Linguagem
Fotográfica Introdução
Um trabalho fotográfico possui vida própria.
É, ou deve ser, justificado por si mesmo.Cada fotógrafo deve estar
consciente da ação de fotografar, que além de "captar
imagens", é um registro de sua opinião sobre as coisas, sobre o
mundo. A sua abordagem sobre qualquer tema o define e o expressa.
Há aqueles que só aplicam a técnica
fotográfica e outros que a utilizam como meio, extrapolando o seu
bidimensionalismo, expandindo-se no tridimensional da informação e da
expressão.Cabe a nós adequarmos a fotografia aos nossos sentimentos,
sensibilidade e criatividade.
A fotografia tem linguagem própria e
seus elementos podem ser manipulados pelo estudo e a pesquisa ou pela própria
intuição do fotógrafo.
Temos que saber que o equipamento nos
permite que a fotografia aconteça com certa precisão, mas estes aparatos
somente são instrumentos que o fotógrafo utiliza dependendo do seu
posicionamento, conhecimento e vivência da realidade que pretende
retratar.
O fotógrafo deve utilizar o plano visual com elementos precisos,
como se fosse uma "mala de viagem", cuja ocupação requer
racionalidade e utilidade dos componentes. É a elaboração criativa
destes elementos dentro do quadro visual , que permite a sintetização da
idéia na retratação da realidade. Os elementos da linguagem fotográfica
O estudo dos elementos da linguagem
fotográfica interessa não só pela capacidade narrativa desses
elementos, como também pelo seu conteúdo dramático.Ocorre com todas as
formas de comunicação, e, em particular, com as artes, por terem
linguagem própria.
Na fotografia, a linguagem está
relacionada às características, aos modos, pelos quais a fotografia
existe. Para chegar a seu objetivo, necessita transpor um complexo
processo técnico; e é este processo a base da linguagem fotográfica. A
base técnica da realização da fotografia determina os elementos da
linguagem.
O estudo da linguagem decorre da
necessidade de "dizer" alguma coisa e é proveniente de um
processo de experimentação dos recursos colocados à disposição da
fotografia pela técnica.
Evidentemente, todo avanço técnico
enriquece e modifica a linguagem; como exemplo podemos notar pela história,
a mudança nos valores dos elementos da linguagem no surgimento da foto em
cores.
Os recursos elementares da base técnica
são os filmes e a câmara.
Cada chapa do filme possui uma imagem
gravada de uma realidade exterior, obtida através dos controles que a máquina
possibilita.
A superfície do filme tem uma dimensão
determinada, sejam os cartuchos, os 135, os 120 ou mesmo os filmes em
chapas; o processo fotográfico reduz uma realidade tridimensional a uma
imagem bidimensional, as objetivas têm determinadas distâncias focais
que modificam estas realidade de diferentes formas .
A janela da câmara tem um formato determinado: 18 x 24 mm., 24 x
36mm., 6 x 6cm., 4 x 5 polegadas e outros. Vemos que, ao fotografar a
realidade, a câmara já realiza determinadas transformações do real,
convertendo-o numa imagem de dimensões determinadas e sujeito a um certo
número de limitações. São estas "limitações" que vão ser
elaboradas criativamente como linguagem fotográfica. Como
elementos da linguagem fotográfica temos:
1.
Planos:
Quanto ao distanciamento da câmara em
relação ao objeto fotografado, levando-se em conta a organização dos
elementos internos do enquadramento, verifica-se que a distinção entre
os planos não é somente uma diferença formal, cada um possui uma
capacidade narrativa, um conteúdo dramático próprio.
É justamente isso que permite que eles
formem uma unidade de linguagem, a significação decorre do uso adequado
dos elementos descritivos e/ou dramáticos contidos como possibilidades em
cada plano.
Veremos cada plano, usando a nomenclatura
cinematográfica para, didaticamente, facilitar as definições dos
enquadramentos ajudando seu estudo. Os planos se dividem em três grupos
principais: -
os plano gerais -
os planos médios -
os primeiros planos 1.1
Grande Plano Geral (GPG)
O ambiente é o elemento primordial. O sujeito é um elemento
dominado pela situação geográfica. Objetivamente a área do quadro é
preenchida pelo ambiente deixando uma pequena parcela deste espaço para o
sujeito que também o dimensiona. Seu valor descritivo está na importância
da localização geográfica do sujeito e o seu valor dramático está no
envolvimento, ou esmagamento, do sujeito pelo ambiente. Pode enfatizar a
dominação do ambiente sobre o homem ou, simbolicamente, a solidão. 1.2
Plano Geral (PG)
Neste enquadramento, o ambiente ocupa uma menor parte do quadro:
divide, assim, o espaço com o sujeito. Existe aqui uma integração entre
eles. Tem grande valor descritivo, situa a ação e situa o homem no
ambiente em que ocorre a ação. O dramático advém do tipo de relação
existente entre o sujeito e o ambiente. O PG é necessário para localizar
o espaço da ação 1.3
Plano Médio (PM)
É o enquadramento em que o sujeito
preenche o quadro - os pés sobre a linha inferior, a cabeça encostando
na superior do quadro, até o enquadramento cuja linha inferior corte o
sujeito na cintura. Como se vê, os planos não são rigorosamente fixados
por enquadres exatos. Eles permitem variações, sendo definidos muito
mais pelo equilíbrio entre os elementos do quadro, do que por medidas
formais exatas.
Os PM são bastante descritivos, diferem dos PG que narram a situação
geográfica, porque descrevem a ação e o sujeito. 1.4
Primeiro Plano (PP)
Enquadra o sujeito dando destaque ao seu semblante. Sua função
principal é registrar a emoção da fisionomia. O PP isola o sujeito do
ambiente, portanto, "dirige" a atenção do espectador. 1.5
Plano de Detalhe (PD)
O PD isola uma parte do rosto do sujeito. Evidentemente, é um
plano de grande impacto pela ampliação que dá a um pormenor que,
geralmente, não percebemos com minúcia. Pode chegar a criar formas quase
abstratas. 2.
Foco:
Dentro dos limites técnicos, temos
possibilidades de controlar não só a localização do foco, como também
a quantidade de elementos que ficarão nítidos.
Além disso, podemos também trabalhar
com a falta de foco, ou seja, o desfoque.
Podemos enfatizar melhor um elemento da
fotografia sobre os demais, selecionando-o como ponto de maior nitidez
dentro do quadro. A escolha depende do autor mas a força da mensagem deve
muito ao foco. É ele que vai ressaltar um certo objeto em detrimento dos
outros constantes no enquadramento. A pequena falta de foco de todos os
elementos que compõem a imagem pode servir para a suavização dos traços,
o contrario acontece quando há total nitidez, que demonstra a rudeza ou
brutalidade da realidade. 3.
Movimento:
O captar ou não o movimento do sujeito é também uma escolha do
fotografo. Às vezes, um objeto adquire maior realce quando a sua ação
é registrada em movimento, ou o movimento é o principal elemento,
portanto deve-se captá-lo. Outras vezes, a força maior da ação reside
na sua estagnação, na visão estática obtida pelo controle na máquina.
4.
Forma:
Forma não é só o contorno; é o modo do objeto ocupar espaço.
As possibilidades normais da fotografia, fornecem aspectos bidimensionais
da imagem; a forma, enquanto aspecto isolado, pode fornecer a sensação
tridimensional. A maneira pela qual a câmara pode fornecer a sensação
tridimensional, depende de alguns truques visuais, tais como: a maneira
pela qual as imagens são compostas; os efeitos da perspectiva; a relação
entre os objetos longe e objetos próximos. 5.
Ângulo:
A câmara pode ser situada tanto na mesma
altura do sujeito, , como também abaixo ou acima dele. Ao fotografarmos
com a máquina de "cima para baixo"(mergulho), ou de "baixo
para cima"( contra-mergulho) temos que nos preocupar com a impressão
subjetiva causada por esta visão.
A máquina na posição de mergulho, tende a diminuir o sujeito em
relação ao espectador e pode significar derrota, opressão, submissão,
fraqueza do sujeito; enquanto que o contra-mergulho pode ressaltar sua
grandeza, sua força, seu domínio. Evidentemente estas colocações vão
depender do contexto em que forem usadas. 6.
Cor: É
a mais imediata evidência da visão. Ela pode propiciar uma maior
proximidade da realidade, limitando a imaginação do espectador, o que já
não acontece nas fotos B&P que nos fornece, nos meios tons, a sensação
de diferença das cores. A escolha de B&P ou colorido, vai determinar
diferentes respostas do espectador, já que as cores também são uma
forma de sugerir uma realidade enganosa. A cor pode e deve ser usada desde
que sob um cuidadoso controle estético. 7.
Textura:
A textura fornece a idéia de substância,
densidade e tato. A textura pode ser vista isoladamente. A superfície de
um objeto pode apresentar textura lisa, porosa ou grossa, dependendo do ângulo,
dos cortes, da luz...
A eliminação da textura na fotografia pode causar impacto, uma
vez que é a forma de eliminar aspectos da realidade, distorcendo-a. A
textura é elemento muito importante para a criação do real dentro da
fotografia, embora possa, também, desvirtuá-lo. 8.
Iluminação:
A iluminação fornece inúmeras possibilidades ao fotógrafo. Ela
está interligada aos outros elementos da linguagem, funcionando de forma
decisiva na obtenção do clima desejado, seja de sonho, devaneio, ou de
impacto, surpresa e suspense. A iluminação pode enfatizar um elemento,
destacando-o dos demais como também pode alterar sua conotação. 9.
Aberrações:
As aberrações podem ser causadas
quimicamente ou oticamente.
Todas as deformações da imagem, que a técnica fotográfica nos
permite usar, têm conotações bastante marcantes. As deformações,
causadas nas proporções das formas dos elementos da foto, fogem á
realidade causando um forte impacto. Outras aberrações, como a mudança
dos tons, das cores, pode criar um clima de sonho, de "fora do
tempo", de irreal. Todas estas mudanças da realidade provocadas
intencionalmente pelo fotógrafo, têm como objetivo primordial a alteração
do clima de realidade e, portanto, devem ser muito bem elaboradas. 10.
Perspectiva:
A perspectiva auxilia a indicação da profundidade e da forma, uma
vez que cria a ilusão de espaço tridimensional. Ela se determina a
partir de um ponto de convergência que centraliza a linha, ou as linhas
principais da fotografia. 11.
Composição e Equilíbrio:
Composição é o arranjo visual dos
elementos, e o equilíbrio é produzido pela interação destes
componentes visuais.
O equilíbrio independe dos elementos
individuais, mas sim do relativo peso que o fotógrafo dá a cada
elemento. Desta maneira, considera-se que o mais importante para o equilíbrio
é o interesse que determinará a composição dos outros elementos, tais
como: volume, localização, cor, conceituação. Como todos os outros
elementos, o equilíbrio será conseguido de acordo com os propósitos do
fotógrafo, de evocar ou não estabilidade, conforto, harmonia, etc....
Escrever sobre foto me parece algo
paradoxal, mas necessário.
Para podermos saber mais sobre esta
linguagem é necessário sabermos quando e porque ela surgiu. Se
observarmos historicamente saberemos que não foram um ou dois homens que
a inventaram e sim ela surgiu de uma necessidade no início do século
passado de se documentar e eternizar certos homens e certas situações de
uma classe social.
Parece que a fotografia nasceu como um
grifo, isto é, que se fotografava, se valorizava, se perpetuava.
Com o tempo, os fotógrafos de
antigamente foram aprendendo e ampliando o uso desta linguagem. As câmaras
e materiais foram dando possibilidade da foto ir mais longe e falar sobre
outras coisas. A imagem fixa foi usada como um fim durante muito tempo.
Mas assim que se descobriu que atrás daqueles rostos dos primeiros
retratos havia um certo mistério, um querer dizer, a foto tomou o seu
verdadeiro rumo. Percebeu-se a sua força como uma linguagem universal e
atemporal.
Talvez esteja aí a dificuldade que
sentimos quando desejamos ler uma imagem, ficamos perdidos nesta
complexidade de linguagem sem regras gramaticais e dependendo da nossa
leitura e riqueza de visão do mundo.
Muitas pessoas relacionam o fazer boas
fotos ao domínio de uma técnica e equipamento. Para mim foi mais fácil
quando percebi que além deste lado objetivo, percebi o subjetivo e a
inter-relação dos dois. O primeiro não é de domínio difícil, já o
segundo, depende da cabeça, da vivência, da sensibilidade e o terceiro
da criatividade. Está nesta terceira hipótese todo o entendimento dessa
linguagem. Quando se percebe que a foto é o que significa, passa-se a
colocar toda a técnica a serviço da subjetividade.
Nossa postura hoje diante da documentação
e expressão que a fotografia nos possibilita sofre a pressão dos
conceitos e pré-conceitos sociais. O que é fotografável para você?
Pense e repare que é igual ao que seus avós pensavam e seu padrão de
"beleza" igual ao de todos. Ora, para que serve a foto como meio
de expressão, se você reproduz o mesmo que os outros, mostrando assim o
seu lado massificado e não usando isso como meio de exercício do próprio
indivíduo?
A linguagem da imagem é tão complexa
como o homem, por isso é atraente e misteriosa. Seus símbolos e signos
modificam de leitura durante os tempos e em outros espaços, sua falsa
estabilidade toma movimento não fora de você (ali na moldura) e sim lá
dentro do seu íntimo.
Ver uma fotografia não é só reviver,
é viver, é aprender, é sentir e sentir. O objeto foto me parece a máquina
do tempo, o elo de ligação que me conduz ao encontro (e reencontro) de
pessoas, ideais e locais. Olho no papel e vejo de uma vez só e com um
certo impacto, uma idéia. Sei que aquilo não é a coisa propriamente
dita e sim sua representação gráfica mas me leva ao seu conteúdo através
de alguém - o fotógrafo - o qual se torna o meu mediador. A imagem está
lá discutida por nós três, isto é, a própria imagem (denotada), o meu
interlocutor (o fotógrafo) e eu (o espectador).
Quanta coisa sai, que movimento aqueles símbolos
vão tomando!
Meu desenvolvimento aumenta e nessa
medida cada vez mais surgem significados e leituras.
Na busca do "real" me levo a
fotografar, da mesma forma que levou Daguerre a largar seus pincéis e
começar a usar uma máquina fotográfica. Fotografo o que acredito ser
real, e esta idéia me atrapalha dentro de uma filosofia dualista que
aprendemos, do é ou não é, do bem e do mal, etc....De repente a
fotografia mostra o terceiro lado: o do pode ser...
A imagem está ai para ser retratada,
lida, consumida, sempre a serviço de uma idéia. O que é necessário é
crescer o homem para que com mais crítica e posicionamento possa ter a
liberdade de ir e vir não só no espaço, mas também no tempo. ![]() |