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Fortaleza, 09 de abril de 1971.

Dra. Mércia, saudações.

Estou com uma filha presa aí em Recife.

A senhora não pode calcular as amarguras que tenho passado desde que tomei conhecimento do fato.

A minha filha Lylia Silva Guedes, tem apenas dezoito anos e é uma criatura muito marcada pelos dramas que envolveram a minha família.

O meu marido abandonou-me com oito filhos, há dez anos. Tive que trabalhar dois expedientes para manter os meus filhos. A senhora haverá de compreender que indiretamente a culpa é dos pais de Lylia e não dela. Foi criada sem muito carinho, com problemas econômicos, apesar de pertencer a uma família, de certo nível. O pai além de nos deixar, algum tempo depois veio morar com outra companheira bem perto da nossa casa.

De todos os filhos não sei se porque uma das mais novas, sempre foi revoltada com a situação que vivíamos.

Sempre foi estudiosa e muito querida não só no colégio, com todo ambiente que frequentava.

Do fim do ano para cá, tornou-se arredia e estranha passando quase todo o tempo no quarto lendo, ou sentada sozinha a pensar pelos cantos da sala. Deixou de frequentar festas e casa dos amigos e só falava para dizer: “casamento como o seu não farei, eu não vou me casar, anote bem, eu não vou ser infeliz nem fazer ninguém sofrer”.

Certo dia desapareceu e tomei todas as providências para localizá-la, coloquei nota no jornal, comuniquei o fato ao pai dela, aos meus familiares e nada conseguimos.

Sei que a senhora já conseguiu tirar pessoas dessa vida ilegal com conselhos e até mesmo arrumando emprego, gostaria de lhe fazer um apelo para ajudar a salvar a minha filha, que não é uma subversiva, é apenas uma revoltada com o pai, com a vida.

O pai de Lylia é uma pessoa muito ligada à polícia e ela sabe.

Acho que algum namorado, alguém mais velho, envolveu-a e comprometida afetivamente, seguiu essa pessoa. Converse com ela com ternura que tirará dela toda a verdade.

Tenho certeza que nunca pertenceu a nenhuma organização.

Sou pobre. Quero-a como a advogada de minha filha, espero que aceite a causa da Lylia, e me cobre honorários módicos, de acordo com as minhas possibilidades.

Escreva-me colocando-me a par da situação, que farei o possível para ir até aí.

O importante para mim não é o processo, é saber o que aconteceu à minha filha, como está e fazê-la sentir que tudo farei para ajudá-la.

Recomendações a sua família.

Atenciosamente,

Rosa da Silva Guedes

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