Tecido Social
começa uma nova etapa pensando o Brasil como um todo,
o continente latino-americano e os povos de língua portuguesa
Por Antonino Condorelli
Com esta edição, inauguramos uma nova etapa de Tecido Social, que renova sua gráfica -
agora menos “pesada”, mais fácil de se ler na Internet e
de se imprimir - e em breve terá uma página na Internet,
no endereço www.dhnet.org.br/redebrasil/tecidosocial/index.htm.
Após a experiência de quase um ano de informativo eletrônico,
que chegou a 76 edições dando forma e conteúdo à visão glocal de comunicação da Rede Estadual
de Direitos Humanos do Rio Grande do Norte (ou seja, projetar
a micro-realidade local na macro-realidade do globo, capilarizando
conhecimentos e informações), o Correio
Tecido Social entra em um novo patamar que parte de
uma renovada identidade visual. Esta última o integra ao
nascente Sistema Estadual de Comunicação em Direitos Humanos
– um conjunto orgânico e articulado de instrumentos de informação,
da mais simples para atingir as comunidades de base à
mais complexa para disseminar informações a nível planetário,
caracterizados por uma estética comum - laboratório no RN
de um novo conceito de comunicação que pretende abordar
temas locais em uma perspectiva global e juntar as redes
do país, do continente e dos povos de língua portuguesa.
“O Tecido Social
surge no Rio Grande do Norte, mas pensa de uma forma global”,
afirma Roberto Monte, coordenador do Centro de Direitos
Humanos e Memória Popular (CDHMP) de Natal, a entidade que
concebeu e está articulando a progressiva construção da
Rede Estadual de Direitos Humanos – RN. O jornal eletrônico,
continua o ativista, “está dentro do espírito de
Porto Alegre. Não é à toa que seu nome surgiu para resumir
todo um acúmulo de experiências que se deu de Seattle para
cá”.
Segundo Monte, o Correio
Tecido Social “aborda localmente pensando globalmente”,
mas vai também além. Como aconteceu recentemente, por exemplo,
com as intervenções de Rubens Pinto Lyra (professor da Paraíba)
sobre o tema das Ouvidorias e de João Baptista Herkenhoff
(juiz aposentado e histórico defensor dos Direitos Humanos
do Espírito Santo) sobre a reforma do Poder Judiciário:
ele não só está aberto, mas é parte integrante de grandes
discussões sobre a formatação de um Sistema Nacional de
Direitos Humanos e sobre questões de caráter nacional ou
universal. Ao mesmo tempo, ele fala do interior, dos municípios,
das comunidades do Rio Grande do Norte mais afastadas da
capital, projetando estas últimas para o resto do planeta:
inserindo-as, de certa forma, no mundo.
Um significativo exemplo deste processo de glocalização da comunicação é a repercussão
que teve o caso da Via
Costeira Veículos de Natal. A logomarca de uma grande
multinacional – a Volkswagen - associou-se, pela ação desta
concessionária e de uma agência de publicidade por ela contratada,
à apologia de um crime – a violência contra a mulher - no
Rio Grande do Norte. A união de redes de diversos países
e regiões, tendo como elos o Tecido Social e o Comitê Latino-Americano
e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM),
produziu uma onda massiva de protestos que chegou até a
empresa matriz na Alemanha, acionou órgãos nacionais de
defesa dos direitos da mulher e do consumidor e impulsionou
uma resposta urgente do Ministério Público do Estado. Um
assunto local virou global, atingiu uma grande multinacional
e unificou na pressão ao poder público estadual por uma
ação reparatória de um direito violado centenas de pessoas,
entidades e redes distantes milhares de quilômetros uns
dos outros: foi a concretização do espírito de Seattle,
Porto Alegre, Gênova, Dubai... e
da essência do Tecido Social.
A renovação do Tecido
Social e sua inserção no patamar estético do Sistema
Estadual de Comunicação não são as únicas novidades surgidas
no seio da Rede Estadual de Direitos Humanos – RN. O CDHMP
conseguiu apoio e suporte da Federação de Órgãos para a
Assistência Social e Educacional (Fase) para produzir uma
rádio web que será lançada em breve com o nome de
Rádio DHNET de Direitos Humanos. “Com isso, a gente
está querendo trabalhar não apenas o Brasil, mas todos os
povos de língua portuguesa”, afirma Roberto Monte. “Estamos
abertos a agregar todas as pessoas que tiverem experiências
interessantes e a disseminar as nossas
globalmente”, prossegue.
Neste sentido, muito em breve serão lançadas novas páginas
web: a das Caravanas de Direitos Humanos do Rio Grande do
Norte, a da IX Conferência Nacional de Direitos Humanos
e a do Sistema Nacional de Direitos Humanos. Além do mais,
a partir de agora a Rede Estadual começará a subsidiar rádios
comunitárias do interior do Estado, produzindo conteúdos
em áudio sobre cidadania e Direitos Humanos: informações
sobre artigos da Declaração Universal, questões como a desigualdade
de gênero, a racial, a tortura, o artigo 6º da Constituição...
“Nisso também estamos trazendo elementos de novidade: expressões
da cultura popular entremeadas
com as informações veiculadas”, diz Monte. “Por exemplo”,
continua, “um violeiro dizendo o que é uma ação civil
pública. Tudo o que a gente está fazendo é criar uma grande
caixa de ressonância”.
A nova versão de Correio
Tecido Social está sendo lançada neste instante, na
tarde de sexta-feira 30 de julho, pelo editor-chefe da publicação,
o jornalista Antonino Condorelli, desde a sede do Centro
de Direitos Humanos e Memória Popular em Natal, na presença
de toda a equipe da entidade, de diversos representantes
de organizações da sociedade civil e instituições de Direitos
Humanos do Rio Grande do Norte – entre eles, o Ouvidor da
Defesa Social, Marcos Dionísio de Medeiros Caldas, a coordenadora
do Fórum de Mulheres do RN, Elizabeth Nasser, e o Coordenador
de Direitos Humanos e Defesa das Minorias da Secretaria
de Justiça, Fábio dos Santos – dos artistas mambembes Patrícia
Caetano e Filippo Rodrigo Rabelo Santos da companhia de
teatro de rua La Trupe,
do diagramador da edição impressa do jornal, Alessandro
Amaral, e por Vincenza Grossi, Giovanni Condorelli e Francesco
Saverio Condorelli, respectivamente mãe, pai e irmão do
editor-chefe do informativo, chegados ontem da Itália para
visitar o Brasil e presentes em
nome de redes de entidades italianas, das quais representam
o elo com a Rede RN.
No momento em que lançamos esta primeira edição da nossa
nova etapa, queremos fazer um apelo para os nossos leitores.
O Correio Tecido Social tem, hoje, pouco
mais de 11.000 endereços de e-mail cadastrados em sua lista
de distribuição. Daqui a um ano, contamos
estar com pelo menos 50.000. Não é uma meta impossível,
se juntarmos todas as redes do país com sua ajuda: divulguem
o Tecido Social,
convidem redes, entidades e pessoas conhecidas e ainda não
cadastradas a se inscrever na lista... e
participem ativamente deste projeto glocal de comunicação, ampliem o leque
de nossos correspondentes em todos os Estados brasileiros
e no resto do planeta. Espalhem a luta pelos Direitos Humanos
pelo Brasil e o mundo, pois a luta da Rede de Direitos Humanos
- RN é também a sua luta, é a luta de todos nós, onde quer
que estivermos.
“Isso tudo é antes de mais nada
um desafio”, conclui o coordenador do CDHMP. “Nós queremos
trabalhar um conceito novo de comunicação. Existe uma Rede
Estadual de Direitos Humanos, agora estamos querendo ampliá-la.
A gente está trabalhando Direitos Humanos pensando o planeta,
a Comunidade de Países de Língua Portuguesa, a América Latina
e o Brasil como um todo, tentando chegar aos 5.561 municípios
do país, a todos os povos que falam português,
a todo o continente e tenho certeza de que outros iguais
a nós estão fazendo isso. A palavra de ordem é tribalização.
Vamos tribalizar o mundo, o Brasil, o Rio Grande do Norte...
Se a gente divulga outras coisas que estão acontecendo no
Rio Grande do Sul, no Paraná, no Acre, no Amazonas, mas
também no México, na Argentina, em Cabo Verde, na Angola,
esta mesma coisa vai acontecer em sentido inverso”.
Portanto, inauguramos esta nova etapa do Tecido Social conclamando todas as “tribos”
da cidadania e os Direitos Humanos a unirem-se para construirmos,
juntos, um novo modelo possível de sociedade. Como diz Roberto
Monte: “Como em uma música ritmo, harmonia, melodia
se fundem gerando uma única obra, assim devemos fazer
nós... Vamos misturar-nos, misturar Direitos Humanos com
memória histórica, arte, cultura, comunicação, desejos humanos
e puxar as entranhas culturais deste país e do mundo”.