25.03.1974
Anotações
Inéditas de Mércia Albuquerque
Há
um desencorajamento total entre a juventude e as autoridades. Existe
uma imensa variedade de protestos, sendo os mais comuns o político,
sexual, bolinha e o nudismo. Existe um estímulo que vem determinando
um comportamento libidinoso e agressivo na juventude, até parece
que a mocidade atual pertence à família dos ciclídeos. Hoje mesmo
presenciei uma cena digna de registro, um pai dizer-me: “este rapaz
quer me destruir”, e o jovem respondeu “Só assim você olhou para
mim, mas descobri que está aqui por você e não por mim”, e começou
a gritar, “Ladrão, devasso, miserável, eu vi você trepar com a copeira,
com a sua comadre, quando eu tinha oito anos, e eu vi você roubar
vovó, vi bater em mamãe, eu lhe odeio”. Levantei-me e abracei o
rapaz, pedi ao velho médico e revolucionário para sumir, e falei
ao rapaz firme, sente, pedi a Maria um litro de whisky e consumimos;
falou, falou, chorou, ouviu, chorei. Deitou-se no sofá, dormiu.
Saí, ao voltar acordei-o, mandei-o tomar banho, tomar café, depois
liguei para o velho, concordou em esquecer, levei o jovem até a
residência e a velha veio me trazer até a saída e disse-me: “Este
garotão quer acabar o pai, doutora, meu marido é um santo”. Respondi:
“Eu sei”.
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