Educando
para a Cidadania
Os
Direitos Humanos no Currículo Escolar

ENTENDIMENTO
INTRODUTÓRIO À FILOSOFIA
A maioria das pessoas cerram o cenho, com
ar de estranheza, quando se fala em filosofia.
Essa estranheza expressa um misto de
curiosidade e temor. Afastada dos currículos escolares, a filosofia
guardou, no inconsciente da coletividade, um referencial muito próprio:
uma sabedoria que somente gênios entendem e estudam de maneira
enclausurada, sem acesso aos comuns “mortais”. Esta vinculação da
filosofia a uma “superioridade intelectual de alguns gênios da
humanidade” está presente na forma como tantos professores
apresentam-na: acadêmica, árida e “pura”. Ela, na verdade, é mais
doutrina de iniciados do que forma de conduzir alguém a pensar. Há
satisfação em não ser compreendido, em decepcionar irremediavelmente
o iniciante. Assim se mantém o estigma dos tantos que não “pensam”
e dos poucos “pensantes”. As falhas metodológicas de abordagem não
são consideradas. Estes “professores”, na verdade, temem a
popularização do pensar.
Os imortais da filosofia certamente tiveram
dificuldades em entendê-las, mas, com esforço,
desenvolveram maior percepção, e sua continuidade
permitiu desenvolvê-la e reinscrevê-las na história.
É importante salientar que não existe
uma filosofia, mas filosofias. A história demonstra lutas entre elas,
onde os filósofos aparecem como grandes estrategistas de idéias.
O temor que acompanha as pessoas
desinformadas sobre o papel da filosofia na sociedade não é de todo
infundado. A ausência da filosofia deve-se a razões bastante graves.
Seria interessante investigar com alunos e discutir sua constância nos
cursos, a sua suspensão no passado ou a sua presença inócua.
Lembremos que houve um período de efervescência estudantil em que as
escolas de 2º grau ministravam esta disciplina com eficácia junto aos
alunos.
A filosofia patrocina o exercício da
liberdade, principalmente como forma de expressão. A história
informa-nos de períodos de brilhantismo no desenvolvimento do
pensamento e mostra, igualmente, períodos de censura, repressão e
eliminação por propor constantemente o entendimento global, isto é,
tudo tem a ver com o todo. As relações existentes, nem sempre
explícitas e óbvias, terão de ser detectadas pela inteligência, já
que não poderão ser percebidas pelos sentidos. O desenvolvimento desta
capacidade abstrata possibilita analisar os critérios estabelecidos,
questionando-os quanto a sua validade, sua verdade, sua justiça, etc...
A capacidade de raciocinar, relacionando
constantemente idéias e realidade, permitirá uma
leitura nova desta mesma realidade, dos fenômenos
que a compõe, dos fatos históricos e acontecimentos,
bem mais consistente quanto ao valor ou sentido
que eles encerram, e isto motivará o estudante,
que perceberá uma qualidade nova no conhecimento.
A medida em que os temas a serem
estudados forem ou apresentarem-se complexos como, por exemplo, a
convivência social em uma sociedade caracterizada pelas desigualdades,
ou o “mérito da força” e da “conquista” individual como
modelares, torna-se infrutífero outro caminho, que não a filosofia,
para ponderar possibilidades de formas de pensamento concreto,
visualizando e elegendo o futuro preventivamente.
Roberto Gomes, em Crítica da Razão Tupiniquim,
define filosofia como “enxergar um palmo diante do nariz”. Esta
definição conduz o indivíduo ao exame criterioso do seu meio, dos
fatores que o influenciam, que pressionam, e das medidas a serem
tomadas. Assim, a vida não será mais uma caixa de surpresas, pois a
pessoa habilita-se a pensar de modo geral e não somente conforme as
suas circunstâncias, a sua vida isolada e os seus interesses, tantas
vezes mesquinhos.
A filosofia, como qualquer outra forma de
expressão humana, sofreu, ao longo da história, desgastes, não por
ser filosofia, mas por ser filosofia o que amparava um conjunto de
normas dominantes, sociais, culturais, políticas e mesmo econômicas
(como no caso da burguesia como classe dominante). A filosofia, assim,
irá refletir a estrutura geral do pensamento.
Conhecer o presente necessita uma avaliação
de seu processo gerador. Não bastam suas características,
mas do que ele resultou. O conhecimento da realidade
não poderá ser desintegrado ou superposto aos
fatos. Terá que ser concebido, ao contrário, como
sistema integrado, com relações simples e complexas
e com contradições. Sobre isto trataremos adiante.
PROPOSTA DE ENFOQUE PARA MINISTRAR A
DISCIPLINA DE FILOSOFIA
Freqüentemente ocorre a indagação: o
que é mesmo filosofia? A resposta imediata não é relevante. Na
realidade, as respostas a essa indagação são várias, bastante
diferenciadas, segundo o sistema filosófico adotado. Seria válida a
tarefa de investigar uma coletânea com diferentes definições e
questionar a que se devem tais diferenciações.
Quando o professor é experiente, frente
a alunos tendo o primeiro contato efetivo com filosofia, proponho uma
melhor solução protelar por algum tempo a mera resposta e filosofar
com alguns exemplos significativos, como comparando textos de Thomas
Hobbes e Rousseau, um texto metafísico que caracterize o homem, o
Diálogo de Júpiter e Orestes, de Jean Paul Sartre, a concepção de
sociedade e homem em Augusto Comte e Karl Marx, etc...
Segundo Thomas Hobbes, “O homem é o
lobo do homem”. Mau por natureza, o homem somente se submete a
padrões de convivência social por temor a castigos impostos pelos
dirigentes. Reprimir é o papel do Estado, do governante que exerce as
funções da organização e da ordem públicas. A continuação desta
idéia poderá ser melhor averiguada na sua obra, O Leviatã. Importante registrar
que esta filosofia evoluiu com outros pensadores e passou a ser aplicada
amplamente em países do terceiro mundo.
Oferecendo outro exemplo para contrapor
e permitir ao estudante neófito perceber a diferença
da cont?????E???????I)radição, poderíamos citar
J. J. Rousseau, quando diz: “O homem é bom por
natureza e pervertido pela sociedade”. Nasce com
índole boa, sem preconceitos, solidário. Recomendo
observar o comportamento das crianças ainda não
afetadas, ou impregnadas pelos preconceitos dos
seus pais ou do meio social onde vivem. Aqui a
perversidade é adquirida. Seria interessante um
exame sobre a evolução da nossa cultura, o processo
de colonização, independência e outros fatos históricos
importantes impregnados de ideologia oficial,
uma espécie de vulgarização filosófica, popularização
da filosofia alienada que impede o desenvolvimento
de uma nova cultura. É importante que a filosofia,
como superação das paixões ou da resignação, torne-se
um convite à reflexão, desencadeando as forças
racionais, para que um número cada vez maior de
pessoas participe na construção da verdade e na
correção das diversas formas de ler a história,
segundo leituras oficiais, que podem ser observadas
desde a arte à ciência, nas suas várias formas,
disciplinas ou expressões. Por que as disciplinas
“científicas” são melhores aquinhoadas em carga
horária, recursos materiais, número de profissionais,
e distanciadas da nossa? A religião, por exemplo,
na forma como alcança o povo e o que faz com ele
ou por ele, e assim por diante, está carregada
de filosofia. Pode, por exemplo, haver todo um
vocabulário que convide, induza ao conformismo,
ao fatalismo, à resignação das “ações” dos ídolos.
De outro lado, podemos salientar as intuições
que emergem constantemente e não ficam conscientizadas
pelos indivíduos. As populações sentem o desconforto
com o discurso retórico, repetitivo, desgastado
na sua ineficiência. Os meios formadores de opinião
nos bombardeiam com suas inovações técnicas, embotando
sempre mais a possibilidade do despertar da nação.
O povo é condicionado a reagir mecanicamente,
desprovido do direito ao saber, do direito a formar
uma consciência autônoma e competente para interpretar
os acontecimentos, para assumir posições coerentes
com a sua situação, com sua trajetória histórica,
respondendo com ações construtivas na construção
do que lhe foi sonegado.
Resta o desafio, profundamente humano,
que brota sempre mais vigoroso através dos séculos, despertando e
inquietando os que se acham adormecidos.
Pensar é exercer a racionalidade. Há
que saber pensar. Há que saber ensinar nesse desafio inquietante em que
o ser humano cresce, onde a consciência individual só tem sentido
porque contribui para que os outros igualmente se promovam. Os
desenvolvimentos não desprezam a filosofia. Suas instituições
preparam, zelam pela formação do conhecimento e da consciência dos
seus cidadãos.
No terceiro mundo é diferente. Às
vezes, partimos do zero. Tudo está imposto. Outras vezes, encontramos
boa vontade e devemos alargar o passo.
Quando a situação é mais favorável,
em que o professor, os alunos e a instituição possuem, além da
disposição, alguns recursos na área, indicaria a seleção de textos
e autores, para trabalhá-los examinando o contexto onde foram
produzidos e a solução que indicaram e avaliá-los no seu progresso
histórico, enquanto visão de mundo. Examinar, enfim, diferentes
conceitos sobre sociedade.
Algumas sugestões para trabalho:
Formar três grupos para este estudo e,
posteriormente, colocar em debate.
1º grupo – entendimento liberal de
sociedade.
2º grupo – entendimento positivista de
sociedade.
3º grupo – entendimento marxista de
sociedade.
Neste debate avalia-se a distinta visão
de mundo de cada filosofia e a competência (desempenho) de cada
participante individualmente.
Esta iniciativa de trabalho levará à
discussão de outras categorias, como o entendimento de:
-
Estado e organização política;
-
Direitos do cidadão;
-
Justiça;
-
Liberdade;
-
Organização econômica;
-
Organização social;
-
Educação e toda produção cultural e científica;
-
Divisão social do trabalho;
-
Justiça social, etc.
Ao cabo do debate, a turma terá bem
claro (se bem conduzido) três sistemas, as bases de suas divergências
e a leitura cotidiana destas ideologias nas ações concretas do meio,
principalmente nos meios de comunicação e educação.
Recomendamos, como leitura de consulta,
obras dos autores clássicos destes sistemas ou de autores qualificados
e identificados com a respectiva linha de pensamento, à altura da
compreensão dos alunos. para os iniciantes, a leitura do fascículo da
coleção Pensadores tem se
mostrado bom material inicial.
Após este estudo, estaríamos em boas
condições para um trabalho crítico, que revisaria os conceitos
anteriores estudados. Aqui, recomendamos ler e debater O Existencialismo é um Humanismo, de Jean Paul Sartre. Esta leitura
e discussão deverá levar em conta, permanentemente, a realidade
Ibero-americana.
O referido trabalho já foi testado com
jovens ao final do nível médio de ensino.
Saber que o pensamento é um produto do
meio, e que deve superá-lo, significa saber em que situação se encontra
o momento presente. Não estaríamos em crise exatamente
porque o pensamento que oferece suporte às estruturas
e ações se encontra em sua forma mais anacrônica?
Qual a satisfação das pessoas, enquanto seres
sociais que geram os recursos e constróem os equipamentos
como instrumentos necessários à vida em uma sociedade?
Afinal, a satisfação não conta como indicadora
do caminho que trilhamos? Quando ela desaparece
os horizontes se fecham, e a frustração paira
sob a forma de objetivação das pessoas, as formas
de suportar e reagir são diversas. As consciências
mais independentes manifestar-se-ão bradando com
equilíbrio, com firmeza, com sabedoria, abrindo
caminhos precursores.
Figuras históricas ilustres, veneradas
nos dias atuais, foram malditas em sua época. Foram perseguidas e
caladas. Ante a força do argumento, opõe-se à força da força.
O estudo da filosofia revisa as formas de
conhecimentos, as metodologias, a contribuição que se desenvolve na
interdisciplinaridade e na superação dos “domínios” estabelecidos
e sustentados por autoritarismos disfarçados em “cargos” ou “ônus
da função”. Há que se superar o especialista e o generalista. O
conhecimento embasado deverá ser revisto através de uma crítica
aberta, competente e inteligente, pois a liberdade que está sendo
decidida importa a todos. Por que alguns povos de desenvolvem e, na
mesma medida, outros empobrecem? O que a história tem ensinado a este respeito? O que a história tem esclarecido,
especialmente no que nos toca como Ibero-americanos?
UMA REFLEXÃO SOBRE O DESTINO DO HOMEM
Abrir uma discussão sobre Direitos do Homem
implica em não incorrer em erros iniciais, aliás
muito comum em nosso meio, que é discutir ações
praticadas por indivíduos, ainda que com índice
de freqüência, como justificadoras de “ações corretivas”
por parte de uma suposta defesa social, ou defesa
de ordem, ou qualquer outra expressão equivalente
a justificar o poder ou as expressões correlatas
do poder instituído. Ex.: a adoção da pena de
morte, a partir dos crimes chamados hediondos.
A autoridade, ou os que se autorizam
arbitrariamente a ações violentas, entendem legítimo que suas ações
e intervenções condicionem, controlem e mesmo eliminem toda ação e
sus autores à margem do modelo oficial vigente.
Necessitamos aqui examinar detalhadamente
algumas questões básicas que estariam ficando para trás.
Quando uma ação é violenta?
Culturalmente, estamos inclinados a violência física,
indiscutivelmente uma violência abominável e bárbara, mas que é
apenas uma forma de atingir e controlar o outro. Quantas outras formas
usuais identificáveis em cada contexto igualmente violam a estrutura
fundamental humana?
As sociedades se desenvolveram em processos
diferenciados, atendendo necessidades históricas
mais ou menos rígidas, conforme a urgência de
controles culturais e materiais sobre povos, grupos
sociais ou indivíduos que reagiram e reagem consciente
ou inconscientemente, manifestando seu desejo
humano e não social a situações em que sua consciência
pessoal ou social determine. Quando a realidade
histórica se incompatibiliza com o ser humano,
as inclinações deste podem tomar rumos opostos,
quer seja na direção intuitiva, liberando a perversidade
e a corrupção, afetando as condições de segurança
ou sobrevivência dos demais, ou à dimensão heróica
da resistência e da reconstrução da sociedade
em outras bases, propiciando a justiça e a liberdade,
seu avanço histórico, contemplador de uns e outros.
Aqui devemos introduzir outra discussão.
Quais os princípios básicos, fundamentais em uma organização social
ampla? Qualquer que seja a ordem sócio-econômica e política , haverá
de propor, cumprir e velar pelo cumprimento de princípios de promoção
humana. Como exemplo, podemos citar a restituição de sua dignidade
aviltada historicamente, tornando sua promoção uma reparação devida,
em que o presente e o futuro recriem o mundo, superando o ódio. A
repressão e a ausência de direitos à autodeterminação, onde o clima
de respeito mútuo entre indivíduos e entre a sociedade e o Estado seja
expressão de anseios humanos profundos, e que ninguém seja castigado
por isto.
No exposto, estas relações são bem
mais complexas que a compreensão superficial possa perceber. Dissertar
sobre os indivíduos e as suas organizações aumenta a complexidade e o
campo de investigação. Quando o objetivo das nossas preocupações
detém-se nos conflitos existentes e fundamentalmente na forma como são
tratados, faz-se necessário determinar premissas basilares para ordenar
a análise e clarear nossas conclusões.
A ordem jurídica instituída deverá ser
compatível com o Direito Natural dos indivíduos.
Estes não são psicologicamente idênticos e se
encontram sociologicamente diferenciados. As ambições
pelas quais estão empenhados egoístas ou altruístas
desenvolverão rotas de colisão. A administração
destas relações se dará em uma visão vertical
da realidade ou a horizontalidade e as contradições
estarão contempladas?
Viver será uma arte. Enquanto isto não
acontece, viver poderá estar sendo dramático para muitos. Os que vivem
“errado” poderão estar sendo punidos de forma errada. Enquanto a
humanidade não superar as violações aos direitos fundamentais, é
necessário impedi-las.
Quantos têm a oportunidade de exercer a
liberdade na formação do seu pensamento, onde as convicções sejam
suas, e não a doutrinação interesseira e sectária imposta por uma
literatura disponível e muita vezes patrocinadas?
Uma moral conservadora, na boca de um
filósofo antigo, recomenda: “os filhos obedeçam aos pais, as
mulheres obedeçam aos seus maridos e os cidadãos ao Estado”.
Examinando estas relações isoladamente, entendemos como normais,
funcionais inclusive. Mas não será a grande teoria da teoria da
obediência que está em questão? Aqui, por princípio e por
educação, todos obedecem. Todos obedecem a quem? Quem estará na ponta
desta escala?
É de inspirar repulsa o procedimento dos
que pensam com independência. Esta tentativa de paralisar, de
imobilizar, de inutilizar a ação do pensamento emancipador, representa
a reação sustentadora de preconceitos que entravam a evolução social
no sentido da civilização, de uma vida melhor, cada vez mais justa,
mais digna e mais humana.
E educação é o único cominho para emancipar
o homem. O desenvolvimento sem educação é criação
de riquezas apenas para alguns privilegiados.
A educação não pode restringir-se a “treinamentos”
ou quantidades de informações. É necessário repensá-la
e fazê-la servir à vida. Os benefícios materiais
e espirituais gerados pelo desenvolvimento interferem
na consciência que é “concedida”, muitas vezes
evitando que as benesses desse mesmo progresso
possam ser conscientemente almejadas e reclamadas
por todos.
Paradoxalmente, os caminhos da cidadania
estarão dispersos e perdidos na onda que conduz a educação apenas
como instrução, somando-se com os demais meios de informação
circulante que abundantemente repetem jargões de um patriotismo
ultrapassado, do consumismo como sinônimo de status social ou “possuídos”
de tecnologia. É necessário que fique clara a atitude do questionar. A
filosofia ensinará que a pergunta nova é que tem mais sentido. A
pergunta que surpreende exige resposta nova. A realidade deixará de ser
compartimentada por especialistas que guardam os objetos do conhecimento
nesta divisão formal.
Há os que julgam que todos deviam pensar
e agir da mesma forma, comandados por “superiores”
que pensam diferentemente, agem diferentemente
e vivem diferentemente. A forma indutora de pensar
não vem expressa em letras luminosas. Estará formalizada
em estruturas didáticas, esquemas funcionais,
fórmulas simplificadas ou simplificadoras que,
nas mãos ou na boca de pessoas ingênuas “educadas”
para treinar, corresponde a toda confiabilidade
que os guardiões do sistema dominante requerem.
Assim, nada parece ter implicações no campo do
conhecimento. Ao contrário, nos assuntos sociais
ou no campo da autonomia, tudo aparece como implicativo
e a ideologia direciona para a “neutralidade”.
Perguntar fora de sua área de atribuição é indevido,
é ser “indiscreto”, estar querendo saber demais.
Cada “macaco” no seu galho, esta é a filosofia
oferecida para o consumo e assimilação popular.
Em nossa Pátria, um “doutor”
reverenciado por esta imagem, projeta-se sobre a sociedade como um
semi-Deus. Teria sido informado da bravura do povo e da sua vontade
irrefreada de independência, cidadania e autodeterminação no
continente ibero-americano? Saberá ele as dimensões da sua dívida
social ao galgar as posições que alcançou? Nenhuma desconsideração
àqueles que trabalham oferecendo os benefícios da ciência como
recursos seus e da humanidade, àqueles que não se bitolaram nos
restritos ensinamentos acadêmicos de “suas áreas” profissionais,
àqueles que alimentaram um espírito investigador, capaz de descobrir
que a humanidade é mais que a soma de indivíduos e que pessoas são
mais que corpos biologicamente e psicologicamente constituídos.
Raciocinar buscando a verdade, nas formas
mais verdadeiras de ver, entender e viver, constitui um esforço que
mobiliza o senso de autopromoção, no qual crescemos, nos equívocos
que superamos, nos desafios que antevemos e, fundamentalmente, na
solidariedade que ativamos.
Defender a dignidade de todos é estar
definindo um sentido para a Humanidade, onde as violações terão o
sentido da primitividade, porque o juízo filosófico conduz ao
discernimento do bem maior, o qual todos estão instigados a construir,
na sua forma de pensar e agir, sem a coação da uniformidade imposta.
Diamarante
Ferreira
Educador no Colégio Anchieta, em Porto Alegre, assessor da
Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social e membro da Equipe Pedagógica
do Programa Nacional de Educação para a Cidadania –
PRONEC |