

Freiheit
in meiner Spreiche
3:08'
Carta
de despedida de Olga Benário
Queridos:
Amanhã vou precisar de toda a
minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar
nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a
minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora. É
totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não
voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus
braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças -
ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um
pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de
sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em
princípio, não estará muito bem. Deves respeitá-la e querê-la
por toda a tua vida, como teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs
faremos ginástica... Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites,
e esqueço que esta é a minha carta de despedida. E agora, quando
penso nisto de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar
teu corpinho cálido é para mim como a morte.
Carlos, querido, amado meu:
terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes?
Conformar-me-ei, mesmo que não pudesse ter-te muito próximo, que
teus olhos mais uma vez me olhassem. E queria ver teu sorriso.
Quero-os a ambos, tanto, tanto. E estou tão agradecida à vida, por
ela haver-me dado ambos. Mas o que eu gostaria era de poder viver um
dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será
possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz t sentes por
nossa filha?
Querida Anita, meu querido
marido, meu Garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me
ouça, pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me
para suportar algo tão terrível. É precisamente por isso que
esforço-me para despedir-me de vocês agora, para não ter que
fazê-lo nas últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero
viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi,
querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se
emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo
melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o
último instante não terão por que se envergonhar de mim. Quero
que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me
renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue.
Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o
último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou
dormir para ser mais forte. Beijo-os pela última vez.
Olga