Mércia
Albuquerque, advogada de presos políticos
Recife, 02.04.1978
Setembro
de 1969. O País inteiro vive um clima de agitação, as atividades
estudantis e sindicais ainda mobilizando grandes massas populacionais,
apesar do AI-5, editado nove meses antes, e do Decreto-Lei 477,
gerado em fevereiro. sequestrado por terroristas, o embaixador
americano Charles Burke Elbrick tinha sua liberdade prometida
em troca da liberação de 14 presos políticos, entre eles incluído
o pernambucano Gregório Bezerra, ex-deputado pelo Partido Comunista
Brasileiro e detido, na ocasião, na Penitenciária de Itamaracá.
Gregório,
porém, nega-se a tomar parte no negócio, dizendo-se adversário
da violência. Sua advogada, Mércia de Albuquerque Ferreira,
é então chamada e conduzida até Bezerra para convencê-lo a ceder.
Os argumentos são vários e de peso: ele é um homem velho, cardíaco,
recém-operado de próstata e com um incipiente tumor canceroso
na pálpebra do olho direito, experiente, já, nas táticas da
violência policial, levado preso e arrastado pelas ruas da cidade,
amarrado pelas mãos e pés. As ponderações de Mércia Albuquerque
conseguiram, afinal, convencer Gregório e este concordou em
ceder o seu exílio em troca da vida do diplomata americano.
“Nestes meus 18 anos de profissão – depõe Mércia, hoje – convivi
com momentos extremos, nos quais encontrei autênticas Bestas
do Apocalipse e verdadeiros heróis”. Com a prudência ditada
por cinco detenções e uma prisão, porém, ela se esquiva de identificar
as posições de cada um desses dois extremos: “Se disser, sou
presa novamente”.