Construção
de Redes de proteção dos Direitos
Módulo
II – Conselhos dos Direitos no Brasil
Conceito
de Rede
A palavra Rede é antiga e vem do latim
retis que significa teia, entrelaçamento
de fios que formam uma espécie de tecido
de malha aberto. O termo vem ganhando novos
significados, especialmente nas últimas
décadas do século XX, com as
novas tecnologias, o incremento da informática
e da internet.1 O significado
adotado neste texto refere-se ao conjunto
de pessoas ou organizações que
mantêm contato entre si com um fim comum.
Descrito no manual de Redes Sociais do Centro
de Direitos Humanos, “redes são
sistemas organizacionais capazes de reunir
indivíduos e instituições,
de forma democrática e participativa,
em torno de causas afins”.2
Tão
importante como definir é entender
as Redes “como uma proposta democrática
de realização do trabalho coletivo
e de circulação do fluxo de
informações, elementos essenciais
para o processo cotidiano de transformação
social.”3
São
espaços coletivos por excelência.
Não é possível uma rede
estabelecer-se com propósitos individuais.
Não se faz uma rede sozinho. Mas a
vontade e participação de cada
integrante individualmente garante a vitalidade
e dinâmica das Redes. Seu alimento é
a circulação de informações,
o compartilhamento de saberes, experiências
e objetivos comuns. Sua forma de existir pode
ser virtual (redes eletrônicas) ou presencial
(redes físicas), sendo que um funcionamento
mais eficaz pressupõe a articulação
entre estas duas possibilidades.
O
pressuposto do trabalho em Rede é a
participação, a cooperação,
a horizontalidade, a circulação
de informações e a articulação,
sejam elas sistemáticas, estratégicas
ou pontuais. São eficazes quanto maior
for a capacidade de cooperação
e compartilhamento de informações.4
A
estrutura horizontal de uma Rede contribui
para “romper o modelo de organização
tradicional, piramidal, centralizador, competitiva,5
de poder hierárquico e de representação,
possibilitando vivenciar nas relações
sociais e políticas as idéias
e princípios emancipatórios,
de empoderamento de pessoas e organizações”.6
As redes possibilitam uma nova experiência
de convívio político, próprio
da horizontalidade, da descentralização
e da desconcentração do poder.
“Participar verdadeiramente de uma rede
implica em aceitar o desafio de rever as formas
autoritárias de comportamento as quais
estamos acostumados e que reproduzimos (como
dominadores e como subordinados) apesar dos
discursos e intenções democratizantes”.
Para
que sejam eficazes, as Redes devem contar
com pessoas que garantam sua sustentabilidade
no método. Pessoas que sejam preparadas,
formadas para manter o fluxo contínuo
de informações, comunicações,
de debates e decisões sobre as ações
estratégicas coletivas com vistas a
alcançar os objetivos declarados pelos
integrantes da Rede. Esta pessoa é
o(a) facilitador(a) da Rede. Segundo Bernardo
Toro esse(a) facilitador(a) tem a função
de “por seu papel social, ocupação
ou trabalho, a capacidade de re-adequar as
mensagens, segundo circunstâncias e
propósitos, com credibilidade e legitimidade,
é uma pessoa que tem público
próprio, que é reconhecido socialmente,
que tem a capacidade de negar, transformar,
introduzir e criar sentidos frente a seu público,
contribuindo para modificar suas formas de
pensar, sentir e atuar.”7
Considerando
que Redes são processos horizontais,
com foco numa determinada causa ou objetivo,
os Conselhos de Direitos podem usar este método
de trabalho articulado em rede para potencializar
o resultado das ações na perspectiva
da garantia dos direitos dos segmentos atendidos
pelo conselho.
Existem
diversas modalidades de organização
em Rede, com diferentes objetivos. Por exemplo:
redes de proteção, redes de
organizações da sociedade civil,
redes governamentais, redes de serviços,
redes de defesa dos direitos, redes de violações
de direitos (é preciso conhece-las
para melhor enfrentar o problema).
Exemplos
concretos de ações em Rede com
foco na garantia dos direitos
1
A Rede de combate à exploração
sexual de crianças e adolescentes que
articula Governo Federal, governos estaduais
e municipais, conselhos dos direitos e tutelares,
Ministério Público, Judiciário,
Legislativo, organizações da
sociedade civil, entre outros.
O combate à exploração
sexual de crianças e adolescentes requer
um grande esforço coletivo de trabalho
em rede, visando à eficiência
das ações, o cessar da violência,
a investigação dos acusados
e a proteção das vítimas.
Na outra ponta, dos agressores, também
identifica-se a constituição
de redes de exploração, as redes
de violações dos direitos, opostas
à proteção. A Rede de
combate à exploração
sexual, ou redes de proteção
de crianças e adolescentes vítimas
da exploração e abuso sexual,
surgem como resposta ao enfrentamento do problema,
considerando sua complexidade e o necessário
envolvimento de diversos atores sociais, do
executivo, judiciário, legislativo
e da sociedade civil organizada, como os/as
juízes/as, promotores/as, delegados/as,
defensores de direitos, conselheiros dos direitos,
conselheiros tutelares, as universidades,
centros de pesquisa, as organizações
governamentais e não-governamentais
de atendimento, servidores públicos,
os fóruns e centros de defesa de direitos,
entre outros.
2
Rede de prevenção e combate
ao trabalho infantil
3
Redes contras à violência praticada
contra as mulheres
4
Redes de defesa dos direitos humanos
Para
que a Rede funcione e alcance resultados são
necessários: conhecer o tema referente
a causa focalizada; elaborar um plano estratégico,
definir e priorizar as ações
de advocacy, desenvolver e utilizar ferramentas
de comunicação, definir uma
agenda de encontros e eventos para seus integrantes,
organização de grupos de trabalho
focado nos assuntos de interesse de seus participantes,
na causa e nos objetivos que se quer alcançar.
Enfim, aproveitar todas as oportunidades de
colaboração que significam sinergias,
troca de banco de dados, de informações
e articulação de ações.
Em
se tratando de espaços de promoção,
proteção, defesa e controle
social para que direitos sejam assegurados,
as redes neste caso não podem ter como
estratégia a competição,
mas a cooperação, a solidariedade,
a complementação, a parceria.
Dicas
para a Articulação de Redes
A
articulação de uma rede pode
dar ênfase a:
• Incentivos a articulações
regionais: estas articulações
podem render bons frutos, pois organizações
de uma mesma região tendem a ter problemas
similares e por estarem geograficamente próximas
têm maiores possibilidades de realizarem
reuniões presenciais.
•
Encontros presenciais: estes encontros reforçam
os elos de confiança da rede e a torna
mais propícia à comunicação
e trabalho conjunto. Embora nem sempre todos
os integrantes de uma rede possam comparecer
a reuniões presenciais, as comunicações
aumentam significantemente após os
encontros. Se houver tecnologia disponível,
é interessante transmitir estes encontros
via internet para toda a rede e ainda estimular
a participação on-line, como
por exemplo, utilizando o programa skype consorciado
com banda larga.
•
Construção de um informativo:
o objetivo é manter os participantes
atentos às ações da rede.
A tônica deste tipo de comunicação
pode ser bastante informal e algumas notícias
podem ser de caráter corriqueiro e
por vezes jocoso, para fortalecer outros tipos
de vínculos entre os participantes.8
REFERÊNCIAS:
CAPRA,
Fritjof. A teia da vida.
Ed. Cultrix: São Paulo-SP, 1996.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede.
A era da informação:
economia, sociedade e cultura. Vol. 1. São
Paulo: Paz e Terra, 1999.
FACHINELLI ,Ana Cristina; MARCON Christian
; MOINET, Nicolas. A prática
da gestão de redes: uma necessidade
estratégica da Sociedade da Informação.
Rede Brasil de Comunicação Cidadã
[on-line] Disponível em: http://www.rbc.org.br
STAMPS, Jeffrey. Redes de Informações,
São Paulo: Makron Books, 1994.
TORO, Jose Bernardo ; Duarte, Nísia
Maria. Mobilização social:
um modo de construir a democracia e a participação.
Notas
1
Na área da informática, Rede
significa um conjunto de pontos que se comunicam
entre si, sistema constituído pela
interligação de dois ou mais
computadores e seus periféricos, com
o objetivo de comunicação, compartilhamento
e intercâmbio de dados.
2 Laura Olivieri - A importância
histórico-social das Redes- - artigo
da publicação impressa Manual
de Redes Sociais e Internet do Centro de Direitos
Humanos (www.cdh.org.br)
3 Maria Cristina de Lourdes
Guarnieri - Redes: novo paradigma
4
Informação
aqui é compreendida como o que é
capaz de transformar estruturas.
5
Com um controle central de onde emanam as
ordens, com poder de representação
externa.
As disputas internas são freqüentes
e a forma de resolução dos conflitos
na disputa pelo poder central é de
exclusão dos diferentes.
6
Desafios do trabalho em rede - Vivianne Amaral
- Rede Brasileira de Educação
Ambiental (REBEA)
7
TORO, Jose Bernardo e Duarte, Nísia
Maria. Mobilização Social: um
modo de construir a democracia e a participação.
8
Esta dica é de Cássio Martinho,
Coordenador de Redes da Rits (Rede de Informações
para o Terceiro Setor).
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