Carta
da Não-Violência: Pela Paz e Justiça Social
A
violência cresce em todo o País e se expressa de várias formas. Em
conseqüência da corrosão das bases da sociabilidade, cresce o
isolamento e o individualismo. Ao tratar pessoas como se fossem coisas,
rompem-se as condições da cidadania e atinge-se a dignidade da pessoa
humana, especialmente das populações mais despossuídas e vulneráveis.
A
violência pode ser expressão pura e simples da agressividade humana.
Mas, no mais das vezes resulta da ruptura do diálogo democrático; da
ausência de mecanismos de resolução de conflitos; da endêmica
desigualdade e injustiça social e da não inclusão na agenda política
de demandas legítimas de segmentos sociais marginalizados.
Reunidos
na VII Conferência, organizações da sociedade civil, instituições públicas
e representantes de organismos internacionais, examinamos o fenômeno da
violência e suas relações com a economia, a educação, a justiça e
a segurança pública, a cultura, a mídia e a política. Partilhamos
com a sociedade brasileira as seguintes propostas.
É
necessário redirecionar a política econômica na perspectiva da inclusão
social e do desenvolvimento sustentável; reformar o Poder Judiciário,
incluindo o controle social e a universalização do acesso à justiça;
implementar medidas que assegurem informação plural, que dêem
visibilidade e voz a todos os segmentos da sociedade; propiciar condições
de ensino e profissionalização que habilitem a todos a realizarem-se
como cidadãos; reforçar os espaços de expressão da diversidade
cultural a fim de reforçar a convivência entre diferentes grupos
sociais e; investir na organização da sociedade e na promoção da
participação direta nos espaços públicos.
Em
lugar de se limitar à aplicação de medidas repressivas, o combate à
violência requer a produção sistemática de dados que permitam
compreender e atuar sobre as causas da violência e a consolidação de
instrumentos e espaços políticos de intermediação dos conflitos,
redefinindo-se inclusive o papel dos agentes públicos de controle da
violência numa perspectiva dos direitos humanos.
As
vítimas da violência constituem o mais numeroso contingente de pessoas
violadas em seus direitos humanos. Reafirmando que direitos humanos são
direitos de todos, propomos a criação de um Sistema Nacional de Assistência
à Vítima da Violência, por meio de legislação federal, envolvendo
Estado e sociedade civil, com orçamento específico.
Oferecemos
a todos os partidos políticos e candidatos a presidente da República e
governador de Estado as resoluções desta Conferência, como plataforma
suprapartidária destinada a contribuir para uma política de prevenção
e combate à violência como política de Estado, centrada nos direitos
humanos. Propomos a todos os candidatos à Presidência da República a
realização de um debate sobre direitos humanos em todas as suas dimensões,
a ser realizado pela Comissão de Direitos Humanos e o Fórum de
Entidades Nacionais de Direitos Humanos em data a ser acertada entre os
interessados.
Brasília,
17 de maio de 2002.
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