sob
contrato com a Wha Chang Trading Corporation.
Engenho duplex de 600 toneladas/24 horas, de projeto
americano. Excelentes pesquisas por sondagem a
diamante. Mineração totalmente subterrânea
por inclinadas e poços. Dentro da área
de inundação do Açude Presidente
Dutra – (Gargalheiras).
Fora destas há pelo menos uma série
de 15 a 20 pequenas “minas” com serviços
e instalações pouco eficientes,
localizadas em diversos pontos da Província
Metalogenética, trabalhadas em um regime
intermediário entre uma garimpagem desenfreada
e irracional e uma lavra mais ou menos ambiciosamente
conduzida. Constituem exemplo: Fazendo Amazonas
– Riachão Quixaba (S. Miguel do Jucurutu),
etc.
Hoje,
a fisionomia é completamente diferente
porque há pouco mais de dois anos chegou
à região do Seridó um truste
monopolizador de tungstênio – Wha
Chang Corporation. A história desse cartel
internacional que iremos contar desta tribuna
é bem sintomática e demonstra o
atraso crônico em que se encontra a nossa
Pátria.
Para
chegarmos às origens da Wha Chang, teremos,
em primeiro lugar, de recuar até a guerra
da Coréia. A Wha Chang inicialmente era
uma organização de capitalistas
chineses aliados a capitalistas norte-americanos
e tinha o seu campo de ação na Mandchúria.
Quando os comunistas chineses ganharam a revolução
e Chang-Kai-Chek teve que se refugiar na Formosa,
a Wachang perdeu suas minas de Mandchúria.
Lançou-se, então, à luta
para obter novas reservas desse mineral e se localizou
na Coréia. A guerra coreana que o mundo
pensa ter sido fratricida, foi alimentada friamente,
arquitetada pelos trustes do tungstênio.
O Paralelo
38 não era o divisor geográfico
da Coréia, mas o divisor do minério
que se intensificava, à medida que ia subindo
o ponto mais alto do Paralelo 39. Então,
russos e norte-americanos ensangüentaram
o solo coreano na luta tremenda, titânica
e devastadora pela conquista do tungstênio
daquele País. Quando chegaram à
conclusão de que não era conveniente
mais, sob o ponto de vista econômico continuar
naquela luta, dividiram a Coréia em duas
metades – uma ficou sob o controle americano
e outra sob a influência soviética.
Assim, o minério da Coréia foi repartido
entre os dois grandes povos rivais da humanidade.
Então,
a Wachang deslocou-se para o Rio Grande do Norte
e chegou até a região do Seridó
e as máquinas que trouxe para Currais Novos,
na mina de Barra Verde, ainda estão tintas
pelo sangue generoso do povo da Coréia.
O fato
aumenta de importância e de gravidade. Sr.
Presidente e Srs. Deputados, porque, por trás
da Wachang, da mesma maneira que por trás
de Standard Oil, se encontra o Departamento de
Estado. Quer dizer, os próprios Estados
Unidos da América.
Era
eu prefeito de Natal, quando lá chegou
Mr. Briggs, Embaixador dos Estados Unidos da América
do Norte, no Rio de Janeiro. Era a primeira vez
que a pequena capital norte-riograndense recebia
a visita do Embaixador de tão importante
e poderoso País. Indagamos, então,
através do intérprete, qual o motivo
fundamental da sua ida à região
nordestina. S. Sª. declarou tratar-se de
visita de cortesia, de cordialidade, de contato,
de conhecimento do País. Horas depois,
porém, seguia rumo ao Seridó, para
o local onde Wahchan Corp. havia instalado seu
maquinário. Não era a paisagem nordestina
o que lhe interessava. O que ele procurava era
o contato direto com os monopolizadores do tungstênio,
levando-lhe o apoio do Governo norte-americano,
em detrimento dos interesses econômicos
do Brasil.
Até
aí o assunto não tem maior gravidade,
aumenta, porém, consideravelmente de importância,
com outro fato que trago ao conhecimento da Casa.
Na época da guerra da Coréia, o
Embaixador dos Estados Unidos da América
do Norte naquele País era aquele mesmo.
Mr. Briggs que visitava Natal e ia ao Seridó
a serviço da Wachang, e não a serviço
do povo norte-americano.
Por
trás daquela empresa, encontrava-se os
Estados Unidos, da América do Norte, como
ainda hoje, através da pessoa de seu ex-embaixador
no Brasil.
A Wahchang
Corporation fundou no Brasil uma subsidiária
– à Mineração Wahchang
Sociedade Anônima, instalada em Itupeva
no município de Jundiaí, no Estado
de São Paulo, em 14 de junho de 1951. Tenho
em mãos o Diário Oficial do Estado
de São Paulo com a ata da fundação
dessa organização. Para demonstrar
o desprezo que determinados setores estrangeiros
têm pelos povos economicamente atrasados,
diz o órgão oficial paulista, na
sua edição de 15 de setembro de
1959, na ata de instalação:
“Sendo
eleito Presidente o norte-americano Victor John
Humpton, dado como residente no Hotel Terminus
em Campinas, portador da carteira de identidade
temporária com permanência no País
até 20 de abril de 1933.”
era
presidente da empresa em 1951... Vemos como eles
mandam no Brasil, como abusam das nossas leis.
Uma carteira caduca, pois que valia somente até
1933 serviu para instruir a ata de organização
de uma subsidiária estrangeira no Brasil
em 1951. E a Wahchang Corporation subscreveu 94%
do capital dessa empresa falsamente nacional:
com exceção do Sr. Arnaldo Olímpio
Bastos Filho, testa-de-ferro do truste no Brasil,
todos os demais diretores e incorporadores são
estrangeiros. Temos também aqui o Diário
Oficial do Estado de São Paulo, edição
de 3 de julho de 1955, que publica nova ata da
Mineração Wahchang, subsidiária
da Wahchang Corporation, que fala da eleição
de novos dirigentes, na sua quase totalidade estrangeiros,
norte-americanos ou chineses naturalizados norte-americanos.
Sr.
Presidente, cabem aqui, no exame deste caso de
interesse econômico algumas apreciações
sobre as cotações internas da schelita:
Em
1948, na boca da mina, custava Cr$ 18,00, sendo
vendida aos exportadores por Cr$ 22,00;
Em 1949, custava Cr$ 15,00 sendo vendida a Cr$
20,00;
Em 1950, custava Cr$ 16,00 sendo vendida a Cr$
24,00;
Em 1951, custava Cr$ 48,00 sendo vendida a Cr$
75,00;
Em 1952, custava Cr$ 45,00 sendo vendida a Cr$
75,00;
Em 1953, custava Cr$ 34,00 sendo vendida a Cr$
70,00;
Em 1954, custava Cr$ 40,00 sendo vendida a Cr$
75,00;
Em 1955, custava Cr$ 60,00 sendo vendida a Cr$
110,00.
Veio,
então, o grande período áureo
da schelita, com uma subida vertiginosa dos seus
preços.
Trouxemos
aqui um estudo em que se diz:
Tínhamos,
por certo essa infiltração ter em
mira o fim a que estamos assistindo; jamais pensamos,
entretanto, que fosse tão depressa como
foi; pois, ano e meio após e estabelecimento
da Wahchang em Barra Verde, assentado o 1º
moinho para extração mecanizada
da scheelita, retirando do seio da terra 3 a 4.000
quilos diariamente, que mais queria a Wahchang?
Para
que mais scheelita? Daí a queda brusca
de Cr$ 160,00 a quilo para Cr$ 60,00 do fim de
1956 para fevereiro de 1957, situação
retirou dos mercados e da produção
quase todas as chamadas grandes produções,
com exceção de 3 a 4 que ainda continuam
em regime deficitário e em breve fecharão.
Entre
estas se contam 4 únicas em funcionamento:
Riachão, de Joel Assunção,
Cafufa, de Aristófanes Fernandes, Bodó-minas,
de Sérvulo Pereira, e Mineração
Seridó, de Florêncio Luciano, cujos
prognósticos são os mais sombrios.
Por fim, o ingênuo Des. Tomaz Salustino,
cujo regime também é deficitário;
mas, com o “auxilio dos seus amigos dirigidos
pelo Dr. Li”, vai trimestralmente “entregando
a sua produção” pelo que eles
querem pagar e, assim, aos poucos vai se definhando,
sem que o queira perceber, até entregar-se,
como os outros, á Toda Poderosa Mineração
Wahchang, orientada neste sentido pela societas
sceleris organizada para nos humilhar e deprimir.”
Sr.
Presidente, como vemos, é a mesma, em toda
parte, a tática e a técnica do truste,
depois de uma alta intempestiva do produto, faz
cair o seu preço de maneira vertiginosa.
Atualmente,
no Rio Grande do Norte, a chefia está a
preço vil, não compensando ao minerador
a sua extração. Como o controle
internacional do produto cabe à Wahchang,
como provarei no desenrolar deste discurso, ficam
os mineradores sem uma saída, sem solução.
Antigamente,
Sr. Presidente, os mineradores nordestinos vendiam
a schelita diretamente aos Estados Unidos. Depois,
entretanto, a Wahchang estabeleceu um convênio
com o Governo norte-americano, pelo prazo de 10
anos, ficou com o monopólio da schelita.
Queremos
aqui fazer uma acusação das mais
graves para este País, onde não
se toma conhecimento dos assuntos que realmente
interessam à sobrevivência da nacionalidade.
O Governo americano compra à Wahchang através
de um convênio, toda a sua produção,
na base de 55 dólares o quilo, equivalente
mais ou menos a seiscentos cruzeiros a essa empresa
paga na boca das Minas do Nordeste, apenas 60
ou 70 cruzeiros o quilo!
A gravidade
não está somente nesta espoliação,
mas no fato de estar a Wahchang burlando o fisco
nacional. Ela não se conforma somente em
explorar o trabalhador nacional, pagando-lhe vilmente
o salário mínimo, ela não
se conforma somente em ganhar numa proporção
gigantesca de diferença de preços.
Um
faturamento de schelita que sai do Rio Grande
do Norte com destino à América do
Norte é consignado na base de 17 dólares.
Acontece, portanto, que tanto o fisco federal,
como o estadual e o municipal estão sendo
lesados ostensivamente pela Wahchang. Pelo convênio
americano, que não é secreto, mas
público, que está registrado e que
vai terminar em 4 de dezembro do corrente ano
a Walichang vende a 55 dólares o quilo
e fatura no Rio Grande do Norte, na base de 17
dólares.
Existe,
porém, falcatrua e ainda maior –
a sonegação desse monopólio
internacional no que se refere ao imposto de renda.
Tendo o preço americano nominal, nos últimos
tempos, variado entre 8 e 13 dólares, a
Wahchang, se fizer o faturamento a 17 dólares,
como determina o Departamento Nacional de Produção
Mineral, apresentará grandes prejuízos,
e poderá, assim sonegar o imposto de renda.
Mas afirma os public relations da Wahchang que
ela não toma conhecimento desse prejuízo,
desde que trabalha a longo curso e poderá,
no futuro, recuperá-lo.
E desta
maneira, Sr. Presidente, que os nosso amigos da
América do Norte estão ajudando
o desenvolvimento econômico do Brasil: tirando
tudo, por todos os lados e por todos os meios.
Nem simplesmente o imposto, que é sagrado,
eles pagam corretamente. Haverá quem fiscalize
a Wahchang?
Haverá
quem vá lá tomar conhecimento desses
fatos? Muito difícil, porque os seus tentáculos
são bastantes poderosos ela tem agentes
em toda a parte.
A Wahchang
sempre esteve bem informada quanto à situação,
em todas as reformas cambiais, enquanto os mineradores
trabalhavam, demonstrando ao Governo a impossibilidade
de exportar a schelita por ser deficitária
a sua exploração, ante a concorrência
de outros setores produtores, os mineradores pediam
ao Governo melhor câmbio de exportação.
A Wahchang, bem informada, retinha os seus estoques
em portos nacionais, para só promover a
exportação quando o Governo decidisse
conceder a melhoria de câmbio pleiteada
pelos mineradores.
Somente
nessa diferença de câmbio, em poucos
embarques, a Wahchang ganhou o suficiente para
compensar a invasão de seu capital nas
minas de Currais Novos.
O SR.
PRESIDENTE – Ary Pitombo, 4º Secretário
– Lembro ao nobre orador que dispõe
de cinco minutos para concluir sua oração.
O SR.
DJALMA MARANHÃO – Sr. Presidente,
comecei minha oração antes do tempo
regimental. Poderia usar ainda 10 minutos.
O SR.
PRESIDENTE – Justamente. V. Excia. deveria
ter terminado seu discurso há cinco minutos.
O SR.
DJALMA MARANHÃO – Sr. Presidente
e Srs. Deputados, o assunto é dos mais
vastos, e temos aqui uma documentação
das mais interessantes para conhecimento desta
Casa. Entretanto, dada a exiguidade do tempo,
deixá-la-emos para outra oportunidade.
Desejamos,
assim mesmo, apontar aqui à Câmara
aquelas soluções que reputamos mais
necessárias para enfrentar a crise do tungstênio.
São duas: A primeira é provisória:
o Governo do Brasil pagar em schelita, no prazo
de cinco anos, a dívida que deveria ser
paga em minerais radioativos, cuja exportação
está proibida pelo Conselho de Segurança
Nacional. Isso viria solucionar, em parte, o problema
e também a aquisição dos
estoques dos pequenos produtores a preço
a ser fixado na base do custo da produção,
assim como o financiamento desses pequenos produtos
pelo Banco do Nordeste.
Entretanto,
Sr. Presidente, esta é uma solução
provisória pretendida pelos mineradores
de schelita do Rio Grande do Norte, porque a definitiva
será a instalação de uma
usina de fundição da matéria-prima
e a obtenção de tungstênio
metálico, em barra, em pó e em fios.
Esta usina deveria ser nas mesmas bases estatais
de Volta Redonda.
Com
exceção da “cortina de ferro”
na Ásia e o sueste da Ásia onde
estão as grandes minas de tungstênio
existem no mundo somente três usinas, todas
elas pertencentes a Wahchang – duas na América
do Norte, de propriedade direta deste truste e
a outra em Madri, de uma firma associada a Wahchang,
assim localizados:
1)
Wah. Chang Corporation – U. S. A.
Escritório: New York – Wollorth Building,
7.
Usinas: - Herbill Road, Glecove, Long Island,
USA.
Union City, New Jersey, USA.
2)
B. Bruno – Madrid – Espanha –
Europa.
3)
Para pequeno consumo há várias fundições
em todos os continentes:
O caminho
nosso é a instalação em Currais
Novos, coração da zona de schelita,
de uma usina para a obtenção do
tungstênio metálico.
Como
solução provisória, poderíamos,
também entrar em entendimento com a Tchelovaquia
interessadas em trocar schelita por maquinário
e implementos agrícolas.
Sr.
Presidente e Srs. Deputados, antes de encerrar
estas palavras, desejamos formular uma denúncia
contra a CACEX. Mandou este órgão
à região da schelita um emissário,
senhor Henrique Casper Alves de Souza, que voltou
com um relatório que poderíamos
tachar de entreguista, porque, sem procurar ampara
os mineradores, enaltece as vantagens da Wahchang.
Desta
tribuna, denunciamos o procedimento da CACEX.
Temos a impressão de que desde a presença
do Senhor Paes de Almeida no Banco do Brasil,
ficou realmente a Carteira de Comércio
de Exportação transformada num ninho
de entreguistas.
Sr.
Presidente, este problema no Rio Grande do Norte
está sendo debatido por todos aqueles que
se interessam pelos assuntos econômicos
dentre os quais destaco o meu colega Djalma Maranhão,
irá certamente despertar a consciência
nacional.
O Sr. Arno Arnt – Permita-me V. Excia. não
é novo o que V. Excia. traz à colação,
agora, do Conselho da CACEX, mandando incorporar
os interesses a uma empresa estrangeira. O Rio
Grande do Sul, há poucos anos, em determinada
crise de certo produto, também, aqui no
Rio, recebeu de entidades de cúpula a seguinte
sugestão: Por que os senhores não
vendem os bois aos frigoríficos estrangeiros,
em vez de andarem pleiteando constituição
e financiamento para empreendimentos nacionais?
Veja V. Excia. a mentalidade do Rio de Janeiro.
Parece que não evoluiu, mesmo que tantas
vozes se ergam, procurando dar um pouco mais de
satisfação, aos legítimos
empreendedores nacionais.
O SR.
DJALMA MARANHÃO – Obrigado a V. Excia.
Sr.
Presidente, só o Governo Brasileiro, como
tem feito muitas vezes o Governo Americano, na
defesa dos seus produtos, pode colocar-se à
nossa frente, defendendo o esforço industrial
pioneiro do Nordeste, assegurando os meios de
subsistência de milhares de famílias,
garantindo ao Rio Grande do Norte a preservação
de uma de suas fontes de riqueza, resguardando
nosso potencial mineral da asfixia que os produtores
não podem evitar e, sobretudo, realizando
uma obra de justiça social numa região
que o próprio Governo reconhece desorganizada
a desamparada economicamente, que só através
do meios econômicos deverá reintegrar-se
na unidade nacional ameaçada. (Muito bem;
muito bem. Palmas. Orador é cumprimentado).
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