Prefácio
Uma
luta pela vida, contra as violências
O
Movimento nacional de Direitos Humanos (MNDH)
no Brasil caracterizou-se por uma luta permanente
contra as violências que destroem a vida, a liberdade, a
consciência, a cidadania... “Os
Direitos Humanos são, fundamentalmente, os direitos das
maiorias exploradas e das minorias espoliadas cultural,
social e economicamente, a partir da visão mesma destas
categorias”. (Carta de Princípios do MNDH, Olinda,
1986).
A luta pelos Direitos Humanos no país é
anterior ao MNDH. Este iniciou em 1982, como articulação
nacional. Porém, na história brasileira houve vários
grupos de luta e resistência na defesa da vida, da
liberdade.
Um desses momentos se dá a partir de 1964, como reação à ditadura militar, onde as Comissões de justiça
e Paz, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a associação
Brasileira de Imprensa (ABI) e Órgãos Internacionais,
fizeram a defesa dos presos, torturados e exilados políticos.
Após
1975, a luta dos Direitos
Humanos foi além da defesa da integridade dos presos,
associando-se a campanha pela ANISTIA,
contra a Lei de
Segurança Nacional; apoiou o ressurgimento do
movimento sindical e as greves do ABC Paulista.
Com a Anistia aos presos políticos em 1979 acentuou-se a preocupação dos Direitos Humanos com a defesa
dos presos comuns que tiveram transferidos sobre si
todo o aparato repressivo do regime militar.
A luta, também, ampliou-se para a conquista
de direitos básicos dos
empobrecidos: moradia, saúde, educação, salários,
transportes... e no apoio do surgimento de organizações
comunitárias. Em torno da conquista desses direitos foram
se organizando grupos de pessoas que deram origem aos Centros
de Defesa de Direitos Humanos (CDDHs).
Através de seus CDDHs e entidades associadas
na conquista de direitos econômicos, sociais e culturais,
fortaleceram-se as alianças com as forças progressistas
no campo popular, político e institucional.
A necessidade de articular melhor as resistências
e conquistas, fizeram com que os CDDHs e outras entidades
comprometidas na defesa da cidadania realizassem em
1982 o I
Encontro Nacional. Este I Encontro, realizado em Petrópolis
(RJ), deu origem ao Movimento Nacional de Defesa dos Direitos Humanos, tendo sido criado
o Serviço de
Informação Nacional (SIN)
e quatro Regionais: Norte, Nordeste, Sudeste e Sul. A
finalidade destes serviços foi o fortalecimento da
organização e da comunicação do MNDDH.
Em
1983 e 1985 realizaram-se o II
e o III Encontro e Assembléia Nacional,
respectivamente em Taboão da Serra (SP) e Vitória (ES).
Foram escolhidas como bandeiras de lutas o apoio à Reforma Agrária, o combate à violência
policial, à discriminação
racial, à exploração
de trabalhadores adultos e crianças (como escravos em
fazendas). Outras prioridades foram estabelecidas:
continuidade da articulação nacional através do SIN e a
realização dos Encontros Nacionais e Regionais. Em Vitória,
houve a criação de oito Regionais: Norte I e Norte II,
Nordeste, Leste I e Leste II, Sul I e Sul II, Centro
Oeste.
O IV
Encontro e Assembléia Nacional realizados em
1986, em Olinda (PE), definiu como bandeiras: a
luta contra as violências na questão da terra, da repressão policial, a preocupação com a expansão do narcotráfico
e as perseguições raciais. A “Carta
de Princípios” escrita e aprovada neste Encontro,
definiu a unidade nacional sobre as diferentes formas de
violações sofridas, em especial, pelos oprimidos. Foi oficializado
o nome do MNDDH e a criação de uma Comissão
Nacional, com caráter de colegiado e formado por um
representante de cada regional. A legalização do MNDDH
foi protelada para um próximo Encontro.
O V
Encontro e Assembléia Nacional realizados em Goiânia
(GO), em 1988,
definiu dar prioridade nacional às bandeiras de luta:
Constituinte Popular, violência na cidade e no campo.
Neste evento foram definidas três
áreas de especialização do MNDDH: a luta contra as violências,
capacitação na formação
e na comunicação social
da militância. Foi criada a secretaria
Executiva com sede em Brasília.
O SIN de Petrópolis foi transferido para
Brasília e ampliado mediante convênio com a Agência
Ecumênica de Notícias (AGEV). Ficou estabelecido que o
Conselho Nacional, formado por dois representantes de cada
regional, reunir-se-á duas vezes ao ano.
O
VI Encontro e Assembléia Nacional
realizados em 1990,
em Vargem Grande (SP), escolheu como bandeiras de luta: a construção da democracia, da cidadania e contra a violência
à vida. Foram criadas as secretarias
de Comunicação, Formação e Violência, que
associadas à Secretaria Executiva, coordenarão os
programas em nível nacional, através de um Secretário e
comissões formadas por um representante de cada regional,
em cada um dos programas. Foi
votada a exclusão da palavra DEFESA no título do
Movimento Nacional, ficando Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH.
O VII
Encontro e Assembléia Nacional realizados em Brasília,
em 1992, na comemoração dos 10 anos do MNDH, definiu
como eixo de luta
a questão da VIOLÊNCIA
e os PROGRAMAS como
meios para fortalecer a resistência e eficiência dos
Direitos Humanos. A assessoria ao movimento popular,
sindical e pastoral são formas organizativas na luta. A
essência da luta é: LUTA
PELA VIDA, CONTRA A VIOLÊNCIA, em especial ao Estado,
da Estrutura Social e da Ideologia. A bandeira
fundamental estabelecida foi: O
EXERCÍCIO DA CIDADANIA, EM RELAÇÕES DEMOCRÁTICAS.
Em síntese, o MNDH definiu-se:
MOVIMENTO
NACIONAL DE Direitos Humanos
Eixo:
LUTA PELA VIDA,
CONTRA
A VIOLÊNCIA
Buscando:
O EXERCÍCIO DA CIDADANIA
EM
RELAÇÕES DEMOCRÁTICAS
COM
DOIS PROGRAMAS BÁSICOS:
FORMAÇÃO
– processo e meio de:
-
aprender a metodologia da práxis
-
participar na organização e na sistematização do fazer
e do saber popular;
COMUNICAÇÃO
– processo e meio na:
-
democratização da informação
-
participação e fortalecimento da luta popular
A
análise da nossa prática mostra que
temos avanços, fragilidades, diversidades organizativas e
problemáticas locais e regionais. A qualificação e a
organicidade nacional, em algumas lutas, são um
permanente desafio.
A
organização básica no dia do MNDH está localizada
nos CDHs, que
fazem assessorias, movimento popular, movimento sindical,
pastorais e são espaços de reflexão de suas práticas. A
organização regional e nacional não têm função de
hierarquia, mas de articulação. Neste sentido somos
um movimento democrático.
A
perspectiva estratégica precisa
ser traçada em nível do Movimento Nacional, a partir da
história, da prática dos Centros de Direitos Humanos,
das articulações regionais e das prioridades nacionais e
latino americanas, buscando os direitos dos oprimidos.
A
luta continua, hoje, desafiadora,
pois, a profunda crise ética, a perda da soberania, a
concentração dos bens e da renda inviabilizam o exercício
da cidadania.
É preciso que o espírito
de indignação volte a encher
os corações e a luta
coletiva, pela vida digna para todos, continue...
Mesmo que em aparente silêncio, sem nome, sem palavra, a
construção da democracia e da cidadania têm sido e estão
sendo gestadas como: DESEJO,
SONHO, UTOPIA, ESPERANÇA E LUTA...
“Um
sonho sonhado só,
é só
um sonho.
Um
sonho sonhado juntos,
é o
começo de uma nova realidade”.
D. Helder
Bibliografia:
Relatório dos Encontros e
Assembléias Nacionais.
1. Introdução
O
Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), em seus dez
anos de articulação nacional, tem construído relações
que lhe foram dando um perfil, na história, e algumas
características conjunturais próprias.
Em julho de 1990, no Seminário Nacional dos
Programas e Reuniões do Conselho Nacional, ocorridos em
Brasília, foi aprovada a realização de uma pesquisa, a
fim de caracterizar o Movimento Nacional de Direitos
Humanos de forma mais sistemática e global.
O objetivo fundamental deste estudo foi obter
informações do trabalho desenvolvido nos Centros de
Direitos Humanos (CDHs) do país, a fim de produzir um
conhecimento sistemático do MNDH, em 1991.
As cariáveis de estudo foram: o ano de fundação
dos CDHs, tempo de vinculação ao MNDH, personalidade jurídica,
origem do MNDH, definição dos CDHs por área e tipo de
atuação, infra-estrutura dos CDHs, recursos financeiros,
organização dos CDHs segundo os programas nacionais,
origem da militância, sua idade, escolaridade, sexo,
profissão e remuneração, dificuldades e prioridades
gerais dos CDHs, na luta pelos Direitos Humanos.
A metodologia utilizada é a do estudo
descritivo dentro do princípio do trabalho participativo.
O procedimento de elaboração e validação
do questionário da pesquisa partiu das experiências do
Nordeste, do Sul II e do Leste I. foi remetido à
Secretaria Nacional e esta enviou a todas as Secretarias
Regionais, a fim de que fosse testada sua qualidade técnica
e conteúdo. Vencido o cronograma para essa etapa do
processo da pesquisa, o conselho nacional, em dezembro de
1990, aprovou o questionário final e ficou responsável
para acompanhar a sua aplicação em cada regional.
Os resultados do levantamento realizado junto
aos CDHs permitiram uma visão particular dos mesmos, do
regional e nacional.
O questionário de pesquisa foi enviado aos
CDHs do país e a outras entidades afins, que responderam
à pesquisa e representaram, no total, 40,81% dos CDHs e
entidades constantes no cadastro do MNDH.
A amostra permite afirmar que a tendência
nacional do universo está efetivamente representada.
Acrescentamos que, em nível estadual e regional, alguns
resultados poderiam ter outras características
acrescidas, se houvesse uma maior representação de CDHs.
Os resultados foram tabulados e analisados,
tendo em vista a situação de cada regional, a relação
dos regionais entre si e o Movimento Nacional como um todo
no país, sem a contextualização dos dados descritos.
|