Todos
Os Seres Humanos...
Manual da Educação
para os Direitos do Homem
2.
Uma Pedagogia dos Direitos do Homem
Os conceitos, os conhecimentos
As praticas, os projetos
de ação
O debate, a discussão
em torno de valores
Sugestões para
escolas primárias
Sugestões para escolas
do ensino básico e secundário
2.
Uma pedagogia dos direitos do Homem
Não se pode aprender quais são
o direitos de todos os seres humanos de uma
forma passiva, segundo um modelo do ensino
impositivo e autoritário. Os direitos
da criança são os direitos do
aluno na turma, deve ser respeitado, reconhecido
na sua dignidade e liberdade. Eis a razão
por que os métodos mais adequados à
educação dos direitos humanos
colocam o aluno no centro do processo educativo
e suscitam a sua atividade de reflexão
autônoma. Os métodos ativos são,
pois, particularmente apropriados.
A
educação para os direitos humanos
articula-se em torno de três pólos
interdependentes: o saber, os conhecimentos
e os conceitos, por um lado; as práticas
educativas e os projetos interdisciplinares,
por outro; e ainda, os debates relativos aos
valores. Este tríptico pedagógico
permite superar o fosso que existe, com demasiada
freqüência, entre o saber e a ação.
Contentar-se em citar os direitos humanos
e obrigar à sua memorização
não é adequado a uma educação
que visa atitudes de respeito pelo outro e
ações para promover o Direito
e os direitos. As crianças são
extremamente sensíveis às diferenças
entre palavras dos adultos e as suas atitudes,
entre o dizer e o fazer. Vêem aí
uma falta de sinceridade, uma injustiça
que as conduz a deixarem de confiar nos adultos
e, por isso mesmo, a duvidarem da validade
do discurso sobre direitos humanos.
À
vontade de estabelecer uma verdadeira comunicação
é essencial. É a via que faz
passar mensagens de uma pessoa para outra.
Existem
várias maneiras de comunicar com o
outro: a comunicação não
verbal (a linguagem corporal, por exemplo),
a expressão corporal, o diálogo.
Este conjunto de formas de comunicação
permite aos alunos desenvolverem as competências
para um pensamento autônomo e uma capacidade
de expressão.
A
comunicação não verbal
– sinais com o olhar, com o rosto atitudes
corporais – permite ao professor ver
se o aluno compreende o que está a
ser dito, se está motivado pela atividade
proposta... Ou se está cansado ou aborrecido.
Por outro lado, os alunos recebem do professor
mensagens que nunca foram verbalizadas: se
a voz, ou a linguagem corporal do professor
forem agressivas, as suas palavras sobre a
paz e os direitos humanos não terão
grande impacto. Os alunos notam que o professor
não acredita naquilo que está
a dizer. É importante que as mensagens
dirigidas às crianças estejam
impregnadas de sinceridade, que a linguagem
corporal do professor, as palavras que pronuncia,
a sua atitude, sejam as primeiras ilustrações
de uma mensagem de paz.
Os
exercícios de “pergunta –
resposta” fazem parte da comunicação.
As crianças devem ouvir-se umas ás
outras e ouvir o professor. O professor também
as ouve. É preciso parafrasear, retomar
o que dizem os alunos e perguntar: “estão
a perceber?”. Lembrar-se de que aquilo
que lhes é pedido é que reflitam,
que exprimam as suas idéias e os seus
sentimentos. Quando é feita uma pergunta,
convém esperar um momento até
que alguém responda. A pergunta não
deve ser imediatamente explicitada e a resposta
não deve ser dada demasiado depressa.
Todos os professores são artesãos
da comunicação. Podem recorrer
a debates, relatos, desenhos, jogos, canções,
cartazes, textos, para ajudar as crianças
a aprenderem os direitos humanos.
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Os
conceitos, os conhecimentos
Mesmo que, num domínio como os direitos
humanos, a ação deva ser preponderante,
é igualmente preciso conhecer os enunciados
da Declaração Universal, das
Convenções Internacionais e,
sobretudo, compreender os conceitos em que
se baseiam (cf. primeira parte) para se ter
plena consciência do seu valor.
É por isso importante apresentar os
textos fundamentais aos alunos, quer na sua
globalidade, quer pela análise de artigos
que dizem diretamente respeito à experiência
vivida pelas crianças e pelos adolescentes.
Em
muitos paises existem cursos de educação
cívica ou educação social.
Esses cursos devem ser centrados nos direitos
humanos, na democracia e na paz, uma vez que
constituem os elementos fundamentais de uma
autêntica cidadania. Podem constituir
o lugar de debates sobre direitos e os valores
universais, e ser uma ocasião para
analisar atos da vida quotidiana à
luz dos critérios dos direitos humanos.
Os
conceitos fundadores dos direitos da pessoa
humana podem ser ilustrados, expressos pelas
crianças na sua linguagem própria,
numa redação de textos que retome
os princípios essenciais, contidos
na Declaração Universal dos
Direitos do Homem ou na Convenção
dos Direitos da Criança. Tal como no
domínio do saber, os métodos
ativos devem ser privilegiados. Para além
da educação cívica, todas
as disciplinas escolares podem contribuir
para a elaboração dos conceitos
necessários à compreensão
dos direitos humanos.
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As práticas,
os projetos de ação
Os cursos sistemáticos de educação
cívica, mesmo que essencialmente centrados
em torno do conhecimento dos direitos humanos,
não são suficientes para que
as atitudes e os comportamentos humanos se
inspirem nesses mesmos direitos humanos. Por
isso, os professores devem suscitar ações
de solidariedade e a criação
de acontecimentos (exposição
sobre o trabalho das crianças cobre
este ou aquele direito humano, peças
de teatro, etc.). Estes projetos correspondem,
por um lado, à filosofia dos direitos
humanos, que reclama a cooperação
entre as pessoas e entre os Estados, e por
outro lado à pedagogia de projeto e
aos métodos ativos.
Estes acontecimentos atingem ainda melhor
os objetivos se tiverem um caráter
internacional e forem ocasião para
uma correspondência escolar internacional.
Os jogos de animação teatral
inventados pelos alunos, de que numerosos
exemplos chegaram à UNESCO, quando
encenam um direito particular desrespeitado
e depois reconhecido, constituem práticas
educativas perfeitamente adequadas à
educação para os direitos humanos.
Os chamados << jogos de sociedade>>,
que requerem discussão e cooperação
em grupos, podem ser adaptados à temática
de direitos humanos e dos direitos da criança,
tanto no ensino básico como nas escolas
secundárias. Estes projetos educativos
são necessariamente interdisciplinares.
Desenvolvem e combinam disciplinas variadas,
nomeadamente a história, a geografia
– incluindo a geopolítica -,
artes plásticas, a literatura e a educação
cívica.
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Debate, a discussão
em torno de valores
Sobretudo
nas escolas de ensino secundário, podem
ser organizados debates relativos a cada um
dos direitos humanos enunciados na Declaração
Universal de 1948. A terceira parte deste
manual apresenta muitos exemplos de temas
de discussão entre alunos. Esses debates
são introduzidos e moderados pelo professor:
os direitos humanos não são
impressões subjetivas, afetivas. São
princípios que fundam o direito positivo,
são organizados de modo a fazer respeitar
a liberdade de palavras de cada um, tornam
progressivamente visível a racionalidade
e a universalidade dos direitos.
A
aplicação dos direitos humanos
não é uma evidencia natural,
constitui, necessariamente, objeto de debate.
É através do dialogo que os
alunos podem realmente fazer seus esses valores
e integrá-los na sua ação
presente e futura. Impor, sem analise prévia,
esses direitos seria condená-los no
seu próprio fundamento, que é
a liberdade humana.
Ao
longo destes debates, os jovens aprendem simultaneamente
os conceitos dos direitos humanos e da democracia.
Não há funcionamento democrático
sem liberdade de expressão. Os direitos
humanos, que se impõem a todos os Estados,
estão ligados à idéia
de democracia.
O debate, elemento constitutivo de
uma sociedade democrática
A liberdade de pensamento e a liberdade de
expressão fazem parte dos direitos
humanos. Uma situação pontual,
uma situação de emergência
(roubo entre alunos, observação
identificada, ato de violência) podem
levar um professor a improvisar um debate.
Acontece que os alunos confundem freqüentemente
debate com espetáculo televisivo. O
professor lembra então que a escola
é um lugar de aprendizagem da democracia.
O debate é um meio para que todo o
individuo exprima seu pensamento. Confrontar-se
com o pensamento do outro é condição
sine qua non da existência do debate
e do aparecimento de uma sociedade democrática;
ter como referência a lei e as exigências
não priva o individuo do direito de
criticar, de contestar, de reivindicar.
A
liberdade de expressão tem por corolário
a aceitação da diversidade de
pensamento; o debate permite a expressão
desta diversidade. No entanto, não
deve de alimentar a idéia de que todas
as opiniões tem o mesmo valor.
A
expressão da pluralidade de pontos
de vista deve fazer-se no respeito pelos valores
da democracia e remeter para o quadro jurídico
que organiza essa liberdade. A expressão
do racismo não é uma opinião,
constitui um delito.
Por
isso, organizar um debate corresponde a uma
aprendizagem que tem por objetivo mostrar
os alunos que se trata de elemento constitutivo
da democracia. O papel do professor é
essencial.
Para além do tema escolhido, ele fará
compreender a própria noção
de debate no quadro de uma prática
que deve também basear-se nos aspectos
formais, se o tema for fonte de interrogações,
de angústias e de paixões.
É conveniente programar esta aprendizagem
formal com uma antecedência razoável,
logo no inicio do ano letivo, para poder utilizá-la
e aperfeiçoá-la ao longo do
ano.
O
cuidado posto na organização
formal do debate favorece o intercâmbio.
A disposição tradicional da
sala de aulas não é a mais adequada.
É necessário fazer com que os
alunos se possam ver e ouvir. O intercâmbio
diz respeito ao principio do direito à
palavra, que é acompanhado do respeito
pela palavra do outro, implica a interdição
de gritos e de ataques pessoais e o recurso
a um vocabulário correto. O professor
leva os alunos a manterem-se suficientemente
distantes e a não personalizarem as
intervenções. Aprender-se-á
que nem todos os exemplos vividos têm
o mesmo valor universal.
O
professor define o seu papel. Pode decidir
intervir apenas no fim, para fazer um balanço:
pode intervir regularmente, para introduzir
precisões jurídicas, históricas
ou éticas. Ele vela para que o debate
não seja reduzido a uma simples troca
de pontos de vista ou a generalizações
apressadas.
Os
alunos poderão designar um presidente
de sessão para dar a palavra alternadamente
a uns e outros, à medida que a pedirem.
Com ajuda de um relógio, poderão
garantir um tempo de expressão igual
para todos, evitando assim que alguns monopolizem
a palavra. Um ou dois relatores serão
encarregados de tomar nota das diferentes
intervenções.
Para
os alunos, aprender a debater á aprender
a pensar, a ouvir e a argumentar. Organizar
um debate é, para os professores, aprender
a moderar, a regular. É permitir aos
alunos aprenderem, construindo sua personalidade,
no respeito às diferenças pelas
exigências de verdade, de ética
e da lei. É, portanto ocasião
para um trabalho sobre a identidade: é
preciso aprender a exprimir-se, a ouvir o
outro, a consentir em mudar de opinião
sem ter medo de “perder a face”.
Fonte:
Documentos de apoio dos Programas Oficiais
de Educação Cívica para
o Ensino Básico (2,3) e secundário
de França (“Collèges”).
A convenção dos Direitos
da Criança
Esta convenção deve ser aprendida
e explicada desde o 1º ciclo do ensino
básico. As crianças aprendem
que são pessoas titulares de direitos.
É muito importante que os alunos compreendam
que eles próprios devem ser respeitados
na sua dignidade física e moral e que
devem respeitar todos os outros seres humanos,
próximos e afastados, crianças
e adultos.
Certos
direitos de proteção, como,
por exemplo, o direito de recusar as agressões
sexuais ou a prostituição infantil,
devem ser expostos coma prudência necessária
para não provocar angústia.
É importante prevenir crianças
contra as violências de que podem ser
objeto, dizer-lhes que podem fazer valer os
seus direitos na justiça. A luta contra
os maus tratos das crianças passa pela
tomada de consciência dos seus próprios
direitos.
Apresentar
e explicar o direito à educação
confere um significado preciso de obrigação
de ir à escola e de se instruir. É
de construir escolas, de as equipar e de tornar
possível o acesso de todos, moças
e rapazes, à escolaridade básica.
Cabe aos professores dizê-lo e explicá-lo
e colocar o direito à educação
no centro das atividades.
Em
torno da Convenção, as crianças
inventam contos, representam peças
de teatro, pondo em cena crianças adultos
que querem que os direitos da criança
sejam respeitados em todo o mundo. Desenhos
livres podem ilustrar um ou outro artigo.
Por
fim, é preciso lembrar que o jogo é
necessário ao desenvolvimento intelectual
e afetivo das crianças, e que brincar
é vetor da capacidade de viver em sociedade.
Por este motivo a Convenção
dos Direitos da Criança pode ser objeto
ou suporte dos chamados “jogos de sociedade”,
muito apreciados pelas crianças.
Alguns
exemplos deste tipo de jogos encontram-se
no fim deste manual.
Os direitos das mulheres e das moças
Reconhecer as diferenças e desenvolver
o respeito mútuo entre rapazes e moças
As
crianças pequenas, moças e rapazes,
deveriam aprender juntos, através das
atividades vividas em comum, que a noção
de diferença entre os seres humanos
tem um caráter positivo, ajuda os grupos
sociais a abrirem-se à idéia
de igualdade entre homens e mulheres, rapazes
e moças.
Podemos,
por exemplo, pedir às crianças
que verifiquem as numerosas situações
em que rapazes e moças da mesma idade
agem da mesma forma, como os seus corpos se
assemelham e têm iguais necessidades
humanas (alimentação, cuidados
de saúde, habitação,
etc.). Podemos depois fazer algumas perguntas:
como e quais aspectos que nos tornem diferentes
(o tamanho, os gostos, a cor do cabelo e dos
olhos); como e porque é que essas diferenças
tornam um grupo mais rico?
A
mensagem a transmitir deve ser clara: somos
todos diferentes uns dos outros, as moças
e os rapazes são diferentes, mas todos
somos iguais em direitos. Temos um valor igual
e devemos considerar que, nas aulas, todos
temos as mesmas atividades. Devemos ser tratados
com o mesmo respeito e devemos ter igual acesso
às riquezas das nossas comunidades.
No
que toca às crianças mais velhas,
os professores podem estimular uma reflexão
sobre os diferentes papéis e funções
das moças e dos rapazes. Quais as diferenças
que existem nos seus jogos? Por que é
que, por vezes, se prefere brincar só
entre rapazes ou só entre moças?
Por que razão é importante respeitar
os outros, mesmo quando são diferentes?
É preciso sensibilizar as crianças
para a importância dos sentimentos dos
outros e do seu auto-respeito: o que sentiram
quando os outros lhes faltavam com respeito?
Como
é que os rapazes implicam com as moças?
Como é que, por sua vez, elas os censuram
ou lhes faltam com respeito? É preciso
fazer com que os alunos reflitam sobre a importância
do respeito mútuo entre rapazes e moças.
Seria útil suscitar os testemunhos
dos alunos sobre a experiência das diferenças
ligadas ao sexo das pessoas, mesmo quando
vivemos numa comunidade onde as pessoas são
mais semelhantes do que diferentes. Se o “sexo”
pode sr um pretexto para a falta de respeito,
poderemos ser capazes de respeitar plenamente
os seres humanos nas suas diferenças
de etnia, de raça, de religião,
de classe social?
O
respeito pelas diferenças é
importante para aprendera a viver na aula
e para viver em paz na comunidade; o respeito
entre rapazes e moças é capital
no seio da família, na nação,
no mundo. É preciso chamar a atenção
para o fato de as Nações Unidas
terem estabelecido que a igualdade entre homens
e mulheres é fundamento importante
para paz mundial e comentar o Programa de
Ação da UNESCO para a igualdade
entre os sexos adotados na Conferencia Mundial
sobre as Mulheres (Pequim, 1995).
A igualdade para todos
O
principio do direito universal à educação
permite explicar às crianças
a noção de discriminação
entre rapazes e moças. Podemos por
exemplo, evocar casos de sociedade em que
as moças beneficiam menos que os rapazes
do acesso à educação.
Podemos organizar uma atividade onde as crianças
são convidadas a representar, através
de um desenho, a profissão que gostariam
de ter no futuro; quando as crianças
tiverem explicado os seus desenhos, falar
das aprendizagens e do ensino de que precisam
para exercerem tal profissão. Trata-se
de uma profissão tradicionalmente exercida
por homens, por mulheres, pelos dois sexos?
Seria mais vantajoso para as famílias
e para a sociedade se essa profissão
fosse exercida por homens, por mulheres, por
toda para se preparar para ela? As moças
e os rapazes, na nossa cidade, na nossa aldeia,
no nosso país, têm acesso a tal
educação? Por que razão
é que ter uma população
com um elevado grau de educação
é tão importante para uma nação?
É oportuno refletir sobre os meios
que levariam as famílias, os grupos
sociais e os países a beneficiar de
mais pessoas com preparação,
permitindo em particular às moças
o acesso a todos os tipos de formação.
Notemos, no entanto, que a noção
de <<acesso igual>> não
exclui a existência de escolas separadas
para moças e rapazes. A equidade é
a orientação primordial em matéria
de distribuição de subsídios,
quer na qualidade do ensino, e isto é
válido para todas as camadas sociais
da população. a educação
não deve ser limitada, ou até
recusada, com base no sexo ou noutros aspectos
da identidade humana.
Combater os estereótipos
Para
combater os estereótipos, poderá
ser útil selecionar algumas histórias
ou contos, a partir dos quais as crianças
possam analisar a tipologia dos comportamentos
das diferentes personagens. É desejável
mandar ler ou contar essas histórias
durante várias aulas, devagar, para
que as crianças possam memorizá-las.
Depois da leitura de cada história,
as crianças poderão ser convidadas
a descrever as principais características
das personagens e a maneira como foram descritas.
Depois de os alunos já terem ouvido
algumas histórias, pedir-lhes para
apontarem as semelhanças encontradas
entre as personagens masculinas e femininas
dos vários contos. É muito provável
que esses traços correspondam a preconceitos
correntes sobre os homens e mulheres.
Em
pequenos grupos, as crianças podem
então imaginar uma “nova redação”
da história, para que os preconceitos
atribuídos aos homens o sejam às
mulheres, e vice e versa. Se não conseguirem,
poderá propor-se a concepção
de uma história completamente diferente,
segundo o mesmo esquema de inversão
dos papéis estereotipado. Este será
o momento oportuno para explicar a noção
de estereotipo em geral e de estereotipo ligado
ao sexo, em particular. Se esta atividade
for desenvolvida numa turma mista, os grupos
podem ser mistos ou não. Pode ser instrutivo
observar as diferenças entre os grupos
a partir das histórias que inventaram
e as dificuldades que encontraram no imaginarem
os papéis inversos.
Depois,
pode ser lançado um debate, no decorrer
do qual os rapazes reflitam sobre as experiências
que viveram pessoalmente e que não
correspondem aos estereótipos identificados
através das histórias. Poderá
chegar-se, muito simplesmente, à conclusão
da existência de sentimentos humanos
vividos tanto pelos homens como pelas mulheres,
que moças e rapazes, homens e mulheres
têm características comuns e
diferentes. Mo domínio dos direitos
humanos, a idéia importante é
que cada um possa desenvolver todas as suas
competências humanas no quadro da sua
identidade, de sua personalidade.
Também
se podem contar “histórias verdadeiras”
do século XX, que relatem acontecimentos
como os do movimento Chipko na Índia,
que se opôs aos bulldozers que iam destruir
as florestas, o movimento das Mães
da Praça de Maio, que protestaram contra
a prisão arbitrária e o desaparecimentos
dos seus filhos, o movimento das populações
indígenas da Guatemala por Rigoberta
Menchú Túm, etc.
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Sugestões
para as escolas primárias
Nas escolas do 1º ciclo básico,
o mais importante é desenvolver atitudes
de respeito pela igualdade e pela diversidade
dos seres humanos. É um ponto de partida
para aderir aos valores que constituem o cerne
dos conceitos e dos princípios dos
direitos humanos. A relação
fundamental entre direitos humanos e responsabilidade
deverá ser introduzida em cada fase
da educação. Seguindo este fio
condutor, poderão ser explorados domínios
variados para ilustrar os conceitos dos direitos
humanos.
Os conhecimentos sobre o mundo natural estão
simultaneamente ligados aos estudos científicos
e sociais, à literatura, às
disciplinas artísticas. As lições
no âmbito destas disciplinas podem valorizar
diretamente a complexidade e o equilíbrio
que a ecologia da terra, das regiões,
dos lugares exigem. As crianças podem
ser instruídas sobre os ecossistemas
e as especificidades geográficas da
sua própria cidade ou aldeia. Os professores
podem mostrar como a vida humana depende da
responsabilidade de cada um em relação
ao meio ambiente natural. Por que a qualidade
do meio ambiente depende da responsabilidade
dos seres humanos e o bem-estar dos indivíduos
depende do ambiente, estamos em interdependência
com a terra. Esta interdependência evidencia
duas características dopa direitos
humanos: eles correspondem a necessidades
humanas e simultaneamente dependem da responsabilidade
humana. Chegamos assim ao conceito de direito
a um ambiente são e equilibrado. As
lições sobre as diversidades
dos seres humanos, tão importantes
para que a vida em sociedade seja justa, podem
ser introduzidas desde o primeiro ciclo de
ensino. Os professores podem mostrar de que
modo um ambiente equilibrado facilita numerosas
formas de vida que, embora apresentando diferentes
especificidades, desempenham funções
indispensáveis. Podem comparar os traços
que caracterizam a s diferenças entre
os seres humanos e que ajudam a manter as
sociedades e a responder às nossas
necessidades.
A sociedade precisa de talentos de cada um:
de cientistas que saibam conceber instrumentos
e resolver certos tipos de problemas, de artistas
e de músicos que imaginem obras que
correspondam às nossa necessidades
estéticas e expressivas. Estas são
algumas das diferenças que existem
entre grupos de pessoas e que estão
protegidas pelos princípios dos direitos
humanos. Os professores também podem
explicar que existe, diferenças entre
os grupos humanos originários de diversos
países do mundo. Os seres humanos têm
costumes e línguas diferentes, porque
as condições geográficas
e históricas são diferentes.
Esta variedade da identidade e da experiência
humanas constitui um imenso recurso para toda
humanidade. Permite-lhe escolher vias diversas
para realizar as mesmas finalidades e responder
às mesmas necessidades.
Depois de tem exposto estas idéias,
os professores podem incitar ao alunos a explorarem
as diversas veias que os seres humanos escolhem
para responder às mesmas necessidades,
utilizando contos, ilustrações,
lições de história e
de geografia etc.
O conceito de Diversidade Cultural, atributo
da humanidade protegido pelos direitos humanos,
é assim valorizado. Os conceitos de
universalidade e de diversidade são
essenciais para a proteção e
a realização da dignidade humana.
Os contos oferecem inúmeras possibilidades
de fazer com que as crianças compreendam
que a terra, que fornece os alimentos, e a
água pertencem ao conjunto da família
humana e devem ser preservadas; que a comunidade
em que a criança vive necessita da
sua participação e do seu empenho;
que o respeito pelo o outro é fundamental.
Essas histórias, contadas ou lidas
pelo professor, podem ser depois retomadas
pelos alunos, que inventarão novas
seqüências.
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Sugestões
para as escolas do ensino básico e
secundário
A partir do 2º ciclo do ensino básico,
as discussões e os debates fundamentados
podem multiplicar-se. A Declaração
Universal dos Direitos do Homem e a Convenção
dos Direitos da Criança deverão
ser sistematicamente apresentadas, afixadas
e tratadas como matéria de estudo.
As aulas de história, de geografia
e de educação cívica
oferecem múltiplas ocasiões
para a organização de explicações
e de discussões de ordem interdisciplinar.
É possível introduzir o ensino
dos direitos humanos na maioria das disciplinas
escolares. Apresentam-se algumas sugestões
que exemplificam a maneira como a questão
dos direitos humanos pode ser integrada em
várias disciplinas.
Matemática
A matemática é uma matéria
particularmente adequada para tratar dos problemas
dos direitos econômicos e sociais, de
certos direitos culturais e de alguns direitos
específicos, tais como os direitos
da criança.
A propósito dos direitos culturais,
as estatísticas de alfabetização,
alfabetização, as taxas de escolaridade
ou ainda de acesso ao ensino superior, através
de tabelas ou gráficos, podem ser objeto
de estudo. A comparação entre
os homens e mulheres pode ser introduzida
neste domínio para ilustrar o fato
de o sexo poder ser um obstáculo à
realização plena dos direitos.
Essas
estatísticas podem ser utilizadas para
calcular a percentagem de cidadão,
por país e por região, que tem
acesso à informação.
Os professores podem indicar que os direitos
culturais serão simultaneamente ligados
aos direitos culturais econômicos e
aos direitos políticos. As estatísticas
fornecidas pela ONU ou pelas suas agencias
especializadas, como a UNESCO, a UNICEF, a
OIT ou a OMS, poderão ser exploradas
neste sentido. Os professores podem fazer
notar aos alunos que a recolha e a divulgação
dessas informações essenciais
constituem uma das funções vitais
das Nações Unidas, um dos meios
de realizar os direitos humanos.
Os
direitos econômicos, o direito ao trabalho
e a uma remuneração justa podem
dar a oportunidade de comparar e de analisar
gráficos sobre o emprego, segundo o
sexo das pessoas e segundo a sua pertença
étnica. Da mesma forma, podem ser feitas
comparações e utilizados esquemas
para mostrar as diferenças, calculadas
em percentagens, existentes entre diferentes
categorias da população.
Informática
O professor pode, nesta área, escolher
um conceito ligado a um direito humano e procurar
informações neste domínio
na Internet, Os estudantes podem também
escolher um país e estudar a sua situação
a nível dos direitos da pessoa. Acabada
esta primeira fase da pesquisa, poder-se-á
apresentá-la à turma. Através
da discussão, a turma poderá
formular respostas e colocá-las na
Internet. Uma turma pode escolher um domínio
dois direitos humanos e criar o seu próprio
endereço para comunicar com outros
estudantes sobre este assunto. Podem analisar-se
todas as respostas recebidas e formular conclusões
gerais sobre as opiniões dos estudantes
de outras partes do mundo no que se refere
ao assunto escolhido. Podem eventualmente
decidir fazer ações de acompanhamento
ou iniciar um intercambio na Web.
Literatura
Todas as gerações e categorias
de direitos podem ser integradas nas aulas
e nas lições de literatura,
em língua materna e em literatura estrangeira;
a literatura é particularmente útil
para apresentar as origens dos conceitos e
dos princípios dos direitos dos seres
humanos, a experiência das sociedades
atuais, e para descrever as condições
que levaram a humanidade a promover categorias
especificas de direitos.
Foram
freqüentemente as novelas e os romances
que contribuíram para a tomada de consciência
das injustiças perpetradas contra grupos
específicos de pessoas, com a escravatura,
o trabalho infantil, a discriminação
em relação às mulheres.
Os
professores podem promover a leitura de obras
quer na sua totalidade quer sob forma de excertos
escolhidos. Podem ser feitas seleções
de obras a partir da literatura de cada país.
Por outro lado, alguns títulos alcançaram
um valor literário universal e estão
disponíveis, em tradução,
numa grande variedade de línguas: Os
Miseráveis, de Vitor Hugo (França),
Oliver Twist, de Charles Dickens (Inglaterra)
A Cabana do Pai Tomas de Harriet Beecher Stowe
(Estados Unidos da América, Os Dias
da Birmânia, de George Orwel (Inglaterra)
e Chora, Meu País Amado, de Alan Paton
(África do Sul) são agora grandes
textos clássicos.
No
mundo árabe, alguns autores opuseram-se,
de maneira pungente, as injustiças
políticas econômicas. Podemos
por exemplo citar.