Coleção
Memória das Lutas Populares no RN
Acervo Impresso
Hélio Xavier de Vasconcelos
Livros
e Publicações
Caminhada
se faz ao caminhar com liberdade
Hélio Xavier de Vasconcelos, Sebo Vermelho
- 2001
Hilda Vasconcelos
Sumário
Moacyr de Góes
Inah da Câmara Martins de Vasconcelos
Início de tudo
Anos
60
Retorno à Natal Amada
Espaço
para os Amigos
Carlos Jansen Vasconcelos
Geniberto P. Campos
Clementino Câmara Neto
Omar Fernandes Pimenta
Mailde Pinto
Maria Conceição Pinto de Góes
Ivis Bezerra
Danilo Bessa
Paulo Frassinetti de Oliveira
Caio Graco Pereira de Paula
Virgílio Fernandes de Macedo Júnior
Jarbas Antônio da Silva Bezerra
Joê
Luiz Martins da Silva Sobrinho
Manoel
Berilo Wanderley
Caminhada
se faz ao caminhar com liberdade
Hélio Xavier de Vasconcelos, Sebo Vermelho
- 2001
Orelhas
do Livro
A “Caminhada
de Hélio”, realmente merece ser lida e analisada na
modernidade, para que possamos aquilatar a força pertinácia
dos “macaibenses” no Rio Grande do Norte. Mesmo, e apesar
de toda a globalização existente no atual contexto,
poderá ser vista por alguns até como piegas e obsoleta,
entretanto, para outros, que compartilharam dessa caminhada, como
um momento de reflexão para os que sempre pugnaram por uma
sociedade melhor, mais justa e fraterna para todos.
A beleza
da vida desta caminhada está no amor dedicado a Natal.
Como sua companheira há mais de trinta e cinco anos, cúmplice
de todos os momentos árduos, felizes e memoráveis
da vida, não poderia deixar de participar dessa caminhada
pelo menos nas “orelhinhas” do seu livro, uma vez que,
se não conseguimos a concretização de todos
os nossos sonhos, chegamos bem perto.
Hilda
Texto
da contracapa
A
vida sem o exercício da liberdade,
Sobretudo a de pensar, esmaga a todos
Que devem lutar, consequentemente,
Pelo seu restabelecimento.
Quando, por violência principalmente.
Perde-se a liberdade, observa-se o quanto
Esta equivale àquela.
A ação solidária não deve ser privilégio
De alguns, mas, e sobretudo, de todos
Quantos participem para a sua efetivação na
Sociedade no momento em que a liberdade
Nos foge.
Hélio
Vasconcelos
Epígrafe
“Caminhante,
não há caminho; se faz caminho ao caminhar”
Antonio Machado
Dedicatórias
-
À minha esposa Hilda, brava e decidida, companheira, amiga
e terna, cúmplice dos ideais e sonhos acalentados nestes
anos para educação das nossas três filhas e
início da chegada dos netos, pois já está chegando
um novo neto.
-
Às filhas queridas, Inah, Zilda e Gabriela que cresceram
na luta por humanizar uma sociedade cada vez mais comprometida com
desmandos e atos desumanos.
-
À primeira netinha Hildinha e seu pai, o meu genro João
Cláudio, os mais novos integrantes da família núcleo.
-
À sogra e matriarca Inah, nossa companheira de aposentadoria.
-
Às famílias Vasconcelos e Martins da Silva que sobrevivem,
Glorinha e Raimundo Sigaud, Jansen e Eider Vasconcelos e a Inah
Martins e Filhos Manoel, Dione, Clementino, Luiz e João Cláudio.
-
Aos que partiram uma homenagem especial: Salomão e Doralice
Vasconcelos, Meus pais; Tia Juracy, Idinha e Lucas, Baboá.
Zezé (prima) e ao meu sogro Paulo Silva, o nosso P.S.
-
Mesmo correndo riscos da falha de memória, a grande homenagem
aos que, como eu, sobreviveram aos “Anos Negros da Ditadura
Militar” (Anos 60), especificamente 1964, e suas famílias
– Moacyr e Conceição Góes; Mailde e Cláudio
Galvão; Paulinho e Guaracy Oliveira; Omar Fernandes Pimenta;
Danilo Bessa; Geniberto Campos; Geraldo Pereira de Paula; Petrextato;
Nei Leandro; Josemá Azevedo; Moacyr Cirne; Ubirajara de Macedo;
Maria Laly Carneiro; Tereza de Brito Braga; Berenice Maranhão;
e aos demais que a memória já fraqueja.
-
Aos que participaram das duras provações de 1964 e
não estão mais conosco– Carlos Lima; Luiz Inácio
Maranhão Filho; Djalma Maranhão; José Fernandes
Machado; Eider Toscano de Moura; Heber Maranhão; Iran Pereira;
Vulpiano Cavalcanti; ...
-
Aos amigos irmãos da grande caminhada por estes anos –
“Vivos” – Ivis Bezerra, Sanderson Negreiros, Joaquim
Fonseca, Woden Madruga, Roberto Varela, Roberto Furtado; Cláudio
Oliveira; Rubélio Bahia; José Rocha; Celso Oliveira;
Diógenes da Cunha Lima, Cione Cruz, Leônidas Ferreira,
Hebe Marinho, Margarida Seabra, Francisco Fausto Paula de Medeiros,
Carlos Roberto (Peru) e seu irmão Cláudio (Burrão),
Caio Graco Pereira de Paula, Odúlio Botelho, Carlos Gomes,
Adilson Gurgel, Tereza Araújo de Farias, Hozano, José
Roberto, Argemiro, Xenófanes, Porpino, Valério Marinho,
Tânia Marinho, Heriberto Escolástico; In Memoriam –
Carlos Antônio Varela Barca, Emílio Salem, Leide Morais,
Márcio Marinho, Luiz Carlos Guimarães, Berilo Wanderley,
Newton Navarro, Sandra Celeste, Waldson Pinheiro...
-
Aos grandes alunos – Virnílio Fernandes de Macedo Júnior,
Jarbas Bezerra, Mádson Ottoni, Marcelo Navarro Ribeiro Dantas,
Xisto Tiago de Medeiros Neto, Manoel Onofre, Honório Medeiros,
Luiz Henrique, Ibsen Kléber, Clécio Alves, Adriana
Lucena, Gustavo Procópio, Alexandre Azevedo, Ricardo Tinoco
de Góes, Benilton Lima, Magnus, Francisco Quirino, Tertuliano,
George Ferreira, Eudes.
-
Aos amigos Procuradores da Assembleia Legislativa – Ritinha,
Ângela, Israel Nunes, José Wilson, Jorge Romano, Joanilson,
Tatiana Mendes Cunhas, e Toinho (In Memoriam).
-
Aos irmãos Maçons amigos – Armando Fagundes,
Ticiano Duarte, Guedes, José Perci, Adriel, Adroaldo, Véscio,
Campos, Gilson.
Enfim,
aos amigos que compartilharam desta caminhada, sem exceção,
nominados ou inominados pelas falhas de uma memória já
usada e um pouco deletada (Termos da Modernidade), e que, realmente,
no decorrer destes Séculos XX e XXI, conquistaram-se reciprocamente,
em atitudes de comprometimentos para lutar por uma sociedade melhor,
mais justa e fraterna, onde se pudesse dizer, como Thiago de Melo:
“Não vale
mais a Canção
feita de medo e arremedo
para enganar a solidão.
Agora vale a Alegria
Que se constrói dia-a-dia...
Feita de Canto e de Pão.”
Prefácio
Diz Godard em seu último filme:
- Não existe resistência sem memória.
Este livro de, e em homenagem a, Hélio Vasconcelos é
uma consolidação de memórias, consequentemente,
matéria-prima para a continuidade da luta da resistência
política, atributo de nossa geração, dele e
minha. À lição de Godard eu acrescento: que
esta memória seja de qualidade para poder servir à
resistência. E isso vai ser encontrado neste livro, sendo
a primeira dessas qualidades a coerência de uma vida.
1
- POLÍTICA E COERÊNCIA – Dos
papéis aqui editados, vou tomar duas datas: 21 de março
de 1959 e 01 de fevereiro de 1993. A primeira é a de seu
discurso quando da instalação da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte e a segunda sua falta quando assumiu a presidência
da OAB/RN.
a) – Em 1959 diz Hélio Vasconcelos:
Sejamos heroicamente fiéis ao nosso destino. O Péguy
católico e o Péguy socialista – ambos possuíam
sobre o destino, a mesma doutrina, “um homem é responsável
por certo destino. Possui esse destino, mas também é
possuído por ele. Não é possível dissolidarizar-se
dele.” Tomemos para nós, geração necessariamente
poética e inquieta. A lição do escritor francês;
liguemos o nosso destino ao destino do nosso povo. Sirvamos na Universidade
ao nosso próprio destino.
b)
– Em 1993 diz Hélio Vasconcelos:
Escolhi dois colegas advogados para neles sintetizar a nossa gratidão.
Refiro-me às pessoas de Carlos Antônio Varela Barca,
nosso ex-presidente, valoroso, combativo, inteligente, probo, grande
defensor das públicas liberdades; o outro, Luiz Ignácio
Maranhão Filho, advogado dos humildes, patriota convicto,
estudioso dos problemas brasileiros, digno e forte, bárbara
e covardemente trucidado nos porões da ditadura. Um cristão,
o outro socialista, ambos com os mesmos sentimentos, os mesmos sonhos,
as mesmas esperanças. A eles e tantos outros que se foram
a nossa homenagem (...).
Entre as duas datas, 34 anos se passaram: um tempo com dias claros
de alegria, outros dias com o peso de chumbo do sofrimento; tempos
de trabalho, de criação e recriação
e, principalmente, de coerência e esperança. Ao curso
de sua vida, Hélio procurou valorizar os humanismos cristão
e marxista, como demonstram os dois discursos, aproximando-os, politicamente.
Desde o movimento estudantil, é visível o crescimento
político de Hélio. Muito terá contribuído
para isso sua aproximação de Luiz Maranhão.
Repetia-se, aqui, um comum fenômeno brasileiro: inúmeros
intelectuais cresceram na escola do Partido Comunista Brasileiro
(PCB), nas oito últimas décadas do século 20.
Ali era o locus de encontro com o pensamento teórico
marxista-leninista e, com o Partido na clandestinidade, a práxis
se fazia através de alianças políticas no campo
burguês, oscilando a opção como pêndulo
nos apoios aos partidos tradicionais. Desta prática vão
nascer, em Hélio, traços profundos de amizade às
lideranças de Dinarte Mariz e Djalma Marinho. Isso, todavia,
não o impede de reiterar sua vocação de esquerda
e apoiar a administração do Prefeito Djalma Maranhão
(1960-64).
Acredito que será a partir do Centro de Cultura Popular de
Natal (CCP da UNE), de 1962 a 64, que Hélio vai se tornar
mais visível no campo político potiguar, com luz própria.
Ali ele vai liderar uma aliança marxista e cristãos
de esquerda e passar a influenciar um movimento ascendente de jovens,
dentro e fora da Universidade. Este CCP, falando pelo PCB e pela
AP (Ação Popular), vai ser um importante aliado da
Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a
Ler, dirigida pelo Prefeito Djalma Maranhão. Datam desse
tempo a realização de vários eventos comuns,
desenvolvidos em Natal, principalmente nas áreas dos sindicatos
de trabalhadores e dos Comitês Nacionalistas que, criados
em 1960, funcionaram alguns até o Golpe de Estado de 1964.
No campo cultural, lembro que estivemos lentos na encenação
teatral de um novo julgamento de Tiradentes e na realização
de um congresso de cultura popular que contou com a colaboração
de vários intelectuais oriundos de diversos Estados brasileiros
e que se encerrou na praça pública, numa passeata
de Primeiro de Maio, celebrando nossa visão utópica
de uma aliança operário-estudantil-camponesa. Tempos
de sonhos. Também, tempos de lutas pelas Reformas de Base
do Governo Jango, quando vários manifestos políticos
da esquerda nacionalista foram redigidos a quatro mãos -
as dele e as minhas – nas salas da Prefeitura de Natal que,
no dia do Golpe, se autodenominou, com muito orgulho nosso, o
QG da Legalidade e da Resistência.
Depois, vieram as prisões de 1964; o auto-exílio no
Rio de Janeiro; o desemprego; a ansiedade do político perseguido.
Mais tarde, a vida que segue: o reingresso no mundo do trabalho,
primeiro, vendendo colchões no subúrbio carioca do
Vila da Penha, depois já na FUNABEM (1966), exercendo o ofício
de advogado; o casamento com Hilda, o nascimento das filhas Inah,
Zilda e Gabriela; a volta para Natal; a anistia; a retomada da vida
pública: Procurador do Poder Legislativo; Secretário
de Estado de Educação e Cultura (1983-87); Presidência
da OAB/RN (1993-95). Ele que, em 1959, como estudante, fizera a
convocação sirvamos na Universidade ao nosso próprio
destino, nos anos 80 volta à UFRN e funda a disciplina Direito
da Criança e do Adolescente e nela leciona até a aposentadoria.
Ai está o nosso primeiro e principal destaque neste Prefácio:
a coerência de um homem.
2
- O ADMINISTRADOR – O segundo aspecto que
quero ressaltar é a sua qualidade de administrador, também
coerente aos seus paradigmas políticos. Vou utilizar as datas
de 1987 e 1995, e isto é os discursos de transmissão
de cargos exercidos por Hélio, o primeiro de Secretário
de Estado de Educação e Cultura do Rio Grande do Norte
e o segundo de seu mandato de presidente da OAB/RN.
Na
SEEC ele foi formulador de uma política educacional que denominou
de Escola Aberta e Democrática. Chamo atenção
para a data na qual iniciou o seu trabalho: novembro de 1983. Esta
é a época em que já estava exaurida a Ditadura,
mas o Estado de Direito ainda não havia surgido. Esta transição
é um período de imensas dificuldades, mas Hélio
não tem medo. Vai trabalhar com o espólio recebido
que é uma educação pública em pedaços.
Quando, depois de 3 anos, 3 meses e quinze dias entrega o cargo
ao seu sucessor, pode dizer em seu discurso que a proposta da Escola
Aberta e Democrática é o locus no qual Direção,
Professores, Especialistas, Estudantes, Funcionários e a
própria comunidade convivessem e participassem integralmente
para que a instituição funcionasse bem. Escola que
fosse o local aberto às discussões sobre os problemas
educacionais e aqueles outros comuns à própria comunidade.
Dirá que esta escola sonhada não será uma concessão
de Estado, de Governo, e sim uma conquista de responsabilidade de
todos. E de forma lúcida declara: sabíamos também
que a Escola Aberta e Democrática não seria alcançada
isoladamente, mas, e tão somente, quando a própria
sociedade brasileira conquistasse a democratização
global do país.
Além dessa construção democrática,
outros resultados são importantes: o aumento de 19,49% de
acesso à rede escolar: a realização do primeiro
Concurso Público para o Magistério Potiguar: a implantação
do Estatuto do Magistério, a modernização dos
serviços da Secretaria, etc. Quanto à prestação
de contas, Hélio é minucioso em informar cada tostão
recebido e cada tostão aplicado. A transparência é
uma de duas qualidades administrativas.
E mais uma vez, coerente e fiel aos seus postulados políticos,
dirá de forma clara as limitações brasileiras
no campo das escolas: Sabemos quão difícil e penoso
é fazer-se educação em um país em que
o sistema econômico seja capitalista.
O segundo discurso, o de 1995 quando transmite o cargo de Presidente
da OAB/RN, é tambémuma detalhada prestação
de contas. Suas palavras ficarão para a história das
lutas para dotar Natal de um Fórum Judiciário. Hélio
quer somente um lugar digno, acessível, onde trabalhem Advogados,
Juízes, representantes do Ministério Público,
serventuários da Justiça e funcionem as Varas Cíveis
e respectivos cartórios. Esta seria uma ferramenta para alavancar
a solução de um dos mais graves problemas –
nas suas palavras: a morosidade da Justiça no Brasil (...)
(é) uma das mais perversas formas de injustiça que,
atingindo a todos, violenta e massacra, sobretudo, os mais fracos.
Mais uma vez é a visão política da questão
e, mais uma vez, a coerência do gesto. No biênio da
gestão Hélio Vasconcelos, a Defensoria Pública,
as Procuradorias do Estado e do Município de Natal contaram
com o seu apoio e a própria OAB/RN prestou assistência
judiciária gratuita a 3.344 pessoas carentes. Finalmente,
seguindo a tradição da OAB brasileira, a entidade
potiguar foi além da legítima defesa corporativa e
exerceu o mandato que lhe é inerente de defesa do estado
de direito, da democracia e da luta pelos direitos humanos.
3 - O HOMEM – Felizes aqueles que convivem
com Hélio Vasconcelos. Por mais que se estude, academicamente,
o seu pensamento, através de seus escritos, a formação
de um perfil dele fica a dever à atmosfera que ele
cria pela palavra oral, pelo gesto, pela conversa jogada fora, pela
cumplicidade conspiratória, pelo alto astral, pelas anedotas,
sempre contadas (e vale a pena ouvi-las várias vezes) pelo
humor fino, pela risada solta (tão solta que as vezes é
acompanhada de uma batida de sola do pé no chão).
Daí a importância dos depoimentos acolhidos neste livro
— eles desvelam o olhar do outro, dos amigos, sobre o nosso
herói. Digo mais, por experiência própria:
uma cervejada com Hélio e Omar Pimenta, quando a noite ainda
é uma criança, é uma festa — da qual
Paris perde!
De
seu humor, Hélio não abre mão nos momentos
mais solenes e também nos mais tensos (aqui poderia contar
dezenas de causos se houvessem espaço e tempo suficientes).
Lembro o setembro de 1992, quando o Professor Otto de Brito Guerra
recebeu da OAB o título de Benemérito e Hélio
foi o orador. Lá para as tantas, o discípulo se permiteinvadir
a intimidade do mestre para contar uma história de seu próprio
filho, Luiz Guerra. E conta que Luiz chegando em casa pela alta
madrugada, vindo de uma farra homérica, liga o som
em toda altura e desperta Dr. Otto que vem à sala admoestá-lo.
E diz; meu filho, se você continuar assim vai terminar
sendo um ébrio contumaz. Ao que Luiz retrucou: com Tomaz
não, com Hélio. E conclui o orador: com esta afirmação
caía por terra o restinho de credibilidade do pobre Hélio
perante o Mestre. Dá para imaginar o riso discreto do
Dr. Otto e a risada geral do auditório.
Uma vez já contei em um livro meu (Sem Paisagem –
Memórias da Prisão)
uma boutade de Hélio. Conto, novamente. No final de junho
ou início de julho de 1964 houve um grande movimento de transferência
de presos políticos pelos quarteis da Cidade. Assim, um dia,
chega Hélio ao Quartel de Polícia onde me encontrava,
vindo ele do R.O. Abraços, risos, alegria de reencontro.
E o importante: ele trazia debaixo do braço um vade-mecum.
Era uma época em que a imprensa metralhava diariamente que
os presos políticos estavam enquadrados na Lei de Segurança
Nacional. Aí, eu tomei o livro de suas mãos e pedi:
- Hélio, é possível eu ser enquadrado em algum
artigo da Lei de Segurança Nacional? Veja.
Aí
ele, sem abrir o vade-mecum, estalou uma risada, respondendo:
-
Em todos, mestre, em todos os artigos!
Foi
quando eu me dei conta da realidade: o preso político estava
na cadeia por crime de opinião, o que não é
uma questão jurídica. Chocado de início, terminamos
rindo juntos.
Quando se fala em Hélio Vasconcelos, o difícil é
parar. Mesmo assim, eu tenho que colocar um ponto final. Direi,
então, como meus netos Bruno e Mateus que, ao falar de alguém
que admiram e gostam, eles dizem: ele é um cara legal,
sinistro e irado. Acho que isso é o reconhecimento ao
carisma de alguém. Isso vai para Hélio que, quando
jovem (antes de Hilda, por favor me entendam), também foi
um grande mulherengo. E as mulheres diziam que ele tinha borogodó.
Sobre isso não posso passar recibo.
Rio
de Janeiro, 05 de novembro de 2011.
Moacyr de Góes
Notas
de rodapé:
1
- Jornal O Globo. Rio. 28-X-2001. In entrevista de Luiz
Fernando de Carvalho, diretor do filme “Lavoura Arcaica”.
2
- GOÉS. Moacyr de. Sem paisagem – Memórias da
Prisão. Edição Europa. Rio, 1989.
Apresentação
Inah
da Câmara Martins de Vasconcelos
Hélio
Xavier de Vasconcelos, homem que primou por esconder sua vaidade
e ajudar a todos os amigos incondicionalmente, sendo um eterno devedor
de gratidão daqueles que lhe ajudaram durante cada passo
da vida.
Além de jovem militante político, foi ativista das
questões ligadas aos direitos humanos e da criança
e adolescente. Nunca ingressou na política partidária
para não trair suas convicções, o que esclareceu
numa entrevista dizendo à repórter: “Minha filha,
se um dia eu for candidato, você pode dizer que além
de feio, eu sou mentiroso.”
Boêmio e adepto de um bom banho de mar na praia do Forte ou
em Ponta Negra, um eterno gozador, de um bom humor sutil, sendo
sempre sincero nos seus relacionamentos, dizendo o que pensava doendo
a quem doesse, mesmo correndo o risco de ser incompreendido.
Acima de tudo, um bom companheiro para sua esposa Hilda, eterna
apaixonada, e um “Super-Pai”, não deixando que
nada faltasse a sua esposa e filhas, mesmo nosmomentos difíceis,
não exigindo sacrifícios de sua família, apenas
em alguns períodos em que não pôde estar presente
como gostaria, pois o trabalho tomava muito seu tempo.
Homem digno e honesto, nunca traiu suas convicções,
mesmo quando serviu ao PFL na gestão do Governador se o diálogo
entre Alunos, Professores e Diretos e com que os direitos da categoria
dos Educadores fossem respeitados.
Para quem lê parece um homem perfeito, digo que quase. Porém,
como ser humano, com certeza, deve ter incorrido em alguma falha,
mas eu, como filha apaixonada, limito-me a expor a grande figura
humana que conheço e com quem tenho convivido durante toda
a minha vida.
Para nós, eu, Zilda e Gabriela, filhas, a caminhada do pai
Hélio é extraordinária, e, realmente, merecedora
de ser lida e compartilhada, pois, ele é o exemplo vivo dos
“macaibenses” que deixaram alguma coisa semeada, e de
onde os frutos resultantes dos seus sonhos de menino do “Engenho
Mangabeira” e Cidadão Brasileiro podem ser constatados.
Ele é um ser humano admirável, que é admirável,
que é traduzido por um dos versos que mais gostava de encerrar
seus grandes discursos – “Tenho duas mãos e o
sentimento do mundo”, ele é assim “Todo Coração”.
Início
de Tudo
Algumas
palavras
Muitos
já falaram das minhas proezas por esta cidade de Natal, e
como “macaibenses/macaibeiro”, eu sou, passarei agora
a dizer, falar e escrevinhar, coisas que fiz, gostei de fazer, criei,
realizarei e executei, tornando-me o homem feliz que sou, podendo
ainda dizer que vem: vim, vi e amei a cidade de Natal.
Nasci no dia 26 de novembro de 1932, no “Sítio de Mangabeira”,
dos meus avós maternos Elisa e Elviro, sendo, desde logo,
transferido para a residência dos meus avós paternos
Cirineu e Anita, onde as condições eram bem melhores.
Guardo, com Macaíba e Mangabeira uma “união
estável” que desejo conservá-la para sempre.
“Sem terra” e “Sem teto” continuei a morar
na residência dos meus avós paternos, situada na rua
Seridó, 334, no chamado bairro Petrópolis, onde iniciei
meus estudos, no Colégio Salesiano “São José”,
curso Primário e, em seguida, fiz o Ginasial, e o Curso Clássico
no Atheneu.
Concluindo o estudo de 1° e 2° graus, hoje Ensino Médio,
ingressei na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no Curso
de Direito, onde fui aluno da segunda turma e anos depois, Professor
do mesmo curso, criando a Disciplina do Direito do Menor, atualmente,
do Direito da Criança e do Adolescente.
Convivência
em Natal
Fazendo um corte, pretendo resgatar o meu convívio com esta
Natal tão querida, partindo do princípio de que tudo
que se escreve busca, ao longo do tempo, narrar fatos que, por vezes,
foram vistos, deliberadamente truncados e que desejo restabelecê-los,
dizer como aconteceram, na realidade, com o resgate do que disse,
falei e escrevi e fiz durante o século passado, nos idos
dos anos de 1948 a 2000.
Pretendo ainda resgatar o meu convívio com esta cidade, onde
visualizamos o mar visto das dunas, o bairro de Petrópolis,
onde embalei os meus sonhos de infância e adolescência,
as praias, destacando a de Ponta Negra com o seu “Morro do
Careca”, com o qual guardo antiga relação de
amor. O pôr-do-sol visto “às margens do Potengi
amado”.
Natal,
do bairro da Ribeira, Canto do Mangue, 15 de novembro, nos velhos
tempos. Do Bambelô do Calisto e Índios da taba de “Bum-Bum”.
Natal de homens como: professor Luiz Inácio Maranhão
Filho, homem culto e bravo; Câmara Cascudo; poetas Berilo
Wanderley, Newton Navarro, Luiz Carlos Guimarães, Prefeito
Djalma Maranhão, Governador Dinarte Mariz, Presidente da
República João Café Filho, Deputado Djalma
Marinho e tantos que a memória já vacila no lembrar
do que se foram.
Natal hospitaleira e de um povo crédulo por natureza.
Natal do eterno verão, comsuas frutas típicas e regionais
- caju, pitomba, manga e comidas - carne-de-sol, peixe no restaurante
da Comadre e caranguejos nas barraquinhas das suas inúmeras
praias.
Natal das férias durante o nosso exílio no Rio de
Janeiro, local que sempre nos presenteava com suas belezas e mansidão,
e para onde pensávamos regressar um dia.
Infância
e Adolescência
Aqui da infância guardo recordações indeléveis
na casa do meu avô Cirineu Vasconcelos e minha avó
Anita, onde tivemos um convívio alegre e feliz, junto à
tia Juracy que ajudou na minha formação, encaminhando-me
aos estudos, tornando-me um cidadão.
Da adolescência recordo-me do Atheneu Norte-Riograndense,
onde fiz os meus estudos Secundários, no Ginásio,
Clássico e Científico.
No velho Atheneu, Live a oportunidade de conviver com os mestres
Celestino Pimentel, Esmeraldo Siqueira, Edgar Barbosa, Clementino
Câmara, Antônio Pinto Medeiros, Alvamar Furtado e tantos
outros que nos transmitiram lições inesquecíveis.
Militância
Político-Estudantil
Ainda no Atheneu, dei os meus primeiros passos na política
secundarista estudantil, no Centro Estudantal Potiguar, de onde
fui um dos seus presidentes e relembro, nos nossos embates da política
estudantil, nomes, com atuação efetiva, como: José
Fagundes de Menezes, Márcio Marinho, Jurandy Tahin, Wellington
Xavier G. Bezerra e tantos outros que a memória já
não responde.
Nesse momento, já iniciava a minha ação político-partidária,
participando das campanhas, como orador, ao lado do ex-governador
Dinarte Mariz.
Faculdade
de Direito da Ribeira - Segunda turma (“Turma dos
Quinze – 1960”)
Na Universidade, fui da segunda turma do Curso de Direito, onde
participei de momentos que foram decisivos para a minha vida profissional.
Éramos apenas quinze, uma turma numericamente pequena, mas,
pujante e grandiosa, na qualificação dos que a compunham,
exceto, é claro, o escriba de agora.
Turma dos anos 60, que cantou a liberdade pela voz “desassombradora”do
orador da turma - Carlos Antônio Varela Barca – “in
memoriam”, num belo discurso atualíssimo até
os dias de hoje.
Costumamos dizer que os vivos têm uma dívida para com
os mortos, e coerentes com essa afirmação, desejamos
homenagear os que se foram, relembrando as pessoas de Varela Barca,
Eider Moura, Armindo Guedes, Ivanaldo Lopes e Geraldo Fernandes,
todos, sem exceção, homens sérios, probos e
que dentro das suas atividades profissionais honraram as posições
de relevo que exerceram nos mais diferentes campos das atividades
jurídicas: Advogados, Magistrados, Procuradores, Desembargadores,
Ministro e Corregedor Nacional.
Quanto aos mestres, desejamos homenageá-los na pessoa do
professor José Gomes da Costa, escolhido Paraninfo da turma
e que nos brindou com a sua belíssima aula, por ocasião
da solenidade de formatura.
Sobreviventes da turma “Amaro Cavalcanti” - Francisco
Fausto Paula de Medeiros, Francisco Dantas, Francisco Lopes, Henrique
Pereira, Ivan Meira Lima, Ivone Mesquita, Osires Pinheiro, Pedro
Rodrigues Caldas, Querubino Lélio Procópio de Moura,
e, é claro, Hélio Xavier de Vasconcelos.
A turma dos anos 60 firmou, através dos seus integrantes,
um pacto de fidelidade com a querida Faculdade de Direito da Ribeira,
e, por ela, travou lutas, com amor e denodo, na defesa da sua autonomia.
Enquanto Unidade Universitária, mantínhamos todos,
um amor incondicional com a velha escola.
No que sempre chamamos de justos embates universitários a
nossa turma participou, ativamente, de todos eles, valendo ressaltar
o movimento contra a interferência da política nas
questões de ensino. Deste movimento vitorioso, ficou a frase-recado
ao governador do estado: “Até que tudo cesse, nós
não cessaremos”, de nossa autoria, parafraseando o
verso de Walt Whitmam, no seu “Poema à América”,
quando afirma: “Revolucionários e revolucionárias,
até que tudo cesse, vós não podeis cessar.”.
De outra feita, participamos de uma luta que incluía a defesa
da sociedade. O Poder Legislativo Estadual, na época, decidiu
aumentar taxas e os subsídios dos Srs. Deputados. E, o que
fizeram os “Acadêmicos”, como éramos chamados
naquele tempo? Retiramos o busto de “Amaro Cavalcanti”
da sede da Assembleia Legislativa para o saguão da então
Faculdade de Direito, sob a “alegação”
de que Amaro Cavalcanti teria deixado a sede daquele Poder revoltado
com o que havia sido feito, em absoluto desrespeito à sua
presença austera e vigente.
É importante assinalar que, da retirada do busto, participaram
“AQcadêmicos” de outras faculdades o que significava,
sem dúvida, o surgimento de uma Nova Consciência Universitária.
Relembrar é preciso, que a nossa turma elegeu, como lema:
“Por uma Nova Mentalidade”, o que demonstrava o seu
compromisso com o presente e o futuro, credenciando os seus participantes
a exercerem, com zelo e obstinação, as diversas carreiras
- da Magistratura, do Ministério Público e da Advocacia.
Talvez por essa nova mentalidade, é que a Classe Universitária
Potiguar naquele contexto, tenha feito a minha indicação
para, em seu nome, saudar a Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, no momento em que se instalava no dia 21 de março
de 1959, como mais uma Unidade Universitária Federal brasileira.
O
Discurso da Federalização da Universidade
SIRVAMOS
NA UNIVERSIDADE AO NOSSO PRÓPRIO DESTINO
Discurso
pronunciado pelo acadêmico HÉLIO VASCONCELOS
na sessão de instalação da Universidade do
Rio Grande do Norte.
21.03.1959
Cumpro,
nesta solenidade, a honrosa determinação da classe
universitária potiguar para, em seu nome, dizer a palavra
de minha geração, na noite da sua Universidade, para
o inevitável registro da História.
Tal indicação pretendo justificar como sendo a distinção
nascida de uma franca e cordial amizade, fruto de minha vivência
e participação nos justos embates universitários.
Sob o signo da responsabilidade e da luta, planta-se, neste pedaço
do Nordeste, mais um organismo vivo da cultura. O Rio Grande do
Norte, pelo seu povo, começa a acreditar no seu destino.
Somos mocidade, mas antes disso, somos Nordeste, o que significa
dizer: combate, tenacidade, resistência – trinômio
magnífico do homem a quem se pode aplicar a palavra do poeta-pensador,
quando afirma ser: “aquele que não foi feito para derrota.
Aquele que pode ser destruído, mas nunca derrotado.”
Somos Nordeste, vítima secular do esquecimento. Eterno enteado
da União, tratado com processos vagarosos, perdidos quase
sempre no deserto da indiferença. Somos região destinada,
talvez pela força e tenacidade dos seus homens, a lutar contra
a própria natureza. Daqui, assistimos desolados à
fuga de legiões de filhos da terra. Esses, tocados fortemente
pelo cotidiano sofrimento, pensam em desertar e desertam. Fracassem
em suas andanças, pois o amor à terra abandonada forma
o significado maior de suas vidas.
Homens, mulheres e crianças, nas longas caminhadas sem destino,
defrontam-se com uma paisagem desalentadoramente seca e triste,
num desafio à sua também secular paciência.
Este, o retrato fiel e nítido da nossa região.
Hoje, somos todos esperança. Chegamos mesmo a acreditar que
o descaso dos Poderes Públicos foi com que a determinação
de, posta à prova a nossa capacidade de resistência,
merecermos a atenção tão longamente reclamada.
Na avassaladora distribuição de siglas, sinal dos
nossos tempos, coube à nossa região aquela que recebeu
a cognominação de OPENO. Acreditamos nos seus lúcidos
propósitos e hora nenhuma é melhor do que a presente
para proclamarmos a crença da mocidade nos seus reais objetivos.
A nossa agressividade bem nordestina nos leva a admitir que a Operação
Nordeste seja o redimir dos homens do Poder Central, ante o abandono
a que relegaram estra área sofrida do território brasileiro.
Que a sonhadora e ansiada tentativa de recuperação
de ontem seja transformada e, finalmente, afirmada na base perene
do idealismo, de onde hão de surgir as realizações
reclamadas.
A História nos mostra que poeticamente sonhavam os conspiradores
de Vila Rica em transformar essa cidade numa nova Coimbra. A alma
idealista daqueles revolucionários, liderados pelo formidável
espírito de Resende Costa Filho, acreditava ser próxima
a realização desse sonho. Tanto assim pensavam que,
muitos deles, deixaram de partir para Portugal, aonde deveriam completar
os seus estudos, convictos de que em breve poderiam fazê-lo
na Universidade a ser aberta em Vila Rica. Depois de cumprir o seu
exílio na África, volta Resende Costa Filho e vivendo
muitos anos ainda, teve a confortadora satisfação
de assistir como Deputado a Constituinte de 1823 às discussões
que ali se travaram sobre a criação de Universidades
no novo Império. Mas todas as tentativas ficaram no papel.
Os historiadores do Ensino universitário afirmam que no Brasil,
somente em 1920, tivemos as primeiras escolas profissionais legalmente
agrupadas em universidades.
Esquecida jamais poderia ser a ação dinamizadora de
cultura espalhada pelas gerações saídas das
faculdades de Direito de Recife e de São Paulo. Delas partiram
espíritos formados na evolução de cultura,
influindo, de modo forte e decisivo, na vida pública do país,
formando uma consciência compenetrada, traçando a própria
destinação nacional.
Muito se tem dito sobre a missão ou função
das Universidades. Com precisão e inteligência, afiram
o professor Afonso Arinos de Melo Franco: “a missão
da Universidade, considerada nos seus aspectos humanos e gerais,
se confunde com a própria cultura. Deste ponto de vista,
é uma missão una e universal.”
Hoje, ainda subsistem dúvidas, algumas instadas nos maiores
espíritos dos nossos tempos, sobre a ação que
deve desempenhar a Universidade. Ortega y Gasset, em estudo sobre
a Universidade, mostra-se contrário à tese de que
esta deve ser um centro de pesquisas e sustenta a de que ela é
principalmente um elemento de formação profissional.
A Universidade seria assim um centro de formação do
conhecimento adquirido, e não da ciência, visto que
para o mestre castelhano a ciência é principalmente
– pesquisa, procura, experimentação. Assim,
seria a Universidade sempre um museu e não um centro dinâmico
do progresso intelectual.
Nos nossos dias, as chamadas ciências sociais, são
infastáveis desta realidade. O Direito, a Sociologia, a Antropologia,
não podem ser praticados e ensinados sem o necessário
contacto com a realidade objetiva, através da técnica
e da experimentação.
Há ainda que se considerar imprescindível, para o
preparo de uma Universidade, o processo histórico de integração
espiritual, refletindo as ansiedades regionais, muitas delas, ligadas
à própria cultura brasileira, e a não menos
séria e necessária disposição de influir
nos próprios desígnios da nacionalidade.
A Universidade significa o despontar de novos rumos nos campos de
pesquisa. O seu verdadeiro sentido é o da universalidade
na busca do conhecimento.
***
O que é da terra fala da terra; daí, todo o telurismo
de que revestiram as minhas palavras iniciais. Ao lado da nossa
natural paixão pelas coisas que tocam de perto a sensibilidade
de nordestino, destacamos, para a honra e orgulho da Universidade
que nasce, a presença dignificante do velho mestre José
Augusto Bezerra de Medeiros, que vem transmitir à minha geração
os ensinamentos oriundos da sua cultura e da sua inteligência;
plasmados ao desejo incontido de servir à sua terra, servindo
a uma geração que desperta para a luta.
É sempre necessário pensar na grave responsabilidade
desta hora. As diversas unidades universitárias existentes
em nossa terra preparada estão para receber a Universidade
que surge. Os eméritos membros dos corpos docentes das diversas
Faculdades estão possuídos de lúcido e coletivo
amor, que se transforma em ardente e desmedida paixão, nela
cabendo a vontade maior de servir ao seu povo e à sua terra,
nas investigações e nas altas pesquisas. A palavra
do mestre Câmara Cascudo marca, na grandiosidade deste evento,
o hino da inteligência e da cultura, na mais alta beleza da
sua expressão.
A minha geração desperta e recebe a Universidadecom
a compenetração e a certeza de poder honrá-la
sempre. Renova, na beleza poética de universo de Vinícius
de Morais, o instante de glória e sucesso vivido nesta noite:
“para isso fomos feito...” Nas lutas reivindicatórias,
a mocidade Norte-Riograndense já fez tradição.
Grandioso e forte tem sido o seu idealismo. Desassombrado e bravo
tem sido o seu protesto.
A praça pública tem sido a testemunha mais viva da
sua participação nos mais nobres e justos embates,
no defender incessante das públicas liberdades, no atentar
continuado para a gravidade do momento histórico-político-social
que atravessamos. E, nesta hora, séria de expansões
imperialistas, onde uma Pátria nova e ameaçada desperta
para o mundo, são puros e equidistantes de apetites e tendências
alienígenas, os ideais que povoam a mente da classe universitária
potiguar. Aqui também se professa o nacionalismo, que não
é patriotada inútil e gritante; é, antes de
tudo, anseio arrancado do próprio coração de
terra.
Assistimos, num século enlouquecido, às mais desenfreadas
louvações à predominância do franco aventureirismo.
Despreparados para cumprir a sua própria missão na
terra, presenciamos revoltados, nos dias atuais, a criminosa inversão
de valores. Pelas portas falsas do afilhadismo, séria instituição
nacional, penetram descabidamente as maiores nulidades, impregnadas
de uma não verdadeira compenetração. Deturpam
na sua essência o sentido do termo merecimento, cabendo perfeitamente,
como reais e exatas, as palavras de Iago, na cena com o lugar-tenente
de Otelo: - “Merecimento: quantas vezes se adquire sem direito
e quantas vezes se perde sem motivo,” Esta citação
foi magnificamente usada pelo talento e pela cultura de insigne
mestre da minha geração, Professor Edgar Barbosa.
Mas, a jovem e vibrante alma acadêmica desta terra não
conhece a descrença. Combate com a vivacidade pura do seu
entusiasmo e reinante febre do indiferentismo. Apresenta-se como
afirmação.
Fomos, nas lutas pela Universidade, participantes entusiastas e
testemunhas emocionais. Na magnificência da poesia que esta
noite encerra, entoamos árias de louvor àqueles que
fizeram com que o sonho de uma geração pudesse ser
vivido na glória deste instante.
A presença das diversas delegações universitárias
realiza, entre nós, o milagre admirável de revestir,
na afirmação de sua força renovadora, o sentido
grandiosa desta solenidade, são as portadoras espontâneas
da mensagem das suas terras e da sua mocidade. Aos moços
elas ensinaram o sentido do combate na luta cotidiana em busca da
verdade.
Peço, por isso, licença para lembrar aqui uma frase
de Pascal: “Procedemos sempre como se tivéssemos a
missão de triunfar a verdade, ao passo que não temos
senão o de combater por ela.”
A palavra universitária potiguar deixa nos dignos visitantes
e testemunho vivo de sua imperecível gratidão.
Sejamos heroicamente fieis ao nosso destino. O Péguy católico
e o Péguy socialista – ambos possuíam sobre
o destino, a mesma doutrina, “um homem é responsável
por certo destino. Possui esse destino, mas também é
possuído por ele. Não lhe é possível
dessolidarizar-se dele” Tomemos para nós, geração
necessariamente poética e inquista, a lição
ao escritor francês; liguemos o nosso destino ao destino do
nosso povo. Sirvamos na Universidade ao nosso próprio destino.
A segunda turma, ou “Turma
dos Quinze”, concluiu em dezembro de 1960, dentre os bacharelandos
agraciados com o título de acadêmico perpétuo
– Carlos Antônio Varela Barca e este que vos escreve,
Hélio Xavier de Vasconcelos, ex-presidentes da União
Estadual de Estudantes – UEE.
Caminhada
Político - Estudantil na UFRN
Ainda na Faculdade de Direito, a caminhada político-estudantil
foi muito intensa. As nossas primeiras turmas na Academia foram
atuantes em vários campos da Política Norte-Riograndense.
O ano de 1957 foi um dos mais agitados em termos de participação:
greves, manifestações contra o governo, discursos
inflamados dos nossos grandes oradores do contexto como: Carlos
Antônio Varela Barca (in memoriam), Jose Daniel Diniz, Henrique
Batista Júnior, Márcio Djalma Marinho, Arnaldo Arsênio
de Azevedo, José de Anchieta Cavalcanti, e este que nos relata
fatos da sua caminhada.
A frase “Até que tudo cesse, nós não
cessaremos” saiu das nossas leituras, o que entretanto ficou
sendo atribuída a outros colegas. Ainda em 1957 fomos candidato
à União Estadual de Estudantes saindo a nossa chapa
vitoriosa, após árdua campanha.
Militância
Político-Partidária
Em
concomitância às lutas estudantis, já participávamos
das atividades político-partidárias das memoráveis
Campanhas do senador Dinarte de Medeiros Mariz e do Deputado Djalma
Aranha Marinho, ambos já no outro patamar, e, não
poderíamos deixar de lembrar, com profunda saudade, as pessoas
de Newton Navarro, Márcio Marinho, Dr. João Medeiros
Filho e tantos outros que partiram.
Por ocasião dessas Campanhas Eleitorais, vários acontecimentos
marcavam todos os momentos, onde vivenciávamos, da seriedade
aos fatos hilários, próprios das movimentações
políticas pela zona rural e zona urbana do Rio Grande do
Norte.
Nessas ocasiões, nas andanças pelo interior do Rio
Grande do Norte, brava terra, brava gente, onde a seca ou as enchentes
castigam-no sempre, periodicamente, ouvimos muitas “estórias”,
e aprendemos com o matuto nordestino, elementares lições
de Sociologia Política, que passo agora a contar.
Participávamos, ainda acadêmicos de Direito, nos idos
de 1959, de uma destas Campanhas Políticas para escolha do
Governador do Estado, fazendo proselitismo do nosso candidato e
ressaltando os benefícios que ele proporcionaria ao povo,
quando ouvimos de um destes nordestinos a seguinte observação:
“Doutor, o ruim às vezes, não é o homem
que vai governar, é o ‘acompanhamento’ que não
vale nada”.
Então, sentimos o “que” de grandioso naquela
afirmativa; era atual e continua atualíssima nos tempos de
agora, esta lição do velho homem nordestino.
As
“Alas-Moças”
Entre outras recordações, inesquecíveis, não
poderemos deixar de falar sobre as “alas-moças”
que nos anos 60 povoaram as Campanhas Eleitorais, com a sua participação
imprescindível, encantando a todos com seus cânticos
e danças. Com músicas que se tornaram muitas vezes
a “marca” dos seus candidatos, naquela ocasião,
como por exemplo, na Campanha para Governador do candidato Djalma
Marinho, entre outras:
1) Em cada casa cada um é eleitor
Pegue na chapa e não vá fazer traição
Bote o nome de Djalma dentro do seu coração...
2)
Sim, eu estou com Djalma
Eu estou de corpo e alma
Em outubro ele será Governador
Tem doze metas traçadas...
E, essas músicas se tornavam o memento de toda Campanha.
Quem poderá esquecer a graça das meninas das “alas
moças”, era o carro chefe das grandes Campanhas, sem
elas não havia animação para o fortalecimento
das mesmas.
Hilário
das Campanhas
Dos fatos hilários das Campanhas, nos pronunciamentos políticos,
vários poderiam ser colocados nestas memórias, entretanto,
lembraremos apenas dos mais próximos:
- Quando discursávamos no bairro das Quintas em uma ocasião,
regressando do interior, com toda a animação que o
momento pedia, com o comprometimento de todos que participavam destes
eventos e por nos encontrarmos todos empoeirados e com os cabelos
em desalinho, naquele entusiasmo próprio dos discursos inflamados,
solta-se um garoto da assistência que grita – “É
o bonito!”.
- Noutro discurso, de outro orador pela zona rural em Mossoró,
lembramos que, no auge do seu discurso, este fazia a seguinte colocação:
“Paredões, a campanha do nosso candidato ao Governo
assegura que, eleito, ele atenderá, de imediato, a meta prioritária
da fixação do rurícola ao solo”. Quem
sabia o que era rurícola...
- Em Macau, num dos comícios, quando discursava disse - Macau,
gostei tanto de ti e do teu povo, e dessa terra que voltarei breve.
Grita no meio do povo uma senhora com entusiasmo – “Muito
bem, Vermelhinho!”.
- De outra feita, quando entrávamos em Parnamirim, sem viva
alma na rua para assistir ao comício, um dos nossos oradores
pateticamente gritava: “Parnamirim, Parnamirim... estou gritando
para que seus filhos acordem...”.
- E às vezes, quando éramos anunciados pelo locutor
das campanhas para discursar, ele dizia: “Vai falar a ‘Patativa
do Nordeste’”.
O que presenciávamos nos discursos da época era a
disputa da eloquência e sofisticação no falar
dos oradores, mais das vezes falar “bonito”, num nível
bastante elevado, sem ao certo saber qual seria público que
acorreria para escutar o discurso político.
Da seriedade dos candidatos nestas campanhas relembro do velho e
querido Senador Dinarte de Medeiros Mariz, do qual recebemos, sempre,
grandes lições de vida política, marcada por
uma grandiosa solidariedade, e podemos dizer, sem limites.
Na sua coerência sem fixar os limites da sua existência,
o seu povo sempre contou com a presença que bem poderíamos
sintetizar e expressar no verso de Drummond – “Tenho
o coração maior que o mundo”.
A
seriedade dos Candidatos in memoriam: Senador Dinarte de Medeiros
Mariz e Deputado Djalma Aranha Marinho
A ação do Senador Dinarte Mariz, “jovem-velho-jovem”,
no convívio com todos, indistintamente, nos projetavam a
imagem de um Estadista acima das “arengas” paroquiais,
pela concretude dos seus feitos, podendo-se dizer ser este o traço
maior da sua grandeza humana.
Do estimado e sempre presente Deputado Djalma Aranha Marinho, dotado
de excelente e grandiosa cultura, relembro as suas “aulas
magníficas”, nos alpendres da sua residência
em Natal, onde eu e Fausto, e seus filhos Márcio, Hebe e
Tânia nos abeberávamos com todo aquele entusiasmo e
sabedoria, onde não havia o formalismo na transmissão
dos seus vastos conhecimentos como Jurista e Professor.
A sua memória permanecia intacta ao discorrer sobre assuntos
jurídicos das mais diversas áreas do Direito, mesmo
nas horas mais difíceis, impostas pela ditadura dos anos
60, teve a coragem cívica de defender, com entusiasmo e sabedoria,
a instituição. A sua palavra era ouvida e respeitada
e o testemunho dessa afirmação encontra-se nos Anais
do Congresso Nacional.
Anos
60
Golpe
de 1964 – Mudanças de Destinos e Formação
Ideológica
Nos anos 60, no momento da grande efervescência político-institucional
por que atravessavam os brasileiros, onde as denúncias contra
o Imperialismo já refletiam as dificuldades do contexto,
pelos ideais apatrióticos que eram disseminados no país,
eclodiram os grandes “Movimentos de Base” tão
do nosso conhecimento e de todos que estavam engajados nos embates
em favor das públicas liberdades.
Nesta ocasião, a luta dos que tinham a sua militância
político-partidária e se associavam aos ideais socialistas
da época entre comunistas e cristãos, era uma evidência.
E, como participantes dessa luta, atuei em várias frentes
sem dissociar-me delas, uma vez que estava consciente da situação
e vida das populações menos afortunadas da nossa região
nordestina, tão sofrida e sonhando com melhores dias e oportunidades.
Tanto assim que, apesar de ser cognominado como líder estudantil,
no movimento estudantil desde os tempos de secundarista, sempre
pautei a minha atuação como representante da brava
classe esclarecida dos estudantes do Rio Grande do Norte.
No momento da criação do CCP (Centro de Cultura Popular)
em Natal fui o seu último Presidente. Dele participaram como
integrantes, desde a sua organização com o primeiro
Presidente, o Advogado Nathanias Von Shosten, que, no momento, era
Chefe de Gabinete do Prefeito Djalma Maranhão; e, entre os
demais integrantes, pessoas da maior responsabilidade na atualidade,
como os Advogados Eider Toscano Moura (in memoriam), Ademar Medeiros,
Benivaldo de Azevedo, Humberto Brandão, Paulo Frassinete
de Oliveira, Danilo Lopes Bessa, o Professor de Geografia Luís
Maranhão Filho e os Médicos Ivis Bezerra, Geniberto
de Paiva Campos e José Arruda Fialho.
O CCP, com o objetivo de incentivar a democratização
da cultura, e contribuir para a politização do povo,
esteve muito próximo à Campanha “De Pé
no Chão também se Aprende a Ler”, como bem disse
o Professor Moacyr de Góes, no seu livro, promovendo palestras
e debates nos acampamentos escolares e no Centro de Formação
de Professores.
Em abril de 1964, o CCP deixou de existir, por ocasião do
golpe, vários dos seus integrantes foram presos, inclusive
este que vos fala, o seu último Presidente.
É por ocasião daprisão em abril/64 que faço
a seguinte digressão sobre a liberdade, e esclareço
que a vida sem o “exercício da liberdade”, sobretudo
a depensar, esmaga a todos que devem lutar, consequentemente, pelo
seu restabelecimento.
Quando, por violência, principalmente, se perde a liberdade,
observa-se, de logo, o quanto esta equivale àquela.
A ação solidária não deve ser privilégio
de alguns,mas, e sobretudo, de todos quantos participem para a sua
efetivação na sociedade, no momento em que a liberdade
nos foge.
Já formado, Advogado, e trabalhando, na Assembleia Legislativa
do RN, fui preso como subversivo em abril/64, por ter atuado como
líder estudantil e Advogado dos Sindicatos e punido pelos
Atos Institucionais n° 1 (um) e n° 2 (dois), com penalidade
de demissão dos quadros da Assembleia Legislativa/RN.
Na época, ainda solteiro e arrimo de família, tentei
de imediato a minha reintegração no Serviço
Público, através de Ação Judicial competente,
somente logrando êxito 9 (nove) anos depois.
Depois de cumprir 10 (dez) meses de cadeia, fui para o Rio de Janeiro,
local escolhido por mim como exílio voluntário.
“Habeas
Corpus” violentado
O que devo lembrar no episódio dos 10 meses de prisão,
é do meu primeiro “habeas corpus”, que aliás,
foi o primeiro a ser concedido no Estado, pelo STM, mais precisamente
no mês de agosto, com 5 meses de prisão, na época
em que me encontrava no quartel da Polícia Militar, para
prestar depoimento com o Delegado Veras, e requerido por orientação
de um parente militar que pertencia ao Superior Tribunal Militar.
Naquele momento de euforia entre todos nós presos, o “habeas
corpus” foi violentado de uma forma trágica, e que
passarei a contar: após assinar o Alvará de Soltura,
que fora entregue pelo Tenente Roosevelt, designado para fazê-lo
naquele instante, fui orientado para não pedir um táxi,
pois o encontraria na próxima esquina. Aliviado e confinado
no documento que assinara, e na sua validade, comecei a caminhar,
quando fui surpreendido, com nova ordem de prisão, o que
me rendeu mais 5 (cinco) meses no regimento de Obuses, local onde
concluí os meus dez meses sem liberdade.
Aí, em meio aos demais companheiros de infortúnio,
não pude deixar de escrever algo que para muitos ficou notório:
“Entre tristonho
Magro e solitário
A única visão da liberdade
Me era dada através do sanitário”
Sim, era da janelinha do sanitário, que podíamos ver
o Potengi Amado e lembrar da liberdade.
Ressalto e acrescento nesse momento que, ao nos conscientizarmos,
os presos, da desmoralização da instituição
do “habeas corpus” não nos restava mais nenhuma
esperança para seu cumprimento, o que nos entristeceu.
Homenagem
à tia Jura
Nesse instante, não poderíamos deixar de falar e lembrar
com que saudades da minha tia e mãe de criação
Juracy Vasconcelos, associando-a aos acontecimentos de 1964. Figura
humana que teve um papel significativo no desenvolvimento de todas
as Ações Jurídicas de alguns dos nossos companheiros,
digo, desde o encaminhamento de Processos para a nossa libertação
dos cárceres do golpe, como nos procedimentos mais necessários
para a sua tramitação nos Tribunais Militares.
Dona Jura, como ficou conhecida e respeitada pela sua atuação
firme e decidida, compreensiva e humana para com todos aqueles com
quedeu a sua parcela de contribuição naquele momento,
pode ser considerada, como disse o professor Moacyr de Góes,
no seu livro “Sete Contos Curtos e um Outro nem tanto”,
a “Antecessora das Mães da Praça de Maio”,
no zelo com que cuidava dos presos políticos de Natal em
1964”.
Além de seus serviços, tia Jura gritava notícias
do lado de fora do quartel onde nos encontrávamos presos.
Esse, além de ser um ato de coragem, podia, para muitos,
representar um ato de loucura, mas, para nós presos, era
um afago saber o que acontecia fora das grades e não perder
o contato com o mundo lá fora.
Alémde Juracy, sempre solidária, tive a presença
de pessoas amigas que foram me levar sua solidariedade na prisão,
como o Senador Dinarte Mariz, uma comissão de Deputados Estaduais
da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, encabeçada
por Aderson Dutra e outros, que representavam aquela casa onde eu
também trabalhava no seu quadro administrativo, e que, de
imediato, não consigo nominá-los, quando já
são passados mais trinta anos, e já entramos no 3°
milênio, e a nossa memória já não e tão
clara e forte com naquela época.
Enfim, durante o episódio do golpe/64, não podemos
esquecer, e, com grande saudade, da presença das “meninas”
e “namoradas” que sempre foram compreensivas nas suas
visitas semanais, sabendo, pacientemente, esperar para nos dar o
seu apoio.
Êxodo
para o Rio de Janeiro (Exílio voluntário pós
1964)
Rio de Janeiro, meu “exílio voluntário”,
“pós” 64, a minha leal cidade de São Sebastião
que me acolheu tão generosamente, a partir de 1965 até
dezembro de 1979, já casado com Hilda e com as nossas três
filhas Inah, Zilda e Gabriela.
Não sei se foi o “Rio que passou em minha vida”
ou se foi a recíproca “minha vida que pelo Rio passou”.
Rio, cidade tão querida e a segunda eleita por mim como habitat,
e na qual busquei experenciar novas chances e oportunidades profissionais,
constituí a minha família e sonhei construir urna
vida melhor.
Reencontro/Rotulagem
No Rio, encontrei os amigos que, como eu, para lá seguiram,
na perspectiva de novos horizontes de trabalho, mesmo que na clandestinidade,
tendo em vista a rotulagem que nos fora imposta par ocasião
dogolpe.
Entre estes amigos, Moacyr de Góes e Conceição,
Danilo e Evandro Bessa, Geniberto Campos, Luiz Inácio Maranhão
Filho, Tereza Braga, Berenice e Herbat Maranhão, e tantos
outros que se encontravam igualdade na mesma situação.
Sempre nos encontrando, vez por outra e quando isto ocorria, as
eternas lamúrias das buscas frustradas de emprego e, ao mesmo
tempo, de alegria, quando ocorriam os minúsculos avanços
profissionais de alguns dos nossos, o que já nos incentivava
a continuidade das buscas que, aos poucos, iam surgindo no campo
profissional, e que mereciam ser comemorados.
Quando isso ocorria, era como se visualizássemos uma luz
no final do túnel, nos encorajando para outras investidas
no campo profissional.
O
apartamento do Professor Moacyr de Góes (santo casamenteiro)
O apartamento do Professor “de Góes” com sua
esposa Conceição (Neném) e sua mãe Idália
e os cinco filhos - Clarinha, José, Moacyr, Maria Idália
e Leonzinho -, era o ponto de convergência para a maior parte
dos nos encontros semanais. Inclusive, foi no apartamento do Professor
Moacyr que alguns dos nossos noivados e casamentos foram formalizados,
por ser ele Professor “Santo Casamenteiro”, fazendo
às vezes do próprio Santo Antônio.
Uma coisa que não podemos esquecer, os que compartilhavam
desses encontros, eu, os irmãos Danilo e Evandro Bessae Ney
Leandro de Castro, principalmente, nos fins de semana, eram os ágapes
preparados pelas mãos preciosas de “Helena” e
de algumas das suas auxiliares, as grandes feijoadas nos almoços
dos sábados.
Em meio aos casamentos que aconteceram com o beneplácito
do nosso “casamenteiro” aconteceu do nosso, meu e de
Hilda e do qual o Professor Moacyr e Conceição foram
nossos padrinhos na Igreja do Cristo Redentor, à rua das
Laranjeiras, tendo, entre outros padrinhos os saudosos - Senador
Dinarte Mariz e Dona Diva, minha tia Zilda Sigaud e Lucas, meu primo
Eugênio e Lígia; por Hilda, Clementino Júnior
e Rita. Nessa ocasião, já trabalhava na FUNABEM e
Hilda no SENAC - Divisão Nacional. Não podemos deixar
de citar, entre os convidados, o Advogado Hélio Santiago,
que nos reencontrou no retorno à Natal.
Primeiro
Emprego Fixo (FUNABEM)
A Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor - FUNABEM,
emprego que consegui por interferência de uma grande amiga
cearense, Nair Cruz, que trabalhava junto a Dom Hélder Câmara,
e que, através das amigas irmãs Filgueira (Margarida
“in memoriam”, Marta e Tereza), possibilitaram meu contato
com o Presidente da FUNABEM, o Dr. Mário Altenfelder (in
memoriam), para o meu ingresso na instituição, às
quaisainda hoje sou grato pela oportunidade que tive no convívio
de todos o que participavam daquela casa.
Ao Dr. Mário Altenfelder desejo ressaltar na oportunidade,
pelo crédito que me deu, mesmo sem me conhecer o suficiente,
naquela ocasião, aceitando a minha apresentação
e acreditando na minha palavra, quando lhe declarei a minha situação
e condição de subversão em Processo de Absolvição.
Entre outros que também me acolheram, não posso deixar
de nominar, além da Assistente Social Nair Cruz, Conselheira
da FUNABEM, outra Conselheira, Maria Celeste Flores da Cunha, Celina
Coelli, Fauber Melo, Hélio Mário Arruda, Edson Seda
de Morais, Dr. José Antônio Flores da Cunha, Sidney
Soares Costa e tantos outros que conquistei como amigos, naquela
minha caminhada na Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro.
Três
vezes, o Pedido para Demissão
Apesar de por três vezes tentarem me afastar por demissão
dosquadros da FUNABEM, ocorreu algo hilário. Depois das duasprimeiras
investidas para me dispensar, sem lograr o êxito desejado,
graças à interferência do Senador Dinarte Mariz,
após a terceira denúncia de outro conterrâneo
cioso na prestação de serviços de “Deduragem”,
vou novamente a Brasília com o Senador Dinarte Mariz, para
falarcom o Ministro da Justiça Alfredo Buzaid, e então
é que realmente aconteceu o fato: o Ministro indagou –
“Mas Senador, o seu constituinte é uma pessoas punida
pelo Ato Inconstitucional”, ao que retrucou o Senador, sabiamente
– “Os Atos Institucionais são os Dogmas da Revolução,
mas quem aplicou estes Dogmas!? No seu Estado de São Paulo,
foi o ex-Governador Ademar de Barros, e no meu Rio Grande do Norte
o ex-Governador Aluízio Alves, ambos cassados por corrupção
pela própria revolução.”. E isso resultou
na minha permanência no emprego.
O
Episódio da ADESG
Outro fato que merece ser contado na minha caminhada no Rio de Janeiro,
é a minha ida à Escola Superior de Guerra - ADESG
- em dois eventos. Fora eu designado pela presidência da FUNABEM
para participar na ADESG, em Brasília, de dois eventos onde
faria duas palestras em defesa da situação das crianças
e adolescentes brasileiros. Na primeira ocasião, tive uma
grande receptividade, além dos padrões por mim esperados.
Palestra aplaudida, recepção realizada pelos componentes
da instituição com direito a jantar, fotografias nos
jornais, crônica social, diploma, medalha, tudo o que eu tinha
direito. Quando retorno para a segunda palestra no mês seguinte,
a surpresa: clima totalmente adverso, olhares atravessados, como
se olhassem para um criminoso e nem mais uma palavra. Estranhei,
claro, mas, logo depois, entendi que outro conterrâneo, novamente
no afã de prestar serviços à instituição,
havia encaminhado o meu currículo dos anos 60, a fim de me
derrubar, talvez frustrado com o sucesso da primeira palestra.
Férias
sempre em Natal
Ainda como cariocas de passagem, não deixamos nenhum ano
de passar as férias em Natal, com familiares amigos que sempre
reencontrávamos após um ano de lutas profissionais
ou mais um ano destas atividades.
A pousada central era a “Casa Grande” do nosso saudoso
Paulo Silva - P.S. e da querida sogra Inah, onde nos hospedávamos
com os demais participantes do patriarcado “P. S.”,
na Rua Potengi, onde hoje se encontra a sede da SUDENE.
Lá já havia toda uma organização para
a programação das férias, tendo como carro-chefe
a equipe médica do saudoso Emilinho (Emílio Salem),
Ivis Bezerra, e familiares Kelé, João Cláudio
(Joê), o próprio P. S., Dione e Luizinho, e lógico,
Inah.
Passeios, almoços e jantares: em família, a bacalhoada
com “baião-de-dois”, de Nazinha e Maria Doló,
cozidos, e camarão no coco. Nos reencontros com amigos, Peixada
da Comadre, Galinha de Mãe, Carne-de-Sol do Lira, Chico dos
Pombos, onde nos acompanhávamos de Leônidas Ferreira,
Leide Morais, José Arruda Fialho, e estavam sempre presentes
os saudosos Varela Barca e Eider Moura. Paulinho e Eliane, Berilo
e Maria Emília, Dequinha, Omar Pimenta e tantos outros. Assim,
ao término das benfazejas férias, retornávamos
saudosos ao Rio, para mais um ano de luta.
Retorno
à Natal Amada
Preparando
o Retorno à Natal
Volto à Natal querida, após quinze anos de Rio de
Janeiro, onde aprimorei toda uma nova concepção de
vida.
Quando falo em concepção de vida, quero esclarecer
que na Cidade Grande, por ser esta muito exuberante, conseguimos
reformular padrões ou valores adormecidos no íntimo,
e que aos poucos nos transformam frente aos reclamos da sociedade
do contexto.
O Rio foi a escola ao vivo que contribuiu para a minha transformação,
verdadeira metamorfose.
Durante os quase quinze anos que caminhei por lá, procurei
dar o melhor do profissional que sou, ou fui, junto à Chefia
do Setor Jurídico da FUNABEM, e, ao mesmo tempo, aprendi
e pude entender quão difícil é a situação
daqueles que têm sua preocupação voltada para
a questão relevante, qual a de assistir e procurar mudar
a realidade cruel e gritante da “criança e adolescente”
brasileira, desde as tempos passados até o presente contexto.
Nesse período, com a minha companheira Hilda, não
descuidamos um só momento dos nossos estudos, voltamos às
Universidades para ampliar conhecimentos e nos situarmos, principalmente,
quanto às questões, sobretudo, pertinentes à
Educação e Direito do Trabalho, uma vez quo o nosso
campo de atuação era a FUNABEM (Departamento Jurídico)
e SENAC Nacional (Ensino Profissionalizante).
Foi neste período de retorno às Universidades (Nacional
de Direito - CACO e Santa Úrsula – Educação)
que podemos visualizar melhor as disparidades do ensino brasileiro,
principalmente no que tange a educação dos menores
das classes desassistidas e marginalizadas, problemática
que ainda permanece nos dias atuais.
Naquele momento, todos da família já estudavam, nossas
três filhas Inah, Zilda e Gabriela, e, ainda, possibilitávamos
às secretárias (domésticas) que nos auxiliavam
que estudassem nos Cursos Supletivos, era uma “Casa de Estudantes”.
Crianças no Colégio Sion, adultos nas Universidades,
em Cursos de Especialização, Mestrado e Doutorado
(concomitantes) e secretárias no MOBRAL. Foi uma época
de crescimento interior. Estávamos, inconscientemente, nos
preparando para o retorno à Natal.
Isso
era tão evidente, que nunca transferimos nossos Títulos
de Eleitor para o Rio de Janeiro, durante os quinze anos de permanência
naquela cidade.
Um
Corte: Episódio da Chegada de Miguel Arraes
A concessão
da Anistia para os presos políticos trouxe de volta os que
estavam no exterior, entre eles, Miguel Arraes. Uma das nossas grandes
loucuras que registro nessa caminhada aconteceu nesse 15 de setembro
de 1979, quando amanhecemos no aeroporto para, com correligionários
e admiradores, recebê-lo em grande estilo, o que fizemos e,
em seguida, fomos comemorar o fato e, também na ocasião,
o aniversário de Hilda. A loucura é que com os “de
Góes”, a certa altura, deliberamos viajar para Recife,
para participar das emoções do retorno de Miguel Arraes
à sua terra, na continuidade das comemorações,
pegando um avião no aeroporto Santos Dumont e invadindo a
residência de Paulo Rosas e Argentina, em Recife. Foi realmente
um acontecimento memorável, que nos estimulou na decisão
da volta à Natal.
Retorno
a Natal
Convidado para retornar a essa Cidade querida, após a minha
reintegração nos quadros da Assembleia Legislativa
do Rio Grande do Norte, não titubeei aos convites dos amigos
Diógenes da Cunha Lima, para auxiliá-lo na sua gestão
de Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e Leônidas
Ferreira, para dar a minha contribuição na Secretaria
de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte, durante a sua
gestão, nos anos 80, como seu Assessor Jurídico.
Com Diógenes, assumi o compromisso de ajudá-lo na
UFRN, desdeque houvesse a possibilidade de criar a Disciplina de
Direito do Menor, no Curso de Direito daquela instituição,
o que foi aceito, sob a sua anuência, nos idos dos anos 80,
sendo uma Disciplina Optativa e com vinte horas de carga horária.
Atualmente, com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente,
a Disciplina passou a se denominar de Direito da Criança
e do Adolescente e integrar o quadro das Disciplinas Obrigatórias
do Currículo do Curso de Direito, com carga horária
de quarenta horas, conquistadas essas ocorridas durante o período
em que ainda estava como Professor Titular da matéria, antes
da minha aposentadoria em 1999.
Junto à Secretaria de Saúde, com Leônidas Ferreira,
pude colaborar de forma mais adequada nos serviçossolicitados
nas áreas Jurídica e Administrativa, e, ainda nas
Campanhas de Saúde Educativa.
Presidente
da FEBEM/RN e Secretário de Educação do Estado
do RN, em 1983
Quando encerrou a gestão do Secretário de Saúde
Leônidas Ferreira, no Governo Lavoisier Maia, houve eleição,
sendo eleito o Governador José Agripino Maia, que me convidou
para ser o Presidente da Fundação Estadual do Bem-Estar
do Menor do Rio Grande do Norte, em 1983.
Na FEBEM/RN, passei uns sete meses, e, no mesmo ano em 1983, fui
convidado, novamente pelo Governador para assumir a Pasta da Secretaria
de Educação do Estado, em novembro/83, na qual permaneci
todo o período governamental, só encerrando a minha
gestão no término daquele governo.
Na Secretaria de Educação, pude observar na minha
convivência educativa, a partir de então, que a Escola
Pública se engajava com maior disposição na
Defesa das Públicas Liberdades, ainda, enquanto algumas escolas
particulares precisavam, para tanto, do consentimento dos órgãos
públicos, o que envolvia inúmeros interesses e diversas
dificuldades, que ainda hoje acreditamos que perdurem.
Uma ressalva qu?e pretendo fazer é que, quando atendemos ao
convite do ex-Governador José Agripino, para assumir a Secretaria
de Educação do Estado, o fizemos plenamente conscientes
das graves responsabilidades que nos aguardavam. Para isso, convidamos
o Professor Omar Fernandes Pimenta, meu “Braço Direito”
na Secretaria de Educação durante toda a minha gestão,
com a sua experiência dos idos dos anos 1960 na campanha “De
Pé no Chão Também Se Aprende a Ler”.
Idealizador e com a sua competência e conhecimento de Educador,
uma pessoa indispensável nos trabalhos da Educação,
era com o Professor Omar e o Dr. Virgílio Fernandes de Macedo
Júnior que dividíamos a organização
das ações do Gabinete e Coordenadorias da Secretaria
de Educação.
A nossa luta desde o início era por “Uma Escola Aberta
e Democrática”, o que me valeu um verso da professora
Irene Vasconcelos de Brito, numa poesia escrita em 09 de agosto
de 1984 e publicada com apoio da SEC:
“Sr.
Hélio Vasconcelos
Secretário de Educação
É de grande validade sua participação
Para os que fazem a escola e para toda população...
(pág. 11)”
? Convocamos, de início, a todos quantos compunham cargos e
chefias e aos trabalhadores da educação, a, juntos,
integrarmos esforços para vencer os obstáculos que
se antepunham. Não foi tarefa das mais fáceis conseguirmos
a compreensão e o apoio de todos. O verbo integrar não
foi conjugado como esperávamos.
Preocupávamo-nos com Programas e Projetos Educacionais que
minimizassem os fantasmas da evasão e da repetência;
a proliferação das Escolas de Formação
dentre outros.
E pensávamos, com profundidade, como encontrar soluções
para tão graves problemas. Como revertermos a médio/longo
prazos aquilo que chamamos sempre de a face cruel da educação
brasileira, com reflexos contundentes na realidade do nosso Rio
Grande do Norte.
Instauramos na Secretaria, o salutar processo da negociação
direta de salários. Trouxemos a chamada Área Econômica
do Governo para discutir com os representantes das diversas Associações
dos Educadores e Sindicato, o rumo e os destinos da Política
Salarial da categoria. Tal posicionamento gerou, por duas vezes,
incompreensão, que somente foi superada após o referendo
do ex-governador José Agripino à nossa participação.?
As greves deflagradas não conseguiram impedir o diálogo
permanente que continuamos a manter. E, no final, foram encontradas
soluções, de comum acordo entre as partes, sem prejuízos
para os educandos.
Terminada a gestão, podemos dizer que as lutas reivindicatórias
dos Educadores foram atendidas na época, passando o Rio Grande
do Norte a não figurar mais entre as Unidades Federadas que
pior pegavam aos Trabalhadores da Educação, naquela
ocasião.
Adicionamos a essa conquista o restabelecimento dos Concursos Públicos
para o ingresso na Carreira do Magistério.
Para vencer obstáculos e barreiras que se antepunham nas
Escolas Estaduais – instituição fechada, alienante
e alienadora – muitas vezes tida como “propriedade de
um grupo”, sonhamos com uma Escola a que chamamos de aberta
e democrática, que nada mais seria ou é, se não
uma Escola em que: Direção, Professores, especialistas,
estudantes, funcionários e a própria comunidade convivessem
e participassem integradamente, para que a instituição
funcionasse bem.
“Esc?ola que fosse o local aberto às discussões
sobre os problemas educacionais e aqueles outros comuns à
própria comunidade.”
Dissemos sempre que essa Escola sonhada não seria concessão
do Estado, do Governo; seria, sim, uma conquista da responsabilidade
de todos.
Mas como sonhar não foi e nem é proibido, e o sonho,
segundo Jorge Amado, é o único direito que nenhum
ditador, por mais tirânico que seja, pode usurpar, sonhamos
e deixamos a semente plantada na esperança da fertilidade
do terreno para a sua germinação.
E hoje, já visualizamos que a semente está dando alguns
frutos, quando ouvimos falar em projetos como a “Escola Cidadã”
e “Amigos da Escola”.
É sabido que o trabalho feito só foi possível
com a compreensão e contínuo apoio de um grande número
de instituições e pessoas, cuja nominação
expõe-nos sempre aos riscos de uma injustiça, das
autoridades mais altas do Ministério da Educação
e do Estado ao mais humilde Servidor creditamos os fatos exitosos
de nossa Administração.
Fizemos o possível, o que não foi pouco. Conseguimos
muito, o que não esperávamos. Fizemos tudo, entretanto,
com perseverança e muito esforço.
E podemos repetir, no término da nossa gestão, o escritor
e político cubano, líder e mártir da Luta de
Libertação de Cuba – José Marti –
ao afirmar que: “Caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao caminhar.”.
Volto às minhas atividades na sala de aula da UFRN, como
Professor que nunca se ausentou desta, nem nos momentos em que teve
que assumir a Secretaria de Educação, com maior responsabilidade,
qual a de trabalhar com os meus alunos da Disciplina de “Direito
da Criança e do Adolescente”, sob a ótica que
vivenciei na Educação do Rio Grande do Norte, principalmente
nas Escolas Públicas.
A partir daí, com a preocupação maior de reverter
o quadro injusto a que estavam submetidos as crianças e os
adolescentes das classes mais desassistidas e marginalizadas pela
sociedade.
Ordem
? dos Advogados do Brasil OAB de 1978 a 2000
Como
sempre, a minha formação eclética esteve presente
em todos os recantos que percorri. Assim, a diversidade das atividades
que assumi, sempre o fiz com muito denodo.
Isso ficou bem claro nos momentos em que ocupei Cargos de Confiança
da primeira gestão do Governador José Agripino Maia,
nas instituições da FEBEM (Presidente), em 1983, e
da SECRETARIA DE EDUCAÇÃO (Titular da instituição),
por todo o período do Governo citado. Entretanto, com todos
os cargos assumidos, não deixei de lecionar no Curso de Direito
da UFRN, como Professor da Disciplina de “Direito da Criança
e do Adolescente”.
Durante todos esses momentos, não me ausentei dos meus compromissos
com as atividades da OAB/RN, como participante dos seus quadros
administrativos, Conselheiro Nacional e Estadual nos idos de 1978
a 2000.
Fui designado pelo Presidente da Seccional da OAB/RN para representar
o Estado, como Conselheiro Federal.
Retorno a Natal em 1979 como Conselheiro Federal e, posteriormente,
sou eleito Vice-Presidente na gestão do Dr. Odúlio
Botelho, ocasião em que ?tive a oportunidade de participar
do movimento que redundou no “impeachment” do presidente
Fernando Collor de Melo.
“Movimento pela Ética na Política”, desencadeado
por instituições da maior representatividade no país,
a Ordem dos Advogados do Brasil, na pessoa do seu presidente Marcello
Lavanére Machado, o presidente Barbosa Lima Sobrinho, da
ABI, cidadãos categorizados e sérios que, junto à
CNBB, conseguiram mobilizar toda a opinião pública
do Brasil, com passeatas, comícios e carreatas, que redundaram
no pedido do impeachment do presidente Collor.
Jamais, pelas minhas convicções libertárias,
deixaria de participar de um movimento de tamanha envergadura, a
começar por uma passeata, que saiu da Seccional da OAB do
Rio de Janeiro, na Av. Marechal Câmara, terminando na Av.
Presidente Vargas, numa grande concentração na Candelária,
onde todas as categorias da Sociedade, Advogados, Jornalistas, Médicos,
Atores, Políticos e estudantes “Caras Pintadas”,
estavam representadas.
Foi realmente um dos momentos de grande emoção para
esse sobrevivente de 1964. Participar de um ato desse porte, revivendo
o estudante que sempre pautou as suas ideias em defesa dos justos
embates: naquele instante era mai?s um “Cara Pintada”,
embora de um contexto anterior.
Não posso deixar de registrar a ocasião da minha Campanha
para Presidente da Seccional da OAB, cuja chapa era intitulada “Direito
e Cidadania”, a participação e colaboração
de todos os que estavam comprometidos a apoiar as novas conquistas
na busca do resgate da Cidadania, continuar o trabalho iniciado
nas Administrações anteriores, na Comissão
de Direito Humanos; a transferência do Fórum de Natal
para um prédio próprio, e não aquele antigo,
de situação vexatória para a cidade de Natal,
que sempre causava transtornos aos que procuravam tramitar os seus
Processos por aquela casa, sem a facilidade do acesso à Justiça,
creio até mesmo Magistrados e Serventuários da Justiça,
pela morosidade da prestação jurisdicional.
A luta pelo Fórum de Natal (sua construção)
sempre foi nosso sonho e batalha maior, semeado durante toda a nossa
gestão, e que, provavelmente, teve sua continuidade pelos
que deram a sua contribuição nas gestões que
me sucederam.
E entre estes sonhos de novas conquistas, as questões ligadas
às criança e ao adolescente, o resgate da Cidadania
daqueles que, por serem porta?dores de uma deficiência qualquer,
poderiam ser úteis à Comunidade, se lhes fosse oportunizado
o espaço. A luta para a continuidade da Defensoria Pública
também estava elencada nas nossas metas, desde o aumento
dos seus quadros, o que se fazia com urgência, tendo em vista
a diminuição dos que trabalhavam na assistência
aos necessitados em sua grande maioria.
Enfim, metas e sonhos de um eterno sonhador que já caminhou
por grande parte deste Brasil imenso e cheio de coisas extraordinariamente
maravilhosas, ao lado de coisas ainda para ser transformadas e melhor
vistas pelos nossos governos como prioridades.
Também, por ocasião da nossa campanha para Presidente
da OAB, não podemos deixar de falar no grupo de Advogados
dos novos, recém-formados pela Faculdade de Direito - UFRN
da “Cruzada Jovem” da chapa “Direito e Cidadania”,
com a sua participação efetiva para a nossa eleição.
Jovens que não ficaram indiferentes na ocasião, como
militantes responsáveis pela construção de
uma nova seccional da OAB, não permanecendo na janela, só
para olhar o grupo que trabalhava incessantemente, durante a Campanha
Eleitoral.
Jovens quese engajavam como Advogados novos, iniciando como participantes
dos quad?ros da OAB Seccional, à luta pelas novas conquistas,
conscientes que estavam da nossa proposta de Direito e Cidadania.
Entre eles: Manoel Onofre, Adriana Lucena, Ibsen Kleber, Marse Geíse
Pereira de Paula, Janine, Marcos “Mosquito”, Tertuliano,
George Ferreira, Rossana Carla Lima, Andréa, entre outros...
A
chapa “Direito e Cidadania” foi contemplada em 30 de
novembro de 1992 com os versos de Aderbal Ferreira:
“A chapa Direito e Cidadania
Puxada por Dr. Hélio
Vem nos mostrar que o velho
Pode contar com a valia
Adilson também dizia
Que o velho é gente rara
E Gileno Guanabara
Giuseppi e Hercílio Sobral
De forma fundamental
Enfrentaram esses duelo
Junto a Hélio Vasconcelos
Paulo Lopo e o pessoal
Também Adilson
Gurgel
Demonstrou que não é fraco
Junto ao grande Caio Graco
Cumpriu bem o seu papel
Janilson sendo fiel
Formou na chapa do velho
Selma Dantas mais Aurélio
João Hélder e Jorge Luiz
Mais José Santos Diniz
Também votaram no velho
José Correia e Nereu
Junto a Paulo Frassineti
?
Formaram sem ter manchete
Na chapa 2 que venceu
Rosália também cedeu
Mais Sérgio Coelho de Melo
Zita entrou no duelo
Disse a Valério o seguinte
Só falta fazermos os vinte
Pra Hélio Vasconcelos”
Realmente
a nossa campanha foi inesquecível e prazerosa.
Já Presidente da Seccional, iniciamos o cumprimento das nossas
atividades com afinco, intensificando a reivindicação
da construção do Fórum de Natal, meta prioritária
da nossa gestão em todos os seus momentos. Fizemos várias
gestões junto ao Governo do Estado, e conclamamos o Judiciário
e seus Serventuários, Advogados e demais interessados, para
encontrarmos uma solução a curto ou longo prazos.
Realizamos
o “Dia de Luta pelo Funcionamento da Justiça”,
com passeata e “ato público” em frente ao atual
Fórum (prédio do Grande Hotel), no bairro da Ribeira,
no dia 15 de junho de 1993.
Encerrada a minha gestão na Seccional da OAB, foi eleito
o Dr. Adilson Gurgel de Castro, que realizou um excelente trabalho,
no qual participamos como membro da Comissão de Direitos
Humanos do Conselho Federal ?da OAB. Em seguida, foi eleito o Dr.
Caio Graco Pereira de Paula, candidato que apoiamos, numa gestão
aguerrida e também de muitas conquistas. Nela, desempenhamos
o papel de Conselheiro Federal, atuamos na Comissão de Meio
Ambiente e em Processos de Prestação de Contas de
algumas Seccionais. Após isso apoiamos o candidato Dr. Jorge
Galvão, que não foi eleito.
OAB
defende a construção de Fórum para a Justiça
O projeto, do novo Fórum de Natal está pronto e o
orçamento da obra está sendo ultimado, para que governo
José Agripino cumpra o prometido, publicando o edital de
licitação, “tornando a construção
do Fórum irreversível”. A informaçãoé
do presidente da OAB/RN. Hélio Vasconcelos,que em sua luta
pelo Fórum tem solicitado a participação de
todos os segmentos que integram a máquina judiciária
do Estado.
Sabe-se que a construção do Fórum é
uma obra que vai demandar muito tempo, “urge”, portanto,
uma solução emergencial que está sendo viabili?zada
através da busca de um local que consiga abrigar as varas
cíveis e respectivos cartórios coma forma de descongestionar
o Fórum que hoje funciona precariamente na Ribeira, no prédio
do antigo Grande Hotel.
A colocação de um elevador no amigo Grande Hotel que,
segundo alguns magistrados, resolveria o problema do Fórum,
não é a melhor alternativa. “Não é
por aí”, avisa Hélio Vasconcelos, que acredita
que o elevador vá facilitar o acesso aos diversos andares
do prédio, mas, com certeza, não implicará
melhoria do espaço físico e, consequentemente, nãomelhorará
as condições de trabalho”. Logo, ele sozinho,
não é a solução.
O presidente da OAB/RN relembra que para que haja a solução
de emergência, ou seja, o aluguel de um imóvel que
abrigue as varas cíveis, é necessário também
que haja parceria de todos - magistrados, representantes do Ministério
Público, advogados e serventuários da Justiça.
“O que não pode é continuar como está,
penalizando os advogados e as jurisdicionados", afirma Hélio,
que acha muito cômodo dizer-se que não há condições?
de trabalho no Fórum da Ribeira.
“Isto só não basta. É preciso lutar,
agir para que se obtenha essas condições. Daí
porque o apelo para que todos participem, busquem uma solução
compartilhada. É preciso também que fique claro: a
luta não é pelo Fórum da OAB, mas pelo Fórum
da Justiça”.
OAB
NOTÍCIAS
Luta para melhorar Fórum não se exaure com
ato público
A celeridade da prestação jurisdicional, luta de muitos
anos da OAB, seccional RGN, diante da situação “vexatória”,
do Fórum de Natal, ganhou contornos mais veementes com o
DIA DE LUTA PELO FUNCIONAMENTO DA JUSTIÇA, promovido no última
dia 15 de junho, e que teve no ato público realizado em frente
ao Fórum, na Ribeira, o seu ponto culminante. Em seu discurso,
Dr. Hélio Vasconcelos, presidente da OAB, enfatizou que há
de se tentar uma solução de caráter emergencial,
unindo todos que sofrem com a situação: juízes,
promotores, serventuários da justiça e, principalme?nte,
os advogados e os jurisdicionados.
No ato público, Dr. Hélio Xavier de Vasconcelos também
enfatizou a solução a longo prazo para solução
de problema, que seria a construção de um fórum
definitivo para Natal, “um compromisso já assumido
pelo Governador do Estado”.
“Este ato ‘não é contra ninguém,
nem nenhuma instituição. Ele é favor, é
a luta pelo funcionamento da justiça. Queremos que ao Poder
Judiciário sejam dadas condições reais e concretas
para que a justiça possa funcionar em sua plenitude. A partir
do instante em que as condições sejam efetivamente
conquistadas, o que não será uma tarefa fácil.
Aí então, seremos vigilantes e atentos na cobrança
dos resultados concretos”.
Conclamando a união de todos, o presidente da OAB afirmou
que o acesso e a distribuição da justiça são
os mais elementares dos direitos humanos. São, da mesma forma,
pressupostos básicos do pleno funcionamento do estado democrático
de direito.
“A luta de agora não se exaure neste ato público.
? Ela continuará até que consigamos o que necessário
for para o funcionamento da justiça. Repetimos p mesmo recado
que, nos anos 60, os estudantes do curso de Direito mandaram às
autoridades da época: até que tudo cesse, nós
não cessaremos”.
TODOS OS SEGMENTOS
Além do ato público, a seccional da OAB enviou um
documento reivindicatório, com exposição de
motivos, ao Governador, ao Presidente do Tribunal de Justiça,
ao Presidente da Assembleia e ao Prefeito de Natal, que se detém
no problema de prestação jurisdicional no Rio Grande
do Norte, particularizando a mudança do Fórum Municipal
para o prédio do antigo Grande Hotel. Essa mudança
trouxe maior deficiência para os serviços forenses,
“face à extrema inadaptação física
aos trabalhos cotidianos dos cartórios, dificuldades de acesso
aos andares superiores, sobretudo às pessoas de saúde
precária ou idade avançada, causando adiamentos de
audiência e ainda maior acúmulo no deslinde dos processos”.
Na exposição de motivos, foi apresentada uma pauta
de reivindicações de caráter emergencial e
para ser cumpr?ido a médio prazo. Em caráter emergencial,
a pauta é a seguinte: 1 – Encontrar local para, provisoriamente,
abrigar as Varas Cíveis e seus respectivos cartórios;
2 – Proceder ao levantamento da lotação ideal
do pessoal cartorário, a fim de que se encontre uma solução,
se possível, com a cessão de servidores de outros
poderes; 3 – Complementar os equipamentos de trabalho; 4 –
Da parte do Poder Judiciário: Correição Geral
com designação de Juízes substitutos para uma
ação conjunta emergencial, visando conclusão
das ações ajuizadas.
A médio prazo o que se pede é apoio à reivindicação
contida no memorial da Comissão Especial designada pelo chefe
do Poder Executivo Estadual para a construção do Fórum
definitivo da Cidade de Natal e informatização do
Fórum Municipal.
OAB
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL
Órgão Oficial de divulgação
da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção/RN
Ano XVI
Governo promete licitação para Fórum
de Natal nessa gest&atild?e;o.
A luta da OAB pela construção do Fórum de Natal
não arrefeceu. A Comissão que trata do assunto tem
se reunido com a comissão técnica encarregada do Projeto
da Secretaria de Transportes e Obras Públicas e mais recentemente
se reuniu com o Governador José Agripino em audiência
que contou com a participação do Dr. Hélio
Vasconcelos, presidente da Seccional RGN. Nesse encontro o Governador
assegurou a construção do Fórum e garantiu
que a licitação da obra sairá ainda na sua
gestão.
Atualmente o Fórum funciona de forma precaríssima
e por isso, a OAB tem persistido em sua luta, que se traduz na defesa
de todos aqueles que fazem a justiça no Estado, em especial
dos advogados e jurisdicionados.
Página 03.
Transcrição do Jornal OAB/Notícias –
Órgão Oficial de Divulgação da OAB/RN
– nov/93.
Maçonaria
Ainda n?os anos 90, fui
convidado por amigos Maçons, com indicaçãode
Ismael Nunes de Carvalho, a participar daquela instituição.
Tivemos a satisfação de ser aceito pela Grandiosa
Loja “Hegésipo Reis”, onde permanecemos até
hoje. Para nossa alegria e surpresa, nos reencontramos com nossa
juventude - Ticiano Duarte, José Perci, Adriel de Souza Lima,
Francisco Véscio Pinheiro da Costa, Armando de Lima Fagundes,
Antônio Guedes, José Ferreira Campos Sobrinho, José
Maria Guilherme, Xenófanes, e o aluno Marcelo Navarro Ribeiro
Dantas e tantos outros.
Prazeres
de uma nova idade
Hoje encontro junto à
minha esposa e filhas, genro, sogra e neta, usufruindo a tranquilidade
de uma aposentadoria necessária mas não desejada.
Por isso, tenho condições de realizar mais um sonho,
o de escrever, contando algumas histórias da minha vida,
caminhada que não termina, apenas se transforma a cada dia,
no decorrer dos obstáculos e prazeres da maturidade e envelhecimento,
não deixando de perder o bom humor, como diz o trovador Juca
Chaves, que canta sabiamente, que “Ser jovem é saber
envelhecer”.
Espaço
para os Amigos
QUE
BOM FALAR DE QUEM É BOM
Que bom falar de quem é bom, nos dias de hoje:
Hélio Vasconcelos, um guerreiro da paz e da harmonia! Um
ser humano que transformou todo o amor que recebeu da Tia, da Mãe
e da Avó, em base de sua essência humana.
Um cidadão que adora ajudar o próximo, com DEDICAÇÃO,
FORÇA, BOM HUMOR e ALEGRIA! Vamos aprender com ele como caminhar
com a liberdade, para aumentar a força de nosso espírito
e de nosso amor.
PARABÉNS meu irmão muito querido! Que Deus te abençoe
como exemplo digno de ser imitado.
Carlos Jansen Vasconcellos
HOMEM
PLURAL
Quando conheci Hélio Vasconcelos, por volta de 1960, o mundo
era mais ameno e se dividia entre os bons e os maus.
Nossa geração escolheu o lado dos bons, naturalmente.
Onde ficavam a esquerda, a esperança, a revolução
sem sangue, armada apenas de ideias transformadoras. Éramos
imbatíveis. Tínhamos “o sol na alma e uma rosa
vermelha na mão.” Enfim, o sentimento do mundo, como
dizia o poeta.
Hélio foi o nosso primeiro guia, sem qualquer intenção
de fazer proselitismo. Aquele que desbravava os intrincados caminhos
da ideologia e decifrava os complexos meandros da política.
Misturando doçura e firmeza, escandindo palavras num discurso
bonito, onde se combinavam poesia, poder de convicção
e uma fé inabalável na humanidade e no seu destino
de liberdade e democracia.
A dialética, o processo histórico, as contradições
do sistema nos conduziriam, inexoravelmente, para um mundo de justiça
e igualdade.
Muito querido por todos, Hélio transitava entre os diversos
matizes da esquerda, era respeitado por alguns setores à
direita e era, fundamentalmente, um humanista que associava o que
havia de melhor no marxismo, no cristianismo, no socialismo e que
sem perceber, gradativamente, criava em nossa geração
sentimentos de fraternidade e solidariedade, impossíveis
de serem rotulados como características de um partido ou
de uma facção. Enfim, Hélio era um homem plural.
Havia uma certa pressa em mudarmos o mundo. Uma outra estrela guia,
Moacyr de Góes, impossível dissociar da pessoa de
Hélio, com o qual compartilhava das mesmas crenças,
juntou-se a nós para implantar as bases do socialismo cristão.
Passamos então a ouvir falar em Maritain, Mounier, Merleu-Ponty,
Charles Peguy.
Nossa dedicação à causa era absoluta, total.
Repudiava-se o estilo de vida burguês (palavrão na
época, ofensa grave). Estávamos sempre disponíveis
para os embates, engajados na luta.
Fazíamos poesia engajada, teatro idem, éramos jograis,
jornalista, alfabetizávamos adultos. Éramos ainda
professores de ensino médio, atletas quando nos sobrava tempo,
participávamos do movimento sindical-rural e urbano-, frequentávamos
os congressos estudantis, participávamos de longas reuniões
políticas, alguns iam à missa aos domingos e, bem,
cuidávamos de fazer os nossos cursos universitários,
que ninguém é de ferro.
Com o golpe militar de 1964 vimos a face dura de um sistema que,
aos poucos, tomava conta de toda a América Latina onde se
tornou um grave pecado lutar contra as injustiças sociais
e pela igualdade entre os homens. Enfim tentaram arrancar os nossos
sonhos com violência crescente, apagar o sol de nossa alma
e pisar na rosa que tínhamos nas mãos.
Nem assim conseguiram destruir a essência otimista e a esperança
incurável que permeava a alma do “Vermelhinho”.
Quem com ele conviveu, àquela época, nos cárceres
da ditadura sabe do que estou falando.
O ano de 1965 foi caracterizado pela diáspora do grupo. Hélio
resolveu pelo auto-exílio no Rio de Janeiro, onde casou com
Hilda, constituiu família e fez uma carreira brilhante, voltada
para os direitos do menor. Continuava o mesmo.
Uma presença fraterna, alegre, sorridente, incansável
contador de casos, de bem com a vida. Permanecíamos sempre
em contacto. Uma amizade indestrutível. Alicerçada
no respeito e na admiração sempre crescentes que nutria
por ele.
Talvez movido pela saudade, por um inexplicável sentimento
que décadas antes chamaríamos de telúrico,
Hélio volta para Natal. De todo o nosso grupo foi um dos
poucos que teve um retomo bem sucedido.
Uma coisa curiosa na personalidade de Hélio: nunca postulou
cargos ou pretendeu fazer carreira político-partidária.
Resolveu ingressar na vida acadêmica, como professor da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Criou a disciplina de Direito do
Menor. Foi Secretário de Educação do Estado,
Presidente da OAB e um nome sempre lembrado como o candidato das
forças de esquerda (ele sempre esteve no lugar certo, em
sintonia com as suas crenças e os seus princípios),
embora nunca tivesse ambicionado ou mesmo planejado tais funções.
Ainda hoje continua assim. Uma pessoa simples, acessível,
sem a percepção exata da enorme influência que
exerce nas pessoas, principalmente naquelas de espírito aberto
que ao conhecê-lo, cativados pela sua integridade, honestidade
intelectual, senso de humor, gentileza, enfim uma pessoa que naturalmente
inspira confiança e afeto. Essas pessoas geralmente tornam-se
seus “grandes amigos de infância. Admiradores. Para
sempre.
Quando penso em Hélio Vasconcelos faço associações
inevitáveis com outras pessoas de sua geração,
unidos por um mesmo fio invisível de inteligência,
irreverência, docemente inconformistas: Omar Pimenta, Berilo
Wanderley, Sanderson Negreiros, Luís Carlos Guimaraes, José
Maria Guilherme.
Outras associações, também inevitáveis:
Djalma e Luís Maranhão, Conceição de
Góes, Mailde Pinto, Leônidas Ferreira, Dinarte Mariz.
Creio que estas evocações que faço da pessoa
de Hélio são compartilhadas por aqueles envolvidos
nas lutas sociais da década de 60: Danilo Bessa, Nei Leandro,
Moacy Cirne, José Arruda, Josemá Azevedo, Francisco
Ginani, Marcos Guerra, Luis Sávio de Almeida, Ivis Bezerra,
Ademarzinho, Marco Antônio Rocha Carlos Lima, Jardelino, Natanias,
Berenice, Tereza Braga, Laly, Joana D’Arc, Salete Bernardo,
Renira, Irma Chaves, Socorro Santos, Josenilda, Denise de Felippe.
João Faustino e Sílvio Procópio, dentre outros,
cuja memória me escapa nesse momento fazendo-me, talvez,
cometer injustiças.
Que Hélio continue esse ser iluminado influenciando, com
seu exemplo de vida, as novas gerações, merecedor
do reconhecimento dos seus pares e da imensa legião de amigos
que formou ao longo do tempo, sempre compartilhando “o leite
da bondade humana”.
Companheiro Hélio Xavier de Vasconcelos: PRESENTE! AGORA
E SEMPRE!
Geniberto P. Campos
ÍCONE
DA POLÍTICA ESTUDANTIL
Somam-se as suas qualidades, o fato de ter sido mais um morador
da Felipe Camarão, aonde não havia lugar para intolerância.
Convivíamos, pacificamente, com árabes que chamávamos
“turcos”, judeus (havia ali a única sinagoga
de Natal), católicos, protestantes, teóricos do integralismo,
um posto da 24ª Circunscrição Militar, um ferreiro,
o último afiador de piano e fabricante de espelho de Natal,
um desembargador, um garoto que seria Senador e um outro, diretor
do Banco do Brasil na Ásia, além e, principalmente,
do grande filósofo Nicácio Barroca, que do alto da
sua banca de conserto de sapatos puxava o seu livro de geografia,
de autoria de Aroldo de Azevedo, já sebento de tanto manuseio,
lendo a parte que se referia às reservas de ferro do Pico
de Itabira, anunciava em discurso enfático a sua plataforma,
caso viesse a ser presidente do Brasil, o que nunca veio acontecer,
para decepção dos garotos que frequentavam o “catecismo”,
como era chamada a sua oficina.
De repente, nós filhos da classe média, moradores
da Felipe Camarão, chegamos a recém criada Universidade
Federal do Rio Grande do Norte.
Como na fábula, alguém gritou “...o Rei está
nu”, com os horizontes da informação elastecidos
pelo viver universitário, diante da injustiça social
e da entrega da soberania nacional e outras mazelas, que hoje se
completam, concluiu-se que o amanhã era agora e, como dizia
uma canção da época da época da “noite
negra” que se abateu sobre o país, “...quem sabe
faz a hora...”. Assim, o movimento universitário através
das suas entidades de classe sacudiu o país de norte a sul,
antes de ser silenciado pelas baionetas, batido, mas não
vencido.
Foi neste caldo de cultura que tivemos o privilégio de conhecer
Hélio Vasconcelos, ícone da política estudantil,
secundarista e universitária, um dos seus mais brilhantes
oradores. Tendo convivido com três dos maiores políticos
do Rio Grande do Norte, Djalma Aranha Marinho, Café Filho,
padrinho de batismo, e Dinarte de Medeiros Mariz, padrinho de casamento,
trazia na sua bagagem a ética e a competência, que
se somavam ao destemor na luta pelas causas que abraçava
e dentre estas, as bandeiras de luta do movimento estudantil brasileiro.
Nas lutas pela soberania nacional pelo petróleo“O petróleo
é nosso”, pelas reformas de respeito à constituição,
na defesa da legalidade, pela justiça social e a auto determinação
dos povos, pela eliminação do analfabetismo –
“De pé no Chão também se Aprende a Ler”,dentre
outras teses em defesa da sociedade brasileira, deu a sua contribuição
na primeira trincheira, com seu fino e irônico humor, a sua
palavra candente, sem demagogia, sem sectarismo porém, com
senso crítico e veemência defendeu com legitimidade
o direito dos brasileiros à liberdade, à dignidade
e ao respeito.
Naqueles melancólicos anos em que a juventude universitária
e a igreja pretendiam uma aurora para o povo brasileiro e recebeu
em troca uma tempestuosa noite de incertezas e negação
aos seus mais elementares direitos, Hélio agigantou-se na
luta contra o obscurantismo, e, embora cassado, perseguido e injustiçado,
sobreviveu aos IPMs, retomando a vida pública e, sem abrir
mão dos seus princípios morais, presidiu a Febem Estadual,
a Secretaria de Estado da Educação, Presidiu a OAB,
tendo sido ainda Conselheiro Federal da mesma, professor da UFRN,
criou e lecionou a Cadeira de Direito de Menor, Maçom atuante.
Hoje aposentado, Vascon ganhou, arduamente, o direito de dizer como
Guevara” ...ai que endurecer, pero sin perder la ternura,
jamais...”; como seu padrinho Djalma Marinho, nos duros embates
para manter a soberania do congresso nacional na época do
golpe militar” ...ao meu rei tudo menos a minha honra...”
e, finalmente, como salmista “...combati o bom combate, encerrei
a carreira, guardei a fé...” e acrescentaríamos
– “não me arrependo!”.
Clementino Câmara Neto
SEMPRE
UM CASO A CONTAR
Há muito se esperava que Hélio reunisse em um livro,
seus discursos, seus trabalhos técnicos e jurídicos,
conferências e suas lembranças. Agora com a colaboração
da sua esposa Hilda e das filhas (Nanaia, Zildinha e Gabriela) este
trabalho está concluído.
Como parte complementar, foram pedidos a alguns amigos, depoimentos
sobre Hélio. Tendo sido eu um dos convidados, considero uma
homenagem e uma honra.
O espaço que temos é relativamente curto e por isso
escreverei apenas uns momentos de nossa longa, cotidiana e fraterna
amizade.
Conheci Hélio, lá se vão 45 anos, quando entrei
na Faculdade de Direito em 1957, e logo nos tornamos amigos, dadas
às afinidades e gostos comuns.
Vivemos a época maisfecunda e brilhante da vida Universitária
do Rio Grande do Norte. Através da vivência política
e cultural, Diretórios Acadêmicos (DA), União
Estadual dos Estudantes (UEE) e União Nacional dos Estudantes
(UNE), que foi a grande escala na formação políticanacional.
Da participação política estudantil para a
luta política Municipal e Estadual, foi um passo e uma consequência
lógica.
Vivíamos a época dos movimentos libertários
de esquerdização, das lutas pela alfabetização,
nacionalismo, etc.
Esse posicionamento gerou a reação das forças
conservadoras, que com o apoio do governo americano, fomentou o
golpe de 1964, instaurando a Ditadura, da qual fomos vítimas.
Presos no mesmo dia, recolhidos no mesmo quartel, vivemos os mesmos
dramas e apreensões, em longos meses de angústias,
ameaças e outros meios de tortura psicológica que
só serviam para maior fortalecer nossa amizade.
Por último quero destacar a nossa participação
na Secretaria de Educação Estadual. Nomeado Secretário,
Hélio sabendo que eu estava em Belém/PA, insatisfeito,
convocou-me para participar de sua equipe, vez que ele sabia da
experiência que tinha da Campanha “De pé no chão
também se aprende a ler”.
Estivemos juntos por mais de três anos, onde um Secretário
de Educação, pela primeira vez visitou todos os municípios
e quase todas as escolas estaduais.
Agora que estamos comemorando seu aniversário, nunca é
demais ressaltar nesta oportunidade, o seu bom humor, o sorriso
aberto, a piada na hora certa, sempre um caso a contar.
E, para terminar, o que seria de Hélio sem o telefone?!
Natal, novembro/2001.
Omar Fernandes Pimenta.
GERAÇÃO QUE SONHOU GRANDE
Hoje, por telefone tentamos reviver a alegria e os riscos que cultivamos
nos bons anos de convivência e amizade, mesmo quando um afastamento
foi imposto, por algum tempo, pela ditadura militar.
Fiquei a pensar como poderia participar das homenagens que familiares
e amigos preparam para seu aniversário.
Queria escrever sem emoção...Impossível. E
as emoções são contraditórias. Em tempos
felizes, vivemos os limites da nossa alegria. Mas, por um tempo,
vivemos também os limites do sofrimento nas prisões
dos quarteis militares.
Você viu a tortura em alguns companheiros e a tortura em um
companheiro foi tortura em todos nós.
Libertado após onze meses de prisão, com a esmagada
e ferida, você saiu digno, inteiro, coerente os mesmos ideais
que defendeu sempre.
Sua luta social ainda se fez sentir em plena ditadura, na Fundação
do Bem Estar do Menor, no Rio de Janeiro, através dos programas
pelos menores abandonados.
Com inteligência privilegiada e bem humorado sempre, você
captava e transmitia o pitoresco e risível dos acontecimentos
que nos cercavam, mesmo quando a vítima era você.
Lembro, certo dia, que nos contou um detalhe de um comício
realizado no interior do Estado. Quando você subiu ao palanque,
na condição de líder estudantil, com todo o
entusiasmo da juventude, ao ser anunciado através do som
vibrante de um alto falante, um gaiato gritou: “É o
bonito!”.
Quantas vezes nos divertimos com este e outros episódios
e cada vez era mais gostosa a gargalhada de Carlos Roberto (Peru),
nosso amigo e companheiro na Secretaria da Saúde.
Agora, Hélio, o tempo de comemorar, com e sentir que sua
geração foi a geração que sonhou grande.
Sonhou e lutou por uma sociedade brasileira humanizada, com justiça
social, educação para todos, liberdade e dignidade,
também nos homens públicos.
O sonho não acabou. Outros o realizarão. Neste seu
aniversário, um grande abraço e “aquela mesma
velha e antiga amizade de antigamente”, como dizia nosso pintor
e poeta Newton Navarro.
Passo você, os versos de A Polari:
“Nossa geração teve pouco tempo
Começou pelo fim
Mas foi bela a nossa procura.
Ah, moça, como foi bela a nossa procura
Mesmo com tanta ilusão perdida
Quebrada.
Mesmo com tanto caco de sonho
Onde até hoje
A gente se corta...”
Mailde Pinto
AMIGO DOCE E DE FIRMEZA IDEOLÓGICA
Uma das características da nossa casa é o gosto pela
discussão e nela, o questionamento. Questiona-se tudo. Às
vezes eu penso que nos almoços de Domingo, quando todos estão
presentes, as discussões tem tanto sabor quanto os alimentos,
ou melhor, as discussões abrem o apetite. As diferenças
afloram e a despeito do amor unindo a todos, há uma disputa
e o gosto de ganhar-se em argumentos os pontos de vista levantados
sobre arte, sobre política e sobre gente. Entre as poucas
unanimidade estão o carinho, a admiração e
o bem querer pôr Hélio Vasconcelos, chamado carinhosamente
pelo nome de “Vermelhinho”. Em uma convivência
quase diária, morávamos no mesmo bairro de Laranjeiras,
Rio de Janeiro. Lá, vivemos os primeiros anos da ditadura,
numa cidade a princípio quase desconhecida para nós,
de início numa semi clandestinidade; aos poucos, isto é,
em questões de dias, tinha-se mapeado os bares mais aconchegantes
da zona Sul, onde se reunia uma moçada bem informada atuante
na vida intelectual da cidade, mais tarde chamada de “esquerda
festiva”. E era, felizmente. Fomos acolhidos carinhosamente
pela cidade e passamos a ser parte dela. Percebemos que a cidade
do Rio de Janeiro, diferente da nossa - Natal, assumia uma postura
crítica e na primeira oportunidade derrotou pelo voto o novo
poder nas eleições para o governo do Estado da Guanabara,
quando elegeu Negrão de Lima, em 1965.
Moacyr e eu, chegamos ao Rio em dezembro de 1964, Hélio chegou
um ano depois. Recém saído da prisão, parecia
mais magro em suas roupas folgadas. Morávamos na rua das
Laranjeiras e ele numa transversal dessa, a rua General Glicério,
acompanhado de Juraci, hospedados em casa de uma tia, Zilda. Zilda,
Juraci e Idália, mãe de Moacyr, eram ligadas por laços
de parentesco e uma amizade de infância. Um parentesco próximo,
um tio comum, cujo filho, Georgenor de Lima Torres era Ministro
Togado do Superior Tribunal Militar. Através dos contatos
familiares, das tias e mãe, fomos visita-lo em sua residência
em Ipanema. Foi muito simpático, defendia ardentemente a
“Revolução”, e chamava os dois de “meus
reforminhas”. As visitas repetiram-se algumas vezes, entre
elas um jantar. Lembro-me que mal saíamos da casa de “Dodô”,
como era chamado pelas primas, entrávamos no primeiro bar,
que ninguém era de ferro. Lá pras tantas, estavam
eles discursando contra o golpe, e um ou outro, com grande cumplicidade
falava: “Homem, oi Dodô”. Não sei o número
de vezes em que nossas noitadas, planejávamos retribuir o
jantar ai Ministro. Tudo esbarrava na expectativa de como poderia
ser um jantar formal, num pequeno apartamento com cinco crianças,
acostumadas a participarem de todas as conversas, da presença
da “moça Ema” (um sofá onde pernoitava
uma vez ou outra algum subversivo rumo a São Paulo). Impossível.
Tudo isso era discutido com um humor, nos salvava da depressão,
visto que todos nós tínhamos muita sensibilidade e
os problemas foram se tornando mais graves à medida que o
golpe perdia terreno político e se isolava na repressão.
Um dia Miguel Arraes chegou ao Rio de Janeiro, refugiou-se na Embaixada
da Argélia rumo ao exílio. Houve um reboliço
nos órgãos repressores. Os jornais noticiaram que
os subversivos continuavam reunindo-se em torno de feijoadas em
conspirações contra a ditadura. As mulheres entraram
em pânico. Uma Filgueira telefonou para Juraci, recomendando
cuidado, Juraci falou com Idália. E lá se foi a nossa
feijoada semanal preparada por Helena, que ouvia com malícia
e cumplicidade as histórias eróticas que Hélio
narrava e, que também a chamava de Helena de Lima, numa referência
à cantora popular. Uma coisa era certa, com o mesmo empenho
com que procurava emprego durante a semana, pesquisava a melhor
dica para a programação do fim de semana. Os bailes
populares. Justificativa; “não podemos perder as nossas
origens populares”. As feijoadas foram retomadas alguns meses
depois. Foram chegando Geniberto e Márcia, Danilo Bessa e
Iradir, Josemá e Joana D’Arc, Nei Leandro e mais tarde
Moacy Cirne. Tinha hora para começar e nunca para acabar.
Pôr isso, Laercio Bezerra, em um Sábado, após
passar na feira e comprar peixe, adentrou na feijoada. À
noite lembrou-se do peixe que havia deixado na mala do carro. Quase
sempre um convidado trazia um outro. Mas, também, Hélio
tinha mania de frequentar o aeroporto. Citava o poeta, dizia que
“tomava lições de partida”. Sabia quem
chegava de Natal e todas as novidades da cidade. Amava a cidade
nas pessoas, era o cicerone das moças vindas de Natal, João
Pessoa; namorou e casou com Hilda em passeio pelo Rio de Janeiro.
A compulsão pela provocação era o laço
que nos unia a todos. Lembro-me de um aniversário, quando
fomos comemorar em um bar de Botafogo, chamado Shinith. Um chope
maravilhoso, música ao vivo, sempre lotado. Moacyr chamou
o garçom e explicando que estávamos comemorando o
aniversário do amigo, solicitava que a cantora oferecesse
uma canção ao aniversariante. Esta ao atender o pedido
quis o nome do homenageado. Moacyr entregou escrito e ela leu alto
ao microfone: “canto esta canção em homenagem
ao Coronel Vasconcelos, que hoje aniversaria”. Foi um silêncio
geral. A orquestra tocou parabéns e a plateia gelada. Esta
era a cidade do Rio de Janeiro. A ressaca foi terrível, todos
ficamos preocupados com o que poderia ter acontecido. Mais arriscado
foi no centenário do Lamas, frequentado desde os tempos da
UNE. Tivemos um convite especial. Era o ano de 1974. À meia
noite depois dos parabéns Danilo, Moacyr e Nei cantaram a
Internacional.
Os antigos diziam que para se conhecer uma pessoa leva-se o tempo
de se comer juntos um alqueire de sal. Acho que comemos mais de
um. Foram quase vinte anos. Desse amigo sensível, quase doce,
cheio de amor para dar, reconheci a firmeza ideológica, a
integridade de caráter, quando pesquisei no Superior Tribunal
Militar, em Brasília, os processos resultados dos IPMs de
1964. Lá estava Hélio, estudante, advogado, assumindo
sua postura política, firme, sem tergiversar. Senti orgulho
de ser sua amiga, de ser parte dessa geração cuja
generosidade ultrapassou a consciência de saber-se finita,
mortal.
Rio, 5 de Novembro de 2001.
Maria Conceição Pinto de Góes.
HÉLIO VASCONCELOS, UM HOMEM NATALENSE
Meu primeiro encontro com Hélio Vasconcelos foi em 1956,
quando, aluno do Atheneu, ingressei no Centro Estudantil Potiguar,
então sob a direção de Serquiz Farkhat e Jurandir
Tahim, ambos seus amigos e liderados na política estudantil.
Iniciamos então uma forte e duradoura amizade que o tempo
somente reforçou nesses quarenta e cinco anos, alimentada
de minha parte, pela admiração, à inteligência
invulgar, a integridade moral, a bravura cívica e o sentido
de solidariedade. Essas qualidades de seu caráter, longe
de torna-lo formal, são realçadas pelo extra-ordinário
senso de humor (eterno contador de “causos” e permanente
alegria que fazem-no um agregador de pessoas. Na época, Hélio,
já cursando a Faculdade de Direito, era o líder inconteste
de uma facção na incipiente política universitária,
que se contrapunha a outra, comandada pelo saudoso Carlos Antônio
Varela Barca. As duas correntes não tinham uma diferença
ideológica clara, sua distinção se fazendo
mais pelas ligações com os grupos partidários
de então (UDN e PSD), tendo a de Hélio, um viés
udenista e uma característica mais boêmia e irreverente
que lhe dava uma aura de simpatia (Berilo Wanderley, Márcio
Marinho, Francisco Fausto, Woden Madruga eram alguns dos componentes
desse grupo).
Ao entrar na Faculdade de Medicina, filiei-me naturalmente à
corrente dentro do Diretório Acadêmico ligada à
de Hélio na Faculdade de Direito (a essa altura já
havia cinco faculdades e Direito liderava). Em 1960, quando cursava
o terceiro ano, ocorreu um fato que me ligou mais a Hélio
e contribuiu para uma modificação no perfil da políticauniversitária
no Rio Grande do Norte, com o iníciodo processo de ideologização,
no qual as esquerdas tiveram uma predominância esmagadora
até o ano de 1964. Tendo havido um acordo entre as duas correntes
no Diretório de Medicina, Edísio Pereira foi eleito
presidente do DA e eu fui indicado para presidência da União
Estadual dos Estudantes em uma possível disputa. Essa união,
de baixo para cima, influiu na aproximação política
dos amigos Hélio e Barca,com a formação de
um grupo político forte, cominfluência em toda a universidade,
o quecontribuiu para minha eleição como candidato
único a presidência da UEE e a de Nathanias Von Sohsten
para a secretaria da UNE. Gradualmente, pelas suas qualidades natas
e com o apoio de Barca, Hélio Vasconcelos tornou-se o líder
inconteste do movimento universitário, no que podemos chamar
o seu período áureo, quando houve a desvinculação
dos partidos tradicionais, coincidindo com a força das esquerdas
a nível nacional, o triunfo da Revolução Cubana,
a criação da Ação Popular vinculada
à JUC, a legalização do PCB e a nível
local, a eleição de Djalma Maranhão com o prefeito
de Natal. Apartir daí esse grupo elegeu, sob a liderança
de Hélio, sempre com ampla maioria os demais presidentes
da UEE ate1964 (Ademar de Medeiros Neto, Marcos Guerra e João
Faustino).
A ação de Hélio Vasconcelos, já advogado,
ampliou-se para o movimento operatório e camponês,
na luta pela reforma agrária e em defesa do direito, refletindo-se
na prisão e a seguir, o “exílio” no Rio
de Janeiro e a natural absolvição pela justiça
militar. Na prisão, embora neófito, seu bom humor
e força de espírito ajudaram os demais companheiros.
No Rio, vivia com o coração voltado para Natal e era
ponto de referência de outros “exilados” como
Danilo Bessa, Moacyr de Góes e Geniberto Campos e os amigos
que aqui ficaram, como eu, criávamos pretextos para revê-lo.Volto
no tempo para recordar uma circunstância que anos depois mudou
sua vida. No período de 1961 a 1964 tínhamos um blocode
carnaval informal, sem nome e sem fantasias, cuja principal finalidade
era realizar “assaltos” em casas de amigos generosos,
onde fazíamos as prévias alcoólico-musicais
até a ida para o Aero e nos últimos anos, o ABC. Grande
folião, Hélio era a alma do bloco, arregimentando
os componentes e organizando os roteiros. Durante os quatro anos,
alguns alternadamente, participaram do bloco: Berilo Wanderley Clementino
Câmara Filho, Danilo Bessa, Emílio Salem Filho, Geniberto
Campos, Hélio Vasconcelos, Ivis Bezerra, Joaquim Fonseca,
José Arruda Fialho, José Lopes Bessa, Leopoldo Nelson,
Luís Carlos Guimarães e Omar Pimenta. Uma das casas
cativas no roteiro, sede informal, era a do casal Inah - Paulo Martins,
figuras alegres, generosas e sobretudo pacientes, pais do “sócio”
Clementino, onde além da bebidae do tira-gosto fartos, havia
duas coisas que nos atraiam: uma deliciosa coleção
de LPs de músicas de carnaval antigas e duas filhas com suas
amigas. Pois foi então em um desses carnavais que Hélio
e Hilda iniciaram uma história de amor que venceu o tempo,
a distância e o que parecia ser, para os amigos, a vocação
celibatário dele. Hilda tomou uma resolução
e o avião, chegou ao Rio e acabou os célebres telefonemas
de orelhão de Hélio. Querida dos amigos, organizou
sua vida pessoal, deu apoio em suas posições políticas
e aglutinou a família, companheira de todas as horas, mãe
de Nanaia, Zildinha e Gabriela, avó de Hildinha.
Este espaço certamente é muito pequeno para testemunhar
o quanto Hélio Vasconcelos influenciou toda a minha geração,
no movimento estudantil secundarista, na política universitária,
nos movimentos populares, nos sindicatos, na OAB, onde foi um de
seus mais destacados presidentes, na vida acadêmica, brilhante
professor do curso no qual se graduou, eficiente servidor público
nos cargos que exerceu, no gabinete do governador Dinarte Mariz,
na Diretoria Geral da Assembleia Legislativa, na secretaria da Faculdade
de Medicina, na recém criada Fundação Nacional
do Bem-estar do Menor, na Secretaria de Estado da Educação.
Em todos os cargos e funções foi amealhando admiradores,
plantando amigos, criando seguidores. Tenho a honra de declarar
que foi uma das pessoas que exerceu influência decisiva nas
minhas ideias e na minha personalidade.
Apaixonado por sua cidade, encarna o espírito da urbee seu
contexto nos anos 50 e60. Instado a responder um questionário
na imprensa há alguns, não tive dúvidas: um
homem natalense, Hélio Vasconcelos.
Ivis Bezerra
MAIS
UM POETA NA PRAÇA
Em tempos de incerteza e guerra, a sigla HXV parece um nome de bactéria
ou vírus. Mas é exatamente o contrário: Hélio
Xavier de Vasconcelos, um natalense de Macaíba, sempre bem
humorado, proprietário de uma inteligência plural,
que espelha e espalha virtudes.
Dentre elas, a enorme capacidade de fazer Amigos. São tantos
que nem ele mesmo é capaz de nominá-los.
Que outras qualidades tem HXV?
- não tem inimigos;
- não é ambicioso;
- não admite preconceitos;
- nunca foi desonesto;
- nunca traiu seus ideais;
- nunca chegou atrasado;
- jamais deixou de atender quem o procura;
- jamais exorbitou noscargos que exerceu;
- jamais faltou à solidariedade;
- etc., etc., etc... (sempre no bom sentido).
Soube se comportar como Líder Estudantil, Camarada, Advogado,
Preso Político, Funcionário Público, Secretário
de Estado, Boêmio, Presidente da OAB, Professor, Pai, Marido,
Filho de Duas Mães (Juraci e Dora), que tanto soube amar.
Em tudo que era e é tem a inicial maiúscula.
Como orador, seu improviso trouxe emoção e fez lembrar
os comícios, batizados, casamentos, aniversários,
mesas de boteco.
Taí um sujeito bom! Não sei se ele vai gostar do apelido,
mas pra mim ele é um Poeta.
Danilo Bessa.
DIGNIDADE
E FIRMEZA DE CARÁTER
Quando tive meus primeiros contatos com Hélio Xavier de Vasconcelos,
nos anos de 1960 e 1961, já o conhecia à distância.
Nos palanques de memoráveis campanhas políticas. Hélio,
o orador brilhante e inflamado. Hélio, o memorável
estudante da velha e gloriosa Faculdade de Direito da Ribeira. Foi
lá que nossa amizade iniciou sua trajetória. Amizade
que se solidificou nos cárceres dos Quartéis da Polícia
Militar e de Regime Militar de 1964/1965.
Figura símbolo de uma juventude que nada temia porque sabia
o seu rumo. Hélio muito representou, naquela época,
para a solidificação dos ideias que serviram de bússola
para a minha vida. Ao lado do inesquecível Luis Maranhão
Filho, demonstrou lições inesquecíveis de dignidade,
firmeza de caráter.
Vítima da repressão insana do golpe militar de 64,
Hélio jamais deixaria de lado, na prisão, o seu bom
humor, que a todos trazia ânimo para a luta, e esperança
de dias melhores.
Secretário de Estado de Educação durante vários
anos, teve seus atos circunscritos e uma rígida conduta de
seriedade. Ao deixar o cargo, estava mais pobre do que quando assumiu.
Narrar os seus exemplos de filho, esposo e pai devotado, de bondade,
de coragem cívica e lealdade testemunhados pelos muitos anos
de convivência e amizade sincera que nos une, não caberia
nesse pequeno espaço.
Hélio Xavier de Vasconcelos é um nome que o Rio Grande
do Norte sempre respeitará.
Tê-lo como amigo é um privilégio.
Natal,
20 de outubro de 2001.
PAULO
FRASSINETI DE OLIVEIRA
TENACIDADE INACREDITÁVEL,
NUNCA ABANDONANDO O CAMPO DE LUTA
Em 1964, ano sombrio para a História e a Democracia brasileiras,
tive a oportunidade de conhecer o nosso querido e estimado amigo
HÉLIO XAVIER DE VASCONCELOS. Face às circunstâncias,
posso afirmar que não foi um conhecimento, que possa se chamar
de prazeroso ou mesmo alvissareiro; isso porque o nosso amigo encontrava-se
encarcerado no Hospital da Polícia Militar do Estado improvisado
em “Prisão Especial” para aqueles presos políticos
que detinham formação superior e tinham direito a
tal prerrogativa legal, por muitos incautos confundida com privilégio.
Eu, de minha vez, menino de apenas onze anos de idade, que tivera
o que deveria ser uma infância tranquila, interrompida e atormentada
pelo golpe Militar, via-me obrigado a comparecer diariamente à
prisão, a fim de, por duas vezes, levar a alimentação
do meu pai, também encarcerado, que, enfermo, tinha que receber
alimentação preparada em casa, por recomendação
médica. Foi assim, nesse ambiente totalmente desfavorável,
que conheci o nobre amigo.
Mesmo criança, a minha percepção de infante
já me convencia tratar-se HÉLIO de pessoa boníssima,
educada, afável, incapaz de praticar o mal a quem seja. Inofensivo
física e mentalmente me pareceu na época, e até
hoje cada vez mais mantenho ferrenha tal convicção.
A longa convivência a cada dia mais me evidencia a sua grandeza.
Soube depois que, libertado e sem condições de aqui
permanecer, a exemplo da tantos outros, face às iníquas
perseguições de adversários declarados e disfarçados,
mesquinhos ambos, foi para o Rio de Janeiro tentar nova vida, ali
firmando-se e se destacando, como aliás, se firmaria e destacaria
em qualquer lugar graças aos seus inegáveis predicados
e competência.
Somente com a sua volta à nossa terra éque, já
nesse estilo da vida que apelidamos idade adulta, é que reatamos
o nosso relacionamento iniciado em situação ao mesmo
tempo difícil e insólita. Para nós foi gratificante
constatarmos que o nosso amigo, se houvera mudanças em sua
pessoa, fora para bem melhor do bom que já era antes. A experiência
vivida em cidade grande, o casamento, a esposa, as filhas, a imperiosa
necessidade de superação das agruras e das pedras
do seu caminho, temperaram o seu bom caráter, solificando-o.
As humilhações, os sofrimentos, as dificuldades, a
constatação amarga de quão é maléfica
a humanidade, longe de o tornarem uma pessoa amarga, agressiva,
recalcada ou ressentida, tornaram-no mais humano, benévolo,
condescendente, grandioso. É como se uma flor brotasse de
um terrível pântano ou de um estéril e árido
deserto.
Acompanhei a trajetória de HÉLIO como Secretário
de Educação, manifestando a grata satisfação
pelo seu desempenho. Naquela casa, além de administrador
sério e preocupado, revelou-se um comunista democrático,
afável, amante do diálogo e das soluções
negociadas. Paradoxalmente, mostrou-se um comunista que, a exemplo
de tantos outros, não mudou da água para o vinho tão
logo passou a governo e arranjou um emprego, diferentemente de tantos
ignóbeis exemplos de falsos ideólogos das teorias
de Marx que, alçados-se ao poder, viram ferozes reaças,
apologistas do capital e ávidos carreiristas, que renegam
sôfrega e descaradamente o seu passado e companheiros de luta.
Desses oportunistas, áulicos do sistema que diziam combater,
temos no Brasil, no Rio Grande do Norte e em Natal inúmeros
e maus exemplos. Nessa torpe camarilha, não se enquadra o
nosso amigo HÉLIO. Os professores da rede pública
estadual são testemunhas insuspeitas.
Nossa aproximação maior deu-se em virtude das afinidades
que temos nas lutas da OAB, entidade para a qual voltamos os nossos
melhores esforços, tanto pela sua luta em defesa da redemocratização
do País, que a fizeram instituição das mais
acreditadas, quanto pelo seu denodado embate em favor da Constituição
e da Justiça, sobretudo da Social. Nossa comunhão
de pensamento e de esforços fortaleceu e muito a amizade,
que já se faz duradoura. Fizemo-nos companheiro de HÉLIO
em diversos mandatos na OAB/RN. Enfrentamos juntos grandes e adversas
lutas. Testificamos o seu desprendimento em favor dos desassistidos,
jamais tergiversando dos seus princípios ou recuando diante
das adversidades.
Mas não podemos deixar de citar um traço marcante
da figura do nosso querido amigo, que se revela longe das preocupações
do trabalho. No bate papo despreocupado das mesas de bar ou restaurante,
ou em viagens onde desfrutamos da sua agradável companhia,
HÉLIO é descontraído e exímio contador
de causos. Com seu jeito simples e agradável descontrai os
circunstantes de qualquer ambiente, divertindo a todos com a sua
conversa simpática, sendo por isso mesmo avidamente requisitado
pelos amigos. Tem uma memória prodigiosa, que nos embevece
e extasia quando nos brinda com os seus ímpares conhecimentos
sobre a nossa história recente, sobretudo política,
contando com a sua forma toda peculiar e engraçada os fatos
marcantes da luta política e dos bastidores, evocando saudosamente
a memória do velho Dinarte Mariz, fugira que, segundo conta
foi o reacionário que mais protegeu os comunistas do Rio
Grande do Norte. Histórias como a do saudoso Mestre João
Medeiros, que, sob os efeitos dos vapores de Baco, dizia que a política
do velho Dinarte era política dos homens, isso porque Dinarte
gostava de mulheres, Djalma Marinho de jogo e ele de beber.
Posto aparentemente frágil, pela sua magreza de pessoa, Dr.
VASCON, como carinhosamente o chamamos, é de uma tenacidade
inacreditável, nunca abandonando o campo da luta. Sua fragilidade
física é inversamente proporcional à força
e densidade do seu caráter. De par com um trato afável,
gentil e educado nas relações com as pessoas, sobretudo
as mais humildes, revela-se um caráter denso, indestrutível,
cinzelado na sua formação humanística e jurídica.
A leveza do seu ser fulgura pela consistência da sua inabalável
coerência, atributo que faz desse Macaibense de boa cepa um
dos melhores e maiores e mais belas figuras produzidas no Rio Grande
do Norte.
Homem ameno, bom caráter, bom coração. Bom
filho, excelente pai e bom marido. Eis o HÉLIO VASCONCELOS
que conhecemos e nos dá orgulho da amizade.
É esse sincero testemunho que tenho a oferecer.
Caio Graco Pereira de Paula.
LUTA
EM FAVOR DA EDUCAÇÃO
Atendo o telefone. É Hilda Vasconcelos. Diz que junto com
as filhas Nanaia, Zildinha e Gabriela, preparam uma coletânea
de depoimentos sobre Hélio Vasconcelos, “o vermelhinho”,
e pede a minha participação, o que para mim é
uma honra desmedida.
Vamos lá. A primeira lembrança que me ocorre é
das belas manhãs do 1° semestre do ano de 1982. Curso
de Direito da UFRN. Setor de Aulas I. Disciplina Direito do Menor.
Professor Hélio Vasconcelos, recém chegado do Rio
de Janeiro com a família e assumindo essa cadeira, por sinal
criada exatamente para ele, dentro do seu perfil de ex-assessor
jurídico da FUNABEM, órgão nacional responsável
pela política do menor no país.
Aulas maravilhosas, ilustradas. Pela primeira vez se via um professor
participar efetivamente das atividades dos alunos, levando a todos
para visitar as repartições menoristas no Estado,
trazendo especialistas da área psicopedagógica até
nós. Uma sensação. Uma nova postura em sala
de aula.
Ano seguinte, estou em casa e liga-me o Prof. Hélio Vasconcelos.
Queria a minha colaboração em um projeto para o qual
estava sendo convidado a colaborar, o da Profa. Wilma Faria, que
assumiria a Secretaria de Trabalho e Bem Estar Social, no primeiro
governo de José Agripino Maia. Dizia que junto comigo iria
também o meu colega de faculdade e amigo Alexandre Macêdo,
hoje conceituado publicitário.
Na ocasião, lhe fiz ver que a responsabilidade era muito
grande até porque não tínhamos nenhuma intimidade,
salvo as relações de aluno-professor dos bancos da
faculdade. Ficou de retomar a ligação, e desta feita
o fez para convidar-me para assessorá-lo já na FEBEM,
órgão para o qual havia silo chamado a presidir. Aceitei.
Assumiu Hélio Vasconcelos a FEBEM em março de 1983,
em companhia de outros convidados para a sua equipe, como por exemplo,
Delma Lúcia, a médica Lúcia Santos (equipe
da Saúde), Donária, Pedro Sérgio, Cássia,Letícia,
e eu, além de outros mais que a memória não
me ocorre, e daí então verdadeiramente tratou de revolucionar
a instituição FEBEM. Pela primeira vez no Estado o
menor passou a ter sua vez e lugar. Passou-se a respeitar, antes
mesmo da Constituição de 1988 e do próprio
ECA, a pessoa do menor, a despeito das críticas maledicentes
de muitos à época, todas retrógradas, pois
o próprio tempo tratou de confirmar.
O destino, porém, tinha traçado outras linhas mais
“generosas” para o Prof. Hélio Vasconcelos, embora
não menos grandiosos os encargos da FEBEM. Por convocação,
assume ele a Secretaria de Educação e Cultura do Estado
do Rio Grande do Norte, em novembro de 1983. Junto, vou eu ser o
seu Chefe de Gabinete, além de outros companheiros também
da FEBEM, como foi o caso de Ozik, o nosso grande “condutor”.
Foi na Educação, sem dúvida, que o Professor
Hélio Vasconcelos, continuamente ao lado das aula da UFRN,
prestou a sua maior contribuição ao Estado do Rio
Grande do Norte. Sem medo de errar, posso afirmar que foi ele o
seu maior Secretário. Moderno, aberto, participativo, inovador,
dinâmico, enfim, democrático no sentido mais substantivo
da expressão.
Ao lado da expressiva figura do “Professor Omar Pimenta”,
seu velho amigo das hostes populares, das lutas de Djalma Maranhão,
notadamente a “campanha de pé no chão também
se aprende a ler”, Hélio Vasconcelos praticamente andou
por todo o Estado do Rio Grande do Norte. Quero crer, sem erro,
que não há um lugarejo neste estadosequer listado,
pelo menos uma Escola Pública, aonde Hélio e Omar,
não tenham visitado, sempre levando uma resposta possível
do governo aos pleitos educacionais. Para a minha honra, inclusive
curricular, estive presente em algumas dessas viagens, todas elas
conduzidas pelas firmes mãos de Ozik, motorista do Secretário.
São muitas histórias que teria para contar dessenotável
homem HélioVasconcelos. Particulares e públicas. Embora
ambas se confundam. Lembro-me desde o começo, da época
da FEBEM, quando saíamos em “passeata” para alguma
“tertúlia cívica”, regada a bons porres
e “causos”, com a complacência não cerimoniosa
de Dr. Hilda, para quem sempre me teve como um filho. Na Educação
não foi diferente, embora tenha sido levado a desembarcar-me
da sua nau antes de findo o mandato de Secretário, pelas
razões que o meu instante atual justifica.
Mas pude, mesmo não tão perto assim, acompanhar a
bela obra pública ensaiada e concretizada pelo Professor
Hélio Vasconcelos. Sou seu fã, e posso dizer discípulo
e porque não, com a permissão de, primeiro a minha
mãe, D. Maria, depois de D. Hilda, D. Juraci, Nanaia, Zildinha
e Gabriela, seu filho também, mesmo arremedado, daí
por que me sinto acanhado em mais dizer.
É um homem de bem, probo, inteligente, solidário e
amigo. Por onde passou, desde a cadeira, e em liberdade, por toda
a carreira política perlustrada, e por último como
bravo e guerreiro Conselheiro Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil, assim provou ser. Embora pobre materialmente, possui a riqueza
que um ser humano pode ostentar: a dignidade e a probidade, duas
características tão ausentes nos dias de hoje nos
homens.
Queira Deus permita que o Prof. Hélio Vasconcelos viva muitos
anos mais, pois só a sua presença entre nós,
por si só nos conforta e aleta, representando tudo aquilo
para quem um dia Vulpiano Cavalcanti declarou: “a liberdade
é o mais alto degrau da honraria que deve ostentar o seu
humano”. E por isto lutou Hélio Vasconcelos.
Parabéns D. Hilda, filhas e neta. Viva a liberdade. Viva
Hélio Vasconcelos!
Virgílio Fernandes de Macêdo Júnior
Juiz de Direito em Natal e Professor da UFRN
LIÇÕES
DE VIDA
Conheci
o Professor Hélio Xavier de Vasconcelos em 1986 quando cursava
o segundo ano do Curso de Direito da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
O professor adentrou a sala de aula para ministrar a disciplina
Direito do Menor. Naquela época o Professor Hélio
ocupava o cargo de Secretário de Estado, mais precisamente
o cargo de Secretário de Educação e Cultura.
Aquele homem à época, já detentor de alguns
cabelos brancos e de porte esguio impressionava a todos pela postura
simples e linguagem acessível a todos, fugindo totalmente
aos padrões rebuscados de alguns mestres que ali exerciam
o magistério.
Talvez tenha sido essa simplicidade que me tenha feito admirar o
Professor Hélio Vasconcelos. Pouco poderia imaginar que a
partir daquele dia o referido professor faria parte da minha caminhada
acadêmica e jurídica. Com pouco mais de quatro meses,
que conheci o Professor Hélio, a sua monitora na Universidade
colou grau, consequentemente surgiu a vaga para Monitoria de Direito
do Menor, a qual inscritos alguns candidatos, fui o aprovado para
ocupá-la. Tive a honra de ocupar a referida monitoria durante
quase quatro anos, sempre tendo o apoio do professor Hélio.
Jamais esquecerei o dia em que o Professor Hélio me pediu
para ministrar uma aula sobre adoção simples e adoção
plena e ficou ele a assistir a referida aula, ao seu término
passou a elogiar a aula e disse aos seus colegas: “hoje nasceu
um grande professor”. Confesso que fiquei lisonjeado com as
suas palavras, posso dizer que a partir daquele dia fiz de tudo
para me aprimorar no magistério, não sei se sou um
grande professor, só sei que aquele elogio me serve até
hoje como estímulo em cada aula que ministro. Passei a lecionar
como estagiário nas escolas públicas e no fundo estadual
de educação, tudo isto conseguido com a intervenção
do Professor Hélio, que sempre, confiou no meu trabalho e
me deu a mão nos momentos difíceis que passei.
Poucos são os homens públicos que já ocuparam
cargos de certa relevância neste País e, souberam honrar
esses cargos e não enriqueceram ilicitamente. O Professor
Hélio se encontra entre estes homens. Talvez alguns pensem
que o Professor Hélio tenha pago um preço alto pela
sua ideologia de vida, no entanto, quem o conhece de perto, sabe
dizer que os verdadeiros homens não pagam preço algum
quando são íntegros, honestos e justos, pelo contrário,
a sociedade é quem deve agradecer a existência desses
homens, pois são eles os verdadeiros detentores da moralidade
administrativa tão propagada nos discursos vazios de alguns
administradores desse País.
Posso afirmar com toda convicção que o verdadeiro
professor é aquele que além de ensinar o conteúdo
programático da disciplina, também é capaz
de dar lições de vida que se possa usar no cotidiano,
pois bem, o Professor Hélio é um desses mestres. Sempre
nos passou lições de bom filho e bom esposo.
Por mais que eu queira, não posso falar tão bem do
meu pai, que os percalços da vida não deram a oportunidade
de um relacionamento tão próximo, no entanto, com
o decorrer dos anos, chegada a minha maturidade, não mais
poderia contar com o apoio do meu pai, haja vista não mais
encontrar-se neste plano terreno.
Cheguei à conclusão de que na vida não existe
coincidência, ninguém conhece ninguém por acaso.
Vejam só: o Professor Hélio sempre foi e é
um defensor da adoção, sempre disse que é um
gesto nobre quem a pratica. Realmente, não existem coincidências:
foi em uma aula sobre adoção que fui elogiado pelo
Professor Hélio e, sem sombra de dúvidas me considero
seu filho adotivo, pois o verdadeiro pai é aquele em quem
nos espelhamos.
Não tenho nenhum momento para me queixar ou reclamar da vida,
Deus sempre colocou-me pessoas certas nos momentos certos em minha
vida, uma dessas pessoas é o Professor Hélio Vasconcelos,
a quem sempre presto as minhas homenagens e gratidão, desde
a época da universidade, tanto é que a nossa turma
de concluintes de Direito, a unanimidade de votos, lhe prestou a
homenagem mais do que justa, conferindo-lhe a turma o seu nome.
É a esse homem simples, humanos e generoso a quem devo grande
parte de minhas vitórias profissionais e pessoais, a ele
dedico toda a minha gratidão e tendo as minhas homenagens
pelos ideias que sempre lutou e continua lutando...
Jarbas Antônio da Silva Bezerra
Juiz de Direito
POSTURA ÉTICA INCORRUPTÍVEL
Parece simples para eu falar sobre Hélio Vasconcelos. Ele
é uma figura presente em minha vida, desde minha infância,
quando ainda era só amigo dos meus irmãos. Sua presença
aumentou quando, na minha opinião de adolescente, roubou
minha “NININHA”,irmã mais velha que me educou
até os 10 anos.
Naquela idade, era difícil imaginar que não estava
“perdendo” minha irmã querida, e sim “ganhando”,
além de um “cunhado”, um “futuro compadre”,
um “conselheiro”, um “cúmplice”,
um “Advogado de defesa”, além de um “futuro
paciente eventual”, “títulos” estes que
foi conquistando ao longo de nossa convivência, pela maneira
cativante que sempre tratou a todos.
Recentemente, galgou uma sétima “graduação”
para o meu “currículo”, quando, segundo alguns
desinformados, cometi o “ato incestuoso” de desposar
sua segunda filha, passando a tê-lo como “sogro”.
E, desde já, para não ficar nos “sete títulos”
- conta de mentiroso -, quero acrescentar a nossa “sociedade”
de consumo de milhares de litros de Cerveja, whisky, cachaça
(não tinha essa babaquice de pinga, não), acompanhados
de exóticos e deliciosos tira-gostos (ele é “Mestre”
nessa matéria, também), nos diversos bares, restaurantes,
barracos de praia e nas bandas da vida, que frequentamos em qualquer
cidade onde temos ido juntos, ao longo de sua “caminhada”.
Mas o que quero dizer é que, diante das mais diversas e inusitadas
experiências em comum, mesmo quando tomou conhecimento do
seu “futuro genro” – aproveitando para esclarecer
àquelas pessoas que incesto é uma coisa e consanguinidade
é outra, apesar do primeiro se uma forma condenável,
em nossa cultura, desta última -,pude observar nele, ratificando
o que sempre vi e continuo vendo, uma obstinada preocupação,
quase compulsiva, em atender a toda e qualquer pessoa que já
lhe procurou e ainda procura, mesmo em detrimento seu, no convívio
de seus familiares.
Vale salientar que, apesar da recíproca não ter sido,
na maioria das vezes que tenho conhecimento, sequer equivalente,
o meu “Helhinho” tem-se mantido “pronto”
para “dar a outra face”, ou a outra mão, a quem
quer que seja, gratos e ingratos aos seus favores, esquecendo do
dito “uma mão lava a outra”, não prestando
sequer atenção ao fato de que está lavando
as suas próprias, há algum tempo.
Outra característica sua, igualmente admirável, é
a sua postura ética e incorruptível. Tai uma coisa
que ninguém jamais poderá questionar. Ele conseguiu
passar pelo “Poder”, entrar, permanecer e sair, com
as mãos e a cara limpa. Faculto-me o direito de não
ser mais claro. Seus amigos verdadeiros e parentes mais chegados
sabem disso. Inclusive como Advogado, mesmo após sua aposentadoria,
continuou atuante, individual ou coletivamente, sem auferir um centavo
a mais do que o que está impresso em seus contra-cheques.
Muitas vezes, até tirou “do seu”, para cobrir
pendências inesperadas do seu exército filantrópico
da Advocacia.
Coisas do “Dr. Hélio”. Mesmo quem não
o conhece, mas foi beneficiado por seus atos administrativos e jurídicos
tem algo a falar, e de bom, sobre ele. E é por isso que não
acho fácil falar sobre ele sem correr o risco de ser redundante.
Prefiro continuar vivendo ao seu lado, agora como genro, cunhado,
compadre, cúmplice, cliente, médico, aconselhado,
sócio e, agora, pai de seus primeiros netos. Mesmo que nossas
profissões não permitam tempo disponível para
nosso convívio. Mas isso também pode ser resolvido,
com a eficiente, incansável, ininterrupta, interminável
e indefinível atuação de nossa Hildinha, e,
daqui a algum tempo, o (a) irmãozinho (a) dela, que chegará
em breve, na curtição do “vovô PURUKO”.
“Helhinho”, quando eu crescer, quero ser igual a você.
Receba meu abraço e meu beijo,
Joê.
UM
DEPOIMENTO PARA HÉLIO, MEU CUNHADO, COMPANHEIRO E IRMÃO
Hélio
Xavier de Vasconcelos é uma dessas raras pessoas, que deixam
marcas na sua trajetória pela vida.
Conhecido e respeitado pela firmeza de caráter. Hélio
demonstrou desprendimento na defesa dos ideias que sempre pautaram
sua concepção de mundo, em alguns momentos mais difíceis
da nossa história política dos últimos quarenta
anos.
Desta forma, ao assumir elevadas funções na Fundação
do Bem Estar do Menor no Rio de Janeiro, na Secretaria de Educação
do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, na Ordem dos Advogados,
Maçonaria, a Assembleia Legislativa, na Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, atuou sem antagonismo. Demonstrando seus
inegáveis dotes de articulador, bem como respeito pelos direitos
cidadãos.
Dono de grande coragem moral, manteve sua posição
progressista durante os Anos de Chumbo, optando pela legalidade
apesar das pressões que sofreu, servindo de exemplo para
muitos.
Na vida em família suas características mais marcantes
são o bom humor, a generosidade e o desprendimento, fazendo
dele um excelente filho, esposo, pai, avô e amigo.
Hélio é um homem de bem, com certeza.
Natal/ Outubro/2001
Luiz Martin da Silva Sobrinho
RESERVA MORAL
Muita gente amiga conhece a vida do Hélio em Natal, fazendo
constar, neste livro, seus depoimentos; dados e “causos”
que bem retratam toda sua existência. Procurei relembrar,
em notas, o que, na medida do possível, poderiam ser acrescentados
à obra que agora se publica; refiro-me somente ao nosso convívio
aqui no Rio de Janeiro, no qual deu para que eu enxergasse:
a) Seu apego à instituição “FAMÍLIA”.
Comprovado no amparo material e social que ele e sua esposa (minha
irmã Hilda) deram às suas ancestrais, vovó,
Elisa, mamãe Doralice, tia Juraci e prima Zezé, sempre
que elas recorrem a eles, até seus falecimentos. Daí
não ser surpresa para mim o Chefe de família íntegro
da forma que até hoje mantém seu lar. A solidariedade
e abnegação que ele mantém em seu círculo
familiar, estende, de bom grado a amigos e até, quando é
o caso, a pessoas que não privaram nem privam de sua amizade.
b)
Seu desprezo ao subalterno sentimento do “ÓDIO”.
Se o tem ou teve, desconheço. Sinceramente, nunca presenciei
uma rixa ou agressão provocada por ele. Testemunhei sim,
sua grandeza de espírito, ao se negar seguidas vezes, em
conversas que tínhamos, a apontar seus algozes, provocadores
da suspensão de seus direitos de cidadão, ou, pelo
menos, indicar quais os falsos “amigos” que contribuíram
com delação ou injúrias, que redundaram em
seu encarceramento no período de trevas que o país
viveu durante o abjeto regime militar.
Quis o destino que, mesmo sem comungar com as ideias reacionárias
implantadas naquele período, ele contribuísse comseu
talento e seu saber jurídico com o trabalho da equipe que
procurava recuperar menores despossuídos que viviam na marginalidade,
na cidade do Rio de Janeiro. Acatado e respeitado na Fundação
Nacional do Bem Estar do Menor - FUNABEM, tanto por seus diretores,
quanto por seus companheiros e menores infratores que se ressocializavam
naquela instituição. Assim era o Hélio, da
FUNABEM.
c)
Após pouco mais de doze anos de Rio de Janeiro, decidiu que
seu lugar era a cidade em que nascera. Decisão tomada, decisão
executada. Quando ponderei as possíveis dificuldades de adaptação
no lugar em começara sua luta pela vida, pautada, como sempre,
na honestidade e na solidariedade, ele me respondeu; parafraseando
um homem público (cujo nome foge minha memória) -
NO CAMINHO DA VOLTA NINGUÉM SE PERDE. Tive minhas dúvidas,
mas, pelo que percebi, ele estava certo em sua decisão.
d)
Bem acolhido, em face de seu passado e seu estilo de vida, galgou
postos na administração municipal, estadual e federal,
na terra que o projetara.
Verifique-se
que essa vilegiatura de homem público em nada contribuiu
para mudar sua mentalidade, forjada nas lutas de oprimidos contra
opressores, desde suas lutas estudantis.
Isso em nada lhe diminuiu. Pelo contrário. Deu-lhe uma estatura
maior. Sua conduta exemplar permitiu que anõezinhos que vivem
sob o lema “FORA DO PODER NAO HÁ SALVAÇÃO”,
não o sentindo como concorrente, procurassem em conversas
do tipo - conversas de botequim ou de alcova - chamá-lo de
“Reserva Moral”. Ouvi isso aí em Natal, no ano
de 1999; com todo respeito, observei junto a meu interlocutor: -
porque não “Titular Moral”? Qual a moral de quem
o classifica assim? - falei sem rancor nem ironia.
Sei que as relações incestuosas do poder facultam
aos que estão no poder atribuir títulos abstratos
as pessoas de bem que não lhe criam obstáculos. Dão-se
até ao desfrute de outras abstrações, também
medíocres e provincianas, tais como: “Caráter
Sem Jaça”, “Senhor Simpatia”, “Figura
Impoluta”, “Grande Homem”, etc. Isso porque vi
contemporâneos do “Vermelhinho” usufruindo as
“benesses” de cargos de confiança daqueles que
antes lhes faziam oposição de forma torpe, e não
raros casos usavam de delação para derruba-los e alcançar
seus objetivos.
Quanto se “está Poder”, esse “Poder”
inserido no sistema ainda vigente, apoiado por uma milícia
de marqueteiros e por uma gendarmeria assalariada, não se
precisa falar em moral ou caráter. Amparados no corporativismo
empresarial, na imunidade e/ou impunidade parlamentar, continuarão
a usufruir com naturalidade da utilização do dinheiro
do contribuinte, da dilapidação do erário e
outras transgressões imorais. São os “TITULARES
DA IMORALIDADE”.
Conseguem escapar de CPIs, sejam da listagem de propinas de qualquer
espécie, sejam de quaisquer escândalos.
e) E o lado lúdico do Hélio. Incluem-se nisso seu
gosto acurado pela música popular brasileira; mas suas leituras
eram ecleticamente internacionais, incluindo-se nisso a prosa e
o verso de autores brasileiros e estrangeiros, desde que fossem
de boa qualidade e se voltassem para temas sociais. Além
da Cultura Popular propriamente dita.
Ainda nessa vertente de pesquisador de tipos populares, nunca seria
demais reconhecer no “Vermelhinho” seu conhecimento
científico das partes calipígias das mulatas carnavalescas
da cidade do Rio de Janeiro. Meu amigo parece que fez curso regular,
fez mestrado e doutorado no assunto em que falo. Autodidata, se
assim o disser, eu desconfio. Capaz de ter feito pelo menos um bom
CURSO DE MULATOLOGIA POR CORRESPONDÊNCIA, tal era a desenvoltura
e propriedade com a qual dissertava, dobrinha por dobrinha, as curvas
de qualquer afro-brasileira que víssemos em Blocos-de-Sujo,
Escolas de Sama ou shows.
Quisera ter sua competência na matéria, para falar
no todo ou nos pequenos detalhes, enxergados com precisão
cirúrgica e também com vibrante emoção
pelo Hélio. Ao ver os conjuntos carnavalescos ou shows de
samba, começava a LITURGIA da boa descrição
das figuras que mais se destacavam, ou seja baixava o santo do Caboclo
Papa-KK.
Sempre era uma descrição circular, começava
pela bunda e terminavam ora, por onde? Pela bunda! Era a própria
dialética da bunda. Às vezes eu procurava alguém
para superá-lo. Ao incauto que se metesse a competir com
o “Vermelhinho”, vinha-me logo à cabeça:
a ignorância nesse cidadão abunda.
Enquanto a bunda, na descrição de nosso Mestre Xavier
ganhava outro “status”, isto é; a bunda sempre
se tornava mais bunda quando dissertada com erudição
Vasconceliana.
MANOEL
PELA
RUA DA AMARGURA
Berilo Wanderley
(Hélio Xavier de Vasconcelos)
Comprido,
curvo, estrábico, esquelético
Não só causa arrepios – causa horror!
Tão raquítico, assim, e tão sintético,
É o símbolo da Fome, sem favor.
No horário do namoro, é aritmético.
Não falha e nem atrasa. É de valor!
Ganhou, por isso, o cargo apologético
De Funcionário Público do Amor.
Discursando, é um atleta nas arenas;
É um orador de múltiplos recursos;
Um Ruy Barbosa de ambições serenas...
Mas, logo as cousas mudarão seus cursos,
Pois, ao lado da noiva, é a noiva apenas
Que tem direito de fazer discursos! ...
COMENDAS
E HONRARIAS
- Comenda do Mérito Tavares de Lyra, de acordo com a Lei
n° 156, de 14.11.1983, Título conferido pela Prefeitura
Municipal de Macaíba-RN, pelos grandes serviços prestados
àquele Município, em 24.10.1984:
- Grau de Comendador, Diploma que lhe foi conferido pelo Tribunal
Superior do Trabalho, de acordo com a indicação do
Conselho da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho,
por resolução de 11 de novembro de 1970 e de 23 de
agosto de 1972, em Brasília-DF, 11 de agosto de 1993.
O
AUTOR
Hélio
Xavier de Vasconcelos nasceu em Macaíba/RN, a 26 de novembro
de 1932, no Sítio “Mangabeira” dos avós
maternos Elisa e Elviro Xavier, transferindo-se, ainda criança
para a residência dos avós paternos Anita e Cirineu
Vasconcelos, em Natal, onde foi criado e educado.
Formação: Curso Primário - Colégio Salesiano
São José, na Ribeira, em Natal:
Curso Ginasial e Clássico - Colégio Atheneu - Norte-Riograndense,
na Av. Junqueira Ayres, Cidade Alta;
Curso Superior - Bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte- UFRN - 02.03.1961;
Advogado - Inscrição na OAB-RN n°163;
Certificado de Frequência e Aprovação no Curso
de Mestrado, Seção de Direito do Trabalho, pela Faculdade
de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro -10.11.1976;
Certificado de Frequência e Aprovação no Curso
de Doutorado, Seção de Direito do Trabalho, pela Faculdade
de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro - 12.12.1977;
Atividade Profissional: Professor Titular da Disciplina de Direito
da Criança e do Adolescente do Curso de Direito da UFRN,
da qual foi o autor do Projeto de Criação e Inclusão
no Currículo do Curso de Direito do Centro de Ciências
Sociais e Aplicadas, a partir de 10.07.1981, de acordo com a resolução
n° 175/81 do CONSEPE-UFRN, no período de 1981 a 1999,
quando aposentou-se.
Casou-se com Hilda da Câmara Martins de Vasconcelos, nascendo
da união suas três filhas Inah, Gabriela e Zilda, além
de sua primeira neta “Hildinha”.
Além das atividades de Professor na UFRN, durante a sua caminhada,
exerceu outras atividades profissionais nas diversas instituições
onde atuou, dentre asquais:
- Chefe de Gabinete da Secretaria de Estado de Educação
e Cultura do Rio Grande do Norte (1959);
- Oficial de Gabinete da Secretaria de Estado da Educação
e Cultura do Rio Grande do Norte (1960);
- Secretário da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (1961);
- Subdiretor-Secretário do Poder Legislativo do Estado do
Rio Grande do Norte (1956 a março/1964);
- Assessor Jurídico (chefe) da Presidência da Fundação
Nacional do Bem-Estar do Menor (1966 a 1979).
- Chefe da Assessoria Jurídica da Fundação
Estadual do Bem-Estar do Menor do Estado da Guanabara (1971/1975).
- Conselheiro Representante da Seccional da OAB/RN, no biênio
1979/1981 no Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.
- Presidente da Fundação Estadual do Bem-Estar do
Menor do Rio Grande do Norte (março a outubro/1983).
- Secretário de Estado da Educação e Cultura
do Rio Grande do Norte (novembro/ 1983 a março/1987).
- Membro da Comissão Examinadora para Seleção
de Monitores das Disciplinas de “Direito Penal” e “Direito
do Menor” em agosto/1986, por portaria no 09/86-DPU-CCSA/UFRN.
- Coordenador do “Seminário de Estudo e Defesa da Criança
e Adolescente” promovido pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte - Centro Acadêmico “Amaro Cavalcanti”-
e Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Rio Grande do Norte,
em outubro/1987.
- Membro do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão
(CONSEPE), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, representando
o Centro de Ciências Sociais Aplicadas (1989 a 1990).
- Expositor no Seminário – “O contraditório
no Direito do Menor”, promovido pela Universidade Federal
de Goiás. Faculdade de Direito da UFG. Fundação
do Bem-Estar do Menor – FUNABEM e Ordem dos Advogados do Brasil
– OAB/GO – dezembro/1989.
- Examinador de Tese do “1° Congresso Internacional de
Direito Regional do Trabalho da 13ª Região e Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, e, patrocinado pela Academia Nacional
de Direito do Trabalho e da Associação Iberoamericana
de Derecho do Trabajo, em abril/1990.
- Procurador aposentado do Poder Legislativo do Estado do Rio Grande
do Norte.
- Professor Assistente IV do Curso de Direito da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte – UFRN (Disciplina – Direito
da Criança e Adolescente).
- Professor Orientador junto à Coordenadoria do Curso de
Direito desta UFRN/maio/1990;
- Conselheiro e Vice-Presidente da Seccional da Ordem dos Advogados
do Brasil do Rio Grande do Norte, de janeiro/1990 a janeiro/1992.
- Presidente das Comissões de Exame de Ordem e Direitos Humanos
da OAB/RN, no biênio 1990/1992.
- Vice – Presidente do Conselho Municipal da Promoção
dos Direitos e Defesa da Criança e do Adolescente –
Natal/RN, de 1990/1993.
- Membro do Colegiado do Departamento de Direito Público
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.
- Presidente do Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil
do Rio Grande do Norte, biênio 1993/1995.
- Eleito Chefe do Departamento de Direito Público da UFRN,
para período de junho/95 a julho/97.
- Membro efetivo da Comissão Nacional de Direitos Humanos
do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, de 1994/1997.
- Conselheiro Federal da Câmara da Ordem dos Advogados do
Brasil e Vice-Presidente da Comissão de Direito Ambiental
de 1998/2000.
Trabalhos Realizados e Publicados:
- A FUNDAÇÃO O NACIONAL DO BEM-ESTAR DO MENOR E A
SUA NATUREZA JURÍDICA - Supervisão do trabalho elaborado
pela equipe da Assessoria Jurídica da FUNABEM, publicado
na revista “Brasil Jovem, n° 16, 4° trimestre de 1970,
págs. 28/31.
- IMPLICAÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS E EDUCACIONAIS
COM RELAÇÃO AO TRABALHO DO MENOR - Publicado na Revista
“Brasil Jovem n° 21, 1° trimestre de 1972, págs.
41/43.
- Elaboração de Anteprojetos de Leis e Projetos de
Estatutos, objetivando a criação das Fundações
Estaduais de Bem-Estar do Menor de Amazonas, Maranhão, Ceará,
Alagoas, Sergipe, Bahia e Rio Grande do Norte.
- Participou da Comissão Revisora do Projeto de Código
de Menores, convertido na Lei n° 6.697, de 10 de outubro de
1979, representando a FUNDAÇÃO NACIONAL DO BEM-ESTAR
DO MENOR.
- Autor do projeto apresentado ao plenário do Departamento
de Direito Público da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, propondo a criação da Disciplina de Direito
do Menor, no Curso de Direito, aprovado pela Resolução
175/81
-
CONSEPE, de 10 de julho de 1981.
- Monografia submetida à Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, subordinado ao tema “Estrutura de Emprego e Trabalho
do Menor na Legislação Brasileira”, objetivando
acesso na carreira do professor universitário (Natal/1982).
- “Trabalho do Menor”. Histórico e análise
de sua legislação. In: Revista Espaço –
FUNABEM (Dezembro/1983).
- “O Problema do Menor no Rio Grande do Norte”. Palestra
de Abertura–“Encontro Estadual para Promoção
do Menor” (1983).
- “Vamos Ouvir o Menor”, trabalho publicado no jornal
OAB- Noticias (1988).
- “O Estagiário de Direito e as Audiências da
Justiça do Menor” trabalho apresentado no Seminário
sobre “O Contraditório no Direito do Menor”,
na Universidade Federal do Rio Grande do Norte- Faculdade de Direito-Departamento
de Direito Público (1989).
- “A Luta por uma Escola Aberta e Democrática”
(1987).
- Comentários Jurídicos e Sociais do “Estatuto
da Criança e do Adolescente” (Comentado). Capítulo
IV- Do Direito à Educação à Cultura,
ao Esporte e ao Lazer, Ed. Malheiros, apoio. UNICEF. Rio, 1992.
- Conferência sobre “Legislação de Proteção
à Pessoa Portadora de Deficiência”, apresentada
no “1° Seminário sobre Mercado de Trabalho e a
Pessoa Portadora de Deficiência” promovido pelo SENAI/RN,
CORDE/RN e APAE/NATAI/RN em Natal, em julho de 1992.
- Conferência sobre “evolução dos Direitos
da Pessoa Portadora de Deficiência” apresentada no “VII
Seminário Norte-Riograndense de Educação Especial”,
promovido pela Subcoordenadoria de Educação Especial
(SEESP/SEC/RN) e Departamento de Educação (DEPED/UFRN),
em dezembro/1992.
- Como fazer Boa Política/Waldson Pinheiro e Hélio
Vasconcelos -Natal - Ágape Edições LTDA 1996
(Coleção Polêmicas da Época Atual: Vol.1)
75 páginas.
|


|