
AH, QUANTA melancolia!
Quanta, quanta solidão!
Aquela alma, que vazia,
que sinto inútil e fria
Dentro do meu coração!
Que angústia
desesperada!
Que mágoa que sabe a fim!
Se a nau foi abandonada,
E o cego caiu na estrada
Deixai-os, que é tudo assim.
Sem sossego, sem
sossego,
Nenhum momento de meu
Onde for a alma
emprego
Na estrada morreu o cego
A nau desapareceu
Fernando Pessoa
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