Definidos
os detalhes do seminário que o Ministério Público obrigou
a Via Costeira
a patrocinar e a Lúmina
a divulgar por ter agredido a dignidade da mulher em
uma propaganda
Por Antonino Condorelli
Na passada segunda-feira, 12
de julho, se reuniu em Natal a
comissão encarregada de organizar o seminário sobre violência
contra a mulher que deverá ser patrocinado pela concessionária
da Volkswagen
na capital potiguar, a Via
Costeira Veículos, e divulgado através de folders
e cartazes produzidos pela agência de publicidade Lúmina, segundo determinado em um termo de ajustamento de conduta
emitido pelo Promotor de Justiça Eduardo Cavalcanti no dia
14 de junho.
A Via Costeira e a Lúmina
foram condenadas por ter veiculado, na edição de 29 de abril
do jornal Tribuna do Norte, uma propaganda onde o
rosto de uma mulher espancada era associado à carroceria
amassada de um carro para vender os serviços de mecânica,
funilaria e pintura da concessionária.
A reunião da comissão organizadora
definiu data, hora, local, estrutura e modalidades de divulgação
de evento. O seminário acontecerá no próximo dia 12 de agosto,
de 8:30 a 12, no Auditório da Assembléia Legislativa do
Rio Grande do Norte (este local deve ainda ser confirmado),
em Natal, e constará de três painéis. No primeiro, a antropóloga
Elizabeth Nasser, coordenadora do Fórum de Mulheres do RN,
dará uma palestra sobre o tema “Violência e Relações de
Gênero”. No segundo, a socióloga Josenira Fraga de Holanda
Brasil, professora da Universidade Potiguar (UNP), ministrará
outra palestra com assunto “A visão da Mulher na Mídia”.
A mesa dos primeiros dois painéis será coordenada por Fábio
dos Santos, da Coordenadoria de Direitos Humanos e Defesa
das Minorias (CODEM) da Secretaria de Justiça do Governo
do Estado. O terceiro painel consistirá em uma mesa redonda,
coordenada pelo Promotor Eduardo Cavalcanti, sobre violência
de gênero no Rio Grande do Norte. Participarão da mesa o
Fórum de Mulheres do RN, a Secretaria Municipal de Turismo
de Natal (o convite para o Secretário ainda não foi enviado,
portanto sua presença não está confirmada) o Sindicato das
Agências de Publicidade e o Sindicato dos Jornalistas do
Rio Grande do Norte.
O seminário será divulgado através
de 40 cartazes e 500 folders,
produzidos pela Lúmina,
que serão colocados em locais públicos e distribuídos a
escolas, universidades, agências de publicidade, meios de
comunicação do Estado e diversas entidades
e instituições.
O termo de ajustamento de conduta
que condenou a Via
Costeira e a Lúmina
foi o resultado de uma representação contra elas junto ao
Ministério Público do Rio Grande do Norte realizada pelo
Conselho Estadual de Direitos Humanos, o Fórum de Mulheres
do RN e a Ouvidoria da Defesa Social, instituições membros
da Rede Estadual de Direitos Humanos – RN.
A ação da Rede recebeu o apoio
e a solidariedade de muitíssimas entidades, instituições
e pessoas no Brasil e fora, destacando-se especialmente
o papel do Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa
dos Direitos da Mulher (CLADEM). Através de uma incessante
cadeia de e-mails, o CLADEM chegou a mobilizar contra a
Via Costeira e a Lúmina
centenas de pessoas, instituições como o Instituto Brasileiro
de Defesa do Consumidor (IDEC) e o Ministério Público Federal
e até cidadãos da Alemanha, onde a Volkswagen
- pelas pressões recebidas - se pronunciou publicamente
contra o comportamento de sua concessionária em Natal.
Segundo fomos informados, a Via
Costeira pretenderia ser ressarcida pela Lúmina do gasto que será obrigada a realizar, em virtude do contrato
de prestação de serviço entre a concessionária e a agência.
Segundo a primeira, o serviço prestado pela Lúmina
foi mal-feito e manchou sua imagem. Por este motivo, segundo
a concessionária, a despesa do patrocínio do evento deverá
ser reposta pela agência.
A
nosso ver, a Via Costeira
é tão responsável quanto a Lúmina
pela agressão à dignidade da mulher que aquela propaganda
representa e deve sofrer as mesmas conseqüências econômicas.
Porém, seja como for, a condenação das duas e a realização
do seminário são uma vitória importantíssima
do movimento de Direitos Humanos.