Natal, 30 de maio de 1969
Dra.
Mércia,
Há tempo que não
tenho notícias suas. Gostaria imensamente de saber do andamento do
processo.
Soube
de uma amiga que Dr. Varela havia lhe dito que inexplicavelmente havia
uma pessoa mais implicada do que Jaime. Será verdade isso? Creio que se
for verdadeira essa estória a pessoa deve ser Ivaldo, já que é ele o
segundo mais implicado. Não duvido que isso haja acontecido pois a
influência do pai de Jaime pode o ter tirado de primeiro plano e o vice
ter assumido a liderança. Peço-lhe que me mande dizer alguma coisa
sobre isso.
E
o julgamento, já foi marcado? Acho que vou assistir.
Você
deu entrada no pedido sobre a mudança de prisão? Apesar de já estar
em cima o julgamento ainda seria necessária essa mudança. Pode
acontecer de qualquer dia dar-se um desastre lá. Há um oficial que o
prazer dele é provocar os meninos. Numa visita que fiz, antes da audiência,
ele dispensou a guarda e trouxe Ivaldo sozinho. No caminho, que é bem
longo, ele veio o tempo todo mandando Ivaldo correr para ele matá-lo. O
homem é um neurótico. Sempre que vai à cela de Ivaldo carrega o revólver
e diz pra ele que as balas são de graça e que a pontaria pode deixar
com ele. Fiz um bolo danado por conta disso. Fui ao General e denunciei
dele. O general disse que eu não me preocupasse com isso que o oficial
não atirava. E que ia tomar as providências. Mesmo assim não confio.
Um dia ele pode atirar mesmo e alegar que Ivaldo queria fugir.
O
requerimento sobre o trancamento da matrícula está pronto.
Por
quem eu poderia mandar seu baú?
Aguardo
notícias. Um abraço de
Marileide.
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